Jason’s P.O.V

Acordei com a droga do sol praticamente me queimando vivo...

Levantei e olhei em volta.

A cabine estava intocada. Tudo no mais completo silêncio...

– PERSEU JACKSON, SEU CABEÇA DE ALGAS, DEVOLVA AS MINHAS ROUPAS!

Deixa pra lá...

– VEM PEGAR, CARA DE PINHEIRO!

– QUER QUE EU SAIA POR AÍ VESTINDO ROUPA ÍNTIMA, SEU SAFADO?!

– SIM! – Foi a voz de Leo.

Balancei a cabeça e revirei os olhos... Me levantei com preguiça... Queria ter dormido mais... (N/A: Novidade?)

– CALA A BOCA, VALDEZ! VOCÊ É COMPROMETIDO!

– OLHAR NÃO TIRA PEDAÇO!

Vesti uma camiseta azul-céu e saí...

Percy estava alguns metros afastado da porta da cabine de Nico... Ele segurava um conjunto que incluía um short jeans e uma regata preta. Thalia aparecia em uma fresta quase minúscula na porta da cabine.

– VEM AQUI SE VOCÊ FOR HOMEM!

– VEM AQUI SE VOCÊ FOR MULHER!

– EU VOU MATAR VOCÊ!

– VAI SAIR POR BEM OU POR MAL?!

– ME OBRIGUE A SAIR!

– TEM UMA BARATA ATRÁS DE VOCÊ!

Thalia deu um pulo e acabou caindo do lado de fora da cabine. Ela usava uma lingerie preta. Cerrei os punhos ao pensar o que ela estava aprontando, mas vi que segurava uma toalha. Ela havia acabado de tomar banho.

– Nossa... – Falei. – Você tem medo de uma Barata?

– Não é da sua conta.

– Caramba, Thalia... Você mata monstros, namora um zumbi e tem medo de uma simples baratinha?

– O Nico não é um zumbi! E as baratas são asquerosas! Ela tem um plano do mal e pretendem dominar o mundo!

– ISSO É VERDADE! – Berrou Annabeth da cabine de Percy. Hummmm... Annabeth dormiu na cabine do Percy... Hummmmm!

– Isso é um monte de besteira! – Berrou Leo do refeitório.

– NÃO É NÃO! ELAS VÃO ENTRAR EM NOSSOS OUVIDOS ENQUANTO DORMIMOS PARA COLOCAR OVOS EM NOSSOS CÉREBROS! – Berrou Katie de sua cabine.

Garotas...

– Agora... – Começou Thalia. – Onde estávamos? Ah, é... DEVOLVE AS MINHAS ROUPAS PERSEU OU EU CONTO PARA A ANNABETH QUE FOI VOCÊ QUE ROUBOU O POTE DE NUTELLA NA CASA DELA!

– O QUÊ?! FOI VOCÊ?!

– Annie... Eu posso explicar...

– Você não me deve explicações! Só me deve outro pote de Nutella!

– AH... Tá bom... Quando voltarmos, eu te compro outro...

– Se voltarmos... – Falei. O clima ficou pesado. Thalia arquejou baixinho. Percy ficou em estado de choque. O navio ficou em silêncio...

Ops! Falei o que não devia!

– É... Você tem razão... – Percy estendeu as roupas de Thalia. – Desculpe... Acho melhor eu ir lá com a Annie...

Droga!

– Thalia... – Chamou Nico. – Vem...

Voltei para a cabine, me sentindo estúpido por ter estragado o dia ensolarado e maravilhoso... Tranquei a porta com a intenção de praticamente morar naquele lugar.

Leo havia propositalmente colocado um vitral com as cores do arco-íris na minha janela para que eu pudesse manter contato com Piper. Já que o sol refletiria na janela e projetaria um arco-íris no quarto.

Joguei uma moeda no arco-íris, dizendo o nome de Piper e vi o que não devia...

Ela estava no banho, o que me fez ficar mais vermelho do que um tomate. Acho que um tomate invejaria a minha cor. (N/Tomate: Bitch, please. Eu não tenho recalque dos reles mortais!).

Ela olhou a mensagem, depois berrou e pegou uma toalha. E ficou mais vermelha do que eu.

