Sol e Lua escrita por Aislyn


Capítulo 6
Shinigami ou Princesa?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/513112/chapter/6


Aiko estava radiante, toda a sua vida começava a fazer sentido novamente, agora tinha pessoas para poder amar, e o amor era mútuo. Enquanto corria pelas ruas da Seireitei até o Yonbantai, ela segurava o punho da zanpakutou, queria que Mizuki também se sentisse amada. Tentava canalizar este amor para Mizuki e enquanto isto sorria. Quando chegou ao Yonbantai, felizmente todos estavam no refeitório tomando o café da manhã, então, não estava atrasada. Ela foi até a encarregada de distribuir as ordens para cada oficial e pegou a sua lista do dia, não acreditava no que lia:

“Campanha de vacinação semestral – Gobantai e Rokubantai.”

Aiko amassou o papel, parecia perseguição. Em quinze minutos, reuniu os seus homens, eram vinte no total e fez com que cada um pegasse duas caixas térmicas com as vacinas dentro. Achou curioso o comportamento de seu time, eles a reverenciavam como nunca fizeram antes e tratavam-na com sorrisos e gentilezas. Quando passou pelos corredores rumo à saída, algumas enfermeiras apontavam e cochichavam coisas ao seu respeito. Ela já imaginava do que se tratava, as fofocas se espalhavam muito rapidamente pela Seireitei, ainda mais quando shinigamis trabalhavam para a Casa Kannogi e o parentesco não era raro. Vacinar o Gobantai ocupou todo o período da manhã, a fukutaichou Hinamori Momo ajudou a lidar com os homens que não se conformavam com aquilo. Aiko explicava para um dos shinigamis pela milésima vez:

– A cada seis meses é desenvolvida uma fórmula mais eficaz para evitar cada uma das doenças que já são conhecidas e as que ainda estão em estudo. Por favor, não desmereçam os nossos departamentos de estudos, confiem neles!

Ela já estava com a cabeça estourando quando se deslocou para o Rokubantai, os shinigamis eram mais insuportáveis que os do outro esquadrão, estavam se aproveitando da ausência do taichou e quem os supervisionava era Abarai Renji. O fukutaichou parecia mais criança que seus homens quando chegou a sua vez de tomar a vacina; A shinigami já não agüentava mais tentar segurar o braço dele de todas as formas. Quando uma vacina foi desperdiçada, ela saiu de si.

– Abarai-san, assim não dá! Faça o favor de honrar “aquilo” que você sabe e fique bem quieto... Não vou falar mais de uma vez!

– Yare, yare! Você parece até o Kuchiki-taichou falando assim... “Não vou falar mais de uma vez” – Renji a imitou. Quando ela finalmente conseguiu aplicar a vacina, ele gritou. – Isto doeu sua desgraçada! – Aiko beliscou o braço dele bem no lugar em que tinha levado a vacina, nunca imaginou ser tratada daquela forma. – Aaaaaaaai!

– Abarai!

Todos os homens se calaram imediatamente, Renji passou do vermelho de vergonha no rosto, para o branco, não sabia como olhar para Byakuya que estava de braços cruzados encarando-o com o olhar mais assustador que ele já vira.

– Taichou – ele sussurrou. – Todos já estão vacinados e...

– Peça desculpas para a Kannogi-hachiseki!

– Mas... taichou...

– Não vou falar mais de uma vez...

– Sinto muito, Kannogi-san – desculpou-se Renji em voz baixa. – Obrigada por preocupar-se comigo e aceite as minhas desculpas.

– Tudo bem, Abarai-san... – Aiko fez o que sabia fazer melhor, sorriu. – Ah, pessoal! – Ela levantou a voz para se fazer entendida. – Nada de treinamentos ou esforço físico hoje. Vocês poderão sentir um pouco de dor de cabeça e náuseas. Se tiverem estas reações adversas, fiquem tranqüilos, amanhã já estarão se sentindo melhor. Se constatarem qualquer sintoma além destes, me procurem no Centro Médico, estarei de plantão esta noite.

