Além do que se vê escrita por Laís Leite


Capítulo 4
Capítulo 3 - Just Dinner.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem minha ligeira demora, tava meio sem inspiração! Mas agora vai! Hehe
Pessoal, se tiver alguma música nos capítulos é para ajudar a entrar no clima da situação, ok?
Beijos e boa leitura =)



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PDV - Giulia

Eu estava deitada em minha cama quando Victor me ligou. Ouvir sua voz me deu arrepios. A voz dele era muito bonita. Ele me chamou para jantar. Não aceitei de primeira, fiz um joguinho barato. Mas acabei aceitando o convite. Passei meu endereço. Ele disse que me pegaria às 19.

Arrumei-me com esmero. Queria estar bonita - apenas por puro exibicionismo. Queria provocá-lo. Ver até onde conseguiria desafiá-lo.

Decidir ir com uma saia mullet novamente. Preta, dessa vez, fazendo par com um cropped branco com um zíper nas costas e um decote em forma de coração, um salto preto e uma bolsa carteira.

Minha mãe apareceu na porta do meu quarto, enquanto eu passava o batom vermelho. Eu estava apenas de rímel preto e o resto do rosto uniforme. A única coisa forte e marcante seria o batom. Ela gostou das minhas roupas. Disse que eu estava bonita, que o cara que me levaria para o jantar ia ter um infarto. Dei um meio sorriso. Ela achou estranho - minha mãe tinha de ser tão próxima? Tinha de me conhecer tão bem?

Homewrecker - Marina and The Diamonds

Suspirei fundo e revelei, de forma superficial, a situação. Sem os detalhes sórdidos.

Ela me escutou, com o semblante impassível. Mau sinal.

Depois, falou:

–Cuidado com o que você faz. Você está se contradizendo, filha... Por que você condenou o caso de seu pai, se você está agindo semelhante a ele? Traição deixa manchas em todos os envolvidos, não só no traidor e no traído... Cuidado com os respingos.

–Levarei um guarda-chuva. - brinquei.

–Mamãe deu um meio sorriso e suspirou:

–Você já é grandinha o suficiente para entender as consequências de suas ações. Você está entrando numa situação sem volta. - Então, ela me deu um beijo na testa e se retirou do meu quarto.

Ela basicamente me chamou de hipócrita e de destruidora de lares.

Ela estava muito certa... Porém, minha curiosidade falava mais alto que o sábio conselho de minha mãe.

Olhei-me no espelho. Meu reflexo era bonito. A roupa caia bem, a maquiagem dava destaque aos meus lábios. Meu celular apitava demais, eram mensagens. Merda. Era meu ex. De novo. Decidi não respondê-lo. Suspirei fundo de novo. Senhor, me perdoe, mas ele vai acabar parando num hospital. Num coma. Respirando por um tubo. E, sobre a eutanásia, sou totalmente a favor. Se ele for o futuro defunto. Prometo até sambar no túmulo - isso me lembrou que devo voltar às aulas de dança de salão.

*

Desci para a portaria quando Victor me ligou. A fala de minha mãe ainda rondava minha mente. Difícil verbalizar que outra pessoa está certa. Ainda mais quando é sua mãe.

Victor saiu do carro para abrir a porta para mim, recebeu-me com um lindo sorriso. Esse sorriso me fazia promessas. Primeiro, ele me abraçou pela cintura e me deu um beijo demorado na bochecha. Depois, abriu a porta do carro para mim. Clássico cavalheirismo. Entrou, então, no carro.

–O que vamos jantar? - perguntei.

–Sushi, querida. Espero que goste.

Puta que pariu, ele acertou minha comida favorita.

Dei um sorriso torto e revelei sobre essa minha preferência que, para ele, era desconhecida.

–Que bom que marquei mais um ponto. Espero marcar mais a noite inteira. - respondeu.

–A noite inteira? Uau, que disposição! brinquei, com um sorriso na voz.

Victor me olhou com uma falsa repreensão.

Rimos, e começamos a conversar.

