Contos do Tio Charlie escrita por Charlie


Capítulo 4
O Machado Enfeitiçado


Notas iniciais do capítulo

Conto de Terror/Horror...
Não recomendado para quem tem estômago fraco.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/513456/chapter/4


O SR. GRAYSON ESTAVA CORTANDO lenha no quintal de sua casa com seu mais novo machado.

Era apenas um machado comum, não tinha nada de especial nele. Mas o sr. Grayson tinha-o achado no cômodo em que mantinha suas ferramentas. Ele tinha ido procurar uma chave de fenda e, por acidente, tinha achado aquele machado. Assim que tinha-o encostado, ele sentiu uma vontade de cortar alguma coisa e, como não tinha mais nada para fazer, foi cortar algumas lenhas para a fogueira, pois o tempo estava começando a esfriar.

— Querido, venha! — gritou a sra. Grayson abrindo a porta dos fundos de sua casa.

Era o ano de 1958 e o racismo era presente nos Estados Unidos, mas o sr. e a sra. Grayson não ligavam para isso. Mesmo a sra. Grayson tendo sua pele numa cor de café, o sr. Grayson não ligava para aquilo. Ele tinha pele clara, mas não importava de sua mulher ter pele negra, ele achava aquela ideia de racismo um absurdo e, para provar isso e dizer isso para toda a vizinhança, casou-se com Meredith e teve um filho com a mesma; ele a amava.

O sr. Grayson tinha escutado o que sua bela esposa tinha dito. Ele se virou para olhá-la. A sra. Grayson vestia um belo vestido vermelho que lhe caia bem em suas curvas e combinava com o seu tom de pele. O cabelo curto e escuro estava preso e tinha um pequeno chapéu vermelho na cabeça. O menino estava com ele. Seu filho, Gary, tinha os olhos cor de mel e o cabelo escuro da mãe. Mas a criança tinha a pele e o tipo de cabelo liso igual ao do pai. O sr. Grayson queria que ele tivesse a pele igual a da esposa para que aquilo ficasse claro para os vizinhos algo do tipo: “Sim, eu tenho um filho de sangue que é negro e dane-se você!”. Mas, infelizmente falando, a criança tinha herdado a pele dele.

Os dois à porta sorriram para o sr. Grayson, mas ele, por mais que quisesse ir até sua família — beijar a esposa e bagunçar o cabelo do filho em demonstração de afeto —, ele sentia que não podia ir. Ele tinha que cortar mais lenha para a lareira da casa. Ele tinha que cortar... cortar e cortar. Apenas cortar.

— Mais tarde, querida — disse ele e voltou a cortar mais lenha.

Passado duas horas depois daquele episódio, a sra. Grayson não suportava mais a ausência do marido.

Ela tinha que tê-lo por perto, queria senti-lo por perto. Caso contrário, ela se sentia desprotegida, como se algum dos vizinhos brancos pudessem invadir sua casa e matá-la.

Mark Grayson, seu marido, tinha sido um anjo para ela. Sempre tinha sido cavalheiro, gentil, carinhoso e romântico para a sra. Grayson. Por isso que ela se apaixonou quase instantaneamente por ele. Ele era o seu príncipe.

Mas a ausência de seu príncipe foi tão absurda, que ela não agüentou e se levantou da cama. Era quase meia noite quando, ainda de camisola de seda salmão, a sra. Grayson foi até a porta que ligava ao quintal.

Ele ainda estava lá. Seu príncipe. Suando por conta dos movimentos com aquele machado que ele tinha encontrado no cômodo em que guardava suas ferramentas — os Grayson tinham uma pequena cabana que tinha quaisquer tipo de ferramentas possíveis no mundo, apesar de o sr. Grayson ser um advogado; ele nunca era de usar aquelas coisas, isso que era mais estranho.

— Querido, já é quase meia noite — disse a sra. Grayson à porta. — Venha, vamos entrar.

Mas o sr. Grayson continuou a cortar mais madeira.

Incomodada, a sra. Grayson foi até o seu marido e lhe colocou uma mão no ombro. Mas ela não deveria ter feito aquilo. Assim que ela fez tal ato, o sr. Grayson, com uma rapidez inacreditável, virou-se para a mulher com um semblante sombrio e lhe dei uma boa bofetada na cara, onde a mesma caiu no chão com a mão no rosto.

A sra. Grayson olhou para seu marido e ele ainda estava com seu semblante sombrio e com o machado a mão direita. Ele tinha batido na sra. Grayson. Ele nunca, sequer, tinha levantado a mão para ela. Muito pelo contrário. Ele sempre a tinha respeitado!

— Mark... — disse a sra. Grayson arrastando-se no chão para se afastar do marido que caminhava em sua direção. — Querido... o que está havend...

Mas o sr. Grayson tinha chegado perto da esposa e lhe deu outra bofetada na cara, impedindo sua esposa de falar. A sra. Grasyon sentiu gosto de sangue na boca.

O sr. Grayson pegou a esposa pelos cabelos com uma mão grossamente e a levantou. A sra. Grayson gritou de dor, mas o marido a ignorou com facilidade. O outro punho segurando o machado com força.

— Papai! — ouviu-se a voz de uma criança vindo da esquerda.

O sr. Grayson, ainda com seu semblante de raiva, virou-se para olhar para o filho a porta e o garoto olhava chocado para o pai.

— Gary, foge! — gritou a sra. Grayson para o filho. — Corra e se esc...

