A Última Sentença escrita por annacrônica


Capítulo 3
2º dia, 19/07/2013


Notas iniciais do capítulo

Estou de voltaaaa!
Uma linda leitorazinha deixou um comentário que me fez sorrir de orelha a orelha, e me animou a postar.
Vou marcar dias para postagem, okay? Um capítulo por semana? Juro que vou tentar cumprir o prazo, mas vocês também são autores e sabem como é complicado escrever num período sem criatividade :P
Ainda mais eu, que tenho só 13 histórias para terminar (as quais prometo postar assim que terminá-las).
Well, comentem o que acham! Titia ama vocês



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2º dia, 19/07/2013

Condenada à solidão, caí em um sono profundo no meio da rua. Acordei, meu cabelo embaraçado descendo pelas costas. Tremia de frio. Não tinha noção de que horas eram, mas o céu da madrugada começava a clarear. Perto da hora que eu iria para a escola. Olhando para os lados, descobri que ainda estava presa ao pesadelo. Abracei-me, numa tentativa falha de me aquecer. Estava próxima a escola, quem sabe não apareça alguém por lá?

Meus dedos começavam a perder sua sensibilidade por conta do frio, e eu sabia que precisaria de algo quente logo. Cambaleava em direção à escola. Queria correr, mas todos os músculos do meu corpo pareciam doer. Uma fumaça de vapor saía de minha boca a cada respiração, e eu achava incrível que dentro de mim ainda estava quente o suficiente. Por um momento senti que estava congelando, apesar disso não ser possível na minha cidade.

Depois do que pareceram horas, cheguei ao portão da escola. Uma fresta pequena afastava-o completamente da parede. Puxei levemente para abri-lo, mas, de alguma forma, uma estaca não deixava ele se abrir o suficiente para eu passar. Suspirei, droga. Não adianta me dar falsas esperanças. Eu estava sozinha. Olhei ao redor mais uma vez, somente para confirmar o quão tola eu poderia ser. Estava sozinha.

Sentei-me no chão, apoiando as costas no muro. O frio já não importava mais. Lágrimas geladas escorriam mais uma vez pelo meu rosto. Tentei contê-las, mas foi mais inútil do que minhas tentativas de correr. O silêncio era ensurdecedor. Alguns minutos passaram-se até que eu pudesse pensar com clareza e as lágrimas secassem. Estava parecendo uma garotinha mimada. O que eu estava fazendo? Sentada, chorando, esperando alguém vir me salvar? Ninguém viria. Porque ninguém estava aqui.

Interrompendo meus pensamentos, escutei passos distantes. Eram rápidos, mas baixos. Imediatamente fiquei alerta e meu choro cessou. Prendi a respiração, tentando ouvir mais. Uma leve brisa passou por onde eu estava, me fazendo tremer e cair na real. Tola. Mil vezes tola. Minha mente estava me enlouquecendo depois de somente um dia sozinha. Balancei a cabeça e me levantei rapidamente, indignada comigo mesma. Comecei a andar de volta para casa.

Depois de menos de um quarteirão, ouvi algo caindo. Senti a adrenalina sendo lançada nas minhas veias e corri em disparada de volta para escola. Meus pés arranhavam com o asfalto áspero, deixando pegadas de sangue pelo caminho onde passava. Forcei o portão, que não abria de jeito nenhum. Olhei para o muro de dois metros que se estendia à minha frente. Conseguiria escalar aquilo? Não ligava. Peguei impulso para trás e fui ao encontro do muro, conseguindo alcançar seu topo facilmente. Agarrei-me com todas as forças às grades e me suspendi com os braços. Uma perna passou por cima, seguida pela outra; era como se fosse outra pessoa que controlasse meus movimentos. Saltei de cima, sentindo o impacto nas juntas, mas não parei. Corri em direção ao que eu achava que teria vindo o grito. Olhei para os lados, ofegante. Uma porta que levava ao auditório da escola parecia reluzir, chamando-me para lá. Segui.

Estava vazio. As cadeiras brancas pareciam aguardar uma grande multidão que nunca viria. Acalmei-me e sentei na última fileira, assistindo a um espetáculo invisível.

Memórias agora invadiam minha cabeça. Trabalhos ali apresentados, momentos ali compartilhados; o jeito que minha vida era, o jeito que ela deveria ser agora. Rostos voavam ao meu redor, seus nomes parecendo mais irrelevantes do que nunca. Risadas familiares soavam em meus ouvidos enquanto um filme de todas as pessoas que eu conhecia passava no palco à minha frente. Subitamente, o filme parou, e eu me vi de volta à realidade. Levanto-me da cadeira devagar e começo a andar pela escola.

Saí do auditório, cautelosa, sem fazer barulho algum. Vaguei pelos corredores como um fantasma, arrastando minhas correntes imaginárias. Uma sombra passou no canto do meu olho, e virei tão rápido quanto poderia.

– Ei! – Gritei, num súbito desespero.

Corri até a sala em que a sombra tinha entrado, e deparei com a coisa que eu menos esperava. Realmente tinha alguém aqui, como eu pensara. Alguém passou por aqui e deixou a sala do diretor a maior bagunça que eu poderia imaginar. Papeis estavam espalhados tanto pelo chão quanto pela mesa, as gavetas estavam escancaradas, um quadro estava rasgado e não chão, enquanto os outros estavam tortos na parede, e o retrato da família do diretor jazia quebrado em cima da mesa. O mais estranho de tudo era um símbolo estranho pintado com – talvez – carvão na parede. Ele era arredondado, mas com dois traços que saíam a leste e a oeste dele, sendo o do leste maior que do oeste. Era, basicamente, um círculo com uma reta de tamanho irregular em baixo.

Automaticamente minha cabeça tombou, tentando entender o que era aquilo. Parecia ter sido feito às pressas. Aproximei-me e toquei aquele símbolo. O material era mesmo carvão, mas estava apagado, desenhado com pouca força, não me dando muito o que pensar. Realmente, alguém passara por aqui.

Um alarme me acordou dos devaneios. O relógio que avisava ao diretor a hora de tocar o sinal bipava, mostrando a hora: dez e meia. Tanto tempo assim tinha passado? Soltei um longo suspiro. Pelo o menos não estava totalmente sozinha. Isso era bom. Eu acho.

Desisti de procurar mais alguma coisa pelo dia. Vagueio pelos corredores novamente, de volta para casa. Chego ao portão sem me lembrar por onde passei, retiro a estaca automaticamente e começo à voltar para casa. Eu poderia simplesmente entrar em qualquer outra casa por ali e escolhê-la como a minha, percebi. Mas... Ainda tinha algo meu de verdade. Não queria ser uma intrusa. Cheguei em casa e deitei no sofá da sala. Não sabia o que fazer. Não sabia o que pensar. Não sabia se devia fazer algo, ou até se devia pensar algo.

De repente, notei minha exaustão. Meu corpo doía em lugares que eu nem sabia que tinha músculos e minha cabeça girava ao ponto de não conseguir manter os olhos abertos por muito tempo. Assim que me acomodei numa almofada qualquer, adormeci.

Não vamos leva-la.


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