A shinigami já não agüentava mais, eram quatro horas da tarde e ela ainda não havia almoçado. Quando todos os homens saíram do pátio ao comando de Renji que os seguiu, Aiko pediu para que o seu grupo voltasse ao Yonbantai para o almoço. Ela se viu sozinha diante de Byakuya, antes de cumprimentá-lo devidamente, seu estômago roncou, ele pôde ouvir com clareza.

– Você deveria comer algo. – Aconselhou Byakuya.

– Sim, mas... – Ela enrubesceu, novamente seu estômago a traiu. – Ainda resta uma vacina, com todo o respeito, Kuchiki-sama.

Ele arregaçou a manga do shihakushou e estendeu o braço para ela. Aiko não acreditou, estava trêmula, apesar de ter feito a mesma coisa o dia inteiro.

– Você pareceu tão confiante lá de cima. – Byakuya esteve observando o evento da janela de seu escritório. – Acha que depois que comer algo estará melhor?

– Só posso voltar para o bantai quando terminar tudo...

– Eu também não almocei. – Desconversou ele.

– Então, precisa comer algo antes que eu possa aplicar a vacina, Kuchiki-sama.

– Venha comigo.

– Isto é um convite para um almoço?

– Se prefere pensar desta forma, sim.

– Não posso, taichou. Meu horário de almoço foi há umas quatro horas atrás. Eu vou esperá-lo, vá tranqüilo.

Kuchiki Byakuya, visto como um dos homens mais frios em combates... Conhecido por sua seriedade, sempre impassível diante dos oponentes. Alguns faziam mau juízo de sua pessoa, talvez quisesse que assim fosse. Jamais demonstrava, mas podia ser tudo o que quisessem lhe atribuir, menos, desumano. No fundo, não conseguia resolver seus conflitos internos, aquele disfarce de homem apático a qualquer coisa era perfeito. Diante de Aiko, não demonstrou expressão alguma, sequer parecia se importar com o que ela disse. Aiko odiava quando ele ficava parado em silêncio.

– Vou até o banheiro lavar o rosto, não me sinto bem...

A shinigami sentiu um mal estar momentâneo, havia tomado vacina há três dias, não podia ser uma reação adversa. Ela virou as costas, pensava em ir até o banheiro no escritório para não ter surpresas caso fosse ao comunitário. Quando deu alguns passos, teve uma sensação de frio por todo o corpo, seus olhos passaram a não distinguir o que estava pela frente. Ela parou, esfregou os olhos e tentou segurar-se em qualquer coisa, como não havia, caiu no chão, desfalecida. Byakuya correu e se ajoelhou no chão, pegando Aiko em seus braços. Para a sua sorte, Renji estava voltando.

– Abarai, abra as portas!

O fukutaichou assentiu e acompanhou Byakuya até o escritório, lá, ele deitou a garota em um sofá confortável.

– Taichou, devemos chamar alguém do Yonbantai?

– Peça à senhora Ishikawa para vir aqui.

– Mas...

– Você está surdo, Abarai?

Renji revirou os olhos e saiu apressado. Alguns minutos depois, Aiko abriu os olhos, Byakuya estava sentado em uma cadeira na frente dela. Ela tentou elevar a cabeça e reparou que estava no escritório dele, mas não entendia o motivo. Uma shinigami mais velha trajando um avental de cozinha com o símbolo do Rokubantai trazia uma bandeja, com dois obentous e suco. Ela reverenciou o taichou e saiu dali, odiava cumprir ordens diretas, temia desagradá-lo. Aiko sentiu o aroma da comida, seu estômago doía de fome.

– Acha que consegue sentar-se? – Perguntou o taichou em um tom de voz que transmitia preocupação.

– Sim... Perdoe-me, taichou. Acho que foi muito imprudente da minha parte não ter comido nada antes.

– Você não teve muita escolha, não é? – Ele acomodou-se ao lado dela assim que ela sentou-se no sofá e alcançou um obentou e hashis. – Coma.

– Arigatou...

Aiko não conseguia sorrir, estava envergonhada por mais uma vez ter dado trabalho a ele, logo, perderia as contas do que devia a Kuchiki Byakuya. Ele começou a comer tranquilamente, mantinha a elegância mesmo daquele jeito informal de se fazer uma refeição. Quando terminaram, ela esperou meia hora e finalmente aplicou a vacina no taichou.

