Sol e Lua escrita por Aislyn


Capítulo 4
Recordações e Revelações




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Depois de mais três dias de trabalho, aulas e treinos, Aiko ganhou uma tarde de folga. A princípio, decidiu que aquele dia seria perfeito para conhecer melhor a sua zanpakutou, então, procurou um lugar bastante tranqüilo. Conhecia o cenário ideal para o que tinha em mente, uma floresta particular do Yonbantai, lá um rio límpido fluía livremente, a água era conhecida por ter propriedades misteriosas que auxiliavam na cura de algumas doenças e todos faziam bom uso disto. A jovem shinigami sentou-se sobre uma pedra em meio ao rio e com os pés descalços, apreciou a temperatura agradável da água. Gentilmente ela retirou a zanpakutou da bainha e a colocou sobre o seu colo, estava serena demais, respirava de forma cadenciada tentando meditar um pouco.

– Mizuki... Está me ouvindo?

Não houve uma resposta imediata, mas não desistiria facilmente. Aiko desejava de todo o coração que a sua zanpakutou voltasse a se comunicar com ela, contudo, a surpresa foi maior. Podia se ver em outro lugar, ensolarado, onde havia um castelo de cristal e um oceano translúcido ao seu redor. Diante dela a imagem de uma bela mulher se materializou, ela tinha a pele da cor de uma pérola brilhante, um corpo perfeito e bem esculpido em que um vestido transparente plissado lhe caia perfeitamente. A shinigami nunca vira ser tão perfeito, os cabelos longos de um azul royal, lábios rubros e os olhos furta cor. Parecia flutuar sobre a água, tamanha era a graciosidade de seus passos na direção de Aiko. O sorriso dela era perfeito, encantador, então, estendeu as duas mãos para ela. Aiko não temeu, caminhou até o oceano e entregou as mãos para o espírito de sua zanpakutou. Ambas entrelaçaram os dedos e Aiko percebeu que podia andar sobre a água. Contagiada pelo sorriso da zanpakutou, ela entregou-se ao momento e começou a brincar de roda com ela. Parecia hipnotizada quando a voz musical de Mizuki se fez.

– Aiko-chan... Você me quer tão bem, usa o coração para sentir-me e se eu posso sair do meu mundo, é através da sua força. Não sinto o meu espírito aprisionado em seu interior... Eu me sinto livre, como se eu também pudesse ver tudo através dos seus olhos e viver as suas emoções.

– Mizuki... Como pode ser tão linda? – Aiko a olhava com emoção, a beleza de sua zanpakutou exercia fascínio em seus olhos.

– Eu faço parte da sua alma, Aiko-chan... Se sou assim, é porquê a sua alma é pura, bela.

– Obrigada por existir, Mizuki! Você é meu orgulho, ainda mais quando a vejo desta forma.

– Você também me orgulha e é por isto que aos poucos eu vou lhe guiando... Não quero que você se apresse – Mizuki levou Aiko até a beira do rio e fez sinal para que ela se sentasse. – Você irá aprender tudo o que eu desejo lhe mostrar, só preciso que confie em mim.

– Eu confio, querida – Aiko sentou-se e sorriu largamente. – Você pode sentir que a minha alma está inquieta, não pode?

– Posso, eu sinto o mesmo que você sente. Somos um só ser, Aiko-chan!

A shinigami ficou contemplando sua zanpakutou por muito tempo, ambas conversavam muito, nunca imaginou que teria uma amiga como Mizuki. Estava em dúvidas sobre a relação de outros shinigamis com as suas zanpakutous, logo questionaria sua taichou. Mizuki tocou o rosto de Aiko delicadamente, então, ela foi levada para um devaneio profundo. Podia ver-se caminhando sem rumo em Rukongai quando era muito pequena, usava roupas finas, porém surradas, estranhava a tudo e a todos. Não era algo bom para se lembrar, ainda mais quando olhares sombrios eram direcionados a ela em todo o seu trajeto. Dali, a sua visão passou para o dia em que foi adotada por uma família muito pobre. Seus pais adotivos fizeram de tudo para criá-la e Aiko era a sua maior alegria, tanto que seu nome fora escolhido com todo o carinho, “a filha do amor”. A felicidade de ter encontrado pessoas que a amassem durou muito pouco. Cerca de dois anos depois, sua família foi atacada por uma gangue de ladrões que diante da pequena criança, mataram seus pais sem piedade. Ela nunca entendeu o motivo de ter sido poupada, sempre quis ter morrido com eles. Conseguiu sobreviver com a ajuda de pessoas na mesma situação. Mizuki via as lágrimas de Aiko escorrendo por seu rosto, contudo, sabia o que estava fazendo.

