Simple Bad escrita por Mayy Chan


Capítulo 5
Simple Destiny


Notas iniciais do capítulo

Genteeeee, eu sei que eu demorei, mas uma certa Isa M me mandou uma MP lembrando da demora do capítulo, e assim que eu desatolei das minhas tarefas vim escrever kkk. Espero que gostem e comentem



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Já era tarde quando saímos da biblioteca. A história que Percy queria me contar simplesmente não saía da minha cabeça, o que me frustrava mais do que queria demonstrar com minha feição sempre desinteressada. O clima estava quase glacial, fazendo parecer que meu suéter não era o suficiente. Encolhi meus dedos na barra da manga, e coloquei-os sobre meu nariz que já devia estar escarlate.

O garoto andava ao meu lado, seguindo meu ritmo apressado. Aparentemente ele havia trago um casaco extra, então metade do caminho até o carro — que estava difícil de ser identificado por causa da camada de neve que cobria o estacionamento — rindo da minha situação quase humilhante. Admito que tinha sua ponta de graça logo eu, uma das pessoas mais metódicas que cometiam a ousaria de andar em solo terráqueo, não havia se preparado pra uma nevasca.

Ele acionou o alarme, fazendo com que os faróis do carro se acendessem. Pode ter sido uma atitude um pouco infantil da minha parte, porém comecei a correr em direção ao conversível, como se minha própria vida dependesse disso (o que não deixava de ser uma verdade afinal, com o clima insuportável, não seria nenhuma surpresa me contaminar com uma pneumonia). Assim que abri a porta, me joguei sobre o assento estofado e gritei para Percy se apressar antes de fechar a porta.

Repetindo meus movimentos, ele colocou a chave na ignição e o vapor quente tomou conta do carro rapidamente, porém não o suficiente pra me acalentar pois a neve de minhas vestimentas começaram a derreter. Minha garganta coçava, me fazendo tossir alto e roucamente, chamando a atenção do Jackson que se inclinou pro meu lado, puxando a barra do meu suéter para cima. Claro que pelos primeiros segundos eu me assustei, corei e tentei protestar, mas no próximo seu casaco envolvia meus ombros, me acalentando quase que instantaneamente.

— Aqui perto tem uma cafeteria. Você vai ficar aqui dentro se aquecendo, e eu vou pegar algo para comermos, ok?

Concordei com um aceno de cabeça, e ele saiu. Aparentemente uma nevasca havia vindo de forma repentina de algum lugar do sul, acabando com o clima confortável de mais cedo. É impressionante como em um momento você pode estar confortavelmente tomando um sorvete, e depois logo pegando uma hipotermia ou coisa do tipo. E o mais irônico é que a nevasca parecia ter vindo junto com o humor estranho de Percy, que agora parecia estar mais distante do que nunca.

Peguei a sacola de livros que havíamos pego emprestados na biblioteca, e procurei pelo que nós havíamos escolhido. Minha surpresa foi quando, no meio daqueles, achei um embrulho quadricular, que caberia perfeitamente um livro. O papel era azulado, com uma fita de uma coloração cinza-prateada. Simples, clássica e muito bonita. Havia uma espécime de estática, que me fez pegar o embrulho e, assim que liguei a luz do carro, notei um bilhete colado sobre o papel que, depois fui ver, era estampado por uns formatos geométricos de um azul mais claro.

“Porque o amor não deve ser temido.

Para a minha adorável Cinderela.

Com amor, Perceus.”

Engoli seco tentando entender o que ele quisera dizer. Tomei cuidado ao desembrulhar, puxando levemente os fios do laço. Ao terminar o minucioso trabalho, puxei pra mim o seu conteúdo. Sua capa era de couro, e sobre ela, em letras douradas, estava escrito “Märchen”. De acordo com meu amplo vocabulário, aquela era a palavra alemã para “Contos de Fadas”.

Sério? Por quais motivos eu ganharia um livro de contos de fadas? Ou melhor, por quais motivos Percy me daria um livro infantil sem nenhum motivo aparente? Havia um bom tempo que não ganhava um presente, e isso me fez no mínimo ficar estática com isso. Encarei por tanto tempo o livro, que mal notei quando o moreno entrou no carro novamente, fechando a porta atrás de si.