– Jason! Você tem que avisar quando for mandar mensagem! Não faça isso entre as oito e meia e nove horas! Nem entre...

– As seis e meia e sete horas. É o horário do seu banho... Desculpe... Só estou m sentindo meio mal...

Ela assumiu um olhar preocupado.

– Espere um minuto.

Piper saiu do banheiro. E voltou um minuto depois com uma camiseta do Superman. Sorri internamente. A camiseta era minha e eu pedi para ela cuidar... Junto com jeans e seu vans lilás... Seu cabelo molhado estava solto.

– Diga o que aconteceu.

Contei tudo a Piper. Sobre a profecia, assunto que ela já sabia, mas eu sempre o retomava, o medo que pairava sobre nós e a burrada que eu havia feito um pouco antes.

– Ah, Jason... Todos cometem erros ou deixam escapar uma coisa que não devia... Não foi nada...

– Foi sim... Estavam todos... “animados” – Fiz aspas na palavra “animados”, já que Thalia não parecia tão animada assim... – E assim que eu disse aquilo, todo mundo se calou de repente. Estou tão... Arrependido. Eu acho que devia controlar minha língua.

– Às vezes, todos nós deixamos escapar algo que não devíamos...

– Acho que vou ficar o dia inteiro aqui...

– Você tem certeza?

– Sim... Só por um tempo... Aposto que Annabeth e Thalia devem estar chorando... E se eu fiz elas chorarem, não é um bom momento para sair...

– Se é assim que você prefere... Qualquer coisa, me mande uma M.I...

– Queria que você estivesse aqui.

– Para quê?

– Para eu te abraçar...

Ela sorriu, depois mandou um beijo no ar e agitou a mão sobre a mensagem, que se desfez...

Suspirei e caí na cama. Nem devia ter saído dela hoje!

Ouvi batidas na porta.

– Entre...

Thalia entrou. Seus olhos vermelhos e seu rosto molhado... Ela estava com um cheiro de menta misturado ao de morango, resultando em uma fragrância agradável...

É... Eles se combinam tanto que até a mistura dos cheiros dos dois é boa!

– Posso falar com você?

– Veio me bater ou me estrangular?

Ela riu.

– Nenhum dos dois... Vim falar com você...

– Diga.

– Eu sei que está preocupado, Jason... Eu estou também... Compreendo o que você havia dito, mas acho que...

– Fui rude. Imprudente. Não devia ter dito aquilo...

Ela assentiu...

– Nico pediu para você falar comigo?

– Na verdade, ele disse que te daria um soco por me fazer chorar daquele jeito... Então eu decidi falar com você antes...

Eu ri.

– Compreendo as intenções dele...

Thalia riu comigo.

– Falou com Piper, não foi?

– Falei... – Olhei para Thalia. – Desculpe pelo que eu disse... Não queria que você ficasse mal...

– Está tudo bem, Jay... Estou bem...

Abri os braços. Thalia não hesitou e me abraçou forte...

Ficamos nesse abraço por uns dez minutos. Até Leo chegar.

– Gente, a Annie... – Ele parou no meio da frase quando nos viu. – Awwwwn... Que bonitinho!

Nos separamos num pulo. Eu olhei para Leo com meu olhar de “Sou o Super Homem e vou te pulverizar com meu olhar laser”...

– O que você quer, Valdez?!

– Quero avisar que Annabeth está chamando vocês...

– Ok. Já estamos indo.

Leo assentiu e saiu. Olhei para Thalia.

– Vamos?

– Sim.

Saímos da cabine e caminhamos até o refeitório. Cada um se sentou em um lugar. Dessa vez, Annabeth estava na ponta da mesa. Pela primeira vez em toda a história do Argo II, Nico estava sentado à mesa também... Thalia se sentou ao lado dele e de frente para mim. Ele me fuzilou com um olhar e eu murmurei um “desculpa. Já conversamos”.

Annabeth pigarreou.

– Eu já sei qual é o guardião da pedra branca e sei em que direção seguir...

– Fala. – Pediu Leo. – Afinal. Eu estava muito ocupado quando você me chamou!

– Ocupado tentando engolir a cara da Calipso, Né? – Disse Travis.

– Nada a ver!

– Posso continuar?!

