Crônicas Solares [hiatus] escrita por CJwriter


Capítulo 6
Capítulo 6 - Converso sobre deuses com um professor universitário.


Notas iniciais do capítulo

~EDITADO~ (explicação sobre como Hélio se comunica no CHB/ Dica da Janis *valeu cremosa)
Já notaram como é difícil encontrar o número certo de um chalé de um deus menor? No próximo capítulo digo quem é o deus do chalé 31. Capítulo um pouco mais longo. acho que daqui pra frente a tendência é aumentar mesmo.
Sayonara!



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O sonho foi tão estranho quanto os outros. A massa volumosa se arrastava pela lama do pântano. Entretanto não parecia se sair do lugar, apenas se agitava como se estivesse presa.

Névoa cobriu minha visão e quando se dissipou estava em um amplo salão completamente branco. Incensos queimavam deixando um cheiro de flores silvestres no ar. Havia três pessoas no local, todas com roupas de inverno azul-claro e longas capas. Na visão, elas estavam de costas pra mim e diante de uma estátua de gelo. A estátua tinha cerca de quatro metros de altura e representava uma mulher com uma capa longa e um capuz, ela segurava um bastão tão longo quanto seu corpo e a outra mão permanecia estendida para frente. Algumas plantas se enrolavam na base da estátua, assim como em duas colunas que ladeavam a mesma.

— Olhe Hélio, Esse é o ritual de iniciação. Ela agora é uma serva da ‘Senhora’. — sussurrou a voz que se identificou como conselheira naquele sonho.

— Você de novo? O que quer desta vez?

— Calado! Vamos perdera melhor parte. — tentei falar novamente, mas as palavras não saiam.

— A Senhora aceita a oferenda de lealdade da sua filha! Levante-se! Aceite a vingança de nossa mão como se fosse sua. — a pessoa que estava ajoelhada se levantou e pegou um longo cajado branco, talvez feito de marfim, das mãos da outra que parecia presidir o ritual.

— Eu aceito! — pelo tom de voz notei que era uma menina.

Assim que ela bateu o cajado no chão, o ar ao redor esfriou e as plantas que se enrolavam na estátua e nas colunas secaram imediatamente.

— Quem é essa Senhora? — minha voz tinha voltado.

— É uma de minhas aliadas. — respondeu a voz. — Só falta você agora, Hélio. Sei que logo se juntara a mim. Meu plano está indo perfeitamente bem.

Acordei em uma... Enfermaria? O que eu estava fazendo em uma enfermaria?

— Graças aos deuses você acordou! — Adamastor pareceu surpreso enquanto surgia por detrás de uma das divisórias. — Pensei que estava em coma!

— Em coma? Eu estava só dormindo.

— Por três dias?

— Três dias? Como eu posso ter dormido por três dias?

— O conselheiro do chalé de Hipnos disse que era normal depois de usar tanto suas habilidades especiais.

— Habilidades especiais? Que habilidades especiais?

— Você acha que um humano normal conseguiria ter tanta resistência quanto você? Não sei o que te influenciava, mas correr por quase quatro horas em pleno meio-dia não é pra todo mundo. — olhei para minha mãos sem acreditar no que eu tinha feito. — Sem contar os carneiros...

— Uou! Isso não foi culpa minha! Eu só toquei a flauta.

— Cara, nós sátiros usamos essas flautas para interagir com a natureza...

— Você está querendo dizer que aqueles carneiros só apareceram porque eu ativei a “flauta mágica”?

— Sim, nunca tinha visto isso acontecer, mas se existem meio-sangues que manipulam a névoa, não duvido que exista um que manipule o poder das flautas de bambu.

— Essa coisa de novo? O que é essa tal de névoa mesmo?

— É uma força mística que impede que os humanos vejam a verdade. — Adamastor tentou ser o mais dramático possível.

— Que verdade?

— A magia. A névoa cobre os olhos dos humanos e fazem com que eles vejam algo que pareça mais natural para eles.

— Como quando você vomitou em mim? — lembrei-me daquela cena na escola. Pareceu tão real que quase cheguei a vomitar também.

— Ah, desculpa por isso, mas sim. Imagine o caos que seria se todos vissem os monstros que nós enfrentamos.

A imagem daquela enorme sombra me voltou à memória. Teria sido o grifo ou uma das harpias? Quis evitar pensar em algo pior.