– E assim, eu encerro o meu expediente aqui no Rokubantai. Agora, ainda tenho que treinar...

– Deixe para mais tarde. – Ele pediu seriamente, deixando um ar de mistério.

– A Unohana-taichou me deu duas horas por dia durante o expediente normal para treinar, é mais que uma ordem.

– Eu sei, entretanto... Treinar sozinha não é um desafio.

– O que quer dizer, taichou?

– Eu serei o seu oponente. – Anunciou Byakuya com um brilho no olhar. – Me encontre dentro de uma hora no pátio de minha casa, lá é um bom lugar.

– Combates não devem ser formais e autorizados? – Ela recordava das palavras de Byakuya. – E mesmo assim, não tenho permissão para abandonar o bantai em horário de serviço.

– Dois shinigamis podem se enfrentar com o objetivo de treinamento, desde que haja um superior junto. Um taichou ou fukutaichou pode escolher alguém a esmo para treinamentos, contanto que se responsabilizem por seus atos, como qualquer ferimento que possa ser causado por ambas as partes.

– Entendi.

– Quanto ao seu problema, Kannogi, – nem ele acostumava-se a não chamá-la de Myazaki – me encontre então ao fim do expediente. Trate de comer algo antes... Não quero problemas.

Como ela poderia negar? Um shinigami qualquer, teria entrado em pânico, mas ela encarou a proposta como um desafio. Podia sentir a vibração de Mizuki, as duas ansiavam por um combate.
Eram quase 19:00 quando a hachiseki deixou os relatórios do dia com Kotetsu Isane. A fukutaichou informou que no dia seguinte após o expediente, aconteceria uma reunião da Associação Feminina de Shinigamis. Aiko nunca participou das reuniões, mas estava curiosa demais e naquela não faltaria, ainda mais quando o assunto tinha algo relacionado à diversão. Ela tomou um banho, vestiu um traje limpo e amarrou seu obi cor de rosa na cintura. Por saber que poderia acontecer qualquer coisa em um treinamento, preferiu deixar guardada a pulseira que sua mãe lhe deu. Já estava com saudade dos pais e sua folga ainda não havia sido definida. Era difícil pensar em tudo o que gostaria de fazer, e sem dúvidas, passar mais tempo com os pais estava em seus planos. Mas como?
Ela demorou mais do que gostaria para chegar até a Casa Kuchiki, em todo o caminho encontrava alguém precisando de ajuda. O pedido mais estranho de ajuda com certeza foi um que veio de trás de um muro.

– Nanao-chan... Me ajude.

Aiko ouviu aquela voz, parecia conhecida. Como demoraria para fazer a volta, ela saltou e chegando ao outro lado, teve uma surpresa. Ise Nanao estava de braços cruzados, furiosa, enquanto observava Kyouraku Shunsui caído no chão, as bochechas vermelhas acusavam-no.

– Fukutaichou, posso ajudar? – Perguntou Aiko preocupada, apesar da pressa.

– Não – respondeu a fukutaichou mal humorada. – Deixe-o aí! Amanhã quando acordar ele vai sentir vergonha do que fez. Ao menos, poderia ser um bêbado com orgulho... Que pudesse voltar para a sua casa com as próprias pernas.

– Nanao-chan, - chamou Shunsui como se fosse uma criança – por que você me maltrata tanto? Lovely... Lovely!

– Seu bêbado! – Nanao virou as costas. – Vamos, ele não merece ser ajudado por ninguém.

– Mas... Bem, se você pensa assim, fukutaichou. – Aiko coçou a cabeça. – Vou indo então, tenha uma boa noite.

– Boa noite, Kannogi-San.

Aiko não imaginou que todos iriam acostumar-se tão rapidamente com seu nome, ainda não fazia um dia que o relatório de atualizações de oficiais havia saído. Ela correu o quanto pôde, assim que passou pelos portões da Casa Kuchiki, tentou recuperar o fôlego e chegou ao pátio tranquilamente, lá, encontrou Byakuya com a zanpakutou em mãos. Ele parecia muito concentrado, fazia alguns movimentos graciosos. Quando se virou, percebeu que a shinigami estava ali.

