Até o fim escrita por Isabella Cullen


Capítulo 3
Quem é você?


Notas iniciais do capítulo

Amores mais um capítulo, obrigada por estarem acompanhando e me digam o que acham... e lindas eu tenho que agradecer as revisoras por me ajudarem. Beijos lindas!



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CAPITULO 3 – Quem é você mesmo?

– Achei que tínhamos combinado de você ficar por mais uns dois meses no máximo.

Sue a encarava séria, mas ela não recuou.

– Esse curso parece ser interessante e assim que terminar resolvi voltar para Londres. O calor já está me deixando maluca!

Era uma mentira necessária, Isabella estava gostando de ter Sue e as crianças por perto. Passava mais tempo com eles agora do que em qualquer outro lugar. Sue era boa com sua agenda e lembrava Reneé, sempre lembrava Reneé. Parecia. Era uma sensação agradável ter as crianças correndo pela casa, Sue e seu marido discutindo algo banal. Não queria ou não estava pronta para abrir mão daquilo, não tão depressa.

– Isabella, aqui em Los Angeles nunca terei sossego. Vou me preocupar a cada passo que você der. Sabe que ele ainda não desistiu, Charlie descobriu outra firma de investigação, essa é muito eficiente e acho que não vamos conseguir mascarar como as outras.

O coração dela disparou dentro do peito. O pai ainda procurava uma vingança como alguém que caçava, ela era a caça e isso não era brincadeira. Reneé a ensinou que seu pai era alguém frio e calculista demais, sua mãe biológica estragou o que seria um plano perfeito e aquilo era imperdoável. Depois da morte dela num abrigo, que segundo Victória era seguro, no Amazonas com alguns missionários estrangeiros Reneé percebeu que precisaria tomar cuidados.

– Eu sei. Mas só uns meses. – a voz era mais doce e suave. Sue não resistiria.

– Não são os meses que me preocupa! Ele está chegando perto mesmo com as pistas falsas.

– Seis meses e me mudo. Aceito até outro segurança se isso deixar vocês menos nervosos.

As duas se encararam por alguns segundos.

– Londres, nem mais um dia aqui! Agora vamos pegar os meninos na escola.

– Posso levá-los para almoçar? – aquilo surpreendeu Sue.

– Sozinha?

– Eles têm dez anos, acho que me viro bem com eles! Não confia em mim?

– Não confio neles! Mas é com você. - Sue saiu sorrindo;

Eles a fascinavam de um jeito inexplicável e levava jeito sem mesmo ter tido contato com criança daquela idade, Sue ficava mais tranquila com Isabella sempre por perto, mas ainda a incomodava o fato de pai e filha estarem tão perto um do outro. Eles não poderiam se encontrar sem haver uma tragédia anunciada, ele nunca desistiu, nem iria.

– Para onde vamos? – Seth e Leah olhavam para o motorista com desconfiança.

– Para o shopping, vamos almoçar o que vocês acham?

– Não podemos comer no Mcdonald’s em dias de semana!

– Larga de ser chata Leah, isso é com a mamãe. Estamos com a Isabella!

– Seth sua mãe deixou bem claro que não deveríamos ir lá, aliás, ela nos deu uma lista bem pequena de opções. – falou Isabella rindo.

– Droga! – ele cruza os braços e olha para a janela emburrado.

– Mas... podemos tomar o maior sorvete da praça de alimentação.

– Amo sorvete! – Leah se anima com a ideia.

– Combinado?

Seth ainda estava emburrado, mas soltou um sorriso de canto. O trânsito estava caótico e eles demoraram a chegar. Passearam pelas lojas de brinquedos e de eletrônicos, Leah e Seth estavam sempre atualizados com os lançamentos e deixavam qualquer vendedor confuso com tantas informações e perguntas, até Isabella se surpreendia quando eles começavam a falar. Comprou uns pequenos aparelhos para cada um e eles ficaram super felizes, Sue não dava nada se não fosse em datas comemorativas. Isabella tinha quebrado algumas regras e isso os deixou animados com o passeio. Na volta Leah ficou pensativa demais e isso preocupou Isabella.

– Não se sente bem Leah?

– Não, só fiquei pensando.

– Em quê?

– Minha amiga me perguntou quem era você e eu não soube responder direito.

– Quem sou eu?

– Ela quer dizer que você é muito nova para ser tia.

– Isso. Você é muito nova mesmo. – era raro eles concordarem Isabella ficou se perguntando o que havia por trás daquilo.

– Bom, e eu andei pensando que não temos madrinha.

