Além do que se vê escrita por Laís Leite


Capítulo 3
Capítulo 2 - Desire


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, novidades sobre o PDV!
Além disso, gostaria de dedicar esse capítulo à QueenBee.
Fofa, amei seus comentários!
Boa leitura a todas (os)! =)



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PDV – Victor

Ela entrou na sala dos professores usando uma saia mais cumprida atrás que na frente, de cintura alta, com uma blusinha curta e com um decote pequeno. Ela acordaria até os mortos, vestida daquele jeito. Aquela roupa moldava o corpo dela de uma forma diferente dos jeans e das blusinhas que ela costumava usar quando passava o dia estudando no colégio – dava um ar menos de adolescente e mais de mulher, mesmo ela só tendo 18 anos.

Seu perfume cítrico e ligeiramente doce inundou o lugar. Alguns dos meus colegas de trabalho fingiram não perceber, mas, na hora em que eu ia falar com ela, recebi uma mensagem de um colega da literatura:

*Nossa! Nem parece que foi nossa aluna no ano passado... Ela está solteira, não é?*

Filho da puta! – xinguei-o mentalmente.

Foi uma provocação muito sacana. Roberto era um cara muito filho da puta. Ele é do tipo que procura por rachaduras nas armaduras das pessoas, para poder atingir quem está dentro.

Ele descobriu a minha de um jeito que seria cômico, se não fosse trágico: colegas de trabalho, num bar, bebendo muito. Não podia dar em coisa boa... Eu bebi demais. Começamos a falar de nossas alunas que eram lindas. Giulia entrou na conversa por meu intermédio. Falei rapidamente sobre meu interesse em tê-la na minha cama.

Novamente, pela terceira e não será a última vez, Roberto é um filho da puta.

Encarei Giulia rapidamente, e vi algo diferente em seus olhos. Um nuance de luxúria, talvez?

Devo estar ficando louco...

Desviei o olhar e teclei uma resposta:

*Pare de falar asneiras, Roberto. Deve estar sim, ela tem 18 anos. Está indo pra faculdade. Deve querer apenas curtir. Tá esperando o quê, Don Juan? Vai lá!*

Roberto riu de minha resposta com um brilho irônico no olhar, e se prestou ao papel de continuar a discussão ridícula:

*Eu, Don Juan? Apenas risos. Minha fama está maior do que eu pensava... Não é uma má ideia curtir aquele corpinho na minha cama, ensinar tudo do jeito que eu gosto. Divertido. Obrigado pela ideia, Victor.*

Dessa vez, não respondi. Minhas atitudes falariam mais alto que uma resposta mal-educada.

Notei que ela não estava mais na sala, mas iria continuar no colégio, segundo o meu coordenador, ela passaria nas turmas de terceiro ano na primeira ou na segunda aula após o intervalo. Isso incluía minhas aulas em duas das quatro turmas do turno manhã.

Fingi que ia fazer uma ligação e saí daquela sala. Recebi outra mensagem. Dessa vez, de minha esposa:

*Amor, vou fazer outro plantão. Eles estão amando meu atendimento! Desculpe-me por adiar outra noite nossa noite de aniversário... Vou te recompensar, ok? Chegarei amanhã pela manhã. Amo você!*

Outro plantão? Puta que pariu!

Minha esposa largou uma carreira promissora de arquiteta para fazer Medicina. Eu apoiei. Ela está fazendo nome na área, e estou orgulhoso, mas... Caralho, eu quase não convivia mais com ela... Cinco plantões por semana já era brincadeira! E eram cinco quando eram poucos! Ela vivia a base de café e outros energéticos.

“Quem muito se ausenta, uma hora, deixa de fazer falta.” – lembrei-me do clichê.

O que me irritava era a veracidade dessa frase.

Muitas coisas andam me irritando, ultimamente. Deve ser a falta de sexo. Um porre como isso mexe com seu humor. Sacanagem – perdão pelo trocadilho.

Olhei para seu corpo. Ela tinha uma forma delicada e... Uma bunda que me deu vontade de dar uns tapas. Será que ela é submissa? Ou dominadora?

Devo estar com minha expressão de “quero te foder”. Que rude. Ela não precisa vê-la. Não agora.

Giulia estava de costas para a sala dos professores, falando ao telefone:

–“Mas meu amor, o que você está passando é, apenas, a Lei do Retorno. Ontem, você me deixou caindo aos pedaços . Hoje é sua vez.” Então, esse seu“Mas eu só...” é o cacete. Volte para sua faculdadezinha particular e procura uma patricinha do Direito ou do curso que você quiser. Tô pouco me fodendo para você, na boa. Me deixe em paz. – e desligou o telefone.

Valente, não? Gostei disso.

–Giulia? – chamei, enquanto ela se virava e erguia o olhar.

Nossos olhares se encontraram, e a conexão foi estabelecida e mantida. O ar a nossa volta era pesado. Quase como uma bolha que nos envolvia.

Se ela estivesse no meu carro, ou num lugar mais reservado, não estaria nem um centímetro longe de mim.

