A Fórmula do Amor escrita por Gabriel Campos


Capítulo 24
Um dia sem sol


Notas iniciais do capítulo

Genteeeee... mil desculpas, essa semana fiquei sem internet, precisei apresentar um seminário sobre apicultura (tirei uma nota merd*, mas a apresentação em si ficou legal), mas finalmente voltei e com um pouco mais de tempo.
Rezando pro semestre acabar.



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Diário do Berg

Não, por mais que os dentes daquele vira-lata estivessem cravados a minha carne, eu tinha que ter forças para sair dali. Mesmo se eu não pudesse correr, ou mesmo se alguém me pegasse, eu tinha que lutar. Eu não poderia nadar, nadar e nadar pra morrer na praia. Não mesmo.

Realmente eu achei que o cachorro iria ficar com a minha perna na boca, porque as meninas me puxavam com tanta força, naquela cena bizarra. Tamanha era a dor que a minha perna ficou dormente. Eu não conseguia chorar ou me preocupar com aquilo sabendo que eu estava prestes a perder a Valentina novamente caso não conseguíssemos fugir.

— Valentina, aguenta aí. — Suellen disse, soltando minha mão e retirando a mochila das costas. —Vem aqui cachorrinho, vem.

Ela deu a mochila para o cachorro pegar, e assim como esperado, ele soltou minha perna para dilacerar a mochila.

— Valeu Suellen. — agradeci, finalmente me sentindo livre.

— Vem logo, Berg! Precisamos correr!

O cão fez um estrago razoável na minha perna. No entanto, nada que uma boa medicação não resolvesse. Sorte que a mãe da Suellen era enfermeira e soube tratar o ferimento.

💜

Valentina e eu matamos as saudades que sentíamos um pelo outro. Parecia um sonho estar novamente ao lado dela. Eu senti realmente que, quando se ama, nada é impossível.

— Eu não acredito que você foi capaz disso, Berg. — disse Valentina. Ela pousou a cabeça sobre o meu peito e eu lhe fiz um cafuné. Com a minha mão esquerda, tomei a palma de sua mão direita e a apertei forte.

— Eu... eu te amo, Valentina.

Valentina ficou um pouco surpresa com as minhas palavras. Ela levantou a cabeça, olhou fundo dentro dos meus olhos e sorriu.

— Eu também te amo, Berg. Promete que nada vai nos separar? Promete que quando toda essa tempestade passar, nós vamos continuar juntos?

— Eu prometo. Eu quero ficar com você pra sempre. Você vai sair dessa, Val.

Ficamos abraçados por algum tempo, sob a luz das estrelas, na varanda da casa de Suellen. A lua estava linda, porém tão logo ela começava a se despedir daquela longa e os primeiros raios do sol já anunciavam o início de um novo dia.

Era hora de partir.

Missão cumprida.

💜

— Vocês não querem nem esperar amanhecer para ir embora? — Suellen perguntou,

— Não, a gente vai voltar pro hotel. Os atores devem estar me esperando. — Falei, ainda um pouco incomodado com o ferimento na minha perna, mas com um sorriso estampado no meu rosto por ter Valentina ao meu lado.

— Melhor não, Berg. A gente tem tempo. Além do mais com esse ferimento aí você não pode ir a lugar nenhum. — disse Valentina.

— E você tem que procurar um médico, por precaução. Vai que o cachorro tinha raiva? — disse a mãe de Suellen, que como enfermeira pôde fazer pouca coisa, haja visto que não estávamos num posto de saúde e não tinha todos os materiais necessários para tratar o ferimento.

—Tá, vocês venceram. Não subestime a intuição feminina! Mas bem cedo a gente vai embora, ok?

Pedi o celular da Suellen e liguei pra Ludi, para dar notícias. Ela estava sozinha naquele hotel.

Berg, seu ... seu... onde é que você tá? — a garota estava afoita.

— Calma Ludi. Já ta tudo resolvido, agora avisa pro Adolfo vir buscar a gente. Eu tô com a Valentina!

—Não? Você tá mentindo!

—É sério!

— Eu vou avisar agora!

Pensando bem (as meninas tinham razão), seria melhor ligar pra alguém vir nos buscar. Valentina e eu resolvemos dormir um pouco, mas logo acordamos com uma mulher fazendo o maior escândalo do lado de fora da casa.

Sei que minha neta tá aí, seus sequestradores!

Era a voz da Dona Rosário. Estávamos perdidos.

— Olha, eu vou chamar a polícia. Sei que minha neta está aí. Olha — ela mostrou a mochila — encontrei isso aqui no meu quintal! Delinquentes!

Parecia que ela ia avançar com tudo pra cima da gente. Valentina estava escondida, morrendo de medo.

— Não, dona Rosário, ela não está aqui. Ela fugiu? —tentei fingir que não sabia de nada.

— Não se faça de desentendido, moleque.

