Circus escrita por Black


Capítulo 3
Burra


Notas iniciais do capítulo

Oin *-* Sério, eu estou ficando muito feliz com os comentários.
Eu simplesmente ADORO reviews com conteúdo, e estou indo agora mesmo responder aos que ganhei no capítulo passado.

Esse capítulo ficou grandinho (para os meus padrões), e o fato final eu tirei da fanfiction Sussuros Descuidados - por Ana Lancelot. Espero que gostem.

Esse capítulo tem minha dupla de gêmeos favoritos (tirando Apolo e Artemis), então aproveitem Thanatos e Hipnos enquanto eu deixo hahaha'



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O eco do vidro se partindo ainda se fazia presente na mente de Perséfone, olhou novamente para os dedos de Hades, realmente ele havia quebrado uma taça. E nenhum dos outros três integrantes da mesa sabiam o porquê de tal ato. Olhando o deus de soslaio, Perséfone percebeu que ele a olhava de volta e isso a vez abaixar a cabeça corando.

Ora, mas por que havia corado? Hades não era ninguém tão importante ou tão gentil consigo, então porque havia desviado o olhar? Resmungando palavras inaudíveis a deusa pediu licença e se retirou da mesa, sem nem mesmo ter tocado na comida.

A jaqueta de Thanatos pesava em seus ombros, deveria se lembrar de devolvê-la mais tarde, só que por hora tudo que queria era um canto quieto onde pudesse ficar em paz e colocar sua cabeça no lugar. Não devia se comportar como uma criança boba perto de todos, ou devia? Quem sabe assim Hades a deixasse ir para casa?

Balançou a cabeça, se fosse uma criança pirracenta, teria ganhado muito das coisas que queria e definitivamente não estaria ali. Suspirando Perséfone deixou seus pés a guiarem por aquele frio e mórbido castelo que mal conhecia, e nem fazia questão de passar anos de sua eternidade ali para poder conhecer.

Tudo era frio, e parecia meticulosamente planejado para estar ali. As caveiras em prata que pendiam do teto eram tão realistas, que se não fosse pelo brilho do metal, torceria todas as noites para a sua cabeça não ser o próximo adorno do castelo. O clima não era dos melhores, já estivera em locais frios, mas nada se comparava ao gelo do inferno.

Enganavam-se os mortais que acreditavam que o inferno era um local quente, e que seus ossos derreteriam assim que cruzassem os portões de ferro estigio. Podia sentir, graças ao seu poder que estava limitado, que a terra não era boa ali. Lembrando-se de quando olhara pela janela de seu quarto na noite passada, sufocou um soluço, as plantas que existiam ou estavam resumidas em galhos secos ou raízes velhas cobertas de neve.

Neve. A palavra ricocheteou por sua mente, crianças mortais adoravam quando nevava e Perséfone tinha de admitir, se ainda fosse uma garotinha de oito ou sete anos, a adoraria junto com elas. Mas agora, conhecendo um novo significado para neve, não sentia desejo nenhum de que nevasse.

Queria tanto ver o sol, não os pequenos feixes de luz que se embrenhavam pelas grossas nuvens do cinzento céu do mundo inferior, queria o sol, o de verdade. Aquele amarelo, que a aquecia no verão e nas manhãs de primavera, ou quando ficava na janela de seu quarto no Olimpo esperando Apolo passar com o carro do sol.

Ao lembrar-se de Apolo, seus lábios se repuxaram num sorriso, o loiro era sem sombra de dúvida seu irmão favorito e de longe seu melhor amigo. Apolo era o único que realmente se importava com ela, ou que realmente se importou um dia com Perséfone – salvo sua mãe Demeter.

O resto dos olimpianos a via como uma garotinha frágil, criada dentro de uma caixa de cristal, apenas para ser exposta aos olhos dos outros. O que outrora a deusa teria contestado, mas que agora não podia sequer não concordar. A prova clara disso era o modo como Hades a havia tirado de seu berço seguro e a jogado no meio dessa frieza, que correspondia aos seus domínios.

