Like Ghosts In Snow escrita por Drunk Senpai


Capítulo 52
The Fear




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—Não acho que seja tão burra. – O vampiro declarou, havia o tom de ironia de sempre em seu timbre. Continuava tentando aproximar-se, conforme Rukia se afastava. Precisava estar preparada. – Quero dizer, - Continuou. – Entrar numa casa repleta de inimigos, sem reforços... desarmada. – Tentou conter sua surpresa. Aquela era sua vantagem, ele não sabia sobre sua adaga. A segurou com mais firmeza, com sua lâmina escondida sob seu antebraço. – A não ser, é claro, que você tenha algum tipo de desejo suicida... Com o qual eu ficaria feliz em ajudá-la. – Mesmo estando tão alerta, aquele ataque repentino a pegara de surpresa, quase sem que pudesse se esquivar. Precisava se recompor, sabia que não seria o último.

E assim foi. Antes que ela pudesse se preparar outra vez, ele a estava pressionando contra a parede. A mão apertando seu pescoço, apenas para intimidá-la, supunha, uma vez que não usava força o suficiente para desacordá-la daquela forma. Seu corpo gelou uma outra vez, quando avistou as presas afiadas naquele sorriso maligno. Era como estar de volta àquela noite obscura, por um momento.

Mas Rukia já não era mais a mesma garota de meses atrás, precisava lembrar-se disso. Encontrou uma outra vez a força dentro de si, enquanto sentia aquele hálito quente em seu pescoço. Não podia se precipitar, sabia que ao esperar até o último segundo, conseguiria pegá-lo completamente desprevenido, vulnerável.

—Não sabe o quanto tempo tenho esperado para terminar aquilo que começamos... – Sua voz rouca sussurrava em seu ouvido, quase em transe pela aparente vitória que teria sobre ela.

—Posso dizer o mesmo. – Confessou, empunhando sua adaga e cravando-a no abdome do monstro.

Grimmjow parecia confuso, quando se afastou e ela pôde ver seu rosto uma outra vez. Sem palavras. O sangue derramava-se sobre sua mão, enquanto ele tentava afastar-se. Não permitiria que ele escapasse. Afundou a lâmina mais profundamente, com mais força. Era curioso, nunca imaginara que poderia ver algum tipo de medo refletido nos olhos azuis gelo. Mas lá estava, a confusão, o temor, o desespero.

Não havia lhe acertado no coração. No entanto, por se tratar de uma lâmina de caçador, aquela dor deveria ser quase tão intensa quanto, além de reduzir quase completamente, suas forças. Nem mesmo um vampiro tão poderoso poderia lutar contra os poderes de uma arma daquelas. Grimmjow agora caía ao chão. Despencava, numa pequena poça rubra que se formava sob seus pés. Rukia não retirara a adaga de seu corpo, não ainda. Pressionou-o contra o chão, com um dos joelhos sobre seu tronco, enquanto o via engasgar em sangue.

Seu coração estava acelerado, sentia a adrenalina correr por seu corpo ao ver o protagonista de seus piores pesadelos, caído, indefeso e fraco. Mas suas mãos mantinham-se firmes. Não imaginava ter dentro de si ainda tanto ódio, a capacidade de revidar toda aquela violência que fora direcionada a ela antes.

—Só vai doer um pouquinho... – Rukia murmurou.

A princípio, quando ouvia essas palavras no fundo de sua mente, profundamente em seus pesadelos, não podia ter certeza de onde vinham, mas agora lembrava-se bem. Aquelas palavras murmuradas em seu ouvido, pouco antes que ele cravasse as presas em seu pescoço... Parecia justo devolvê-las.

 

***

 

Havia uma vibração diferente ao seu redor, enquanto Neliel trocava um olhar perigoso com a figura intimidante parada à sua frente. O rapaz que vira à distância, no meio de um treinamento desajeitado meses antes, não se parecia em nada com aquele, coberto em sangue, cujo a fúria parecia transbordar através do âmbar de seus olhos.

Pegava-se pensando no que poderia ter causado uma mudança tão drástica. Nem todo o treinamento do mundo poderia transformar um adolescente comum, na máquina de destruição que via agora, muito menos em tão pouco tempo. Algo estava errado, diferente. Mas isso não era algo para se preocupar agora.

Não demorou muito para sua atenção voltar-se à tudo aquilo que podia ser captado por seus sentidos. Enxergar em meio àquele breu já não mais era um problema. Podia sentir a eletricidade no ar, as ondas sonoras ao seu redor, funcionando como um radar: podia rastrear qualquer coisa assim. Além disso, o sabor intenso que permanecia em seus lábios, aumentava ainda mais seu desejo de alimentar-se, não somente pelo deleite de voltar a experimentar a sensação de usufruir de uma presa real, mas também pelo poder que vinha com isso. A sensação de que o mundo estava aos seus pés. 