Seus olhos eram numa tonalidade estranha de verde. Eram mais escuros que os que eu já havia visto por ai, mas eram deslumbrantes. Eles estavam arregalados, ela estava surpresa. Vi a artéria de o seu pescoço pulsar, ela estava nervosa. Sua pele branca iria ficar linda depois de ficar toda marcada de hematomas. Olhei para o corpo dela inteiro. Uma noite com Giulia e eu estaria renovado... Ela tinha um corpo muito bonito. Seu rosto tinha feições delicadas. Nariz arrebitado, lábios desenhados e carnudos.

Essa menina ia me matar, eu tinha certeza.

–Oi, professor – ela gaguejou.

–Não sou mais seu professor. – respondi.

Era verdade... Não sei como não fiquei com ela quando era minha aluna. Acho que foi simplesmente medo.

–E o que isso implica? – ela perguntou, um tanto nervosa, nem deve ter percebido o tremor o no seu tom.

–Significa muita coisa. Acho que podíamos sair para jantar um dia desses. Posso pegar seu telefone? – perguntei, sem rodeios.

O que deu em mim? Vou acabar assustando-a!

Um brilho surgiu em seu olhar. Um brilho malicioso. Algo que pareceu involuntário.

–Você deveria ter tirado sua aliança, primeiro, não? – perguntou num tom de criança atrevida. Ela queria me provocar.

–E ela estar em meu dedo é algum impedimento? – devolvi na mesma hora, com o cenho franzido.

Ela parecia segurar suas reações. Estava meio complicado ler sua expressão.

–Por um lado, sim: vai contra a moral e os bons costumes, mas... Por outro lado, deixa tudo mais divertido e excitante, não acha? – disse com um sorrisinho sacana.

Saquei o celular do bolso e trocamos telefones.

–Te ligo mais tarde, meu anjo. Pode ter certeza. – puxei-a pela cintura, num abraço apertado.

Ela ficou sem ar. Ponto para mim.

– Isso não é nem metade do que sou capaz de fazer com você.

Virei de costas e entrei na sala dos professores, para pegar meu apagador e meus pinceis. Hora de dar aula de física.

*

No meio da minha explicação sobre ondas sonoras, o coordenador, Carlos, pede licença e entra na sala de aula. Giulia está logo atrás.

Carlos dá um “bom dia”, e os alunos respondem em uníssono. Ele apresenta Giulia rapidamente, e ela começa seu discurso:

–Bom dia, turma.

–Bom dia. – eles respondem.

–Bom, quero começar dizendo que todos nós somos capazes de ser o que quisermos. Não importa o que nos disseram antes. Até ano passado, eu estava no mesmo lugar: assistindo aula de física, apanhando da quantidade de exercícios diários, correndo atrás das minhas deficiências, que eram as exatas. Não é fácil, eu sei... Mas vale a pena o sacrifício agora, para a recompensa no futuro. Gente, é só um ano! Eu quase não saí no meu terceiro ano. Eu estudava 8 horas por dia, no mínimo. Férias em julho, em tempo de copa do mundo? Não soube muito bem o que eram... Mas valeu a pena. Eu passei no curso que eu queria. De primeira. Agora, tem de correr atrás: eu, por exemplo, perdi as contas de quantas vezes fui pedir mais questões para o Carlos. Ou de quantas vezes fui tirar dúvidas com o Victor. E vocês acham que era só da física dele? Não mesmo, de todas. Eu importunava todos os professores, fazia redações extras... Não foi fácil. Mas valeu a pena. Estou vivendo as melhores férias da minha vida. E sei que cada um de vocês pode. Basta querer e trabalhar.

Giulia discursava com maestria. Ela era inteligente. Linda. Sexy. Impulsiva e muito mais nova que eu. Tenho 45 anos, por Deus! Sou casado!

Ri comigo mesmo, controlando minha expressão impassível, enquanto ela continuava a falar. Olhei discretamente para minha aliança dourada e grossa. Comecei a pensar em minha esposa. Prometi honrá-la, amá-la, respeitá-la... Ser fiel. Tá aí uma promessa que não cumpri no meu primeiro casamento e não estava me esforçando para cumprir no segundo.

Parece que não aprendi a lição. Acho que esqueci que ex-professor + ex-aluna = divórcio.

Isso me lembrou de quando minha sábia mãe me disse que costumamos repetir os mesmos erros.

Aplausos me tiram dessa introspecção. Aplaudi também. Provavelmente, era sobre o discurso de Giulia. Ela agradeceu, deu um sorriso simpático a todos e uma discreta piscadela para mim.

*

Minha tarde estava um porre. Revisão de provas de muitas turmas, finalização das apostilas... Coisas que eu simplesmente não queria fazer.

Quando deu 18:00, desliguei meu notebook, arrumei as coisas e fui embora... Amo o que faço, mas, nesse dia, em específico, estava irritado por nada. Queria relaxar.

Quando entrei no meu carro, um Hyundai prateado, ligo para Giulia, convidando-a para jantar. Ela aceitou, embora que não imediatamente. Ela fez um joguinho do talvez sim, talvez não. Mas não era ela que iria mandar hoje à noite. Eu a pegaria às 19.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam? Haha ;)



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