– Aiko-chan... Acorde.

Aiko aos poucos voltou à consciência, estava agitada. Não entendia por que Mizuki a fez recordar daquilo tudo, entretanto, lembrou-se de algo estranho.

– Mizuki, eu nunca me lembrei daquelas roupas... Nem mesmo o salário de shinigami pagaria roupas como aquelas.

– Eu nada posso falar para você, Aiko-chan. As respostas estão em sua memória... Um dia, você vai saber. Agora, faça o que o seu coração está mandando!

A hachiseki sorriu para sua zanpakutou, como poderia mentir se era claro o que estava se passando em seu coração. Pouco tempo depois, Aiko abriu os olhos e voltou para o seu mundo. Não podia imaginar que um dia conheceria o lugar que a sua Mizuki habitava.
Assim que pegou a zanpakutou e a colocou na bainha, resolveu encher-se de coragem e em alguns minutos, estava diante da Casa Kuchiki. Numa tarde tranqüila como aquela, preferiu não arriscar indo até o Rokubantai e sim onde achava que o taichou estaria. Um criado a atendeu e imediatamente ela foi informada de que Byakuya estava com um nobre visitante, sendo que um evento como aquele poderia durar muitas horas. Sem graça, a jovem fez uma reverência para o criado e saiu dali. Não queria passar pelo portão principal, então, tomou a passagem dos criados para não chamar a atenção. Passando pelo jardim, Aiko esbarrou em um senhor de olhos negros, apertados e simpáticos, cabelos brancos ornados com um lindo prendedor dourado no alto. Pelas vestes de luxo, tão nobre quanto Byakuya.

– Oh, por favor, me perdoe – ela olhou enrubescida para o homem e reverenciou. – Está tudo bem?

– Não se preocupe – ele sorriu e retribuiu a reverência dela, parecia estar a mil anos de distância de Byakuya em matéria de simpatia. – Você é do Rokubantai?

O nobre senhor se atentou ao rosto de Aiko e seu semblante fechou-se, parecia estar vendo um fantasma. Ela estranhou aquele comportamento, ainda mais quando ele começou a tremer e praticamente, caiu nos braços dela. Aiko o amparou nos ombros e o levou até o interior da morada, apesar de sentir-se envergonhada por estar interrompendo algo importante, era sua função ajudar os outros. Byakuya foi vê-la imediatamente quando o criado avisou o que aconteceu, por ordens dele, o homem foi levado até um quarto. Aiko fez alguns exames, verificou os sinais vitais do paciente e em seguida utilizou uma lanterna pupilar nos olhos dele. Byakuya estava impaciente, queria saber rapidamente o que aconteceu.

– Kuchiki-taichou... Foi apenas um desmaio, não se preocupe.

– Isto não me parece ser uma novidade – ele olhou seriamente para Aiko. – Fui informado que isto aconteceu enquanto ele conversava com você.

– Eu vim falar com o senhor – ela cuidava para tratá-lo com todo o respeito, ainda mais diante de estranhos – então, soube que não era um bom momento. Quando resolvi sair pelo outro lado para não incomodar ninguém, esbarrei neste senhor e ele pareceu assustado quando me viu. É tudo o que sei...

– Estranho – Byakuya ficou pensativo por alguns instantes e depois retomou a conversa. – Acha que ele precisa de algum cuidado em especial?

– Não, somente repouso. Será necessário que alguém leve este líquido até as narinas dele com um pouco de algodão, eu só não faço isto porque temo que ele se assuste novamente. – Aiko entregou nas mãos de Byakuya um pequeno recipiente e algodão.

– Eu farei isto.

– Arigatou... Eu vou voltar para o Yonbantai, até mais, taichou.