— Hey, espero que você goste de muffins e... — interrompeu sua frase quando viu o livro em minhas mãos. — Pelo jeito a senhorita foi mais esperta que eu, Chase. — deu um daqueles sorrisos radiantes de sempre. — Feliz... sei lá quantos dias eu te conheço.

— Você não é o rei da matemática ou coisa do tipo? Pelo que eu sei, você é do tipo de pessoa que sabe o dia do veterinário e coisas do tipo.

— Nove de setembro, pra caso você esteja curiosa. — abriu o saquinho, me entregando um muffins e uma garrafa térmica que eu não conhecia até o momento. — E bem, você é a nevasca da minha vida.

— Congelante? — questionei mordendo um pedaço ainda quente do meu muffin.

— Não, você é imprevisível. Veio do nada, de qualquer lugar, mudou toda a paisagem e, ainda por cima, deixou meus dias mais... brancos.

Deixei com que um sorriso genuíno estampasse meu rosto. Com o livro em mãos, milhares de perguntas invadiram a minha cabeça, fazendo com que mesmo sem querer questionasse Percy:

— Qual o motivo dos contos de fadas?

— Você sempre trata o amor como uma infecção. De começo é fofo, mas você é tão insistente que... bem, eu gosto de um desafio.

— Você se lembra que está fazendo isso pela Drew e não por mim, correto? — falei enquanto ele dava partida e colocava seu copo de café sobre o apoio ao lado da marcha.

— Há um certo tempo que ela deixou de ser minha predileta. — piscou, olhando para a estrada ainda.

Sabe quando algo se forma dentro de você, simplesmente sem nenhum motivo aparente? Era exatamente assim que poderia ser considerado o afeto que acabei pegando por Percy em pouco tempo. Não que eu o amasse ou coisa do tipo, apenas poderia o considerar um melhor amigo em potencial, alguém para poder contar quando eu precisasse.

Liguei o rádio e saí em busca de uma boa estação. Parei só quando achei uma com algumas músicas mais movimentadas, pois queria deixar que acabássemos envolvidos em um acidente devido meus gostos exóticos musicais que incluíam uma boa música clássica. As opções não estavam muito agradáveis, talvez pelo fato de ser uma rádio do interior.

Estava tão focada no aparelho, que mal notei a mão do Jackson passando na minha frente e abrindo o porta—luvas. As opções iam de ACDC a Rihanna, o que seria cómico se não fosse... bem, se não fosse exatamente o que eu esperava achar.

— Vamos lá, faça uma boa escolha.

De primeira, puxei um CD esverdeado estampado apenas com um “X” preto no centro. Pelo meu vago conhecimento musical, aquele deveria ser o álbum daquele cantor ruivo que meu irmão adora. Bem, era a hora de confiar nos gostos musicais de Malcolm, coisa que jamais cogitaria em uma situação normal.

— Ed Sheeran? Céus, é um dos meus prediletos. — exclamou cantando junto com a voz macia do cantor. O impressionante é que ele não tinha uma voz realmente ruim, e sim algo... suportável.

Quando a quarta música começou a tocar, já estávamos mais animados e tínhamos rido um bocado. Fiquei impressionada por essa eu conhecer, então ficamos cantando juntos quase que em uma harmonia perfeita. Não chegávamos a ser realmente bons, entretanto não é como se realmente nos importássemos com isso. Comecei a balançar meu cabelo no ritmo e estralar os dedos junto com a música, fazendo assim com que Percy risse da minha atitude infantil.

— Então, o que acha de encontrar o amor da sua vida na cama com seu melhor amigo? — questionei já entrando no ritmo de “Nina”.

— Não sei, que tal perguntar pro meu pai? Aparentemente foi isso que ele sentiu quando viu minha mãe com o nosso professor de História da Guerra oito anos atrás.

Percy não era exatamente o tipo de cara que gostava de falar sobre a própria vida, então tal confissão realmente me pegou de surpresa. Seria por isso que o grande Poseidon havia abandonado a família, coisa que estampou boa parte dos tabloides da época? E se sim, por que seria ele o julgado pela sociedade? Tantas questões que ainda pareciam girar minha cabeça, e tudo que podia fazer era ficar calada. Não se era exatamente um assunto para ser levado a frente.

Tirei o CD e coloquei “All This Bad Blood”, que era um que, por mais que não estivesse entre meus prediletos, conhecia bem. O volume ainda estava alto, o que me fez ter que aumentar um pouco o tom de voz:

— Qual sua cor predileta?

