A Busca escrita por Lola
Eu não havia conversado com Kane desde que ele me tocou no bosque. Por isso, eu não digo nada no carro enquanto ele dirige. Simplesmente o guio até meu bar favorito, no fim da cidade. O lugar é frequentado por motoqueiros e outros tipos, por isso a música que soa lá de dentro é alta.
Desço do carro e entro no lugar, ciente que Kane está bem perto de mim. Mas me sinto confortável com ele. Kane parece entender toda a minha inquietação, loucura. Ele me tocou, o que significa que ele não tem medo de mim. Isso pelo menos já é um ponto.
–Duas cervejas. -peço ao barman no balcão, sorrindo.
Pego um taco de sinuca e vou para mesa, que no momento está vazia. Kane está logo atrás de mim com as cervejas, e me entrega uma. Começamos a jogar em silêncio, apesar de algumas pessoas nos observarem.
–O que aconteceu, Ana? -Kane pergunta, finalmente, quando encaçapo uma bola com força desnecessária.
Me apoio no taco e digo:
–Emma passou dos limites e eu surtei.
Kane ri, seus lábios perfeitamente desenhados se erguendo. Ele passa a mão em seus cabelos, tomando uma cerveja.
–Você precisa relaxar. - ele diz, sorrindo.
Concordo, atingindo outra bola com o taco. Mas essa não cai no buraco, pois uma mão a segura. Levanto os olhos e vejo Tebeus rodando a bola de sinuca entre os dedos, um sorriso hipócrita instalado em seu rosto.
–Ai meu Deus... - murmuro, mais cansada do que assustada.
Kane se aproxima de mim, ficando ás minhas costas. Seu rosto endurece, mas ele não faz menção de ameaçar Tebeus.
–Sabe o que eu acho interessante? Que você não está acompanhada de um batalhão de pessoas como eu achei que estaria. Problemas no paraíso? -Tenebarum sorri.
–Mais do que você imagina. -murmuro, tomando um gole de cerveja.
–Você não devia deixar problemas atrapalha-los. Quero dizer, pessoas morrem o tempo todo... - ele sussurra, girando a bola em sua mão mais uma vez.
O encaro, alarmada.
–Isso é uma ameaça? -pergunto.
Tebeus ri, seus olhos fagulhando.
–Tenha cuidado, Ana. Quando eu quero algo, eu pego.
Me inclino por cima da mesa e digo:
–Boa sorte, então.
Me viro e começo a andar para a saída, quando ouço Tebeus dizer:
–Aproveite o tempo que você ainda têm com sua família, Ana!
Saio como um furacão do bar. Estou borbulhando de raiva. Pego a chave do Jeep com Kane e dirijo até uma estrada deserta, perto do lago da cidade. Quando paro o veículo, a raiva ainda não passou.
Tebeus havia oficialmente ameaçado minha família.
–Ana, olha para mim. -Kane diz, baixo.
Levanto meus olhos para ele.
–Não escuta o que ele diz. Tudo bem?
Encosto minha cabeça no volante.
–Eu... ai meu Deus, Kane. -sussurro, soluçando.
Kane coloca sua mão por cima da minha jaqueta, e sorri. Não é um sorriso feliz, mas um tipo triste, de lamento.
–Nós todos vamos morrer, Kane. Isso é um fato. -digo, chorando.
–Não vou deixar você morrer, Ana. -Kane diz, firme.
–Por que você está aqui? -pergunto a ele, entre lágrimas.
Kane suspira e diz:
–Estava pela Phoebe.
–Quem é Phoebe? -pergunto. -A irmã de Alex?
Kane balança a cabeça. Parece não acreditar no que eu digo.
–Ana, Phoebe era a namorada de Alex. Também foi minha, mas éramos mais amigos do que namorados. Por isso Alex não gosta de mim. Quando Phoebe morreu, Alex decidiu a trazer de volta a qualquer custo. Eu sei que ela não queria isto. - ele murmura, olhando para o lago.
Namorada de Alex?, penso, atônita.
–Mas... -começo.
–Mas isso é errado, Ana. Trazer alguém dos mortos é errado. -Kane diz. -Mas agora que ele decidiu isto, vou cuidar para que ninguém se machuque.
Assinto, olhando Kane com mais interesse. Estou tentando ressuscitar a ex namorada dele, penso, irônica.
–E você, por que está aqui agora, Kane? -pergunto, as lágrimas cessando.
–Por você, Ana. Vou cuidar de você. -Kane sussurra, me fitando com tamanha intensidade que tenho vontade de beija-lo.
Mas não o faço. Kane me puxa para seu colo, e tomo cuidado para não tocar sua pele com a minha. Amanhecemos no carro assim, e me sinto mais calma.
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