– Um momento, Myazaki – chamou quando Aiko deu as costas. – Me espere no escritório, em trinta minutos vou falar com você.

– Hai!

Byakuya viu a shinigami sair dali, então, embebeu o chumaço de algodão no líquido que ela cedeu e o elevou até as narinas do homem. Imediatamente ele acordou, olhava Byakuya com dúvidas. Kannogi Masanori era tido como um homem de incrível saúde para a sua idade, um desmaio não era algo normal e o taichou sabia disto. A família Kannogi era muito próxima dos Kuchiki, sendo que o seu sobrinho, Kannogi Shu era o noivo de Kasumi-Oji Lurychio, única herdeira da família real.

– Byakuya, eu não queria preocupá-lo – falou, tinha idade para ser pai dele. – Me ajude a levantar...

O taichou assentiu e levou o amigo pelo braço até a varanda, lá, eles sentaram-se para tomar um chá que imediatamente foi servido. Byakuya não agüentava mais a curiosidade, porém, sabia que era indelicadeza perguntar o que aconteceu na verdade. Masanori bebeu um pouco de chá e depois de muito refletir, resolveu quebrar o silêncio.

– Quem é aquela garota?

– Humm... – Byakuya não parecia surpreso com a pergunta. – Aquela é Myasaki Aiko, hachiseki do Yonbantai.

– Qual a origem dela? – Masanori olhou seriamente para Byakuya. – Pelos registros oficiais...

– A família Myasaki era do septuagésimo sexto distrito de Rukongai. Foram mortos por ladrões e somente Aiko sobreviveu – O taichou recordava-se somente do que tinha lido nos relatórios da academia um dia antes da formatura da shinigami. – Ela foi adotada quando criança, mas não se sabe exatamente com que idade.

– Interessante – Masanori parecia ter falado consigo mesmo, novamente estava trêmulo. - Eu não me sinto muito bem. Vou embora, preciso descansar um pouco...

– Eu o acompanho até a saída, Kannogi-dono.

Byakuya apareceu em seu escritório minutos após ter acompanhado o velho amigo da família até a saída. Estava intrigado demais com o que aconteceu, não conseguia pensar em nada plausível para aquilo a não ser a idéia que surgiu em sua cabeça durante a conversa com o amigo. Ele encontrou Aiko de costas, olhando pela janela, muito distraída para notá-lo ali. Quando se aproximou, reparou no prendedor de cabelo da jovem, estava preso a um coque bem feito no alto da cabeça dela. Era uma boa pista para começar a investigação que resolveu fazer por si próprio.

– Myazaki, sente-se.

Ela foi tomada de surpresa, era difícil acreditar que não notou a presença dele. Sem questionar o taichou, sentou-se na cadeira à frente da mesa dele e ele tomou o seu assento no outro lado.

– Kuchiki-sama, me desculpe pelo que aconteceu... Eu vim ver se você estava se recuperando, juro que não quis importunar o seu convidado – ela tratou de despejar todas as suas desculpas de uma vez só.

– Não há problema nisto – Byakuya queria tratá-la bem, ainda mais porque tinha interesse em algo muito especial. – Myazaki, pode me emprestar o seu prendedor de cabelo por alguns dias?

– O quê? – Aiko ergueu a sobrancelha esquerda, realmente não esperava por aquele pedido. – Desculpe, mas eu não entendo.

– Não há o que entender, Myazaki – respondeu ele com aspereza. – Aceite isto com uma ordem e me dê o prendedor!

– Tudo bem, taichou!

Aiko retirou o prendedor e seus cabelos castanhos soltaram-se no mesmo instante, o perfume de jasmim chegou até as narinas de Byakuya. Ele ficou alguns instantes sem palavras, porém, ela fez questão de fazer ruído ao colocar o objeto sobre a mesa. Não acreditava no que ele estava fazendo, parecia até uma brincadeira.

– Em dois dias eu mandarei de volta para você, não se preocupe.

– Só acho estranho, mas, quem sou eu para desacatar uma ordem – ela deu de ombros. – Aquele senhor já foi?

– Sim, ele foi – Byakuya levantou-se e foi até a janela, fazendo Aiko acompanhá-lo com o olhar. – Qual a procedência deste prendedor?

