Contos de Santa Fé escrita por Owl KodS


Capítulo 8
Casinha




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Já fazia algum tempo que o inverno havia trazido aquela nevasca para vila, mas só agora o inverno realmente havia chegado no coraçãozinho de Ferdinando que havia brigado pela primeira vez com Gina desde que assumiram o namoro e oficializaram o noivado. A verdade é que a jovem não queria ir morar na casa do Coronel, mas ele também não queria ir morar na casa do Pedro Falcão.

–Dia migo Giácomo, dia Ferdinando - cumprimentou Renato - Você não está lá na casa do seu Pedro com a Gina?

–Ará migo Renato - respondeu Nando enquanto dava um gole em sua pinga - Era onde eu queria de tar, mas nóis tivemo uma discussão.

–E ai você veio aqui para o Giácomo - concluiu o amigo - E porque vocês discutiram.

–Assunto nosso, mas vo conta pro ocê - respondeu ele - Acontece, que ela num qué i mora comigo lá na casa do meu pai.

–E você acha que ela não tem motivo para isso Ferdinando? - perguntou o amigo - Não foi o seu pai o primeiro a ficar contra o casamento de vocês?

– E você acha que eu num sai disso Renato - respondeu ele - Fui eu quem torceu o coronel. Mai o problema mermo num é esse, porque seu Pedro inté ofereceu a casa dele pra nóis ficá.

– E qual o problema então? Você fica na casa do pai dela. Não vai ser a primeira vez, só que agora vocês vão durmi juntinho.

– Já disse que num é esse o problema.

– Então qual é o problema Ferdinando?

– O problema, meu amigo, é a mãe dela, a dona Tê inté que tá gostando da ideia do casório e inté foi a favor d'eu ficar com a Gina lá no começo, mas depois, quando o tar do Viramundo tava por lá ó... Só me queria longe.

– Então porque você não monta uma casinha para vocês, assim você não vai morar lá e ela não vai morar com seu pai, e aposto até que seu pai ia ficar feliz.

– Renato, ocê é um gênio meu amigo, eu até lhe beijaria, se eu não tivesse a boquinha doce da minha Gina esperando. Inté.

~~x~~

–Pedro, ocê ouviu isso? - perguntou dona Tê se levantando da cama.

–O que, que que foi? - perguntou seu Pedro desperado acompanhando o movimento da mulher.

–Barulho na escada Pedro, ocê num tá ouvindo não omi? - perguntou a mulher indignada.

–Ará mãe, deve de se uma das menina indo pegá água lá na cozinha - respondeu o dono da casa se virando para o lado a fim de voltar a dormir - Agora ocê pude vorta a dormi?

– Ará Pedro, maí ocê num tá preocupado que pode de se um ladrão? - perguntou com os olhos esbugalhados enquanto segurava o braço do marido.

– Rá! Uma ladrão mãe? E que que ele ia de faze por cá? - perguntou ele com ironia - Ocê sabe que por cá num tem dessas coisas, agora vortá a dormi.

–Intão ocê vorte a dormi que eu vô lá em baixo para ve que que é isso.

– Ará, intão ocê me deixe dormir - respondeu o homem enquanto a mulher saia do quarto - Qualrquer coisa ocê grita que eu desço correnu mãe - disse ele antes de se virar para dormir.

Dona Tê desceu as escadas devagar, pé ante pé, para não assustar quem quer que estivesse lá e, no fim, o marido estava mesmo certo. Não havia nenhum ladrão, apenas uma massa de cabelos ruivos e revoltados sentada junto a janela.

– Fia! Ocê acordada tão cedo? - perguntou a mulher

–Ará mãe! Eu nem consegui dormi ainda - respondeu ela.

–E por que não? - perguntou enquanto ia se sentar e afagar os cabelos da filha.

– Porque eu i o Ferdinando brigamo mãe - respondeu ela simplesmente.

–Mai e por que qu'ocês brigaram fia?

