Descendants of the Future escrita por Feltrin


Capítulo 6
VI — Soldado




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Uma parte de mim dizia que estávamos todos nos escondendo de algo que sempre nos encontrará: a morte e seus braços gelados. Outra relutava numa possibilidade de tudo dar certo.

Aparentemente, eu havia sido espremida em um canto estreito por, no mínimo, umas seis pessoas. Ainda podia ouvir os passos apressados e vozes esganiçadas dos superiores vagando pelos corredores descontroladamente, e, certamente, era por isso que se conservavam prensados contra as paredes para não só conterem o medo agudo, mas se certificarem de que não irão trombar com ninguém da administração do complexo e arcar por ainda mais consequências.

– Grupo E! Grupo E! Acesso! – Um clamor feminino se destacou em meio a todo salão e outro estrondo ensurdecedor contraiu um abalo por todo o prédio em que estávamos, além de silenciar toda a gritaria em uma questão de segundos.

Em um estralo, todas as luzes de emergência acionaram-se no mesmo instante. Havia me perdido por inteiro dos outros novatos até ser resgatada por alguém do meio da aglomeração que me prendia e, até essa hora, a última das pessoas que queria encontrar estava lá: o loiro alto que tinha me questionado outra hora. Quase senti minhas bochechas ferverem de aflição por ter me esquecido de perguntar seu nome.

– Hudson, nós oficialmente estamos ferrados. Cada segundo que esteve parada lá foi uma perda de tempo das grandes. – Podia quase constatar uma repulsa pequena junto com seu tom de voz, e, por um momento, pude senti-lo apertar meu pulso com mais intensidade. Meu corpo oscilou por um instante e recobrei o passo assim que percebi. Mal pude reparar minhas mãos suarem e um nervosismo consumidor vagar por todo meu corpo temporariamente.

Queria lutar. Queria defender todas essas pessoas e acabar com os responsáveis por reduzirem nosso mundo à isso. Realmente, era um desejo insaciável. Mas só por pensar nisso me fazia querer correr e esconder-me em um lugar estreito e acobertado.

– Qual é o seu nome? Esqueci de perguntar. – Consultei, calmamente. Engoli em seco no instante em que reparei ele acelerar o passo.

– Isso não é hora para apresentações, Audrey Hudson. Mas você pode me chamar de Viktor. Nada de Vi, Vik ou qualquer outro apelido tosco que você tire dessa sua cabeça minúscula. Apenas Viktor.

Quando finalmente terminamos de percorrer um corredor inteiro, batemos de cara com um extenso elevador. Dele, vislumbro um homem sustendando uma garotinha morena nos braços driblar nossos corpos apressadamente. Sua expressão variava entre algo imparcial e rígido, a dela, quase pude vê-la morder os lábios como se evitasse dispersar os gritos de dor. Uma abertura irregular ficava situada um pouco acima da sua cintura, onde suas frágeis mãozinhas banhadas pelo próprio sangue procuravam qualquer maneira de trancar o sangramento ou abolir a dor. Mal queria descobrir o que havia fundado aquele ferimento. E muito menos entender o porquê de uma criança ingênua como ela estar no meio de uma batalha sanguinária.

O elevador atingiu o primeiro piso mais rápido do que desejava. Viktor finalmente se desvencilhou e investiu para o meio da batalha. Estava mais que ciente sobre não precisar de anuência alguma para lutar, mas meu coração parou por no mínimo uns vinte segundos quando meus olhos se chocaram contra enormes estruturas vivas e parcialmente consumidas por membros robóticos – mas seu corpo, em si, era arquitetado por uma substância acizentada e gelatinosa.

Consegui identificar alguns poucos novatos enquanto tentava apurar alguma pouca coragem de enfrentar aquelas grandes aberrações alienígenas, e, infelizmente, todos estavam se saindo horrivelmente mal. Os atiradores foram todos desarmados e permaneciam desacordados ou espalhados por todo o chão rochoso. Entre os privilegiados, estava Viktor que, por mais ter sido classificado como novato, estava desfruindo de suas habilidades de maneira excepcional e conclusiva.

Já estava quase alcançando os outros quando uma substância formigante conseguiu arremessar meu corpo para dentro de uma das pequenas aldeias de casinhas formais, mas que já estavam inabitáveis. O líquido cinza se solidificou e me aprisionou contra o solo enquanto ainda conseguia sentir tudo aquilo flamejar e queimar minha pele por dentro. Era uma ardência intensa que se espalhava pelo meu corpo não somente na região atingida. Em minha frente, distingui um dos meus estimados inimigos, preenchendo uma das mãos robóticas com o que imaginei ser outro jato de uma substância terrivelmente escaldada.

– Khadija, Soberano à sul! – Difundiu-se uma voz grossa no meio de toda adrenalina. A dor ainda se intensificava enquanto um desespero agudo despertava no fundo de tudo e, entretanto, me vi como achei que nunca veria: preparada. Seja para a morte, eu estava.

Toda a matéria que me mantia aprisionada se desintegrou em dois segundos e um portal excêntrico e negro se concretizou urgentemente à fronte, recebendo a esfera gelatinosa no meu lugar. Antes que pudesse divulgar todo feito, idealizei o portal em direção à um vácuo superior do que imaginei ser a cabeça do alienígena, e ele se materializou momentâneamente no mesmo local, atingindo-o com sua própria esfera bem a ponto de motivar chamas esverdeadas sequentes e dissolvê-lo através destas.

Os outros dois Soberanos vanesceram numa explosão excepcional que conduziu todos ao chão, mas ninguém se permitiu dizer uma palavra. Nem uma única palavra. Todos simplesmente se levantaram e, indiferentes, encararam-me por um instante. Depois, prosseguiram para acolher e auxiliar os feridos. Mal me preocupei em distinguir Viktor ou qualquer outro antes de correr para dentro do complexo novamente. Um cansaço extremo me conduziu ao chão outra vez antes de alcançar o elevador e, consequentemente, milhares de pontos negros cruzaram minha visão bem antes de ceder ao desmaio.

[...]

Meus olhos continuam fechados, mas um aglomerado de ruídos e conversas silenciosas me rodeiam. Pelo que imagino, estou deitada em uma maca em seguimento. O esgotamento ainda me esmorece e permaneço imóvel, apenas tentando distinguir alguma voz habitual.

– ...matou um Soberano. Isso é impossível. – Adverte uma queixa distante e que não reconheço a quem pertence.

– Ela é novata. Tenho que concordar. – Corta uma voz feminina e agradável, mas depois, tudo se resume ao silêncio – Mas é óbvio que ela pode estar morrendo ou já...

A maca continua sendo empurrada incessantemente e, no entanto, um eco de uma voz rígida e passageira faz meu corpo gelar no mesmo instante. Um anúncio da última coisa que eu queria ouvir.

– Tanner está morto.


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