– Não sei. – Ela baixou os olhos, em sua última recordação do passado, não havia visto o prendedor. – Devo ter ganhado dos meus pais adotivos...

– Existe alguma possibilidade de ter sido roubado?

– Minha família apesar de pobre, era honrada demais, Kuchiki-taichou! Que pergunta mais sem sentido... Acho que na atual condição, eu posso exigir uma explicação. – Aiko levantou-se e ficou atrás dele, adoraria que ele se virasse para encará-la. – Se não disser o motivo para tanto mistério, eu vou embora.

– Não seja impaciente. Agora, eu preciso ir ao bantai, você me acompanha até a saída?

– Acho que eu não tenho nada para fazer aqui sozinha.

Aiko foi vencida pelo silêncio dele, intransigente, Byakuya jamais revelaria nada para ela antes de ter certeza. Assim que ela fez uma reverência despedindo-se, cada um seguiu o seu caminho. Em poucos minutos o taichou chegou ao seu escritório no Rokubantai, felizmente Aiko não percebeu que ele havia escondido o prendedor e o levou junto consigo. Assim que ele sentou-se, um shinigami atendeu ao seu chamado.

– O que posso fazer pelo senhor, Kuchiki-taichou?

– Takahashi... Leve este objeto até a Casa Kannogi e entregue diretamente nas mãos do senhor Kannogi e em hipótese alguma para um empregado, entendeu?

– Sim senhor!

O shinigami pegou o prendedor e saiu dali apressado, nenhum membro do Rokubantai ousaria deixar para depois uma ordem de Kuchiki Byakuya. O jovem shinigami começara há um ano naquele time e pela primeira vez estava desempenhando uma função tão estranha, durante o caminho foi pensando em como teria que se dirigir a um nobre. Não poderia usar o mesmo tratamento que usava com seu superior, pensava que todos os alunos deveriam ter uma cadeira de cortesia na academia também. Ele ficou deslumbrado ao penetrar nos domínios dos Kannogi, não era nada parecido com a Casa Kuchiki, podia dizer com firmeza que estava vendo um palácio em sua frente. Parecia um mundo à parte, empregados por todos os lados, cuidando do jardim, das fontes, de retoques na pintura dos muros. Ele teve dificuldades para encontrar a entrada principal do palácio, então, foi guiado por uma jovem empregada. Kannogi Masanori o atendeu rapidamente na sala principal, era tão grande que parecia até o tamanho do local de treinamento do Rokubantai.

– Kannogi-sama – o shinigami fez uma reverência e entregou nas mãos do nobre o prendedor dourado que estava enrolado em um pano de seda. – Estou aqui em nome de Kuchiki Byakuya para entregar-lhe isto.

– Eu agradeço – Masanori sorriu e pegou o objeto misterioso. – Tem algum recado por parte do seu senhor?

– Receio que não, senhor! Posso ser útil em algo mais?

– Espere enquanto eu verifico isto, bom rapaz.

Kannogi Masanori ao verificar o que estava embrulhado no pano mais uma vez estava próximo a desmaiar, contudo, respirou profundamente e manteve-se em pé. O shinigami muito preocupado aproximou-se do senhor para estar pronto para auxiliá-lo caso precisasse. Sem falar nada, Masanori fez sinal para um empregado viesse até ele.

– Kinoshita, por favor, prepare o transporte... Vou sair. Peça para alguém avisar Akiko e diga que não demoro.

Takahashi ficou abismado pela forma que o senhor tratava os seus subordinados, era gentil e sorridente, muito diferente de seu taichou. Acompanhado pelo shinigami, Masanori chegou rapidamente até o Rokubantai, estava com muita pressa para falar com Kuchiki Byakuya. A reação do amigo era o que Byakuya estava esperando, tanto que tratou de ir direto ao assunto assim que ambos sentaram-se e Takahashi os deixou, fechando a porta.

– Isto pertence à Myazaki Aiko.

