Tatsuki acordara aquela manhã com um estranho sentimento que brotava em seu peito. Não era como se estivesse se sentindo culpada por tentar manter Orihime afastada daquele cara esquisito, que lhe fazia sentir o estomago se revirar e seus instintos lhe avisarem para ser cuidadosa. Ela estava certa de que ele não podia trazer nenhum bem à sua amiga.

Mas ainda assim, sentia como se, de fato, tivesse exagerado um pouco na forma como agiu. Bom, por sorte, Orihime não estava brava com ela... ou pelo menos era o que parecia. Orihime sempre foi tão tranquila e fácil de lidar, então era difícil, mesmo para Tatsuki, saber com certeza o que se passava em sua mente.

E seguindo por esse pensamento, enquanto terminava seus afazeres diários, teve a triste lembrança da discussão que tiveram na outra noite. Aquilo não era bom sinal! Se eles tinham acabado de se conhecer e Orihime já o defendia tão cega e fervorosamente, o que viria a seguir?

Não podia silenciar a parte de si que já se contorcia em ciumes. Ah, elas eram tão próximas! Mas, mesmo assim, se perguntava até que ponto esse intruso lhes afastaria, mal tinha aparecido e a distancia entre as duas era tão dolorosamente grande...

Mas isso não! Afinal, da ultima vez em que se falaram, Orihime estava aborrecida com ele, por isso... Ah, quais eram as chances disso ter mudado em menos de uma noite? Apesar de Orihime não ter dado a entender se ainda tinha algum interesse em se envolver com ele... Mas, e se...?

–Arrgh!- grunhiu em frustração. Estava sendo paranoica, só isso! ... Certamente!

Mexeu nas madeixas nervosamente. Estava decidida, depois de dar algum golpes no ginásio, para livrar-se desse estresse, procuraria Orihime.

Feito assim, enquanto esperava na fila para comprar as entradas para o cinema, agradecia mentalmente, por Orihime parecer a mesma de sempre. Aquela tinha tudo para ser uma perfeita noite das meninas, onde se divertiria com sua melhor amiga, como sempre... Mas ainda assim, porque tinha aquela sensação, a qual não conseguia evitar, de que aquela noite não seria tão boa assim?

***

A tarde já quase se despedia, e o sol em sua pele coçava como a picada de mil formigas pequeninas, mas não tinha tempo para se preocupar com isso agora. Não enquanto observava de longe, aqueles dois num treinamento suspeito.

A garota, apesar de baixinha e de aparência frágil era claramente quem estava dando o treinamento, e o rapaz, tão alto e robusto e rebelde, com aqueles cabelos cor laranja... era difícil de dizer se estava mesmo apenas levando uma surra, ou se estava pegando leve.

Bom, se ela estava mesmo certa, então a garota seria a tal caçadora... Ah, mas ela era tão novinha... era muito boa, mas ainda não era uma profissional, apesar de ter tanto potencial... bom quem sabe em alguns anos.

Ah, eles tinham parado de lutar e começaram a conversar... A forma como se olhavam... Era tão linda! Tinham sentimentos tão profundos e tão claros um pelo outro... “Caçadores apaixonados, é assim que vou chamá-los!” Pensou empolgada, batendo as mãos em um gesto um tanto que infantil.

Continuou observando-os enquanto se preparavam para voltar a lutar. Espreguiçou-se.

–Ah, melhor eu ir encontrar os rapazes!- Levantou-se do banquinho onde estava, num pulo.- Eles são tão temperamentais!- Resmungou consigo mesma, caminhando para longe de lá.

***

Depois de voltar do treinamento com Ichigo, e após um banho relaxante, enquanto arrumava as coisas para mais uma noite de caçada, Rukia não conseguia deixar de pensar na tarde que teve. Não queria ter que admitir, mas mais cedo, quando Ichigo expressou sua preocupação por ela e quando deixou transparecer em seu rosto o desgosto quando ela lhe disse que ainda não lutariam lado à lado, trouxeram de volta aquela sensação... Seu coração batia forte e parecia ter uma onda de calor surgindo diretamente de seu peito toda vez que se lembrava.

Ah, mas ela não tinha tempo pra isso! Não podia se sentir assim logo antes de sair para caçar, ela já sabia por convicção que esse tipo de pensamento não lhe trariam nada de bom, certamente só mais uma missão fracassada, e ela não podia permitir que isso acontecesse.

Talvez a saída fosse mesmo se afastar de Ichigo de uma vez por todas. Ao menos era isso que seu lado mais racional lhe dizia. E de fato resolveria seus problemas, mas ainda assim, não importava quantas vezes repetisse isso para si mesma, não parecia a melhor saída, não parecia ser sua resposta.

Esse maldito... Não devia ser tão importante assim para ela! Como ele tinha conseguido se infiltrar em sua vida daquela forma? Como ele tinha conseguido atravessar suas barreiras e tornar-se tão necessário em seu dia a dia? Ele até mesmo descobrira seu segredo!

“Ah, tem mesmo algo muito errado comigo!” pensou consigo mesma antes de sair de casa.

Precisava achar outra coisa no que pensar, como por exemplo a missão que faria hoje. Ela teria que ir à uma boate no centro de Karakura. Muitos pensariam, “Wow, que sorte!” mas isso só significava ainda mais trabalho. Teria que ficar ainda mais atenta, e não só isso, como também se misturar e fingir se divertir no meio de pessoas em sua grande maioria perdidas, bêbadas e claro, eles.

Aquela seria mesmo uma longa noite!