– Nóis brigamo porque brigamo mãe, ará - respondeu ela brava, enquanto se levantava de repente.

– E brigaram assim, por nada? - Gina sabia que não havia sido por nada que Ferdinando não queria morar ali na casa de seu Pedro, ele havia, inclusive explicado os motivos para ela, mas não podia dizer a mãe que seu casamento estava em risco porque ela apoiara o Viramundo uqnaod ele morava lá.

–Isso num importa e se ocê vai fica fazenu pergunta a noite toda eu vo vorta pro meu quarto - respondeu ela.

– Ará fia, se é assim eu não perguntou mais - disse ao perceber que a moça não queria tocar no assunto e se retirando para voltar para o quarto com o marido - Mai ocê devia dormi um pouco tamem.

Ela suspirou e continuou a subir a escada enquanto observava a filha riscar o vidro embaçado com os dedos.

– Quem era lá embaixo mãe? - perguntou Pedro quando a mulher se deitou ao lado dele.

– Nossa fia - respondeu simplesmente, enquanto o marido virava para olha-la

–E o que houve com ela? - perguntou ele.

–Tá amanu Pedro, é isso que houve cum a nossa menina.

Depois que mão subiu a moça ficou mais um tempo na sala até que decidiu que era inútil esperar que Ferdinando viesse vê-la aquela hora da noite. Então caminhou até a cozinha para pegar um copo d'água antes de subir para dormir, foi nesse momento que percebeu o movimento do lado de fora da casa e ouviu o barulho frágil e baixo de uma pedra contra a janela de seu quarto no andar de cima, então correu até a sala e pegou sua espingarda, apenas para ter certeza que tudo estaria bem.

–Quem tá ai? - perguntou ela baixinho o suficiente para não ser ouvida a longa distancia, mas alto, não só para ser ouvida, mas também para ser temida. - É melhó ocê aparece se não eu atiro.

–Ará Gina, ocê disse que não atiraria em mim - respondeu Ferdinando saindo de algum lugar atrás dela e cochichando em seu ouvido.

–Ferdinando - respondeu ela dando um pulo para trás e caindo em seus braços - Eu podia te atirado em ocê sabia? Ou outra pessoa? - disse mais preocupada do que propriamente irritada - Que qu'ocê tá fazenu por cá uma hora dessas?

– Eu vim vê ocê - respondeu por fim - Ainda tá brava com eu?

– Ará Nando, eu nunca que ia ficá brava com meu frangotinho - respondeu ela deixando a arma de lado para se aconchegar no abraço do noivo. - Mai é bom ocê entra ou vai ficá gripado aqui no frio.

– Na verdade eu num vim só para isso Gina - respondeu ele - Eu quero que ocê vá lá dentro pegá sua capa, que eu quero lhe levar em um lugar.

–Onde nóis vai? - perguntou se voltando para dentro.

–É uma surpresa - respondeu simplesmente enquanto a observava correr para dentro a fim de pegar a capa.

Quando ela voltou os dois andaram lado a lado pelas roças do pai da moça e quando chegaram em um ponto Ferdinando parou.

–Agora eu quero que ocê feche os olhos - disse ele

–E porque isso agora Nando? - perguntou enquanto observava ele.

–Porque é uma surpresa, ou ocê num confia em mim.

Ele sabia que aquela era a forma de convence-la a fazer quase qualquer coisa, pois ela confiava nele tanto quanto confiava em si mesma ou no pai. Depois de envolver a cintura da jovem com o braço, Ferdinando beijou-lhe de leve os lábios.

–Agora ocê fica carma, que nós já vamo chega - ele disse e, realmente, pouco tempo depois, Gina sentiu as costas baterem contra uma árvore e abriu os olhos por um milésimo de segundos antes de ser beijada pelo noivo.

– Ará Ferdinando - respondeu ela aos risos quando ele se afastou - Que qu'ocê tá fazendo?

–Eu quero que ocê veja isso, foi ideia do doutor Renato - respondeu ele enquanto saia da frente dela para que visse o começo do que mandará fazer.

