Ela levou um susto e fez um gesto com o dedo no pescoço como se estivesse-o cortando. Sorri.

– Vocês se conhecem? - Meu pai beijou minha mãe. Levantei e apertei a mão do pai e da mãe de Clarissa que se chamavam Miguel e Camile.

– Sim. - Olhei pra ela. - Mais ou menos...conheci ela quase agora, na calçada.

Todos sentaram à mesa e minha mãe serviu o almoço. Comemos e meu pai pediu para que eu subisse com Clarissa para que eles pudessem conversar sobre "coisas de adulto".

Eu já tinha 17 anos, pouco me importava essas piadinhas de adultos. O pior é quando eles acham que não as entendemos. Subi com Clarissa pelas escadas.

– Achei que você me deixaria subir na frente. - Clarissa reclamou ao meu lado.

– Pra quê? Não preciso ficar olhando pra sua bunda sendo que nessa escada cabe perfeitamente duas pessoas lado a lado e ainda sobra espaço. - Falei emburrado.

Ela me deu um empurrão e logo chegamos ao topo da escada. Guiei ela até meu quarto e apontei para a cama.

– Pode sentar aí.

– Tá arrumadinho, quem arruma? A sua mamãe? - Ela sentou e riu.

– Cala a boca. - Peguei o celular e disquei pra Sofie.

– Tá ligando pra quem? - Clarissa perguntou.

– Silên...Ah, oi Sofie...

– Hum...tá falando com a Sofie... - Clarissa provocou.

– Quem é que está aí? - Sofie desconfiou.

– Oie. - Clarissa gritou.

– Só um minuto, Sofie. - Pedi pra que ela esperasse. Peguei a chave da escrivaninha, saí, fechei a porta e tranquei Clarissa lá dentro que protestou um pouco, mas depois calou a boca.

– Quem está aí?

– Ah, é a filha de uns amigos do meu pai. Ele pediu pra que eu subisse com ela pra eles conversarem lá embaixo. O nome dela é Clarissa, conhece? - Expliquei.

– É claro que ela me conhece. - Escutei Clarissa dizer lá dentro.

– Clarissa? Ah, sim, conheço...

– Então...?

– Então o quê? - Ela perguntou.

– Tava muito ocupada hoje né? - Perguntei enquanto andava pelo corredor. Meus pais riam lá embaixo junto com os pais de Clarisse.

– Ah, meus pais.... eles chegaram hoje de manhã...bêbados. Quando acordaram começaram a brigar e ficaram me metendo no meio da briga. Descobri algumas coisas que não sabia e fiquei bem mal. - Ela fez uma pausa. - Desculpa.

– Está perdoada se me explicar o que aconteceu ontem que eu cheguei tarde, acordei tarde e ainda estava na minha cama sendo que eu nem me lembro de ter ido lá. Tudo que eu me lembro foi que a gente entrou naquele beco e fomos pra uma biblioteca, depois, já de noite, fomos para um bar e em seguida para uma balada, aí eu comecei a virar os copos de bebida e daí eu não me lembro. - Eu começava a lembrar da noite.

– Sim, você começou a virar os copos de bebida de uma maneira muito louca e começou a dançar enquanto cantava alto, depois me puxou pra pista, dançamos, depois você voltou a virar os copos loucamente e contou piadas doidas, aí ficamos chapadões e eu chamei um táxi, aí eu te deixei na porta dos fundos, sua mãe estava acordada e te levou pra cama. Quando cheguei em casa dormi e acordei umas três horas depois com os meus pais entrando e rindo, depois começaram a brigar. - Ela contou.

Tentando desviar do assunto dos pais, voltei ao assunto da bebida.

– Por que será que eu tava virando todas?

– Sei lá. - Ela riu do outro lado do telefone. - Talvez estivesse tentando impressionar alguma garota, era o que parecia.

– Talvez fosse você. - Falei, mas me arrependi.