Mas o sr. Grayson jogou sua esposa no chão e a feriu-lhe no peito com uma machadada com força. O sangre jorrando do peito de sua mulher e o machado ainda cravado no peito dela.

Mas, de alguma forma, ela ainda estava viva. Ela olhava para o filho e estendeu uma das mãos em direção a ele. Porém, o sr. Grayson, tirou o machado cravado de seu peito é, com um movimento rápido, lhe cravou o machado em sua barriga, partindo a esposa em duas. E logo em seguida ele começou a decepar a própria esposa, corando-lhe os braços, antebraços, mãos, pernas, pés, peito... até ela ficar totalmente decepada e impossível de, um dia, ser costurada. Mas quando ele finalmente cravou o machado no rosto da esposa, afundando a parte afiada em seu rosto, ele olhou para o filho.

Gary, o filho, olhou incrédulo para o pai, mas ele não chorou. Estava chocado demais para chorar. O sr. Grayson pegou o machado, tirando-o do rosto da esposa decepada ao chão e caminhou em direção ao filho com o mesmo semblante que tinha matado a esposa: um semblante sombrio.

Mas o filho não foi estúpido.

Gary correu para dentro de sua casa, subindo os degraus de dois em dois para longe de seu pai. Mas era completamente impossível. Seu pai era um bom corredor como ele. Por mais que Gary corria pela casa, ele escutava os passos do pai.

Certa vez Gary tentou esconder-se debaixo de sua cama, mas o seu pai apareceu e, com rapidez, o menino deslizou para o lado, correu para gora do quarto, desceu as escadas e correu para a floresta atrás da casa.

Mas como previsto, seu pai foi logo atrás. Gary corria e corria, mas seu pai, com aquele machado à mão corria logo atrás. Gary tentava desviar-se, fazendo ziguezague nas árvores para cansar seu pai, mas nada dele parar. Ele estava a sua cola.

Em um momento vacilante, Gary escorregou e seu pai chegou a seu encontro.

— Papai... por favor... — implorou Gary.

Mas aquele não era o seu pai no momento.

O sr. Grayson levantou o machado e, com um movimento rápido e preciso, cravou o machado no pescoço do próprio filho, decepando sua cabeça. Mas aquilo não foi o suficiente. O sr. Grayson começou a cravar o machado no próprio filho, decepando seus membros, igualmente a esposa.

Por mais estranho que parecia, o sr. Grayson sentia um prazer absurdo fazendo aquilo. Era como cortar madeira, se ignorasse que ao invés de madeira eram pessoas e sangravam. Cortá-los era tão fácil quanto cortar a madeira para a sua lareira. O sangue jorrando do corpo de seu filho a frente era maravilhoso. Uma experiência nova. Uma experiência boa e prazerosa.

Ainda com o machado à mão, o sr. Grayson juntou o que deu para juntar do corpo de seu filho e o levou para o quintal de sua casa, onde o resto de sua esposa ainda estava lá.

Mas assim que deixou o que conseguiu juntar de seu filho amontoado ao corpo totalmente decepado de sua esposa, ele deixou o machado cair. E no segundo seguinte, seus olhos começaram a lacrimejar e ele começou a chorar.

— Meredith... Gary... — disse Mark Grayson, ajoelhando-se, debruçando-se dos restos mortais de sua família.

O sangue não o incomodava, nem mesmo a ânsia de vômito por ver os membros decepados de sua família o abalou e nem vieram naquele momento. Ele só queria chorar por eles.

— Eu sabia o que estava fazendo... — lamentou-se Mar Grayson. — Eu só... eu só... eu não conseguia me controlar... me perdoem...

E ele chorou novamente.

Mark Grayson chorou por mais alguns minutos, mas uma voz falou-lhe no fundo de sua cabeça.

Você sabe o que fazer, disse a voz.

O sr. Grayson olhou para os lados para ver de onde vinha a voz, mas, como nada encontrou, voltou a chorar.

Você sabe o que deve fazer para ser perdoado, disse a voz novamente.

Já abalado com tudo aquilo, o sr. Grayson, entre o choro, disse:

— O que eu devo fazer?

Ele soluçava de tanto chorar.

Pegue-me e mate a si mesmo, disse a voz em tom sedutor.

O sr. Grayson olhou incrédulo para o machado. O machado era simples. O cabo de madeira e a parte que cortava era feita de ferro bem afiado. O sr. Grayson o pegou e o olhou, inda incrédulo. Como um machado pode falar?, perguntou-se. Não é possível. Ninguém iria acreditar nele se dissesse, então... era melhor mesmo tirar a própria vida.

Faça, disse a voz no interior de sua cabeça.

O sr. Grayson olhou para o machado e, com um movimento rápido e antes mesmo que fosse um covarde para não fazer o ato, cravou o machado em sua própria cabeça.

O sangue jorrou e, de alguma forma, o machado tinha conseguido se desprender de sua cabeça assim que o corpo do sr. Grayson caíra no chão.

Mark Grayson estava morto.

O machado ainda no chão brilhou a luz do luar sombriamente.

Cinquenta anos depois, uma família, os Langston, comprou aquela casa em uma boa oferta. Eles tinham um menino novo com eles. A neve caia naquele momento e o sr. Langston resolveu cortar lenha. Assim que chegou no quintal, ele avistou um machado simples de cabo de madeira.

Ele tocou no machado e seu semblante mudou para sombrio no mesmo instante, e ele só pensava em uma coisa: cortar.

E ele ouviu uma risada no fundo de sua mente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Contos do Tio Charlie" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.