– Quer ser nossa madrinha? – Os olhos de Seth estavam fixos no de Isabella.- Ela ficou pensativa.

– Bom... Madrinha?

– É, sabe madrinhas fazem coisas legais e desobedecem as mães.

– Seth...

– Por favor.

A voz de Leah era irresistível e eles a tinham conquistado.

– Claro meus amores.

Durante o resto do dia a palavra madrinha rodeou Isabella, era algo inesperado e agradável. Uma família, ela pensou, agora eles são minha família e nunca mais queria perde-los. Talvez pudesse convencer Sue a passar mais tempo depois do curso e se não fosse possível, um lugar menos distante como Canadá seria uma opção aceitável, quem sabe os meninos poderiam passar férias lá. A vida estava se tornando algo interessante e diferente, apesar de toda sua experiência aquilo era novo e quando chegou a casa percebeu um vazio e um silêncio que não cabiam mais nela.

A luz do dia entrou pela janela e Isabella lembrou-se de algumas coisas pendentes e levantou-se correndo. Ligou o computador e ficou lendo os relatórios intermináveis antes da reunião com uns acionistas. Precisava pelo menos parecer atualizada, o que tomou sua manhã quase inteira. Imprimiu alguns papéis e foi comendo no caminho. O motorista/segurança não disse uma palavra enquanto ela avaliava um último relatório e se preparava para umas críticas consistentes quanto a qualificação de uns empregados, queria ver mais cursos de atualização e estagiários, no quadro de funcionários havia somente uns gatos pingados que escreveram um relatório horrível. Precisaria ser firme, sabia que não a levariam a sério logo no início. Não foi diferente do esperado, ela precisou ser até grossa algumas vezes para prestarem atenção. Suas ideias não eram muito aceitas, mas reconheceram a importância de algumas mudanças e o inevitável investimento, maior do que o esperado e também do desejado. Entrou no carro cansada demais e percebeu, só naquele momento, o carro.

– Já consertaram?

– Sim, peguei hoje de manhã.

– O rapaz, aquele bêbado, disse que queria pagar. Ele está no meu pé há uns dias, atrasou o conserto e ele vai lá todos os dias para saber.

– Edward...

– Isso mesmo, ele está no meu pé. Já comuniquei quanto saiu tudo.

– Ele vai quando pagar?

– Não sei, falei com a irmã dele. Não estava em casa quando passei lá.

– Foi beber com certeza.

Na mente dela Edward era um caso perdido, tinha ar de bom moço para poder ter aquilo que queria, mas era vazio. A surpresa foi vê-lo na garagem esperando sentado quando Alec estacionou. Assim que viu o carro levantou-se e Alec foi abrir a porta, mas Isabella já tinha saído. Ele não estava tão envergado como da última vez.

– Oi, me avisaram que o carro ficou pronto.

– Sim. – ela reparou no cheiro agradável do seu perfume. Adorava esse perfume. – Por que está aqui na garagem?

– A senhora me avisou que não estava então eu não quis entrar, pensei em ficar aqui sentado. Ela disse que eu poderia.

– Não acho educado receber você aqui. Vamos para a sala.

Edward tentou agir naturalmente, mas o convite pegou ele de surpresa. Ela ainda não tinha sido simpática, isso o deixou sem saber o que fazer.

– Claro.

Eles foram caminhando pelos corredores que levavam a sala, ele colocou as mãos no bolso enquanto andava e Isabella achou charmoso ele estar sem jeito. Aparentemente tenso, ela pensou.

– Sente-se, por favor, quer alguma coisa? Está esperando há muito tempo?

– Uns vinte minutos.

– Não sabia que estava me esperando.

– Tudo bem, não imaginei mesmo que fosse estar em casa.

– Bom, não sei quanto deu..

– Foi três mil e quinhentos. Eu...

– Sabe, acho isso desnecessário. Você não vai mudar porque me deu esse dinheiro então não vejo propósito nisso.

– Eu... eu.. Eu queria ter algo para te convencer que não sou assim.

– Olha não precisa me convencer de nada.

– Mas... – o telefone dele toca uma música eletrônica alta e Isabella dá um sorriso de canto. Edward desliga e põe rapidamente para vibrar.

– Eu não penso nada. – mentira, ela pensava muitas coisas dele, a maioria ruins.

– Bom... – ele tira desajeitadamente o envelope do bolso. – não vou incomodar mais você.

A despedida incomodou Isabella. Ela queria pensar em algo que o prendesse ali uns minutos a mais, mas o nervosismo não deixou muitas opções na sua mente. Quando voltou do pequeno transe Edward estava com as mãos estendidas e o envelope branco anunciando o fim da conversa, ela o pegou e ficou pensando no celular. Devia ser alguém o chamando para sair e sentiu a raiva fluindo.