Escutamos passos vindos do corredor.

— Adamastor, Quíron quer falar com o novato assim que ele acordar. — gritou um menino.

Quando ele entrou na enfermaria e me viu acordado deu um leve sorriso e me cumprimentou. — Ah, olá! Você deve ser o novato. Quíron está te esperando perto do pinheiro de Thalia.

Ao sair, percebi que algumas meninas o seguiam. As meninas tinham um rosto anguloso e davam sorrisinhos enquanto suas vestes longas balançavam no ar seguindo seus graciosos passos de dança. O mais estranho era o tom de pele delas: variações de verde e marrom amadeirado.

— Quem são? — perguntei.

— As garotas são ninfas. — ele suspirou ao falar a palavra ninfa. — O menino é filho de Afrodite, Ferdinand Guarnieri. Não se deixe enganar pelo sorriso dos filhos dela. O charme deles é poderoso.

— Bem, não sei se notou, mas ele é um garoto, eu sou um garoto...

— Não subestime os poderes de Afrodite.

Veio-me à mente a maldição de Narciso e decidi não me meter com um manipulador de emoções.

— Certo, onde fica esse pinheiro que ele falou?

— No topo da colina. Vamos lá!

Levantei-me e segui Adamastor através do acampamento. Em alguns momentos não sabia se estava no século XXI ou tinha ido para a Grécia antiga. Alguns campistas vestiam armaduras que eu vi em documentários históricos, outros lutavam com espadas em uma arena e algumas bigas sobrevoavam minha cabeça de vez em quando (já mencionei que eles usavam pégasos ao invés de cavalos? Legal né? Não! Principalmente quando elas passam a alguns palmos de sua cabeça).

— Não tem um tipo de carteira de motorista pra essas coisas? — Adamastor riu. Será que ele pensou que eu estava brincando?

No meio do caminho, ele me contou a história de como a filha de Zeus se sacrificou por seus amigos e acabou se transformando na árvore que protegia o acampamento. Ele falou também que, depois que usaram o velocino de ouro, ela voltou a ser humana.

— Mas se ela voltou a ser humana, como o pinheiro ainda existe?

— Quando eu descobrir te conto.

Corremos os últimos trechos da colina e ao chegar no topo encontrei Quíron, o centauro, treinador de vários heróis e atual diretor de atividades do acampamento jogando xadrez com, segundo Adamastor, um filho de Atena.

— Xeque-mate. — riu o senhor sentado em uma cadeira de rodas. — Ian, prefiro o Pinochle, mas desafio é desafio. Eu avisei que tenho éons de prática, não é tão fácil me vencer. Ah, se não é o mais novo meio-sangue. Sente-se, por favor, Hélio.

Ian saia da cadeira levando o tabuleiro e refazendo mentalmente as jogadas, talvez procurando explicação de como tinha perdido. Vendo-o de perto ninguém relacionaria Quíron com aquele senhor na cadeira de rodas debaixo das cobertas. Ele parecia mais um professor de universidade do que um treinador de Aquiles, Jasão e Teseu.

— O senhor queria falar comigo? — estava me perguntando se ele seria mesmo a pessoa certa.

— Bem, esse é meu trabalho. Geralmente temos um vídeo de orientação, mas não acredito que iria se convencer com um mero vídeo. E então?

— Então o que?

— Está convencido? — ele balançou os braços como se tivesse me mostrando algo que deveria estar ali.

— Não sei se entendi direito?

Ele olhou para as próprias pernas.

— Ah, desculpe. Passo tanto tempo nessa cadeira que quase esqueço de tomar minha forma natural. Um momento por favor.

Ele começou a se erguer da cadeira de rodas e em pouco tempo ela ficou vazia com duas pernas acopladas. Onde deveria estar um professor universitário estava um enorme corcel branco, ou quase, pois no lugar do pescoço erguia-se um dorso humano.

— Agora se parece mais com um centauro. — comentei.

— Você parece ser muito desconfiado, mas quando lhe apresentam provas concretas agi como se tudo aquilo fosse conhecido por você por toda a vida. Gosto do seu jeito de pensar, garoto. Alguns costumam negar a existência da magia por anos. Assim vai ser muito mais fácil lhe explicar sobre o nosso mundo.