– Oe, Kuchiki-sama! – Ela parecia à vontade. – Tudo bem?

– Sim, está – ele pegou uma toalha que estava sobre um banco de pedra e secou o rosto. – Quando o sol se puser, começaremos. Pode ir se aquecendo.

– Taichou, com todo o respeito, mas por que eu?

– Você tem um poder notável, não parece que está sendo bem explorado no Yonbantai.

– A taichou fala o mesmo a respeito do meu poder, acho que é por isto que concede algumas horas para que eu possa treinar. Porém, nós não vamos a uma batalha para lutar e sim para dar suporte... Curar.

– E se um inimigo não deixar ninguém em pé? Como você vai ajudar se não souber se defender? Este é o erro do Yonbantai. Nem sempre haverá alguém para protegê-los...

– Não vou mais questioná-lo, Kuchiki-sama. – Ela deu de ombros, sabia que ele estava certo.

O sol começava a desaparecer no ocaso, as cores do crepúsculo coloriam o céu. A noite seria fria, perfeita para um treinamento e sem avisar, ele atacou Aiko. Ela desviou com dificuldade, por pouco, não foi acertada. A jovem assustou-se, mas logo entendeu. Enquanto Aiko desembainhava a zanpakutou, ele lembrou-se dos treinamentos que teve ali mesmo com seu avô, fazia muito tempo. Byakuya pensava que Unohana Retsu jamais faria o que ele estava fazendo, por isto, resolveu continuar.
Era certo que Aiko não conseguia bloquear seus golpes, os braços frágeis doíam. Ele não estava disposto a parar, usava o Shunpo com moderação e aparecia em todos os lados possíveis. A jovem começou a concentrar-se melhor, logo, conseguiu desviar de uma investida e contra-atacar. Ele a encarou, estava um pouco surpreso.

– Entendi algo... Sempre que você se movimenta, ao sumir de minha frente, sua reiatsu desaparece por milésimos e de alguma forma, sinto a sua manifestação antes de você aparecer. Assim, tenho tempo para captá-la e tentar alguma coisa.

– Isto sempre funciona – concluiu ele. – Agora o shikai.

– Não sei se consigo – disse ela insegura.

– Você não tem escolha! – Falou ele num tom rude.

Ela engoliu em seco, resolveu que não iria desapontar alguém que queria ensiná-la.

– Flua... – Pediu gentilmente, com um sorriso nos lábios. – Mizuki!

Logo, os sai estavam em suas mãos e ela os girou graciosamente. Byauya investiu contra ela que, bloqueava seus golpes com maestria, atacava e contra-atacava. Parecia outra pessoa quando manifestava o seu shikai, forte e confiante de si. Para a surpresa de Byakuya, ela defendeu-se com um sai e o atacou com o outro, visando seu pescoço. Ele desviou e afastou-se, tinha que testá-la a todo o custo e provar para si mesmo o que sabia sobre aquela jovem.

– Chire... Senbonzakura!

Aiko arregalou os olhos quando viu a lâmina da zanpakutou de Byakuya se transformar diante de seus olhos no que ela imaginou que fossem pétalas de cerejeira e se desprenderem. Em segundos, com apenas um comando usando a mão, o que verdadeiramente eram mil lâminas foram na direção da garota. A ilusão de serem pétalas de flores se dava por conta da refração da luz, uma técnica bela, porém mortal. Ela não sabia o que poderia fazer, ainda mais quando as primeiras lâminas começaram a cortar o seu corpo. Byakuya estava sereno, controlava a velocidade do ataque e esperava que ela se defendesse. Aiko saltou para várias direções, mas era perseguida, não havia nada que não pudesse ser capturado pela técnica dele. Ela sentiu uma força incrível pulsar em seu interior, a voz de Mizuki podia ser ouvida ao longe, precisava se concentrar. Tentou fugir mais uma vez, assim que conseguiu, apontou as suas armas na direção do ataque de Byakuya que mais uma vez a perseguia e intuitivamente, cerrou os olhos. Ela podia ver a imagem de um turbilhão de água, então, entendeu o que tinha que fazer.