– Você já era um homem feito quando naquela fatídica noite levaram o maior tesouro que Akiko e eu possuíamos, Byakuya. Pelo sangue em seu leito, acreditamos que nossa pequena havia sido morta antes de terem a levado e mesmo assim, procuramos por cada lugar da Soul Society. Meus empregados, a Onmitsu Kidou e até mesmo meu velho amigo Kyouraku Shunsui colocou seus homens à disposição para ajudar nas buscas por ela. Hoje eu me pergunto, se cada distrito de Rugonkai foi percorrido, os homens bateram em cada casa como o ordenado... Como é possível não a terem encontrado?

– Eu compreendo, Kannogi-dono – Byakuya acompanhou de perto o sofrimento daquela família, sabia perfeitamente do que ele estava falando. – Mas, não quero lhe dar falsas esperanças, este prendedor pode ter sido roubado e entregue para a Myazaki quando criança.

– Byakuya, você não se lembra do rosto de minha amada Akiko? – Masanori perguntou quase sem voz, estava emocionado demais.

– Quando tudo isto aconteceu, ela nunca mais apareceu em reunião alguma... Peço perdão por não recordar, eu era muito jovem quando o meu avô me levava até a Casa Kannogi.

– Não precisa se desculpar, Byakuya... Hoje, minha Akiko está com a beleza apagada, seus olhos verdes já não possuem o mesmo brilho de outrora. Ela está doente em uma cama desde o desaparecimento do nosso tesouro, prometeu que nunca mais veria a luz do dia novamente, contudo, se você for vê-la, entenderá. Eu preciso que você veja com seus próprios olhos, tantos anos podem ter me deixado senil.

– Eu sei que não é necessário, acredito no seu discernimento. – Byakuya levantou-se e ajudou Masanori. – Porém, estou à sua disposição se quiser realmente que eu vá ver a Akiko-sama.

Dois dias se passaram desde que Byakuya foi até a Casa Kannogi, como amigo, se ofereceu para uma missão muito delicada. Seu dia começou atribulado, primeiramente teve uma conversa séria com Unohana Retsu, em seguida, teve que ir até o Juusanbantai. Por sorte, a visita de Aiko a Ukitake naquela tarde estava demorando mais do que o normal. O taichou convalescia desde a sua última crise na noite anterior e a hachiseki foi para ajudá-lo com as medicações. Kotetsu Kiyone foi até os aposentos de Ukitake chamar Aiko a pedido de Byakuya que a esperaria no jardim. Aiko instruiu a oficial sobre como proceder com os medicamentos, não pôde despedir-se do taichou por ele finalmente ter conseguido dormir depois de uma noite em claro.

– Kuchiki-taichou, o que faz aqui? – Ela não acordou muito disposta naquele dia e como se preocupava demais com Ukitake, ficou ainda pior. Sua aparência denunciava o cansaço. – O Ukitake-taichou não está nada bem, então, eu decidi ficar um pouco mais até ele dormir.

– Admiro a sua preocupação com ele, Myazaki. – Byakuya estava com o prendedor de ouro nas mãos e o mostrou para Aiko. – Eu já pedi a sua liberação no dia de hoje para a Unohana, preciso que venha comigo agora.

– Algum problema no Rokubantai? – Indagou desconcertada.

– Não, pelo contrário, está tudo muito bem – pela primeira vez ele parecia estar sendo agradável com ela sem mais nem menos. – Vamos a um lugar muito especial, então, se quiser tomar um banho antes ou algo do tipo, eu não me importo em esperar. – Ele reparou as manchas de sangue nas vestes da oficial.

– Eu tenho escolha? – Ela perguntou sorrindo, algo lhe dizia que não seria muito agradável um passeio com ele, não naquelas circunstâncias.

– É uma missão oficial, então, não tem – respondeu ele com a voz suave.

– Vou tomar um banho e colocar um uniforme limpo... Se não for incomodo, eu gostaria de prender o meu cabelo novamente com isto.

– Claro, vamos. Eu vou aguardar nas imediações do Yonbantai.