– Pode. – Leo bufou.

– A próxima pedra será a branca... A pedra do Ar... E seu guardião... É um dragão.

– Dragão? – Questionou Thalia. – Seres que cospem fogo e VOAM... Que agradável!

Nico riu e a puxou para si. Ela deitou a cabeça em seu ombro.

– Sim... Mas esse não cospe fogo... É um dragão de gelo. Tem um hálito tão frio que é capaz de congelar. E é sábio... Não pretende atacar de cara como o kraken... Ele vai... “Conversar”... – Ela fez aspas com os dedos.

– Então... Temos que ir para...

– A Antártida!

– Que ótimo! – Disse Nico. – Cheio de neve. Odeio neve.

Senti um peso na consciência ao lembrar-se da morte de Hazel... De como Nico havia chorado silenciosamente sobre seu corpo inerte, de como ele havia cantado para ela e de como ele havia ido embora.

Thalia o abraçou e foi a vez dele de deitar a cabeça no ombro da namorada. Ela afagou suavemente seus cabelos. Apenas uma lágrima escapou pelo seu rosto.

– Sim. A Antártida... Há um lugar onde ninguém vai, devido à uma caverna que dizem ser assombrada! Voa passar as coordenadas, Leo.

– Ok. Então vamos.

Todos se retiraram. Ficando apenas eu, Thalia, Nico, Travis e Katie...

– É... – Disse Travis. – Eu acho que isso não está sendo fácil...

– Não... – Disse Nico. – Não está... Seria mais fácil se os guardiões dissessem “Oh, essa pedra é sua? Desculpe. Eu não sabia que você estava indo matar um morcego desmiolado! Tome!”.

– Cara... – Disse Travis. – Pensei que você não tinha senso de humor. – Ele olhou para Thalia. - Você está fazendo bem à ele, não é, Thalia?

Ela sorriu e fez um cafuné em Nico.

– Estou sim... – Ela mexeu em seus cabelos, que batiam nos ombros do garoto. – Nossa! Quer virar a Rapunzel? Vamos cortar esse cabelo!

– Ah, Thalia...

– Eu não vou fazer um corte militar... Até porque eu adoro essa sua franja rebelde. Só vou cortar um pouco... – Ela olhou para o cinto de Leo sobre a mesa... – Ele não se importa se eu pegar emprestado...

Thalia tirou uma tesoura para corte de cabelo do cinto e ficou de pé atrás de Nico.

– Vamos começar...

Nico bufo. Mas ficou quieto enquanto a namorada fazia o trabalho. Katie, Travis e eu estávamos apenas observando.

– Prontinho! Um corte em estilo rebelde!

E realmente era verdade... Nico estava com os cabelos rebeldes. Não caíam mais no ombro. Agora batiam na nuca do garoto. E quando ele balançava a cabeça, só ajudava a bagunçar ainda mais...

– Eu gostava de como estava antes.

– Pois eu não...

– Quando crescer de novo...

– Eu vou cortar mais uma vez.

Ele a encarou e fez um bico. Ela lhe deu um selinho...

– Aff... Deixem para a Lua de Mel!

Os dois bufaram.

– Acham que o dragão vai fazer algum teste? – Perguntei.

– Com certeza vai... – Disse Katie.

Íamos continuar conversando, mas um grito nos interrompeu.

– Nico! – Foi a voz de Bia. – O Tobias jogou água em mim de novo!

– Tobias! – Chamou Nico. – Venha aqui agora!

Bia e Tobias entraram no refeitório. Bia estava molhada da cabeça aos pés.

– Ela que começou!

– Mentira!

– Verdade!

– Não é!

– Silêncio os dois!

Katie e Travis se entreolharam...

– Tenho que falar com o Connor, se me dão licença...

– E eu tenho que falar com a Miranda...

Os dois saíram. Continuei sentado, queria ver Nico assumir o papel de “pai”.

– Bia... Conte o que aconteceu.

Bia e Tobias sentaram-se em cadeiras separadas colocadas de frente para Nico e Thalia.

– O Tobias me chamou de zumbi... Aí eu o chamei de baleia-azul e ele jogou água em mim!

– Mentira! Você me chamou de baleia-azul primeiro! Depois me bateu e eu só joguei água para me defender! Ela fez o quarto ficar escuro!