Um belo momento, enquanto falávamos de MPB, meu estômago embrulhou.

Percebi que não só a minha noite, mas minha vida tomava um rumo sem volta.

Minha postura ficou um pouco tensa, mas Victor não pareceu perceber.

*

Quando chegamos ao restaurante, ele, com a mão na base da minha coluna, me guiou para a entrada. Entregou a chave para o vallet no caminho. O maître nos recebeu com um sorriso meio forçado. Talvez estivesse irritado ou cansado ou mesmo com inveja de Victor, que estava acompanhado por uma menina com quase um terço da sua idade. Ele tem 45. Eu tenho 18.

Victor se apresentou. O maître nos encaminhou à mesa.

Ela era num pequeno salão individual. As paredes eram num suave tom de dourado, o chão era de uma madeira resistente. A mesa, de mogno maciço. A toalha em cima dela era de linho, numa cor parecida com a da parede. As cadeiras eram de madeira com o assento acolchoado. A iluminação era indireta, feita por luminárias redondas com inspiração oriental. Os quadros de cerejeiras estampavam a parede.

Era tudo bem rústico e aconchegante.

Uma gueixa perfeitamente vestida para receber esse nome nos atendeu pouco tempo depois que nos acomodamos, lado a lado. Victor pediu uma garrafa de um vinho branco que eu não conhecia e duas taças. A gueixa-garçonete deixou os cardápios na nossa mesa e foi buscar a primeira parte do nosso pedido.

Victor fez sugestões e as escutei com atenção. Disse para ele escolher, eu não entendia muito de sushi, apenas sabia do que gostava e não gostava. Dei algumas restrições. Quando a gueixa voltou, nos serviu, e ele pediu uma barca de 40 sushis.

Quando ela se retirou e fechou a porta de correr e brindamos a algo que não me recordo muito bem. Bebericamos o vinho. Era suave e ligeiramente doce. Refrescante e gelado. Uma delícia.

–Vinho e você, qual será o resultado final? - perguntou.

Ele roubou um selinho. Virei o rosto, fingindo recato. Ele notou o fingimento e deu risadas que encheram a salinha.

–Sério? Agora que temos privacidade e não precisamos nos conter porque não é tabu, você age assim? - comenta, divertido.

Sorri como uma criança fazendo algo ilícito escondido dos pais.

–Você já precisou se controlar em relação a mim? - indaguei, genuinamente curiosa.

Victor riu novamente. Agora, ele mais parecia uma criança contando um segredo, ligeiramente envergonhada, mas querendo contar de qualquer forma:

–Bom, você lembra a vez em que estávamos no corredor na frente da sala dos professores, e você estava com uma amiga sua, e respondi sua provocação puxando seu cabelo pela nuca? Pois bem, nessa ocasião, eu tive de me controlar para não te beijar ali mesmo.

Dei uma risada. Era sério?

Lembrei-me em flashes daquele dia:

Hora do intervalo. Uma amiga e eu paramos para cumprimentar Victor, e tirei sarro sobre o quanto ele tinha sido bruto comigo uns 45 minutos antes. Algo em minha mente gritou que eu me arrependeria de ter dito aquilo no segundo em que me calei. Victor olhou fundo em meus olhos. Um arrepio subiu pela minha espinha. Meus instintos gritavam para que eu saísse dali. Contrariei todos eles e continuei.

Victor respondeu:

–Quer dizer que você não gosta de um homem bruto - começou com uma voz aveludada. - que te pegue pela nuca e puxe seu cabelo? - e fez exatamente o que descrevera.

Todos os pelos do meu corpo se eriçaram. Virei o rosto para não demonstrar uma reação reveladora demais. Pedi que ele parasse. Respondi que existia hora e momento para tudo. Ele disse que ainda tinha salvação para mim. Ri, meio sem graça. Já ele o fez com um claro divertimento no olhar. Filho da puta! Saímos assim que tivemos a chance.