Agora sentada em uma virada de um corredor qualquer, com os joelhos dobrados envoltos pelos braços finos, percebeu que tudo que seus irmãos e primos pensavam a seu respeito sempre fora verdade. Era a garotinha dos olhos de Deméter, que sabia cuidar bem de um jardim, possuía cabelos castanhos escuros como terra molhada e os olhos multicoloridos. E bem, era só isso. Não era rápida como Hermes, bonita como Afrodite, inteligente como Atena, corajosa como Ares ou importante como Apolo.

Era só mais uma filha de Zeus. E se sentiu mais tola ainda por estar chorando por isso, mas era inevitável. Aos poucos o frio congelava as esperanças de que alguém viesse busca-la, e tinha quase a certeza de que seria deixada para trás ao notar que nunca tivera importância no Olimpo.

E por isso chorava, não passava de mais uma.

Hades estalava os dedos longos e quase translúcidos em sinal de impaciência, o corte rente suas juntas nem incomodava mais, e o sangue dourado não mais escorria dele. Logo sua pele voltaria ao normal, o mesmo mármore branco de sempre, frio e sem a mínima imperfeição. Seu rosto não expressava reação alguma, mas por dentro sentia o sangue borbulhar em suas veias.

Essa comparação poderia até ser engraçada, se o deus não estivesse com tanta raiva. Não sabia o que aumentará sua ira, se era o pandemônio que Deméter ameaçava fazer, ou o fato de Perséfone ser uma garotinha burra. Sim, a deusa era burra. Podia ver isso pelos sorrisos que trocava com Thanatos logo assim que ambos se juntaram a ele e Hipnos.

Foi instintivo, algo não premeditado e Hades se odiou mais ainda por isso. Não podia agir como um adolescente com os hormônios a flor da pele, sua adolescência havia ficado seiscentos anos atrás. E não era agora que ele voltaria a ser benevolente.

Por sua visão periférica podia ver tanto Hipnos quanto Thanatos parados, só aguardando sua fala. Sabia que não podia ser muito duro com ambos, ora eram garotos, mesmo estando a tanto tempo confinados no mundo inferior quanto Hades, ainda assim eram garotos. Mesmo tendo avisado que não queria gracinhas de nenhum dos gêmeos com a nova e indesejada convidada, Thanatos parecia ter sido o primeiro a se esquecer disso.

Sorte que Hipnos sempre tivera mais cabeça que o irmão.

– Então? – Hades disse, fitando os gêmeos que sua indiferente rotineira.

Viu Thanatos se encolher, era até cômico o anjo da morte, dotado de cabelos tão negros quanto os seus, marcas pelos braços e rosto, aquelas coisas mortais... ah, piercings pela boca, se encolhendo como um garotinho assustado.

Hades sabia que sua frieza incomum e o posto que assumia, não ajudavam em nada na hora de ser comparado a um monstro sem coração. Tinha certeza que seu nome era um dos preferidos por mães sedentas de mostrarem aos seus filhos o quão perigoso o mundo poderia ser. Até nos desenhos animados – os quais fora obrigado a assistir certa vez – O retratavam da maneira errada. Pra inicio de conversa Hades não era azul claro, com chamas azuis escuras no cabelo. Nem gostava de azul, isso era coisa que Poseidon gostava não Hades. Sua cor era o preto, ponto.

– Vai nós expulsar, senhor? – o gêmeo moreno reuniu coragem para perguntar.

Hades não devia, mas também não podia negar que a nota de apavoramento e medo contida na voz do garoto não lhe agradava. Ele era o deus, soberano do Mundo Inferior, rei do inferno, um dos três grandes ou como os mortais adorava chama-lo o demônio.