Aiko foi andando ao lado de Byakuya, os shinigamis que passavam olhavam para aquela cena incomum, dificilmente Kuchiki Byakuya era visto caminhando tranquilamente com alguém pelas ruas de Seireitei. Ela se apressou para não deixá-lo esperando tanto, assim que tomou seu banho, penteou os cabelos rapidamente e os prendeu no alto da cabeça. Foi difícil encontrar um shihakushou limpo, mas ainda havia um no fundo do armário. Infelizmente o obi cor de rosa que ela usava para amarrar o traje estava manchado com o sangue de Ukitake, então, teve que se contentar com um comum. Assim que colocou o tabi branco nos pés, calçou as sandálias e por último, borrifou um pouco de seu adorado perfume de jasmim. Estranhou a vontade de se arrumar um pouco mais, tanto que passou um pouco de cor nos lábios, um rosa cintilante. Como prometido, Kuchiki Byakuya a esperava, já estava no portão de saída do Yonbantai. Eles fizeram um longo trajeto a pé, Byakuya nada dizia e Aiko resolveu acompanhá-lo naquele silêncio, odiava falar com ele e receber respostas vazias. Ela estranhou o lugar em que eles chegaram, ali era o limite entre as ruas que os shinigamis poderiam trilhar e as grandes casas. Ao pararem diante de um grande portão que era guardado por dois Shinigamis, um deles os recepcionou.

– Bem vindos a Casa Kannogi.

Aiko retribuiu a reverência do shinigami que abriu o portão, Byakuya permaneceu indiferente. Ela cumprimentava a todos que os reverenciavam, estava visivelmente fascinada por aquele lugar. Quando eles entraram no palácio, uma fileira de criados os aguardava, três deles vieram até Aiko.

– A senhora precisa de algo?

– Não, estou bem, arigatou!

Ela respondeu com simpatia, enquanto Byakuya apenas meneou a cabeça, era notável que suas personalidades contrastavam demais. Os dois foram levados para uma salinha aconchegante, lá uma mesa para três pessoas estava disposta, com almofadas correspondentes. Aiko e Byakuya sentaram-se lado a lado e logo o dono da casa veio ocupar a almofada à frente deles, no outro lado da mesa. A Hachiseki pensava em vários motivos para ter sido levada para lá, mas o que fazia mais sentido era o de ter alguém doente naquela casa. Kannogi Masanori respirou profundamente e olhou para Aiko com seriedade.

– Nunca me faltaram palavras, Myazaki-chan, espero que compreenda a minha emoção a partir do momento em que eu começar a reunir palavras para revelar a você o motivo de ter requisitado a sua presença aqui.

Aiko reparou no nervosismo do senhor diante dela, começava a ficar inquieta, a cor dele estava fugindo do rosto. Byakuya esperou por alguns minutos, achava que seria muito difícil para Masanori contar a verdade, então, resolveu intrometer-se.

– Peço perdão, Kannogi-dono... Posso conversar com Aiko, se o senhor permitir.

– Por favor, Byakuya – ele bebeu um pouco de água e estendeu a mão para a shinigami. Ela hesitou, porém, segurou a mão dele com firmeza. Ao tocar nele, Aiko sentiu um aperto no peito, algo que não podia descrever. – Não pense que sou um covarde.

– É um momento delicado, eu entendo.

Masanori acariciou as mãos da jovem e saiu dali, deixando-os a sós. Byakuya era a pessoa certa para aquela conversa, sendo um homem que sabia pesar bem as palavras e falava com frieza, agora virado de frente para ela, explicava tudo o que aconteceu. Ela ficou estática assim que o taichou terminou de falar, agora era a sua vez de quase perder os sentidos, tinha este direito. Kuchiki Byakuya estava convencido de que Aiko era na verdade filha de Kannogi Masanori e Akiko desde que estivera no quarto da distinta senhora. Não teve dúvidas, Aiko era uma réplica de Akiko, até mesmo os olhos eram iguais. A jovem oficial sabia bem que um Shinigami deveria ter coragem para enfrentar tudo de frente, sem temor. Ele esperava por qualquer reação dela, exceto a que se seguiu.

– Não pode ser...

Ela se jogou nos braços de Byakuya procurando consolo, queria esconder-se para chorar sem ser vista e num ímpeto achou que o abraço dele era o refúgio perfeito. O taichou demorou para tomar alguma atitude, mas como era um momento delicado demais, ele a envolveu em seu abraço, afagando as costas dela. Aiko sentiu-se acalentada, se pudesse, não afastaria o rosto do peito dele.

