A Última Sentença escrita por annacrônica


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

YEYYYYYYY! AUS ESTÁ DE VOLTA!
Depois de um hiatus demorado enquanto a linda autorazinha reescrevia a nossa querida história, ESTAMOS DE VOLTAAAAAAAAAAAAAAAAA!
Comentem bastante!



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A ÚLTIMA SENTENÇA

Estamos na cozinha, eu e meu pai, fazendo o almoço, como todos os dias da semana. Eu paro de enxaguar a louça e encho um copo de água, apoiando-me na geladeira enquanto meu pai corta pacientemente os legumes necessários para seu risoto tão especial.

– Pai, onde apareceu essa mania de risoto toda segunda feira? – Ele sorri, mas o sorriso não chega aos seus olhos. Demora alguns segundos para me responder, deixando-me um pouco preocupada.

– Era o prato favorito de sua mãe. – Sua voz não passa de um sussurro, e eu consigo sentir a dor que ele sente toda vez que tocamos no assunto.

Abaixo os olhos e finjo prestar muita atenção nas minhas cutículas. Mamãe morreu quando eu tinha cinco anos, e não me lembro de muita coisa dela. A história que meu pai me conta é que ela era mentalmente perturbada e que sofria de alucinações, terror noturno, esquizofrenia e mais milhões de doenças psíquicas quase impossíveis de cura. No fim de tudo, ela morreu durante uma de suas alucinações, caindo da escada e sofrendo um traumatismo craniano. Nunca soube o que ela tinha ou porque tinha, mas realmente não queria saber. Papai a amava infinitamente, mas acho que todos os “problemas” que ela começou a causar desgastaram todo o relacionamento deles.

Interrompendo meus pensamentos, papai solta a faca e me encara. Ele se levanta da mesa, com um olhar determinado e vem até mim. Segura meus pulsos com tanta força que prende a circulação. Ele me encara.

– Louise, não importa o que aconteça, nunca esqueça que eu te amo e nunca se esqueça de quem você é, certo? – Hesito, confusa com a expressão dele. Brande mais alto. – Certo?

Confirmo com a cabeça, quase implorando para ele soltar meus pulsos. Ele me deixa com um “já volto” apressado e sobe as escadas rapidamente. Fico estática no meio da cozinha, tentando acalmar a respiração e entender o que está acontecendo. Não muito tempo se passa e eu escuto seus passos descendo as escadas. Ele para na porta da cozinha, e posso ver que segura uma caixa velha de madeira, encrustada com alguns leves brilhos. Posso ver os nós dos seus dedos, brancos, á medida que ele pressiona cada vez mais a caixa contra seu corpo.

– Pai? – Ele começa a tremer. – Pai, está tudo bem? – Deixa a caixa cair e depois ele mesmo vai ao chão. Seu corpo contorce horrivelmente em convulsões e sua boca espuma; parecia que iria morrer. Seus olhos exalam uma dor excruciante. Levanto da mesa rápido, largando a faca e correndo até ele. Agacho-me, tentando conter seus movimentos e segurando a cabeça dele. Não posso perdê-lo. Não posso. É tudo o que me resta, é tudo o que eu tenho, não posso perdê-lo. Não, não, não!

Solto seus cabelos grisalhos e corro até a vizinhança, batendo nas portas com todas as forças e berrando por ajuda. Ninguém parece estar em casa. Minha voz está esganiçada e eu sinto as lágrimas quentes correrem pelo meu rosto, borrando qualquer resquício de maquiagem que poderia ter estado ali.

Não posso perdê-lo. Não posso perdê-lo. Não posso perdê-lo.

Corro de volta para casa, na esperança que consiga fazer algo. Um telefone, qualquer coisa que ajude-o, ajude-o, ajude-o... mas quando volto á cozinha, meu pai simplesmente não estava lá. Não estava. Sumiu.

– Pai? – Chamo. Passo pelos corredores, escancarando todas as portas da casa. Um barulho surdo ecoa a cada passo que dou pelo assoalho de madeira. Meus sentidos estão todos aguçados, mas não encontro nada a que possa me agarrar, se não à minha própria respiração e os batimentos cardíacos que latejavam na minha cabeça. – Pai! Cadê você?

Não posso perdê-lo. Não posso perdê-lo. Não posso perdê-lo.

