Like Ghosts In Snow escrita por Drunk Senpai


Capítulo 55
Sincerity Is Scary




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—Por que? – Foi a única coisa que conseguiu sussurrar entre soluços, agora. Nada mais fazia sentido e as falsas esperanças que nutrira antes, agora eram um golpe duro em seu coração. Aquele era realmente o fim... Orihime não mais conseguia imaginar nenhum tipo de peripécia que lhe salvasse daquela situação, mas ao menos queria entender o motivo de tudo aquilo. – Por que tá fazendo isso comigo? Com o Ulquiorra? – Choramingou um pouco mais, fazendo com que a mulher que ia em direção a saída, voltasse mais uma vez para ela.



—Ora, minha querida... – A ouviu usar uma vez mais, a voz doce com a qual falava com ela antigamente. Uma falsa delicadeza que a angustiava. – Não me entenda mal... Veja bem, digamos apenas que o seu namoradinho tem inimigos grandes e muito vingativos. – Lhe respondeu simplesmente. – E, bom... você não passa de dano colateral! – Sorriu, como se lhe tivesse dito uma gentileza. – Não é nada pessoal.

—“Inimigos?” Quem faria algo assim? Por quê?— Insistiu. Podia admitir, Ulquiorra não era particularmente do tipo de pessoas que fazem amigos com facilidade, mas daí a ter inimigos? Alguém que chegaria a esse ponto para atingi-lo? Não conseguia pensar... Talvez, não o quisesse fazer àquela altura.

—Você realmente não sabe de nada, não é mesmo? – Lhe perguntou num tom mergulhado em cinismo, recostando-se contra a porta. – Aposto que ele nem te disse a verdade sobre o que ele é, coitada!

—O que... O que quer dizer...? – Perguntou, mesmo que seu âmago lhe ecoasse que talvez fosse melhor não saber.

—Ah, que cara cruel! – Aquela risada sinistra ecoou mais uma vez. – Tantos segredos... E olha só onde lhe trouxeram, não é mesmo?

Nenhuma palavra conseguia se formar agora, enquanto Orihime a via sair daquela sala, tranquilamente, deixando para trás o assombro da contagem regressiva, agora lhe restando apenas 10 minutos. Tão pouco tempo, enquanto as perguntas e terror infestavam seus pensamentos... Acabaria mesmo daquela forma? Sem esperanças... completamente sozinha e sem as verdades que precisava ouvir... sem jamais vê-lo outra vez?

Seus batimentos voltaram a desacelerar, já não tinha motivo para se precipitar... não havia nenhuma saída... não havia salvação nem momentos melhores dali em diante. Sentia como se alguma parte de si, quisesse apenas aceitar seu fim, desta vez.

Fechou os olhos. Não conseguia mais observar os minutos se passando em sua frente, a contagem regressiva para seu fim. Invés disso, tentava agora se lembrar de algo bom. Viu seus amigos, seus sorrisos em suas lembranças... Viu Tatsuki tão cheia de energia, tão decidida! Gostaria de ter um pouco de sua força... gostaria de ao menos ter podido se despedir dela... de lhe dizer o quanto sua amizade tornara sua vida melhor, do quanto sua companhia já a havia salvado de sua própria solidão durante todos esses anos.

E então, pensou nele... Pensou em Ulquiorra... Lembrou-se de seus olhos, as esmeraldas que conseguiam ler sua alma... Lembrou-se de seu cheiro, de seu calor, de sua voz... “-Queria vê-lo... só mais uma vez.” – Pegou-se pensando. Ele sempre a encontraria... Sempre..., mas não desta vez...

Sentiu uma lágrima quente derramar-se, dolorosa com aquela ideia. Tentava manter sua imagem lúcida em sua mente, enquanto procurava alguma paz em sua alma. Quase sentindo-o, como se de alguma forma, estivessem conectados. Se esse fosse o caso... perguntava-se se ele poderia senti-la dizer o tanto que o amava, agora. Esperava que sim... Estava pronta para aceitar o que estava por vir...