– Eu poderia – começou – E até desejaria muito, mas, infelizmente a mãe de vocês é uma amiga de longa data. E eu aposto que ela odiaria saber que eu expulsei seus filhos de meus domínios, enquanto ela estava aproveitando suas merecidas férias. – se virou para os gêmeos – Thanatos controle seus hormônios, garoto. Hipnos ajude seu irmão. Nada de gracinhas, estamos entendidos?

– Sim, senhor – murmuraram ambos, logo sumindo de seu campo de visão.

Logo a sala do trono estava novamente mergulhada no mais profundo silêncio, do modo que Hades gostava. Assim podia ouvir as lamúrias das almas depravadas que ousavam se aproximar se deu castelo e sua própria consciência, trabalhando no melhor castigo para cada uma delas.

Mas, antes de voltar ao seu reinado obscuro e cercado de gelo, o moreno tinha algo para fazer. Por mais que odiasse o papel que estava se impondo a cumprir, era um bom anfitrião acima de tudo. E talvez fosse por esse motivo que saiu em esmo pelos corredores de seu castelo procurando por certa deusa de olhos coloridos.

Hades ainda se lembrava de quando Perséfone era um bebê, contra sua vontade havia sido convocado a comparecer no Olimpo. Vestido com sua melhor cara de desgosto, seu manto negro jogado sobre os ombros e os olhos negros vítreos se aproximou da mais nova integrante da família.

Era só mais uma prole maldita de Zeus, seu odiado irmão mais novo, aquele que sentia prazer em humilhar-lhe todas as vezes que colocava o pé para fora de seu calmo e sossegado – na opinião de Hades – reino. De acordo com que caminhava até o berço de ouro maciço, que se encontrava posicionado entre duas colonas da sala do conselho olimpiano, os demais deuses e deusas abriam espaço para que sua pessoa passasse.

Por puro medo. Sua mente fez a questão de lembra-lo, colocando seu melhor olhar de indiferença e frieza no rosto, passou pelos pais da criança. Definitivamente Zeus e Deméter não mereciam parabéns de sua parte, talvez Hera merecesse um “lamento”, afinal essa fora mais uma das inúmeras traições de seu marido infiel,

Outra pessoa que merecia um “lamento” era o bebê homenageado na festa, talvez quando esse crescesse mais um pouco poderia até lhe mandar um bilhete com um lamento bem grafado em letras cursivas. De todo modo deu de ombros, não iria mandar essa mensagem estúpida de qualquer modo, Hades acreditava que antes de que essa nova prole completasse dez primaveras já estaria lamentando muito por seus pais.

Não pode deixar de torcer o rosto em uma carranca logo que seus olhos bateram na criança, era uma menina que tinha os cabelos da cor da terra – a coisa mais sem graça que o deus já havia visto-, a pele não era da cor de café com leite como a de Deméter, era bege clara – outra coisa previsível Hades notou, para piorar o bebê estava envolto em uma túnica roxa – urg, Hades detestava roxo com todas as forças. Lembrava a peste de seu sobrinho Dionísio, o bebê que havia sido gestado na coxa de Zeus, nada mais repugnante.

A única coisa boa que aquela criança tinha eram os olhos, a primeira vista eles pareciam violetas, mas depois mudaram para um verde oliva e agora já lembraram azul marinho. Hades nem se lembrava de quando havia estendido a mão para dentro do berço, só se deu conta de quando a pequena Perséfone apertou seu indicador com sua mãozinha gordinha de bebê.

E para completar o momento a pequena sorriu para sua pessoa, mostrando aquela gengiva rosada sem dentes, enquanto agitava os pequenos bracinhos. Hades sentiu seu lábio se curvar em um sorriso, mas que logo fez questão de mascarar. De modo rude puxou seu dedo das mãos de Perséfone que o olhou com seus olhos multicoloridos, como se ele fosse a coisa mais interessante de seu pequeno mundinho.