– Aiko – ele a chamou com brandura. – Eu sei o quanto esta família procurou por você... Kannogi Akiko está morta em vida desde que a levaram de seu berço quando você era pequena. – Ele não quis ser indelicado, então, continuou no mesmo tom. – Eu não tenho o direito de consolá-la, não quando atrás desta porta existe um homem que esperou tantos anos por este abraço...

– Kuchiki-sama, por qual razão você está fazendo tudo isto? – Elevou o rosto para poder olhá-lo nos olhos. – É somente por esta família, ou por mim também?

– Você faz parte desta família, Aiko. Agora, permita que eu chame o seu pai – ele pegou um lenço azul e entregou para ela. – Seque as lágrimas... Encontrar o lar verdadeiro deve ser motivo de alegria e não de tristeza.

– Mas, eu posso chorar de alegria também. – Aiko timidamente pegou o lenço e secou as lágrimas, era curioso o fato de ele ainda estar praticamente abraçando-a. – Mais uma vez eu tenho uma dívida com você, Kuchiki-sama.

– Sei que não vou escapar desta conversa de dívidas, mas deixe para outra hora... Eu a acompanho, está certo?

– Uhum.

Ela levantou-se com a ajuda dele que estendeu a mão gentilmente. Não sabia mais se admirava ou repudiava Kuchiki Byakuya. Ele parecia mais inconstante que as águas de um oceano, com certeza conviver com aquele homem era o mesmo que passar os dias aguardando pela bonança ou pela tormenta. Ambos saíram lado a lado, Masanori Kannogi os aguardava no corredor, estava impaciente e temeroso pela reação de Aiko. Ela caminhou até ele de cabeça baixa, aquele homem era distinto demais, tão diferente de seu pai adotivo. Assim como era difícil para ela se portar diante de um nobre como Byakuya, era mais difícil ainda saber o que fazer perante seu pai. Antes de qualquer atitude, ela ouviu uma voz em sua mente, sabia bem a quem pertencia.

"Aiko-chan... Não seja dura com este homem. Posso sentir que dentro dele existe um amor infinito pela filha que perdeu, não desperdice este momento tão bonito. Estou com você.”

A shinigami assentiu e sorriu, o que deixou Byakuya intrigado. Quando parou a alguns centímetros de Masanori, ele abriu os braços para ela, temia pela rejeição. Por quanto tempo ela vagou sozinha e sem família pelo Rukongai? Todas as suas memórias ruins surgiam como um flash em sua cabeça quando olhou nos olhos daquele senhor, ele realmente não era culpado por nada, ninguém poderia ser culpado. Sem querer adiar mais, a jovem abriu os braços também e encontrou os de seu pai. Foi o abraço mais longo de sua vida, repleto de calor e amor. Um amor que há muito ela jurava ter perdido. Kannogi não tinha vergonha em colocar a sua emoção para fora, chorava tanto quanto Aiko. Quando se afastaram, ela segurou as duas mãos dele.

– Kannogi-sama...

– Não vou apressar as coisas, minha filha – ele exibiu o sorriso mais sincero de sua vida desde que ela foi levada. – Mas, você pode me chamar de pai quando estiver pronta.

– Otou-sama – ela arriscou retribuindo o sorriso. O coração de Masanori se encheu de felicidade quando ela o chamou daquela forma. – Eu gostaria de pedir-lhe um favor, se não for incomodá-lo.

– Tudo o que você quiser – falou o homem em tom de promessa. – Eu seria capaz de qualquer coisa agora que a tenho comigo novamente.

– Permita que eu continue com o nome que me foi dado por meus pais adotivos, onegai – ela abaixou a cabeça. Byakuya havia revelado o seu nome verdadeiro, Megumi. Jamais se acostumaria com um nome tão diferente e esperava que Kannogi Masanori a atendesse.

– Não passou por minha cabeça chamá-la por outro nome... Sua mãe sempre odiou o nome Megumi, eu o escolhi.

Aiko riu, porém, seu riso foi interrompido pelos gritos de uma mulher que descia as escadas que davam para o segundo andar. Masanori correu até ela e a abraçou, tentava acalmá-la.

– Uma criada contou-me a respeito desta farsa! Você está manchando a memória de Kuchiki Ginrei trazendo esta farsante à minha casa, Kuchiki Byakuya.


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