– Já cumpriu sua obrigação. – o tom de voz ríspido deixou o clima tenso demais e Edward virou-se para não mostrar-se envergonhado. A reação dele foi espontânea demais e Isabella se arrependeu, ainda queria mais uns minutos.

– Posso fazer uma pergunta? Nunca a fiz a ninguém porque ando pouco com pessoas assim.

“Pessoas assim” não soou nada bem e ela fez uma careta, mas Edward parou e virou-se. A pontada de alegria teve que ser contida.

– Bom, o que o faz ficar daquele jeito? Que emoção aquilo trás? Você usa drogas ou é só álcool? É todo dias ou só quando sai?

– São muitas perguntas. – ele abre um sorriso discreto e Isabella fica sem graça. Ela tinha ficado curiosa e aquilo ficou nítido.

– Eu uso alguns entorpecentes, não é todo dia e faço porque aquilo me deixa bem. Não sou viciado.

– Todo viciado diz isso. O que você usa?

– Uso êxtase e energéticos.

– Você não liga para o que está fazendo com seu corpo?

– Nunca parei para pensar. – ele dá os ombros.

– Deveria.

Um silêncio e a despedida inevitável.

– Acho que vou indo.

– Desculpa se me intrometi. Acho que fui grossa agora.

– Grossa? Foi gentil comparado a outras vezes. – ele riu achando aquilo muito engraçado e ela corou. Ele precisou admitir que o rosto um pouco vermelho dela o atraiu.

– Hum... Não vou pedir desculpas não tenho arrependimentos do que falei.

Resposta sincera. Edward gostou disso.

– Nos vemos por aí.

Ele sai da sala e Isabella sente uma onda percorrer seu corpo e fica pensando e repensando na curta conversa. Ela até pensou que poderia se livrar dos sentimentos iniciais com uma boa noite de sono, mas no outro dia nada a distraiu como ela pretendia. Chamou Alec para uma caminhada longa e cheia de músicas. Tudo começou muito bem, a praia estava cheia e as músicas altas o suficiente para nenhum pensamento a incomodar mais que o necessário, foi um pouco mais longe que o de costume e Alec pareceu preocupado demais. Resolveu voltar quando chegou perto Long Beach, realmente ela tinha caminhado mais que o esperado. A paisagem a dominou por uns segundos, a praia e o clima diferente eram agradáveis demais, percebeu um grupo de banhistas jogando um tipo estranho de vôlei. Usavam os pés e isso ela nunca tinha visto, o jogo estava animado e ela queria ver mais. Sentou-se num banco perto e viu seu coração acelerar, acelerou de uma forma descontrolada. Edward era um dos jogadores. Levantar ou continuar? O jogo parou e ela não percebeu.

– Você!

A voz não saia. Ela detestava isso! Era só ele chegar e tudo sumia da cabeça dela.

– Oi.

Ele estava sem camisa, o físico era algo lindo demais, os músculos definidos e o suor escorrendo por eles eram uma distração quase hipnótica. Tentou não deixar seus olhos se prenderem e olhou para baixo, pensou que parecia uma retardada.

– Nunca a vi por aqui.

– Nunca fui tão longe. Não sabia que fazia o tipo esportivo.

– Gosto de jogar com uns amigos.

Ela olhou para o grupo que ele estava agora conversando e rindo.

– São os mesmo que você sai?

– Não... esses são...

– Mais esportivos.

– Isso, podemos colocar assim. – ele sorriu torto. -Está calor, vamos tomar uma água.

Ele falava com muita naturalidade, suas palavras fluíam e ela ficou se sentindo uma retardada completa olhando para baixo. O pedido, ainda não tinha respondido. Olhou para seu rosto suado também e deu um sorriso discreto.

– Vamos.

Eles levantaram e foram para um quiosque próximo, andando devagar. Apesar das aparências os dois estavam nervosos, para Edward ela era especial e não sabia exatamente o motivo. Sentia uma fragilidade nela que não poderia ser demonstrada por aquela força aparente, uma barreira protetora que não deveria fácil de quebrar.

– O que você gosta de ouvir?

– O quê? – a pergunta dele a tirou de alguns pensamentos.

– O Ipod, o quê você gosta de ouvir? – ela estava segurando aquele pequeno aparelho com mais força a cada palavra que ele pronunciava.

–Hum.. bandas diferentes. Tem algumas australianas e britânicas, gosto de rock e também um pouco jazz.

– Musica eletrônica?

– Não.

