Our Strange Duet escrita por Elvish Song


Capítulo 2
Entre Amigos


Notas iniciais do capítulo

Imagino que vocês já imaginem quem seja o salvador de Celine, não? Continuem lendo, e descubram o que acontecerá!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/513405/chapter/2

Celine despertou sentindo uma dor excruciante, enquanto duas vozes conversavam em algum lugar à sua esquerda. Todo o seu corpo parecia queimar, e quando ela tentou se mover, não conseguiu de imediato. Recuperando aos poucos a percepção, pôde notar que estava deitada em um leito macio, coberta com lençóis quentes e apoiada em travesseiros perfumados. Com um pouco de esforço, conseguiu ouvir o que era dito:

– Erik – começou uma voz de mulher – eu preciso voltar ao Teatro. Acha que consegue cuidar dela?

– Não a teria trazido para cá, se não pudesse. – respondeu uma voz masculina incrivelmente melodiosa.

– Isso realmente me surpreendeu – tornou a mulher – Você nunca havia permitido que mesmo eu viesse até a Casa do Lago. De repente, traz uma estranha para cá!

– Ela estava morrendo, Antoinette – respondeu Erik – com frio, ferida, exausta. Eu precisava trazê-la para um lugar onde pudesse dispor de todos os recursos para tratá-la. A Casa do Lago era a escolha mais óbvia.

– É claro... Não minta para mim, Erik: você a trouxe para cá porque viu a si mesmo na garota.

– Não seja tola: sua deformação era apenas maquiagem. Perfeita, é claro, mas não o bastante para me enganar.

– Não me referia ao rosto dela. Você sabia que ela tinha fugido dos saltimbancos. Você viu nela...

– Poupe-me de sua análise, Antoinette. – Cortou o homem, ríspido – Meus motivos não te interessam. Agradeço-lhe por ter vindo ajudar-me a tratar da garota, mas isso não lhe dá o direito de tentar perscrutar minha mente.

– Muito bem. – A voz feminina se aproximou – Ela está despertando aos poucos. Se precisar, dê-lhe mais leite de papoula, daqui a uma hora. Voltarei à noite, para trocarmos novamente as ataduras. Se precisar de algo, mande Meg me chamar.

– Ela vai ficar aqui?! – Protestou a voz masculina – Nem pensar!

– Eu sei o quanto você preza sua privacidade, mas ela vai ficar, sim. A menina ferida não pode ficar sozinha e, se houver algum problema, você deve poder me chamar sem sair daqui.

– Às vezes eu odeio você, Antoinette.

– Você odeia a si mesmo, Erik – respondeu a mulher – Bem, eu volto em quinze horas.

Seguiu-se um período prolongado de silencio, ao longo do qual Celine se esforçou para banir a névoa de sono. Afinal, ela abriu os olhos devagar, e fitou o lugar em que se encontrava:

Jazia num quarto com paredes de pedra, numa cama enorme, com dossel e cortinado vermelhos bordados em dourado. Não conseguia ver muito mais do que isso, uma vez que outra cortina isolava o aposento, servindo de porta. Ao lado do leito havia uma mesa baixa, sobre a qual havia uma organizada cesta com remédios e ataduras; a iluminação era feita por lanternas cuidadosamente penduradas em suportes nas paredes. Havia ali uma enorme sensação de paz e aconchego.

Ao descer os olhos para si mesma, a moça viu que havia sido banhada e vestida com uma camisa comprida, masculina, de algodão. Seus cabelos haviam sido lavados, penteados e presos em duas tranças longas, e seus braços, mãos e tronco estavam envolvidos com faixas limpas. O rosto, ainda ardendo, parecia ter sido untado com uma espécie de ungüento. Quem quer que fosse aquele Erik, com certeza não era uma pessoa comum: que tipo de pessoa recolhia uma estranha das ruas, levava-a para a própria casa e lhe dispensava tantos cuidados?

Curiosa para conhecer seu salvador, ela tentou se erguer, mas foi frustrada em seu intento por uma dor insuportável, que a fez soltar um grito abafado e cair novamente sobre os travesseiros. Em menos de um segundo, a cortina à porta do quarto se afastou, e no aposento entraram uma menina loira e jovem, mais ou menos da idade de Celine, e um homem. Mas não era um homem qualquer: era o homem que a havia encontrado à porta do teatro, na noite passada. Fora na noite passada, certo? Ela já não tinha certeza.

O homem – que ela imaginou ser Erik – Vestia calças, botas e um sobretudo negros; os cabelos, também negros, estavam cuidadosamente penteados para trás. Sobre o lado direito de rosto, trazia uma meia-máscara branca, que lhe revelava apenas a boca e o queixo. O lado esquerdo era absurdamente lindo, com malar alto, sobrancelha grossa e reta! E os olhos... Por Deus! Os olhos amendoados eram aquele verde faiscante e incandescente, que parecia queimar com milhares de estrelas. E, naquele momento, aqueles olhos intensos estavam toldados por preocupação.

Erik se aproximou dela com cuidado, e perguntou:

– Como está se sentindo? – A voz dele era simplesmente deliciosa de se ouvir.

– Agora estou bem. – Respondeu a jovem – Obrigada por me salvar. – Ela hesitou antes de perguntar – Mas por que o senhor me ajudou?

O homem deu um sorriso triste, e respondeu:

– Você morreria, se eu não o fizesse. Ninguém merece ser abandonado à própria sorte; eu a ajudei porque, um dia, também precisei da ajuda de alguém. – E vendo a careta de dor de Celine – Lamento, mas precisará esperar um pouco antes da próxima dose de ópio.

– Está tudo bem. – respondeu Celine – Eu já estou acostumada à dor.

A garota loira, que até então se mantivera calada, perguntou:

– Como é seu nome?

– Celine.

– Eu sou Meg – respondeu a jovem, e indicando o homem – e ele é Erik – Erik revirou os olhos ante as palavras de Meg, mas nada disse.

– Obrigada, a ambos – falou Celine. O sono começava a pesar-lhe novamente nas pálpebras e, percebendo isso, o mascarado declarou:

– Você precisa descansar. Perdeu muito sangue, e quase congelou na neve. Durma.

Ele se virou, e ia saindo do lado da cama quando, veloz, a mão da moça ferida agarrou a sua. Mesmo através da luva que vestia, Erik estremeceu ao toque dela: geralmente as pessoas temiam tocá-lo! Até mesmo Antoinette e Meg, as únicas pessoas a quem se mostrava, receavam-no e evitavam o contato físico. Agora, aquela menina o tocava com naturalidade, pedindo que ficasse. Confuso e surpreso, ele fitou os brilhantes olhos castanhos, ouvindo-a perguntar:

– Vai estar aqui, quando eu acordar?

Enternecido como não se sentia desde Chris... Quer dizer, desde antes do incêndio do Opera Populaire, ele lhe beijou a mão com delicadeza, e respondeu:

– Eu estarei. Não sairei daqui antes de vê-la completamente recuperada. Descanse: você está entre amigos, agora. – Ele lhe acariciou o rosto ferido com as costas da mão, antes de se afastar.

O mascarado e Meg saíram, mas as palavras dele continuaram ecoando na mente de Celine: “entre amigos”. E foram aquelas palavras que a embalaram enquanto caía novamente num sono profundo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que estão achando desse lado de Erik?