Não havia muito ainda, só uma base para a estrutura, mas isso já deixava claro que não ia ser uma grande casa, mesmo assim Gina caminhou até lá com um sorriso no rosto e passou a mão sobre a estrutura de madeira.

– Eu passei a tarde convencendo o pai a construi isso aqui - disse ele seguindo ela - Vai se pequeninho, só pra nóis dois - disse ele suavemente enquanto se aproximava. - Eu escolhi aqui ó, porque prá lá - disse apontando para o lugar de onde vieram - É o sitio do seu pai e prá lá ó, é a fazenda do meu.

–É perfeito Ferdinando - respondeu ela - Mai só para nóis dois?

–Ará, por hora sim - respondeu ele a prendendo contra a viga próxima - Mas depois nós pode aumenta para cabe eu, ocê - respondeu ele pontuando cada palavra com um beijo - um fio, dois, três - ele acabara beijando o pescoço fazendo com que ela risse com a cosquinha provocada.

–Ará - respondeu ela simplesmente.

–Nóis vai mora aqui depois do casamento Gina, e não vamo mais briga por causa de casa - respondeu ele - Ocê topa?

– Ará Nando que pergunta mais besta - respondeu envolvendo o pescoço dele com os braços - É claro que eu topo - ela disse simplesmente antes de beija-lo de leve nos lábios - Mai com uma condição.

–Qualrquer coisa Gina - respondeu ele - O que ocê qué?

– O pai vai te que juda na construção da casa

– Como ocê quisé menininha, mas agora - respondeu ele a puxando para junto da árvore novamente e para o terreno de seu Pedro logo depois - Eu quero passá a noite c'ocê.

– Ará Ferdinando, ocê...- ela estava chocada com a proposta

– Não Gina, eu quero que ocê passe a noite com eu sim, mai não do jeito que ocê pensando - ele disse dando volta nela e a abraçou por trás - Pelo menos não ainda - disse beijando a dobra do pescoço e acabou ganhando um pouco mais de intensidade quando ela arquejou, não que Ferdindando tivesse alguma culpa real em deixa-la marcada, ele só não havia calculado direito a própria reação.

– Então o que que ocê qué dizê cum passá a noite com eu? - perguntou depois que ele largara a boca dela.

Tudo acontecera tão rápido que ela nem perceberá quando ele deixara de sugar o ponto em seu pescoço para beijar-lhe os lábios e isso já era motivo suficiente para que não percebesse quando entraram ou quem havia aberto a porta dos fundos e talvez só tivesse percebido por conta do barulho dos cintos e similares que ficavam guardados no corredor que dava para a sala. O mesmo lugar onde haviam assumido o namoro .

– Pshiu - respondeu ele - Primeiro eu não quero ninguém e segundo... - ele fez uma pausa enquanto a guiava para a sala - Eu só quero fica assim abraçadinho c'ocê e, se não tivesse tão frio - respondeu sentando-se no mesmo lugar que ela estivera antes e puxando para junto dele - Eu nem teria trazido ocê de vortá.

– Ocê é muito abusado frangotinho - respondeu enquanto voltava a beija-lo. Os dois passaram muito tempo sentados abraçados e trocando beijos enquanto conversando sobre toda a sorte de coisas até que os dois acabaram pegando no sono ali mesmo para acordar apenas na manhã seguinte com o sol nos olhos e dores no corpo. - Nando - ela sussurrou baixinho.

– Dia meu amor - ele disse com os olhos entreabertos - Como ocê dormiu essa noite?

– Melhó impossível - respondeu ela se espreguiçando contra o peito dele - Mai agora eu acho melhó ocê i simbora que o pai e a mãe já devem de tá acordando i não vão gosta nada de vê ocê por cá.

–Eu ja me vou - disse ele ainda acariciando o local onde ficara a marca de seu beijo na noite anterior - Mas eu vo vortá pra vê ocê.

– E eu vo esperá - respondeu dando um beijo nele.


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