Havia algo de obscuro e ameaçador na forma como ele mantinha seus olhos fixados nela, em qualquer movimento que fizesse, por mais sutil que fosse. Ainda assim, suas presas se mostraram. Não tinha certeza se por auto defesa, ou se eram apenas seus instintos de ataque se aflorando. Decidira antes que não se envolver com os assuntos dos caçadores desta cidade seria a ideia mais sensata. No entanto, ser ameaçada lhe parecia um bom motivo para uma mudança de planos imediata.

Não fossem seus sentidos ampliados, naquele momento, teria se tornado uma presa fácil nas mãos ágeis do caçador. Ele avançara muito rapidamente em sua direção, um golpe direcionado ao seu tórax. De certa forma, parecia ter se tornado claro, quem causara tremendo estrago em sua sala de estar. Neliel agora segurava seu pulso, ainda se questionando como aquilo podia ser possível.

Ele não parecia muito impactado com sua reação, mas pronto para continuar sua investida, como uma máquina programada, cujo único objetivo era destruir os vampiros, ela incluso. Neliel espantou-se mais uma vez, quando sentiu a força com a qual ele tentava desvencilhar-se dela e voltar a atacar. Era sobre-humano, não fazia sentido algum.

Neliel atirou-se para longe com agilidade, tomando alguma distancia cautelosa. Sentiu a parede contra suas costas. Não gostava da ideia de estar encurralada. Precisava virar o jogo, e assim o fizera. Foi sua vez de ataca-lo. Ainda que fosse tão habilidoso, nem mesmo ele poderia escapar de uma investida sua.

O tinha imobilizado, e em outras circunstancias, aquele seria o fim de seus problemas, mas a força com a qual ele lutava para se libertar, era alarmante. Ela estava em suas costas, prendendo-o por ambos os braços. Acreditava que seria o suficiente, mas ele de alguma forma, conseguir lhe acertar com uma cabeçada, fazendo-a perder a força com a qual o segurava, lhe mostrou o quanto estava enganada.

Aquilo não podia estar acontecendo. 

 

***

 

O mundo parecia se fechar ao seu redor, enquanto Ulquiorra tentava dar algum sentido ao caos que se desdobrava completamente fora de seu controle. Orihime não estava em lugar algum ao seu alcance. Seu quarto já não existia, engolido pela fúria das chamas, assim como a maior parte da mansão àquela altura.

Não podia ter certeza se entre o seu nervosismo, ou a destruição e o tumulto, qual o estaria prejudicando mais em sua busca desesperada. Não haviam rastros dela, ou talvez se houveram, tornaram-se cinzas há muito tempo, agora. Mas não podia desistir. Sempre a encontraria.

Enquanto desviava das partes do teto que desmoronavam sobre ele, já não mais conseguia empurrar para longe, o sentimento de culpa crescente dentro de si. Era tudo por sua causa. Não havia mais ninguém que pudesse responsabilizar por tudo aquilo. A sua teimosia, sua insistência e até mesmo arrogância de acreditar que poderia mantê-la segura de qualquer tipo de perigo, haviam-no trazido a esse ponto. Se ao menos, tivesse dado ouvidos a sua razão e se afastado... Ou ainda, se sequer tivesse se permitido aproximar dela...

Não... aquele não era o momento para lamentar-se, pensar em todos “e se...” que pudessem ter ocorrido. Não podia desistir. Ela estava viva, precisava estar... Ele tinha que acreditar nisso. Precisava encontrá-la. Sua única opção agora, seria tentar rastrear sua aura, um plano que iria requerer mais concentração do que a que podia conseguir, enquanto tentava desviar do fogo, da destruição e até mesmo dos imbecis que insistiam em se esbarrar contra ele.

Marchou de forma decidida, em busca de uma saída daquele inferno. Não demorou muito para que seus passos lhe guiassem ao que parecia um dia ter sido a cozinha, agora em ruínas. Não pôde deixar de notar, atirada ou chão, o corpo da maldita que ousou ameaçar à vida de Orihime. Haviam-na mantido presa na mansão desde o dia em que Ulquiorra trouxe a ruiva para ficar ali, junto a ele... supostamente segura... Havia se convencido que nenhuma ameaça que a outra fez, pudesse se concretizar enquanto Orihime estivesse com ele, e menos ainda se sua inimiga estivesse aprisionada ao seu alcance.

As marcas em seu pescoço indicavam o que lhe custara a vida, mas nada podia explicar de que maneira ela teria escapado. Alguém lhe deixara ir... Já não importava àquela altura, supôs. Haviam preocupações maiores em sua mente, agora, e no fim das contas, enquanto usava a porta dos fundos para sair de lá, só podia pensar uma coisa a qual se arrependia enquanto aquilo: Não ter sido ele a deleitar-se até a última gota de sua vida.

Respirou fundo, fora da fumaça e poeira de antes. Agora sim, poderia concentrar-se em sua tarefa mais importante: Encontrar Orihime. Enquanto o ar frio preenchia seus pulmões, notou sobre a fina camada de neve que se formara no chão, algumas pegadas. Parecia promissor, talvez estivesse finalmente frente à alguma pista. Seguiu-as, atento a qualquer outro detalhe que pudesse deixar passar.