– Tobias. Nico está falando com Bia! – Repreendeu Thalia. – Depois ele fala com você.

– Aí ele jogou água em mim! E molhou o meu caderninho de desenhos!

Nico olhou para Tobias...

– Isso é verdade, Tobias?

– Não!

– Você molhou o caderno da Bia? Sabe qual era a importância daquele caderninho?

Tobias baixou a cabeça...

– Sim...

– Seque Bia agora.

Tobias puxou a pedra azul do bolso e a usou para secar Bia... Nico estendeu a mão e Tobias lhe deu a pedra, relutante.

– Isto não é um brinquedo! Você tem que cuidar melhor das coisas que recebe, Tobias... Peça desculpas para Bia.

– Desculpa, Bia...

– Olhando nos olhos! – Disse Thalia.

Tobias fez cara feia e olhou nos olhos de Bia.

– Desculpa.

– Agora... – Começou Nico. – Bia, peça desculpas para Tobias.

– Mas...

– Sem “mas”. Você deu a ele um motivo para te molhar.

Bia baixou a cabeça...

– Desculpa, Tobias...

Bia caminhou até Nico e lhe estendeu a palma...

– O que foi?

– Pode me bater...

Nico e Thalia pareceram chocados.

– C-Como assim “bater”, Bia? Quem batia em você?

– A... A velha que era dona do orfanato! – Ela soluçou. – Quando a minha mãe não estava, ela me batia por qualquer coisa que eu fazia! Às vezes eu nem fazia nada! Mas ela me batia mesmo assim!

Nico e Thalia se entreolharam. Eu olhei para os dois e eles olharam para mim...

– Bia... – Chamei. – Onde ela está?

– Ela virou um monstro feio e o Nico a matou! M... Mas. Olha só... O que ela fez!

Bia levantou sua blusinha de lã e Nós três arquejamos. As costas da garota eram cheias de arranhões e marcas. Havia até mesmo uma queimadura. Parecia que alguém havia açoitado a menina e depois marcado com ferro em brasa!

– Deuses... – Nico estava mais do que chocado. Parecia que havia levado um tapa de Thalia. – Por que não me contou antes? E por que não contou para sua mãe?

– A... A velha disse que se eu contasse, iria me machucar de novo! E... e eu não queria que ela me machucasse de novo! Mas ela me machucava mesmo assim!

– É verdade... – Disse Tobias. – Ela batia na Bia toda hora! E quando eu e a Anna tentávamos ajudar, ela batia na gente também. Olha o que ela já fez em mim...

Tobias estendeu a mão com a palma para baixo. Nas costas de sua mão, havia quatro cicatrizes de furos. Um ao lado do outro.

– Ela furou sua mão com um garfo? – Perguntei.

– Sim...

Thalia me olhou. Depois olhou para Tobias e estendeu os braços. Ele correu e a abraçou. Nico fez o mesmo com Bia. A garotinha chorou em seu colo. Pude notar que Nico fazia de tudo para não chorar. Thalia já havia falhado nisso... Ela soluçava baixinho.

Como uma criatura pode fazer isso com crianças tão adoráveis? Como alguém pode ter coragem para ferir uma criança inocente?

– Eu nunca pensaria em ferir você, Bia... Só não quero que esconda essas coisas de mim... Combinado?

– Combinado... – Bia bocejou baixinho...

– Eu amo você, bambina...

– Eu também amo você... – A última palavra foi sussurrada bem baixinho, conforme Bia caía no sono. – Papai...

BUM! Já era! Nico também falhou e agora chorava também!

Nico sorriu entre as lágrimas e embalou a menina devagar. Thalia o olhou e sorriu. Tobias ainda estava em seu colo...

Eu sorri diante da cena.

– Nossa... Eu sou tio.

– Dá um tempo... Jason! – Nico gritou/sussurrou.

Eu ri baixinho. Depois olhei para Tobias.

– Quer fazer uma pegadinha com o Leo?

Ele olhou para Nico.

– Com o Leo pode. Traga-me a foto de como ele ficou depois...

Tobias riu, depois me seguiu porta afora enquanto deixávamos Nico e Thalia a sós com sua nova “filha”.