— Azul e a sua?

— Roxo. Qual seu sabor de bolo predileto?

— Chocolate, e o seu é de limão.

— Como você sabe disso? — arqueei as sobrancelhas.

— Eu sempre sei de tudo. — piscou um olho, como se fosse um mistério o fato de ele passar todo o tempo livre na cafeteria. — Qual sua música favorita?

— Secretamente, Up do Olly com participação extra da Demi. E se isso for revelado ao mundo, você vai ficar estéril muitos anos antes do que você está pensando. E a sua?

— Animals, Marrom 5. Contagiante, e também bom pra poder ver uma garota dançando. — um sorriso genuíno ocupou seu rosto, me fazendo rir também. — Qual seu número da sorte?

— Onze, e o seu?

— Não acredito em sorte, apenas em estatísticas. Ou seja, acredito que todos fazemos nossa própria sorte em cada pequena atitude e decisão que tomamos.

— Ou seja, você não acredita em destino?

— Acredito que sim, podemos estar premeditados a algo como se todos tivéssemos uma certa função no mundo. Porém, no fim, somos nós que decidimos se queremos ou não seguir um caminho, se realmente vamos fazer o certo ou o simplesmente prazeroso. O fato de eu ser superdotado, ter parado na nossa escola... tudo isso poderia ser meu destino. Porém, fui eu que decidi levantar a mão e me candidatar pra ser representante de classe, fazendo assim com que eu te conhecesse, e por fim estar aqui e agora falando sobre isso. Escolhi um caminho.

Por um momento, simplesmente não soube o que dizer e passei a encarar o para-brisa que limpava constantemente os pequenos flocos de neve que insistiam em cair todo o caminho. Uma tempestade de neve é um ambiente bem autoexplicativo para todo o discurso de Percy. Avistei uma pequena colina na frente, me fazendo ter uma ideia.

— Para o carro.

— O que? — questionou diminuindo a velocidade.

— Para o carro. — repeti com meu melhor sorriso.

Assim que ele fez o meu pedido, me soltei do cinto e procurei minha bolsa. Havia colocado algumas cobertas ali para o caso de termos que passar a noite — coisa que não estava cogitando pois descobrimos que a biblioteca tinha um convénio com nossa escola, nos deixando levar os livros por motivos “didáticos” —. Conferi se realmente haviam coisas o suficiente, e dei um gritinho animado quando vi que estava correta.

— Você poderia me dizer o que está pensando?

— Até que dia somos obrigados a voltar pra escola? — questionei me sentando novamente, e me acomodando melhor no seu casaco.

— Segunda antes das oito da manhã, como sempre. Agora me fala logo os seus planos.

— Olha, você é de longe o que eu mais cheguei perto de uma amizade com alguém que não tenha meu rosto em uma versão masculina, então sua obrigação de melhor amigo é aceitar o que quer que eu queira fazer.

— Na verdade, meu trabalho é impedir que você faça uma merda realmente preocupante. E, sinceramente, não acho que venho fazendo esse trabalho com maestria.

— Quero ficar mais um dia no vilarejo. Podemos ficar em um hotel ou coisa do tipo, amanhã podemos fazer algo legal, eu não sei... só quero fazer algo uma vez na vida que não seja premeditado.

Percy me olhou como se fosse algo fascinante, e rapidamente colocou as mãos nos fios curtos da minha nuca, trazendo meu rosto mais para perto. Em um movimento singelo, senti sua boca dando um beijo suave em minha testa, me soltando logo após para acariciar minha bochecha.

— Annie, aprecio muito sua ideia, mas você sabe que dia é amanhã?

Enruguei o nariz, um hábito que tinha quando estava tentando me lembrar de algo. Quando olhei bem pra Percy, pensei o que ele queria dizer. Eu nunca esquecia alguma coisa importante... mas e se fosse simplesmente algo que se fosse notado e não contado? Foi quando, em seu pulso, avaliei melhor a tatuagem de rosa no seu antebraço desnudo. Em algum meio tempo, ele havia arregaçado as mangas, e eu mal notara. Pequenos números dançavam abaixo dela, sobre o pulso como um eterno lembrete.

— O aniversário da sua mãe... o aniversário da morte dela.


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Notas finais do capítulo

XOXO, espero que tenham gostado e não esqueçam meus reviews ;)
Mayy