–Lógico que lembro. Você quase me matou de susto. E me deixou toda arrepiada. Você só não viu porque eu estava com um casaco bem grande, tanto nas mangas quanto no comprimento. Fiquei atordoada por uns dias. - respondi.

–Por que você ficou assim?

–Eu não esperava que você tivesse uma atitude assim, Victor... Fui pega de guarda baixa. Você nunca teve uma reação tão agressiva comigo. Você maneirou por um tempo, mas, depois, voltou com piadas bem sugestivas. Achei que você só tinha papo.

Victor ergueu uma sobrancelha, meio incrédulo:

–Só pode estar de brincadeira... Mesmo com todas as histórias que algumas de suas amigas, filhas de professor, sabiam e falavam sobre mim?

–Achei que você tivesse mudado. Ouvi falar que sua esposa é muito ciumenta. Ouvi diversas coisas.

–Sabe o que me disseram de você? - perguntou.

–Hum.

–Que você me achava um charme. Que tinha uma queda por mim. Coisas do tipo.

Cacete, me engasguei com o vinho.

–Era verdade? - perguntou, curioso.

Sorri, mas não confirmei. Lógico que era verdade, mas ele não precisava saber. Continuei a beber.

*

Devoramos a barca inteira enquanto bebíamos duas garrafas inteiras.

Conversamos muito, era incrível como tínhamos tanto em comum, apesar da enorme diferença de idade. Essa diferença não me incomodava muito, afinal, sempre preferi os mais velhos. Já dizia minha avó: Panela velha é que faz comida boa. Ela está certíssima.

Senti que embarcávamos numa comédia romântica barata e água com açúcar. Decidi que iria realizar minha fantasia de outra forma. Eu já tinha começado isso. Não iria voltar atrás.

Sugeri que saíssemos do restaurante e fossemos dar uma volta de carro por aí. Ele topou na hora. Pediu a conta e insistiu em pagá-la sozinho, quando propus que dividíssemos. Agradeci o cavalheirismo. Depois de pagar, Victor segurou minha mão e me levou para o carro dele, um Hyundai prata. Eu estava bêbada, ele estava apenas feliz.

Eu nem tinha ideia de que horas eram.

Victor ligou o carro e começou a dirigir sem rumo. Achávamos graça em algo sem muito sentido.

Olhei pela janela, distraída. O céu estava sem nuvens, mas com muitas estrelas, que brilhavam como diamantes. Prateadas. Únicas. Distantes.

Tornei a olhar para Victor, que ainda dirigia sem rumo, e notei certa peculiaridade enquanto sua atenção não estava diretamente para mim: suas mãos estavam firmes demais no volante, seus músculos do braço estavam rijos. Sua postura, tensa. Olhos fixos nas ruas e avenidas.

Envolvi meu braço esquerdo em seus ombros e me aproximei um pouco, ainda olhando para ele.

–Algum problema, meu anjo? - ele continuava a pagar de bom moço. Meu subconsciente o chamava de irritante.

–Nenhum... Só queria saber quando você vai parar de me enrolar. falei de um jeito arrastado.

Ele ficou chocado, mas me respondeu:

–Não estou enrolando você, só estou prolongando nosso estado de excitação.

–Tudo bem. - disse. Segundos depois, resmunguei, num sussurro que considerei quase inaudível. - Frouxo.

–Você quem pediu.

Victor bateu com o pé no acelerador, com um baque surdo, e, cantando pneu, me levou para um motel requintado.

Ele estacionou e entramos lá. Ele estava com a mão grudada na minha. Pediu o melhor quarto na recepção, e subimos por um elevador.

Entramos no quarto.

–O que você disse que eu era, Giulia? - perguntou enquanto trancava a porta do quarto. Seu tom era urgente e meio grosseiro. Meu coração palpitava freneticamente. Eu devia estar tremendo. Depois, ele se virou para mim e pude ver que algo queimava nos seus olhos.

Merda.


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Notas finais do capítulo

E agora, qual será a resposta de Giulia? Hahahahaha!
Deixem sua opinião aqui, babys!
Beijinhos! ;)



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