– Mais uma vez, querida Mizuki...

As suas armas transformavam-se em correntes de água que ao tocarem o chão, eram alimentadas, tornando-se uma onda de enormes proporções. Ela moveu a mão direita bruscamente fazendo sinal para que a onda fosse contra as lâminas da Senbonzakura, engolindo-as. A água tocou os pés do taichou, ele achou incrível aquela defesa, parecia que o poder dela podia se adaptar às situações. Aiko o encarou, estava confiante, até fazia graça girando os sai por entre os dedos. Finalmente conhecia o poder de ataque do taichou, tinha quase certeza de que ele havia moderado na intensidade, mas ainda assim era incrível. Byakuya estava decidido a forçá-la ainda mais, conhecer os limites dela. Seu próximo movimento foi ainda mais estranho aos olhos da shinigami, ele pegou a zanpakutou e virou a lâmina para o chão, soltando-a. A Senbonzakura parecia transpassar o solo, em seguida, a imagem de mil espadas surgiam formando um corredor entre eles. A frase de Byakuya abalou Aiko.

– Bankai... Senbonzakura Kageyoshi.

“Não... Ele não pode.”

Aiko deu vários passos para trás, com tanto poder, ele parecia querer matá-la. As espadas se dividiam em incontáveis fragmentos de lâminas, ela não podia enxergar o movimento delas, quanto mais, desviar. Eram assustadoras e em questão de um piscar de olhos, formaram uma redoma ao redor da jovem shinigami, logo seria consumida e cortada inteiramente.

“Por que ele está usando o seu bankai? Será que ele deseja realmente me machucar?”

“Aiko-chan... Não se desespere. Pense comigo. Se você colocar água em um copo, ela tomará a forma deste. Se colocar em uma xícara ou em uma chaleira, acontecerá o mesmo. A água possui a capacidade de moldar-se no que quiser... Pode fluir ou pode golpear. Não se deixa prender por nenhuma adversidade... Pense na forma, Aiko. Pense!”

Aiko respirou profundamente, já sentia alguns cortes no rosto, nas pernas. Cerrando os olhos para não deixar-se levar pelo pavor de estar sem saída, sua reiatsu manifestou como se em uma explosão, afastando as pequenas lâminas mais próximas. Tinha a ciência de que com um comando, Byakuya poderia fazer com que ela fosse devorada. Precisava de concentração.

– Flua livremente... Mizuki!

Aquela era a frase de liberação do poder de Mizuki que ia muito mais além da liberação do shikai. Novamente os sai tornaram-se água, de pequenas correntes, transformaram-se num turbilhão ao redor dela, protegendo-a. De acordo com o seu desejo, aquele turbilhão tragou as pétalas da Senbonzakura de dentro para fora, com uma força assustadora. Novamente a zanpakutou de Byakuya estava nas mãos dele, assim como os sai de Aiko nas dela, e a água se alastrou pelo jardim. A shinigami não pensou, saltou na direção dele e o atacou. O taichou defendeu o ataque do sai esquerdo que veio por cima, contudo, percebeu que a lâmina do direito estava encostando em seu abdômen. Ele arregalou os olhos, não entendeu como foi possível não ter acompanhando o movimento do braço dela. Aiko estava ofegante, encarava-o.

– Você venceu.

Admitiu ele, que afastou-se e guardou a zanpakutou. Ela estava com as vestes rasgadas, tomada por cortes pelo corpo, um corte na testa ardia, não parava de sangrar.

– O senhor pegou leve. – Aiko desfez o shikai e devolveu a zanpakutou para a bainha. – Se fosse normalmente, suas lâminas teriam cortado cada centímetro do meu corpo, mais rápido do que eu poderia pensar em algo para me defender, acredito. Não imagino uma técnica como aquela redoma sem a finalidade de destruir o inimigo.

– Eu controlei a velocidade apenas. Diga-me, de onde vem tanto controle sobre os seus ataques?

– Mizuki conversa comigo, ela me ensina aos poucos... Hoje eu aprendi que a água pode moldar-se naquilo que quiser. Ela é maleável... Suas correntes podem ser gentis, mas também podem se enfurecer. Ela é água. Eu sou água.