Aquilo lhe trouxe um único momento de paz em meio a tudo o que estava acontecendo. Um silêncio... cortado apenas um segundo depois, quando pôde ouvir os ruídos altos vindos do outro lado da porta...

***

Ulquiorra não podia acreditar, quando finalmente fizera seu caminho até onde conseguia localizar a presença de Orihime. Aquela era a pequena padaria onde trabalhava. Não fazia sentido. Por que estaria ali? Não podia perder mais tempo se perguntando. Abriu com um pontapé brusco, as portas do estabelecimento, apenas para encontrar mais alguns daqueles idiotas.

Desta vez, podia sentir que eram também vampiros, mesmo que muito fracos e de maneira alguma, lhe oferecessem algum risco real. Ainda trazia consigo a barra de metal de antes, e a usou para golpear com força o crânio do primeiro dos imbecis que tentara lhe atacar. O sangue espirrou em seu rosto enquanto o corpo despencava aos seus pés. Não havia tempo a perder. Partiu para o próximo, e então outro e outro, até que sentiu o impacto contra suas costas. Forte, mas não o suficiente para derrubá-lo.

Virou-se para olhar na direção de seu agressor. Surpreendeu-se imediatamente. Conhecia aquele lixo. O mesmo que tentara atrapalhar seu momento com Orihime, meses atrás. Mas como era possível...? Alguém estava transformando aqueles idiotas em vampiros? Era pessoal. Segurou aquele pelo pescoço, podia vê-lo tentando lutar por sua vida miserável, enquanto o apertava.

—Eu sabia que devia ter acabado com você naquele dia mesmo. – Lhe confidenciou, vendo o pavor aumentar em seus olhos, segundos antes de atravessar seu peito e arrancar seu coração de dentro. Sentir o sangue escorrer por entre seus dedos e a euforia e adrenalina que pulsavam agora dentro de si, fizeram com que suas presas se revelassem enquanto deixava que o corpo desfalecesse.

—Seu... – Ouviu a voz atrás de si. Voltou-se para ela. A conhecia. Aquela era a dona desta padaria.

A vira algumas vezes, quando vinha levar Orihime para casa. Era uma humana... ao menos, costumava ser. Não podia dizer o que era mais chocante, vê-la segurar aquela lâmina... uma lâmina que se aparentava muito com uma sagrada, mesmo não sendo uma caçadora... ou o fato de vê-la empunhando-a mesmo com suas mãos sangrando por ser uma criatura da noite. Havia sido compelida. Era a única explicação na qual podia pensar. O simples toque que uma arma daquelas já era o suficiente para machucar e manter qualquer um deles afastados, a não ser que algo muito forte, mais forte que os próprios instintos de sobrevivência, lhe forçasse a segurá-la.

Ulquiorra desviou-se com dificuldade, quando a viu repentinamente vir em sua direção, disferindo um golpe com sua espada. Era mais rápido, mas não demorou muito para a lâmina lhe alcançar com mais um ataque o qual ele não pôde prever. Seu braço agora sangrava. Havia se esquecido como eram dolorosos os cortes desferidos por armas assim. Precisava desarmá-la. Só teria uma chance, se escapasse de seu próximo golpe e conseguisse pegá-la com a guarda baixa.

Concentrou-se em todos os movimentos que a mulher fazia. Por menores e mais sutis que fossem, precisava estar preparado. Observou seus pés, os músculos de suas pernas se tensionando, se preparando para lançar-se em sua direção uma outra vez. Não permitiria que o fizesse. E então, foi como se pudesse ver, cada fragmento de segundo enquanto ela vinha até ele. Desviou-se e a golpeou com toda sua força nas costas, fazendo com que caísse e soltasse sua arma, que ele tão logo chutou para longe de seu alcance.

—Onde está a Orihime? – Questionou-a, lhe imobilizando, pressionando-a contra o chão para que não pudesse voltar a atacar. Em meio aos gemidos de dor, pôde, para sua angustia, ouvi-la rir baixo e então gargalhar de forma dissimulada.

—V-Você... – Tentava falar enquanto ele depositava mais peso sobre ela. – Você... Chegou tarde demais... – Voltou a rir.