Diário da Ludi

Acho que estávamos quase chegando. O endereço era tipo no meio do nada virando a direita, sabe? Pois é. Chegando, avistamos uma casa, onde estava rolando o maior barraco lá.

Descemos do carro, Adolfo e eu.

—Pessoal, calma, o que tá acontecendo? — disse o ator, com uma voz autoritária, a fim de acabar com aquele bafafá.

A avó da Valentina quase desmaiou quando viu o ator.

— É o rapaz da novela!

— Sim, sou eu. Eu quero ajudar sua neta, onde ela está?

💜

Diário do Berg

Depois de muita conversa, ficou combinado assim: Adolfo Barreto levaria Valentina para sua clínica especializada em dependentes químicos no Rio de Janeiro. Ludi também iria com ele, pois conseguira uma vaga em uma escola de teatro.

— Eu... Eu não quero ir!

— Mas Valentina, é pro seu bem! — aconselhei, olhando dentro dos seus olhos.

— Eu não tô doente, eu não tô! Eu não quero ir embora! Eu não quero ficar longe de você, Berg!

Ela gritava no meio daquela casa, foi preciso que algumas pessoas a segurassem para acalmar. Acontece que eu também estava explodindo por dentro: foi difícil fazer aquela jornada toda para que, no final, eu ficasse longe da Valentina novamente. Dentre tantos encontros e desencontros, aquele, com certeza seria o desencontro mais demorado, contudo que traria a velha Valentina de volta.

Depois de alguns dias, quando os globais terminaram de gravar o filme, chegou o momento da despedida. Valentina já estava um pouco mais conformada. O fato de Ludi ir com ela a deixava mais calma, mas lembrar que ficaríamos longe novamente apertava nossos corações. Viajamos de volta à Fortaleza, poupando os detalhes de como minha mãe me recebeu de volta.

No aeroporto, Ludi e Valentina, juntamente com Adolfo Barreto, já estavam de malas prontas, prestes a embarcar. Rafa, Andreza e eu estávamos lá, para nos despedirmos e dizermos um “até logo”.

— Valentina, eu vou te esperar. Um ano passa rápido. — toquei as mãos da garota. Estavam gélidas, parecia que ela estava muito nervosa, talvez por conta de viajar de avião pela primeira vez.

— Berg, eu preciso falar com você.

Ela me puxou pelo braço para um lugar afastado, deixamos Rafa e Andreza falando com a Ludi e fomos conversar. Tentei dar um último beijo nela, mas ela virou o rosto.

— Berg, olha... Eu pensei tanto. Só Deus sabe o quanto.

— Ih, não tô gostando nada disso.

— Eu só sirvo pra atrapalhar a sua vida Berg. Olha quanta loucura você fez por minha causa!

— Eu te amo, tudo o que eu fiz por você não me custou nada!

— O amor custa caro, Berg. Você poderia ter se encrencado. Aliás, você, a Ludi e o Rafa.

— Não fala assim, Valentina. Parece que você quer...

— É, Berg. Eu quero te dizer que enquanto eu tiver fora, enquanto eu continuar sendo essa garota problemática, você está livre pra fazer o que bem entender da sua vida. Eu sei que você vai encontrar uma pessoa que combine com você, que não te dê muito trabalho quanto eu te dei, tirando a Madalena, é claro. — tentou rir, mas eu continuei sério.

— Eu não quero ninguém além de você. Eu esperei tanto tento pra ficar ao seu lado! Um ano não é nada! A gente pode se falar por telefone, internet e...

—Agora você tá livre de mim, Berg. Minha família tá livre de mim, porque até meu pai teve que perder a vida por minha causa. Eu só te prometo uma coisa: eu vou me curar. Eu tomei consciência de que eu tô doente e preciso de ajuda. Talvez eu volte do Rio de Janeiro como outra pessoa, mas quero que você saiba que eu sempre vou te levar comigo, no meu coração, seja pra onde for, por onde for, Berg. Você foi a primeira e a única pessoa que se importou realmente comigo...

Mais uma tentativa de beijo. Esse ela deixou. Agarrei sua cintura e ela correspondeu.

Parecia um último beijo, com gosto de lágrimas.

— Agora eu tenho que ir. É a última chamada. Espero te ver daqui a um ano.

Valentina virou suas costas pra mim sem dizer adeus. Eu compreendi o que ela quis dizer. Eu compreendia sua dor. Ela me amava, sabia quão difícil pra ela seria curar-se do vício se afastando de mim. Mas ela estava fazendo aquilo por minha causa.

Agora não tinha mais Ludi, não tinha mais Valentina. Faltava um semestre para acabar o ensino fundamental, e eu sei que seria o semestre mais vazio da minha vida.

Mas eu esperaria o tempo que fosse. Eu tinha fé de que ela voltaria curada.


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Notas finais do capítulo

E essa droga de destino sempre tirando a Valentina do Berg....