Em passos largos e apressados, Hades se afastou e logo já estava rumando para as portas douradas, por onde menos de dez minutos atrás tinha passado para entrar. Acabou por derrubar uma ninfa no chão e a mesma ia protestar se Hades não tivesse a fulminado com o olhar. E sem nem se desculpar saiu daquele local repleto de sol e harmonia, para seu odioso – pelos outros – mundo onde tudo era negro e frio.

Hades fez uma careta ao relembrar seu passado. Para o deus era perda de tempo lembrar-se de coisas inúteis que já haviam passado, elas não voltariam e ele dava graças a deus por isso. Não demorou muito para que encontrasse Perséfone, ficou surpreso que ela havia conseguido sozinha encontrar o caminho de volta para seu quarto.

Dando de ombros continuou seu caminho, adentrando no recinto e conseguindo a atenção da deusa, Hades ainda via aquele bebê de anos trás todas as vezes que olhava para a morena e não conseguia esquecer o sorriso doce e infantil que ela lhe dera. Era ridículo, mas ainda assim se lembrava dele.

As mãos da deusa suavam frio, em meio a muitos choros e soluços decidiu que teria de fugir dali por meios próprios. E tinha um plano perfeitamente bolado em sua mente, só precisava voltar ao seu quarto e de um lápis – o que foi fácil de encontrar, levando em conta que Hades havia providenciado para sua pessoa vários livros de colorir, gizes de cera e outros materiais de pinturas mortais – revirou os olhos, o que ele pensava que ela era? Um bebê?

Fingiu não perceber que o moreno se aproximava, era como um extinto, todas as vezes que o moreno olhava para sua pessoa, a temperatura subitamente diminuía. Era como se ele pudesse pisoteá-la só com um olhar. Contando até três Perséfone se virou, e sem perder seu súbito impulso de coragem, fincou o lápis que trazia escondido no ombro de Hades.

Com os olhos arregalados pela própria coragem, pois se a correr enquanto o deus olhava estático o lápis cravado entre um dos ossos de seu corpo. Que plano brilhante Perséfone! Cravar um lápis no deus dos mortos, esperar que ele morresse de hemorragia e simplesmente puff, sumir daqui? Se martirizando por sua estupenda estupidez, Perséfone nem percebeu que Hades já havia se recomposto do choque e que deslizava sobre o assoalho, atrás de sua pessoa.

Bom, ela não havia percebido, até que uma mão surpreendentemente gelada agarrou se a sua cintura e a puxou para trás. Sem nem precisar olhar já sabia que era, só Hades podia ter o termostato de um cubo de gelo, e pelo modo como segurava seu corpo não parecia nem um pouco satisfeito.

Torcendo um pouco o pescoço Perséfone viu que o lápis já não estava mais onde ela o havia cravado, e torcia para que Hades houvesse o deixado bem longe. Mas, se antes tinha medo de um lápis não mão de Hades, o pânico se alastrou por seu ser assim que percebeu que Hades sem decência alguma levantava seu vestido e deixava sua coxa direita exposta.

Ainda de costas para o deus, tentava a todo custo se soltar. Fosse chorando, gritando ou se debatendo, mas Hades era dotado de músculos que Perséfone não tinha e nem se nascesse novamente como um guerreiro iria ter.

– Um lápis? – Hades grunhiu em seu ouvido – Achou mesmo que isso me deteria? – então para o desespero total da garota Hades riu – Sei que não é burra, então não haja como uma Perséfone.

– Desculpe – pediu em sussurrou.

– Não quero suas desculpas – rebateu apoiando a coxa da garota em seu joelho – Não pense que eu não vou sentir prazer em fazer isso, deusa.

Foi tudo que Hades disse, antes de empurrar meio lápis para dentro da coxa de Perséfone.


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Notas finais do capítulo

Quem se arrisca a fazer a primeira recomendação de Circus? *u*
Eu iria ficar muito feliz e extremamente agradecida com essa pessoa.

Well well, quero reviews okey? Coloquem esses dedinhos gordos para trabalhar, porque eu sou uma puta exploradora mesmo!