—O QUE QUER DIZER? – Vociferou, furioso... temeroso.

—Em breve... – Ela sussurrou. – A princesinha vai fazer... Ka-Bum! – Finalizou gargalhando ainda mais, enquanto olhava na direção de uma porta aos fundos.

Não queria acreditar no que ela estava dizendo, mas sabia que não teria por que mentir àquela altura... Mesmo assim, não desistiria tão fácil...

***

Orihime assustou-se com o estrondo que se seguiu. Viu a porta do deposito ser destruída repentinamente, não entendia bem o que estava acontecendo, até conseguir focar seus olhos e perceber o que causara. O corpo desfigurado e ensanguentado da Srta. Hana, que agora permanecia jogado como um brinquedo quebrado ao chão.

O que podia ter causado aquilo? Orihime gritaria, caso ainda tivesse voz para tal. Todo aquele sangue, tanta brutalidade... Foi então, que viu a silhueta aproximando da entrada recém aberta. Estava apavorada, que tipo de monstro poderia ser este agora?

Parte de si, recusava-se a ver, tentava de alguma forma lhe convencer que seria melhor se não o fizesse... Mas não podia se conter. O viu vir em sua direção, iluminado pela luz fraca e falha... coberto com sangue e respirando fúria... Não queria acreditar.

Aquilo não podia estar acontecendo. Não era possível. Não podia. Mesmo assim... nem mesmo no pior de seus pesadelos poderia prever aquele horror. Sabia... sabia sem nem mesmo precisar ver o seu rosto... Mas não queria acreditar. Como poderia?

Como poderiam aquelas presas afiadas estarem se mostrando por entre os lábios entreabertos que antes lhe tocaram com tanta delicadeza? Como poderia aquela selvageria refletir-se nos olhos esmeralda nos quais ela tanto amava se permitir mergulhar? Por que estaria sua pele, tão calorosa, agora coberta de sangue, como de um predador?

Observava, sem querer entender enquanto o via notar o explosivo que contava seu último minuto, agora. Talvez fosse melhor assim... ao menos era o que uma parte de si lhe tentava convencer... Mas, não. Viu então ele... aquela figura, pegar o objeto em suas mãos e correr tão rápido a ponto de quase sumir de sua visão. Não demorou para que ouvisse, momentos depois, a explosão. Teria acabado assim...? Não... não podia ser...

Os próximos segundos foram talvez os mais difíceis que jamais vivera... Dividida entre a parte de si que se questionava se seria melhor ou não, que o visse entrando outra vez por aquela porta.

Não importou muito mais, quando o viu fazendo-o. Seu rosto estava machucado, assim como uma de suas pernas, que movia com alguma dificuldade. Ele aproximou-se da grade. Não conseguia olhá-lo nos olhos... havia uma angustia, lhe impedindo de tentar. Mesmo assim, o viu, com uma facilidade monstruosa arrancá-las e jogar para longe, como se não pesassem mais que uma pena.

Não pôde controlar seu corpo, que estremeceu ligeiramente ao vê-lo vir em sua direção. Ele então, ajoelhou-se em sua frente, voltando-se aos nós que a prendiam à cadeira, desfazendo-os de forma quase delicada... como se por um breve momento transformasse-se uma outra vez em seu amado.

—Eu... – Ouviu-o sussurrar, numa voz rouca e melancólica. – Eu... sinto muito... – Percebeu que já não conseguia falar... ou nem mesmo pensar sobre o que falar, ou sequer reagir, quando ele a pegou em seus braços para sair daquele lugar, pouco antes de sentir sua consciência se esvair por completo.

***

Ulquiorra não tinha certeza quanto tempo havia passado naquela posição, paralisado, frente ao espelho do banheiro. Observando sua própria imagem. A verdade era que já não sabia se havia algo além daquilo que poderia fazer, agora.