– Acho que você não sabe apreciar elas. Deve ser um preconceito.

– Não tenho conhecimento para ter preconceito, nunca me interessei.

– Você nunca foi numa festa de música eletrônica?

– Nunca perdi meu tempo desse jeito.

– Perda de tempo? – ele arqueou a sobrancelha e ela sorriu.

– Have. Nunca perdi meu tempo.

– Eu não perco tempo, aproveito o tempo.

– Perde tempo com essa desculpa também.

Eles estavam se aproximando do quiosque e Alec ficou de longe, tentando não se aproximar demais. Isabella olhou algumas vezes para saber onde ele estava.

– Você é séria demais para sua idade.

– Quantos anos acha que tenho? – ela ficou ofendida com aquela frase.

– 20 anos. Quantos anos tenho?

– 20 no máximo. Como sabia minha idade?

– Como você sabia a minha?

Eles riram juntos e o assunto não fluía mais até chegarem a um quiosque próximo do lugar da partida, Alec agora estava se alongando discretamente afastado o suficiente para deixar Isabella a vontade. Não havia lugar para sentar então ela esperou num banco um pouco mais distante enquanto ele pegava um suco e uma água. Estava nervosa demais quando ele veio casualmente para seu lado com dois copos na mão.

– Amo essa hora do dia. – Edward estava olhando para frente quando disse isso.

– Por quê?

– A praia está agitada e todos parecem felizes o suficiente para rirem. Amigos e família, pobres e ricos.

– Interessante Edward. – Ela observou a paisagem tentando ver aquilo que ele amava.- Nunca estive aqui em Los Angeles, lugar diferente.

– Nunca morou aqui?

– Não, gosto do frio para ser sincera, esse calor todo está mexendo comigo.

– De uma maneira boa ou ruim?

– Ainda não sei, só sei que é meio arriscado.

Edward não entendeu a resposta.

– Preciso ir, tenho um compromisso. – Ela se levantou com o côco nas mãos e não deu chance dele responder, pareceu muito rude, mas ela queria mesmo sair correndo. Alec percebeu e a seguiu nos mesmo passo um pouco atrás. Isabella foi para a UCLA sem saber em que sala deveria entrar, esbarrou em algumas pessoas apressadas pelo caminho quando olhava para o celular tentando acessar o e-mail para descobrir a sala e ficou aborrecida quando descobriu que era do outro lado do campus a aula de pintura. Os alunos já estavam na frente de seus cavaletes e a professora explicava algo no quadro quando ela entrou e se ajeitou no cavalete com o seu nome. A professora se chama Lilian, era magra e usava óculos quadrados e pretos. Ela estava explicando algo sobre tintas iridescentes a um aluno na frente, tentou acompanhar o raciocínio e percebeu a apostila grossa na cadeira ao lado. Tinha seu nome também e ela folheou com mais interesse que na explicação. Tinha vários volumes sobre a história da arte e algumas explicações teóricas de técnicas de pintura. Gostou demais da normalidade da sala de aula e das piadas que alguns engraçadinhos faziam sobre pinturas clássicas do século XVII. A aula parecia interessante, apesar de ser só uma desculpa para ficar mais seis meses. Teriam algumas aulas práticas, outras externas e muitas teóricas com provas. Nada muito assustador, mas ela deveria conciliar a agenda apertada que Sue fazia, tinha muitos negócios pendentes, sua mãe investiu em coisas demais para seu gosto. Estava pretendendo se desfazer de alguns quase imediatamente. Mas na volta pensou em como deixou Edward sem resposta ou explicação, nunca tinha sido tão mal educada e se sentiu em falta com ele. Tinha sido gentil e ela desapareceu sem falar nada, não tinha o telefone dele e nem queria aparecer na casa dele, seria rude e inapropriado.

– Alec o Edward deixou o telefone dele com você para avisar quando o carro estivesse pronto não foi?

– Sim. – Alec detestava falar e dirigir. A resposta curta lembrou Isabella disso.

– Quando chegarmos lá, por favor, me dê.

O nervosismo de novo, aquilo não iria passar nunca? Que emoções poderosas poderiam estar interrompendo a calmaria que antes havia ali. Ela não o conhecia a tanto tempo para gostar dele, nem conhecia ele tão bem. Ele com certeza não poderia gostar dela assim tão facilmente. “Isso tudo era uma loucura que acabaria daqui a uns meses”. O próprio pensamento a deixou triste estava gostando das experiências e se acostumando com tudo. Queria mais de tudo, até do desconforto que Edward causava.


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Notas finais do capítulo

Então.. que desconforto é esse?