Olhando.

Eu olhava para aquele rosto perfeito; com tremenda vontade. Era bom olhar para ele. Seus olhos azuis cristalinos me entorpecendo intensamente, em contraste com os cabelos negros, em seu rosto; se mexendo com o vento, e completamente molhados por conta da chuva.

Nisso, me chama atenção uma coisa; seus lábios. Carnudos, rosados, e aparentando ser bem quentes; diferente dos pingos de chuva gelados que escorriam por todo ele.

Então André se mexe.

Na verdade, só muda as mãos de lugar. Com uma, envolve minha cintura, me trazendo mais para perto de si; eu olho para o chão, meio sem jeito; pois havia sido muito de repente; e percebo que ele solta um risinho. E com a outra mão, ele segura em meu rosto, de um jeito suave; e aproxima o seu. Minha respiração acelerava rapidamente; e conforme André se aproximava, eu perdia a fôlego.

Foi quando, nossos lábios molhados finalmente se tocaram. Tranquilos. Suavemente pude sentir meus lábios nos dele. Quentes. Em meio a chuva fria.

Não queria me separar dele.

Nunca.

Mas, nisso, surgiu um estrondo enorme. Uma trovoada. O que nos fez separar um pouco rapidamente, e rirmos da situação. André diz em meio à risos:

–É melhor... - ele aponta pra a entrada de minha casa; e eu o corto.

–Sim! - exclamo também rindo.

Só depois que percebo. Meus pais estavam em casa; e bem perto dali, podiam muito bem olharem da janela. E pior, tinham me visto sair de casa correndo rapidamente, e ansiosamente; acho que ficaram curiosos para saber porque. Tomara que não tenham visto o que acabara de acontecer.

E enquanto íamos "pulando" abraçados e molhados; eu paro. Por conta desse pensamento que tivera; fico um tanto preocupada e envergonhada. André, sem entender; pergunta, retirando os braços, e segurando em minhas mãos:

–O que foi? - ele não entendia.

–É que... - eu não conseguia olha-lo. - Todos estão... - agora o olho com esperança.

–Ah... -finalmente entende, e eu assento; porém ele diz. - E o que tem? - ainda não entendia. Homens...

–É meio que... - tento explicar. - Mas tudo bem, esquece. - desvio o olhar.

–Não! - ele alerta. - Se é muito constrangedor para você, tudo bem. - André tentou me tranquilizar. Mas não era isso! Com toda a certeza, não! Mil vezes não!

–Claro que não André! - digo rapidamente. - É que bem... Você não entende... - continuo olhando para o lado.

–Mas, eu posso entender. - ele, com uma das mãos; segura meu rosto, o virando para frente. - É só você me explicar.

Porém eu não conseguia; não dava! Não dava mesmo! O que exatamente ele queria saber? Na verdade, porquê ele queria ir justo para lá?! Quer saber? Talvez ele goste de uma proposta:

–Vamos correr? - sugiro com os olhos brilhando.

–Como? - ele não entende. De novo.

–Vem! - eu o puxo pelas mãos.

E nós saímos de dentro do quintal de casa. Quando fomos para a rua; André exclama:

–Espera! - diz.

–O quê? - fico confusa.

Então ele me dá um beijo. Um beijo de verdade. André? Este é você? Sério? No meio da rua? Meu Deus, o que ele estava fazendo?! Ainda bem, que na minha rua; não passavam tantos carros, e nem tanta gente...

E depois, sem fôlego, eu continuo:

–O que foi isso? - estava boquiaberta; porém tinha gostado, é óbvio!

–Um beijo. - ele diz com o sorriso troto mais perfeito do mundo, ainda todo orgulhoso; e depois, vendo minha expressão, pergunta. - Porquê? Não gostou? - diz confuso; então exclama. - Já sei! Fui rápido de mais? - ele estava mesmo sendo sarcástico? Bom, eu não queria que aquele fosse nossa primeira briga; e convenhamos, eu já não estava num bom dia; um beijo não me faria mudar. Só um pouquinho, talvez...

–André! - exclamo. - No meio da rua? - o repreendo, com apenas uma das coisas que havia pensado.

–Tudo bem. - seus braços me envolvem novamente. - Me desculpa. - andamos devagar, e ele dá um beijo em minha cabeça.

Eu realmente não sabia porque estávamos andando; então digo:

–Aposto que venço de você! - exclamo me soltando de seus braços, e saindo correndo.

–Ah é? Vamos ver então! - ele sai correndo atrás de mim.

Correr na chuva... Tá legal, um CASAL de loucos! Ai como amo dizer isso...