— Ok, vamos lá! Poderia começar explicando porque tem um dragão naquele pinheiro? — apontei para o que seria o pinheiro de Thalia. (brilhante dedução, não tem mais nenhum pinheiro por perto mesmo).

— Oh, aquele é Peleus. Ele protege o velocino de possíveis ameaças. Entretanto não é esse o assunto mais importante por enquanto. Quero falar sobre seu pai. Já deve saber que ele é um deus, não é?

— Sim, mas como pode ser? Os deuses não são tipo, seres superiores e tudo mais? E como eles estão aqui no Brasil?

— Bem sobre isso, não estamos no Brasil, Hélio. Estamos em Long Island. — Adamastor estava arrancando alguns tufos de grama e mastigando.

— Obrigado por ter avisado cedo! Então eu dormi a viagem toda, enquanto percorremos essa distância montado em grifo voando a metros de altura do chão? — perguntei.

— É você tem o sono pesado. — ele respondeu e voltou aos seus tufos de grama.

— Espera ai! Se estamos nos Estados Unidos, como estamos conversando? Vocês não deviam estar falando em inglês?

— Isso na verdade é bem simples. Resolvemos adotar o grego como língua oficial do acampamento, já que é automático para a maioria dos meios-sangues. Assim, não temos problemas em caso de "intercâmbio".

Simples? Como é que eu podia achar isso simples?

— E como, exatamente, eu consigo falar grego?

— Todo meio-sangue já nasce sabendo grego antigo. É por isso que todos tem dislexia. Seu cérebro é adaptado para o grego, qualquer outro idioma é um problema. — respondeu Adamastor.

— Certo, vamos voltar ao assunto principal — Quíron ignorou qualquer questionamento futuro sobre esse assunto e continuou. — Os deuses. Sua mãe lhe contou algo sobre eles?

— Não, acho que ele nem sabia de nad... — Antes de terminar a frase lembrei-me do momento antes da minha partida da escola. — Ela também sabia? Por que ela nunca me contou nada.

— Conversei com sua mãe sobre isso desde que lhe “percebi”. Preparei ela para o momento que deveria leva-lo, mas ela me fez jurar não lhe contar nada até o momento certo. — Adamastor parecia levemente culpado, mastigando a grama sem ânimo enquanto falava. — Ela me contou sobre seu pai, mas disse não saber a verdadeira identidade dele.

— Certo mais algum fato que eu deveria saber antecipadamente? — Deveria sentir remorso por entristecer ainda mais Adamastor, mas esconder a minha própria vida de mim é demais.

— Ora, não faça isso com o pobre sátiro, ele estava fazendo seu serviço apenas. — Quíron afagou os cachos desgrenhados de Adamastor. — E respondendo à sua pergunta, sim ainda tem muita coisa que você deve saber antecipadamente. Não só os deuses como toda a cultura e histórias que o cercavam estão vivas.

— E por que eles estão aqui nos Estados Unidos?

— Porque é aqui que o atual centro do poder. Depois da Grécia eles foram para Roma, Alemanha, França, Espanha, Inglaterra. Eles seguiam o fluxo e sua presença estava interligada com o poder da região. E agora pararam aqui, nos Estados Unidos. Compreende?

— Não.

— Não espero mesmo que absorva tudo de uma vez só. Acho que com o tempo tudo ficará mais claro pra você. — Quíron virou-se para Adamastor. — Poderia ajuda-lo a se alojar no chalé 11 Adamastor? — Adamastor assentiu com a cabeça. — Acho que ele precisa conhecer um pouco melhor as dependências do acampamento. Nos veremos de novo em volta da fogueira, à noite.

Me levante, ainda um pouco confuso com a história, e seguia Adamastor para onde seria meu lar temporário.

— Depois disso, Adamastor pode lhe mostrar onde fica o chalé 31. Tem uma jovem lá que já esperou por você tempo demais. — Quíron piscou pra mim e eu fiquei com vontade de chegar a esse tal chalé 31 o mais rápido possível.


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Notas finais do capítulo

E ai gostou, comentou, favoritou?
Desafio: Qual é a deusa do sonho? Acho que dá pra sacar gente!
Queria ter feito o reencontro de Dany e Hélio nesse capítulo, mas não queria deixá-lo enorme, então foi pro próximo.
Sayonara!