Depois de conseguir resgatar Orihime, uma parte de si gostaria de acreditar que escapar com um explosivo o mais rápido que pôde e ser atingido pelo impacto, seria a parte mais difícil. Ou talvez até mesmo, o momento em que precisou reunir todos os corpos que deixara para trás naquela noite, incluindo os que estavam no apartamento da ruiva, levá-los até a padaria e atear fogo em tudo, antes mesmo que a manhã chegasse e a cidade estivesse de fato, acordada.

Tudo aquilo não havia sido fácil, definitivamente. Mas ainda assim, não se comparava ao que vinha em seguida. Mesmo agora, a expressão no rosto de Orihime no momento em que ele a encontrou, não saía de sua mente. O choque em seus olhos, a forma como seu corpo se encolheu quando o viu se aproximar... Estava apavorada, e agora, enquanto via seu próprio reflexo, não podia culpá-la por isso.

Seu rosto, suas mãos, suas roupas, permaneciam manchados de sangue. Queria ser seu salvador, mas com toda certeza, para ela, não passava de uma monstruosidade, alguém que ela devia temer. Não podia culpá-la.

Prosseguiu, lavando suas mãos, e seu rosto de forma quase compulsiva, mais irritado a cada instante. Não era para as coisas terem acontecido daquela maneira. Poucos cenários eram piores do que aquele. Mas não havia mais o que pudesse ser feito àquela altura. Fechou a torneira, e reergueu sua face uma outra vez para o reflexo do espelho. Agora sem todo o sangue que o cobria antes, podia ver mais claramente os seus ferimentos, que agora se reduziam a pequenas cicatrizes que desapareceriam de sua pele em não muito tempo.

Não podia evitar a sensação de repugnância sobre si mesmo, por ter permitido que os eventos tomassem aquela direção. Era tudo sua própria culpa. Sua própria arrogância, sua incapacidade de pensar de forma racional antes e de se manter longe de Orihime. Sua recusa em lhe dizer toda a verdade e correr o risco de vê-la deixa-lo... Tudo isso... sua culpa.

Não podia mais continuar com aquilo. Inspirou o ar profunda e lentamente. De nada adiantava desperdiçar seu tempo com aquilo. Saiu de forma silenciosa, não queria fazer nenhum som brusco. Caminhou sem muita pressa em direção ao outro cômodo e prosseguiu, abrindo delicadamente a porta entreaberta do quarto pouco iluminado pelos raios de sol que conseguiam passar através das cortinas mal fechadas.

E lá estava ela. Ainda deitada sobre sua cama, onde ele a colocara para descansar depois de trazê-la de volta. Mas desta vez, estava acordada, ou ao menos, aparentava estar. Seus olhos estavam abertos, mas não pareciam se focar em nada em especial, mesmo quando voltaram-se para sua direção. Era como se estivesse agora, desconectada da realidade. Era compreensível, depois do que havia se passado com ela. Mesmo assim, seu coração não podia se conformar em vê-la daquela forma.

Foi em sua direção. Ela o acompanhava com os olhos enquanto ele se sentava ao lado de sua cama. Não tinha certeza do que poderia lhe dizer.  Já deviam ter se passado vários minutos daquela forma. Não havia o que dizer, nada que pudesse de alguma forma, melhorar aquela situação. Orihime havia voltado seu rosto em sua direção outra vez, olhando-o nos olhos, fazendo com que uma mecha de seus cabelos acobreados deslizasse por sua face.

Antes mesmo que pudesse pensar sobre o assunto, Ulquiorra estendeu sua mão em sua direção. Como um reflexo aprendido depois de todas as vezes em que fizera aquele movimento, tão simples. No entanto, vê-la recuar para longe de seu toque, fez com que voltasse uma outra vez ao presente, àquela nova realidade.

Ela não o queria por perto. Não queria seu cuidado nem seu carinho. Não mais. A viu lhe virar as costas, escondendo seu rosto de seu olhar. Ela já não o queria. E essa era a nova realidade, por mais dolorosa que fosse, por mais que parecesse esmagar seu coração dentro de seu peito. Não podia culpa-la.

—Eu sinto muito... – Ecoou uma outra vez, ainda sem resposta.

No fim, era tudo o que lhe restava...


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