– Você conhece a verdadeira forma dela?

– Já ouvi falar que dificilmente um shinigami conhece a verdadeira forma da sua zanpakutou... Mas, desde criança eu a via como se fosse uma sombra em meus sonhos, num mundo que existe no meu interior apenas. Há alguns dias eu a vi claramente, naquele momento eu estava diante dela. É uma linda donzela, tem a pele perolada que emite um brilho intenso. Os olhos hipnotizantes, furta-cor. Seu corpo é lindo... – Explicava Aiko com um brilho no olhar. – Eu nunca vi beleza igual. E mesmo que ela não fosse bela, eu a amaria da mesma forma. Mizuki me guia, eu acredito nela, assim como ela acredita em mim.

– Você tem que explorar ao máximo este poder, Aiko. Admiro a sua relação com a zanpakutou, mas, você deve ser firme com ela. Você a controla! É a sua senhora e não o contário.

– Não existe isto de controle! – Aiko não se intimidou apesar da situação. – Eu não sou a senhora dela. Nós somos companheiras, mais do que amigas.

– Você sabe que existem zanpakutous traiçoeiras? Que podem ser desleais com seus senhores quando estes não as controlam?

– O que quer dizer?

– É cedo demais, você ainda tem muito para conhecer antes de confiar tanto nela.

– Taichou! Eu aceito todo e qualquer conselho que você possa me dar, porém, não quero mais que faça insinuações sobre a integridade de Mizuki. Por um acaso, o senhor conhece tão bem “a” Senbonzakura a ponto de afirmar que “ela” jamais a trairia?

– Tenho controle sobre a minha zanpakutou há muitos anos, isto é a minha garantia.

– Perfeito!

Aiko não escondia a insatisfação com aquilo tudo, odiava quando Byakuya tentava parecer um deus que tinha o controle de tudo. Ambos estavam em péssimas condições, precisavam de descanso.

– Você não pode voltar para o seu alojamento assim. Venha comigo!

O taichou não quis discutir com ela, achava estranho demais uma shinigami tão inexperiente com tanto poder. Será mesmo que uma zanpakutou tão nova era capaz de instruir a sua senhora em qualquer situação? Ele preocupou-se demais com o fato de uma zanpakutou controlar um shinigami, apesar de Aiko garantir que não havia controle. Pelo que ele entendeu, era uma doação, cooperação. Quem sabe as duas não tivessem o mesmo objetivo, ajudar o próximo. Ele jamais se esquecera das palavras de Aiko. Tudo o que fazia era com este intuito, ser solidária... Salvar vidas. Talvez fosse realmente isto que o intrigava. Ela era tão frágil, tão doce. E dentro dela habitava uma força incrível, o que a tornava grande, única.
Ele já havia tomado banho, vestiu um kimono branco, com uma haori azul clara por cima. Quando se dirigiu ao quarto de hóspedes, encontrou Aiko enrolada em uma toalha, em frente ao espelho. Ela se assustou ao notar a presença dele, sentia-se nua. Olhando para Byakuya, reparou algo diferente, ele estava sem o kenseikan, com os cabelos soltos na frente do rosto. Parecia mais jovem, mais bonito. Seu coração passou a bater desenfreado quando ele aproximou-se e colocou-se atrás dela.

– Eu pedi a uma empregada que fosse até a Casa Kannogi e trouxesse algumas roupas, estão sobre a cama.

– São tão lindas, tão finas.

– São suas, dignas de seu status. Dignas de você.

– Será complicado voltar ao bantai com estas roupas, vou ter que entrar às escondidas... Ainda não me acostumei.

– Antes de o sol nascer eu consigo um uniforme para você. Vou deixá-la para que possa se vestir.

– Taichou – Aiko se levantou, ainda estava com alguns ferimentos sangrando. Ele se preocupou, principalmente quando reparou na profundeza do corte na testa dela após limpo e em dois no ombro. – Obrigada por ser tão gentil.

– Não é gentileza, é obrigação. Sou o responsável por aquele treinamento...