Nenhuma resposta. A casa está em silêncio. Lembro-me da caixa que papai deixou cair quando... Direciono-me à cozinha novamente, desesperada para encontrar qualquer resposta. Agacho-me antes mesmo de chegar perto da caixa e o assoalho arranha meus joelhos. As lágrimas ainda rolam pela minha face, embaçando a vista. Não posso perdê-lo. Meus dedos trêmulos abrem a delicada tampa da caixa, esperando que seu conteúdo seja tão pesado quando a caixa em si.

Lá dentro, jazia um delicado colar em uma forma estranha e uma carta. Meu nome estava escrito numa letra cursiva corrida e delicada. Não consegui identificar quem havia escrito. Limpei as lágrimas e me concentrei, tentando absorver toda e qualquer palavra daquela carta.

Minha querida Louise,

Se você lê essa carta, eu não sinto dizer que já estou morta, morta, como todos um dia estarão. Mas não se preocupe, nós nos encontraremos mais adiante. Não sinta minha falta, Louise. Seja uma mulher. Seu pai com certeza terá feito todo o possível para que essa “doença” que eu tenho tenha sido tratada e que você tenha tido a melhor infância e, talvez adolescência, possível. Vários anos se passaram até que estivesse pronta para recebê-la, e eu parabenizo você por ter chegado nesse ponto.

A vitória de uns é a derrota de outros, como dizem. Já estou morta, e, infelizmente, seu pai também, não é? Essa caixa custou-lhe a vida. Mas, Louise, ele te ama. Sempre amou. E sempre amará. Tudo será explicado quando estiver pronta.

O colar que guardo há anos será algo que NUNCA deverá tirar de perto de você. Mesmo que se recuse a usa-lo, mantenha-o por perto. Faça isso pela sua falecida mãe e pelo seu falecido pai. Ele representa um ômega – última letra do alfabeto grego e muito usada para representar o fim de algo grande. Não posso explicar-lhe para que, apesar de tudo.

Orgulho-me de você, minha filha. Sei que passará por todos seus problemas com êxito e que conseguirá deter a sentença final. Confio em você, assim como todos ao meu redor.

Sinto não poder passar mais tempo com você. As coisas estão mudando por aqui, e irão mudar mais ainda. Sei que nada aqui faz muito sentido para você, mas fará. Você será algo extraordinário, ah se será. Amo você, minha Louise, eternamente. Lembre-se do colar. Não o perca. Nunca.

Não se assuste com o futuro e não se prenda ao passado.

Com muito amor,

Mamãe.

Mamãe. Mamãe havia escrito para mim. Mamãe me deixou um colar. Mamãe sabia do que iria acontecer. Mamãe sabia que morreria, e que logo depois meu pai morreria. Mamãe deixou papai morrer. Não posso perdê-lo, mas eu perdi.

A raiva tomou conta de cada terminação nervosa que eu poderia ter, e eu já não tinha vontade de chorar. Queria bater em alguém. Queria estraçalhar tudo ao meu redor, queria usar aquela faca que reluzia para despedaçar alguém com a facilidade que se despedaça um legume. Minhas mãos se fecharam com força e cada músculo meu estava tenso. Lutaria, ah, eu lutaria.

A caixa parecia agora me encarar. A carta zombava de mim. O colar pedia para ser estraçalhado. Revoltada, piquei o papel amarelado pelo tempo em milhões de papeis. Joguei-os pelo ar, desatando-me em lágrimas. A caixa ainda me olhava. Agarrei-a com força, e me levantava agora para joga-la do lado de fora de casa. Abri o portão com violência e joguei a caixa lá fora. Pulei em cima dela até quebra-la em milhares de pedacinhos, assim como fiz com a carta. Era a última mensagem de minha mãe? Era. Mas ela sabia que meu pai morreria. Ela sabia que morreria. Ela sabia que eu ficaria sozinha. Ela sabia. E me deixou aqui.

Uma risada áspera saiu de minha garganta, arranhando minha garganta. O barulho foi parando aos poucos, até que eu não conseguia ouvir nada. Nada, nenhum carro, nenhum pássaro, nenhum cachorro. Teria ficado surda? Tentei falar, não ouvi. Era ensurdecedor o tal do silêncio.

Agora, um zumbido tomava conta da minha audição e me deixava tonta. Tonta demais para vez a sombra que se aproximava rápido de mim, tonta demais para reagir, tonta demais para prever a pancada surda que a sombra daria na minha cabeça, e tonta demais para perceber que estava caindo e perdendo os sentidos.

Não vamos levá-la.


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Notas finais do capítulo

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