Não aguentava mais o barulho que jazia ao bater minha colher, em meu prato fundo de sopa fria. Eu fingia a estar esfriando, desde a hora em que me sentei para comer. Mamãe e papai estavam sentados em minha frente, terminando, cada um, sua refeição.

Eles nem sequer olharam para mim; ou talvez até tenham olhado por alguns momentos; porém eu estava distraída demais, tentando prestar atenção no intervalo de tempo entre as batidas do relógio, e o atrito da minha colher para com o prato. Papai termina de comer, e logo coloca seus cotovelos sobre a mesa, depois, encontra o olhar da mamãe; isso significa, que algo estaria por vir.

Eu percebo isto, pois bisbilhotava de “rabo de olho”. E como se não fosse óbvio, logo começa:

–Maria Júlia...? - diz mamãe esticando sua mão, acariciando então, uma das minhas; a qual estava em cima da mesa.

Eu olho rapidamente em seus olhos. E com tamanha gentileza e consolo com que ela me olhava; eu estava começando a segurar o choro. Papai também olhou para mim, fazendo com que meu olhar mudasse de direção, e piorasse ainda mais a situação. Fazendo assim com que eu não aguentasse, e uma lágrima escorresse por um dos meus olhos; além da tremenda dor que sentia, por não lava-lo por inteiro, amenizando assim de uma vez.

E nós ficamos assim por um tempo. Com mamãe acariciando minhas mãos, e papai com a mão sobre minha cabeça, suavemente, por um segundo. Depois disso, e depois de algumas últimas lágrimas escorrerem por entre meu rosto; mamãe me lança um sorriso gentil e se levanta. Eu logo desvio o olhar para meu prato novamente; ficar sozinha com meu pai, era o que eu menos queria agora.

Mantemo-nos num fúnebre silêncio. Meu pai, quebrando a pausa, jaz um inconfundível sonar; como se limpasse a garganta. Eu rapidamente o olho. Queria mesmo era rir do rosto, e da fisionomia dele agora. E bem, isso é um tanto constrangedor, convenhamos...

–É... – ele começa. – Filha eu... – tenta dizer, e eu percebia que ele variava o olhar entre mim, e mamãe; a qual estava lavando os pratos, pouco atrás de mim; e eu o interrompo.

–Não, não precisa pai só... – eu tentava me expressar de uma maneira que não parasse constrangedor, e que ele não se sentisse mal com isso.

Logo eu curvo a cabeça, deitando-me na mesa, empurrando assim o prato. Eu, por incrível que pareça, não estava com vontade de chorar; talvez até estivesse, porém nada saia; somente sentia a dor.

Pressinto que papai olhava pra mamãe, mesmo eu estando com os olhos fechados, e com a cabeça curvada. Isso não era tão difícil de perceber, era uma coisa quase que obvia. Então, no meio de tal silencio extremo, uma batida na porta.

Bom, eu não me levantaria dali, agora. Papai com certeza, trocava de novo olhares com mamãe; provavelmente, decidindo quem iria abrir a porta. Mamãe então, enquanto enxugava suas mãos em uma toalha branca, andava um pouco apressada até a porta; eu com curiosidade, ergui um pouco a cabeça, para ver. E então ela abre a porta, pegando agora, a toalha com uma das mãos. A porta se abre, num arrastar; e logo se ouve:

–Posso entrar? - pergunta uma voz que eu conhecia bem.