Soluço acordou em um salto, parecia que teve um pesadelo, estava ofegante e suando frio. Alguma coisa o avisou do perigo que foi solto, aliás, a primeira coisa que fez ao sair da cama, foi olhar a janela para ter certeza de que todos chegaram bem ao lar, mas o que ele viu foi apenas o que sobrou dos barcos. Estavam furados e queimados, dava para ouvir alguns homens ainda gemendo de dor. Ele usou sua visão para procurar pelo pai que por sorte estava bem.

Correu o mais rápido que pode e foi até o píer, e era muito pior vendo de perto:

Poucos foram os que retornaram com ferimentos leves, boa parte abafava os gritos com panos velhos. Cauterizações eram feitas às pressas e alguns morriam assim que pisavam no solo.

Sua respiração ficou pesada e ele sentiu que iria se transformar, Soluço tentou se conter, mas já sentia as escamas nascendo.

A sorte era que seu pai chegou são e salvo, o que conseguiu acalmá-lo.

― Pai! ― O garoto abraçou o líder e foi retribuído com outro quase sufocante. ― Pai, o que foi isso?

― A prova de que dragões são monstros e merecem a morte.

Essas palavras fizeram as garras crescerem, antes de o pai chegar a sentir, Soluço se separou escondendo-as atrás dos braços.

― Pra mim é uma prova de que devíamos deixá-los em paz.

― Como assim?! ― Aquela resposta era para achar outro meio de parar a guerra, mas iria formar uma particular.

― Acho que essa é a gota d’água, devíamos sair desse lugar e encontrar outro melhor e mais seguro. Isso já era demais, muito antes da sua ideia de invadir o ninho. Tem hora para desistir e precisa ser antes de sobrarem apenas mulheres viúvas, crianças órfãs e homens sem a capacidade de se defender de um ataque mais sério. Temos que pensar no bem comum.

Eu teria ficado impressionada se tivesse ouvido, era muita sabedoria em muita pouca idade, mas apenas gerou raiva no pai.

― Já pensou se eles vierem atrás de nós? O único jeito de isso acabar é com cada uma daquelas feras mor...

― Eles também têm suas famílias!

O grito foi ouvido por todos ao redor deles, foi tanta raiva que Stóico ficou sem saber o que responder. Soluço sentiu seu rosto começando a mudar e saiu correndo antes que alguém notasse.

***

Enquanto um armagedom acontecia do lado de fora, a tonta aqui estava dormindo profundamente como se tivessem me enfeitiçado. Parecia que nada iria me acordar, apenas os sacodes de Olavo conseguiram esse feito.

― Olavo?! O que foi?! ― Eu sendo grossa, odeio ser acordada assim.

― A gente tem que achar o Soluço! Precisamos ir o mais longe possível daqui, pra semana retrasada!

Ativei o modo líder preocupada:

― Se acalma e tenta explicar direito.

Olavo respirou tão fundo que parecia que queria falar tudo em um só suspiro:

― Tem uma mulher chamada Jaguadarte, ela era a antiga rainha dos dragões, matou o próprio pai para ser coroada aos quatorze anos de idade. Ela é uma louca varrida, tanto, que tivemos que prendê-la em um lugar que achávamos seguro, mas algum idiota a soltou, e temos que sumir de Berk e encontrar um lugar seguro para viver.

― Ela é tão ruim assim?

― Loki tem pesadelos com ela!

Empalideci e fiquei alguns minutos em silêncio:

― Ok... Agora tô com medo.

― E é para ter, mesmo.

Quando soube do que estava acontecendo, Melequento foi direto procurar pelo pai, sem saber que esse era o culpado por tanta desgraça:

― Pai?! ― Ele procurou por todo cais e o encontrou sem nenhum arranhão, nem sujo como Stóico quando voltou, mas sequer conseguiu suspeitar. O abraçou e recebeu outro totalmente desmotivado. ― Você tá bem?

― É claro que estou bem ― respondeu grosso como se nem quisesse ver o filho. ― Tudo ficará ainda melhor, muito em breve.