Ela sabia que Kuchiki Byakuya não daria o braço a torcer.

– Vou limpar novamente os ferimentos antes de me vestir... Seria muito pedir que uma empregada possa me ajudar? Preciso passar um gel nas costas para desinfectar e cicatrizar os cortes...

– Onda está o gel? – Indagou ele seriamente.

– Na minha bolsa... Eu vou pegar.

Aiko achou que Byakuya chamaria alguém para ajudar, já que ele se dirigiu até a porta. Ela se surpreendeu quando ele a fechou.

– Deite-se, não se preocupe.

– Mas... – A oficial gaguejou, sua respiração tornou-se mais forte. Não queria estragar o momento, estava conhecendo uma face de Byakuya que ninguém conhecia. Ela afastou as roupas que vestiria e deitou-se de costas, baixando a toalha somente para que a parte ferida ficasse descoberta. – É só o suficiente para cobrir os cortes.

– Aiko, - ele sentou-se na beira da cama e começou a espalhar delicadamente o gel nos ferimentos, em seguida, massageou para que fosse absorvido, tudo com muita calma e cuidado – sei que você se incomoda com o assunto... No entanto, me preocupa o fato da sua zanpakutou demonstrar poder apenas para defendê-la. Você é muito vulnerável utilizando apenas a suas armas para o ataque.

– Mizuki pediu que eu tivesse calma – ela debruçou-se sobre o colchão. – Kuchiki-sama, eu não me importo com isto. Se o meu poder for somente para a defesa, usarei para proteger os outros. E como você disse, ainda tenho os meus sai, eles podem causar ferimentos mortais, um dia eu sei que estarei mais apta a um combate desta forma. Sabe que, admirei a sua zanpakutou, é incrível. Uma técnica tão bela, engana os olhos... Suas lâminas poderiam ter me matado.

– Eu jamais machucaria você a este ponto... Eu só quis...

– Me treinar – interrompeu ela virando-se, antes disto, enrolou-se na toalha de forma a ficar completamente coberta. – Você é um bom mestre.

– Agora, passe o gel no rosto e nos ombros... Vista as roupas e vamos jantar.

– Estou começando a me acostumar... Minhas últimas refeições têm sido na sua companhia.

– Aiko, eu preciso ser sincero com você. – Ele aproveitou que a shinigami foi se trocar no atrás do biombo e falou seriamente. – Manter uma promessa para mim é questão de honra. Você deve se perguntar por qual motivo eu estou tratando-a desta forma...

A shinigami saiu trajando um kimono de seda violeta, um obi simples amarrado à cintura. Ela estava curiosa para saber onde ele queria chegar, prendia os cabelos no alto da cabeça enquanto ele falava.

– Prometi aos seus pais que cuidaria de você sempre que pudesse, inclusive ajudando-a com treinamentos.

– Então, é apenas um dever? Tudo isto... – Ela não tinha certeza do que falar. – Eu sou um encargo para você, nada mais?

– De certa forma – ele não olhou para Aiko. – Eu não poderia negar um pedido tão sincero, ainda mais quando envolve os laços das nossas casas.

– Não preciso que cuide de mim! Mais uma vez cheguei à conclusão de que se não fosse o meu nome, você continuaria me tratando como se eu fosse qualquer subordinado seu. Eu não suporto mais, preciso ir embora.

– Não. Você vai jantar aqui...

– Meus pais pediram para você cuidar da minha alimentação também? Agradeço pelo treino e por se importar com a minha família, sendo assim, não vou falar nada para eles.

– Você é teimosa.

– E você é insuportável! – Disse ela quase aos gritos. – Eu vou assim mesmo para o Yonbantai... Boa noite!

– Kannogi Aiko, - ele suspirou, não queria magoá-la – vamos jantar em paz?

– Não tenho fome, Kuchiki Byakuya – ela quis tratá-lo da mesma forma. – Se quiser mesmo cuidar de mim e manter a sua promessa, fique bem longe, porque eu não quero ser mais uma nobrezinha que precisa de alguém atrás dela. Aliás, eu só quero paz!

– E você acha que eu não quero? Bem, faça o que quiser.

– Sayonara!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sol e Lua" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.