Os passos seguiam até pouco antes de entrar na floresta, onde subitamente foram interrompidos. Afastou de si, o melhor que pôde, a sensação ruim que aquilo lhe trazia. Fechou os olhos e respirou fundo mais uma vez. Podia sentir traços da aura de Orihime por aquele lugar. Ela estava viva. Tinha que estar.

Ainda assim, não era tão fácil quanto costumava ser, encontrar sua presença. Por algum motivo, seu rastro parecia ter se feito apenas em partículas, quase imperceptíveis caso ele não soubesse o que buscar. Mas ela estava viva. Sabia que sim. E decididamente, lhe encontraria. 

 

***

 

Era difícil respirar. Grimmjow sequer entendera o que havia acontecido momentos antes. Estava tão certo que aquela vitória seria sua, com tamanha facilidade à ponto de cometer um erro tão estúpido. A havia subestimado. Como podia não ter notado aquela adaga? Como pôde se deixar cegar pela própria arrogância daquela forma?

Agora não podia pensar em muito mais no que fazer. Não lhe restavam opções reais, enquanto permanecia imobilizado, afogando-se em seu próprio sangue. Perdido. A lâmina queimava como ácido em seu corpo. Ainda que o golpe não tivesse sido certeiro em seu coração, Grimmjow podia sentir sua força lhe escapar, como o sangue que jorra pela ferida aberta.

Seu corpo começara a tremer um pouco, enquanto seu coração bombeava cada vez mais sangue para fora de si. Não conseguia pensar muito bem, também, como bem notou. Havia além disso, uma sensação estranha dentro de si. Estranha..., mas não desconhecida. Mesmo depois de todos aqueles anos, depois de todo o poder que já havia antes pulsado em suas veias... Lá estava ele, o medo. Ainda existia dentro de si, apesar de tentar com tanto afinco se convencer do contrário, não havia motivo para fazê-lo agora... estava, de fato, apavorado...

Em contrapartida, quando conseguiu fazer com que seus olhos se focassem nos violetas... ali já não havia nada. Nem mesmo uma sombra do medo que ele havia visto ser refletido antes. Ela estava firme, determinada.

—Não se preocupe... – Ouviu-a sussurrar depois de um tempo. Nem uma gota de incerteza, nenhuma dúvida. – Só vai doer um pouquinho. – Não pôde evitar sua surpresa ao ouvi-la devolver aquelas palavras, suas palavras. Viu a surpresa também em seu rosto atrapalhar a frieza que antes o marcava, quando o viu expressar uma fraca tentativa de sorriso.

—Olha... só... – Forçou-se a tentar falar, entre engasgos e dor. – Parece... parece que eu... te ensinei algumas coisas... – A caçadora nada disse em resposta, mas seu espanto se traduziu em seu olhar. – Somos parecidos... não é...? – A surpresa rapidamente se tornou repulsa e raiva, quando ela colocou ainda mais força sobre o joelho que imobilizava seu corpo.

—Não me compare com você! – Anunciou. – Eu nunca me permitiria me tornar um monstro como você!

—Eu também... acreditei nisso... um dia... – Podia sentir que seus pulmões não demorariam muito mais para afoga-lo por completo. Queria que terminasse antes disso. – Só... acaba logo... com isso... – Conseguiu erguer uma de suas mãos e alcançar o local onde a adaga continuava cravada, como para guia-la até o ponto correto. Se realmente acabaria tudo ali, que ao menos tivesse um pouco mais de dignidade do que simplesmente morrer afogado em seu próprio sangue.

A caçadora não fez muito mais além de lançar um outro olhar surpreso ao seu rosto, pelo que para ele se pareceu durar uma eternidade. Até que, enfim, pareceu pronta para acabar com aquilo. Agarrou com mais firmeza a empunhadura de sua adaga, retirando-a lentamente, fazendo com que o sangue se derramasse com ainda mais facilidade através do corte. E então, sem que seus olhos deixassem os dele por um instante sequer, guiou a ponta da lâmina até a direção de seu coração. Não havia insegurança em sua expressão, não havia vacilo ali.

Não pôde evitar em sentir-se ao menos um pouco satisfeito com aquilo. Se de fato chegara sua hora, que ao menos fosse com alguma honra. Nas mãos de alguém com motivos reais e força para fazê-lo. Por algum motivo, pegou-se pensando em seu passado. Havia vivido muito... foi o bastante, e talvez até mais do que merecia... Mesmo tendo perdido tanto de seu tempo, focado em sua própria dor e raiva, inegavelmente, houveram também os momentos bons...

Não se surpreendeu, quando ao fechar seus olhos, encontrara a serenidade balanceada ao caos em cabelos esverdeados e olhos cinzentos... Parecia certo que, no fim das contas, ela fosse a última coisa na qual pensasse, em seus últimos instantes.

Preparou-se para o que viria, quando sentiu a ponta afiada encostar em sua cicatriz... Aquele era mesmo o seu fim...


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Notas finais do capítulo

É isso! Espero que tenham gostado!!



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