Contos de Ernas escrita por xGabrielx


Capítulo 1
Endless


Notas iniciais do capítulo

Não estou nem um pouco satisfeito com a progressão. É provável que depois eu altere a ordemm das passagens. Também é possível que eu reescreva o texto. E também é possível que você ganhe na mega-sena.



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— Por quê você luta?

— ...

— Somos guerreiros... Precisamos lutar por algo. Por uma mudança, por um lugar, por uma ideia... Por alguém.

— E se lhe disserem que não precisa haver um motivo?

— Então diria que estão errados. Só não sabem por quê lutam ainda. ... Talvez acabem morrendo antes, sem chegar a descobrir.

— Por quê você luta, então?

Ela abriu um sorriso. Era a pergunta que esperava.

— Não faço a mínima ideia!

~

— Peter! — o velho descia as escadas quase correndo; era quase incrível como não tropeçava debaixo das camadas de tecido que cobriam suas pernas. Assim como seu rosto, a voz expressava extrema raiva. — O quê diabos pensa que está fazendo aqui?!

A pessoa a quem se dirigia estava no fim da descida. Um homem alto, imponente, de pele lilás. Ainda trajava a roupa de batalha, de um roxo escuro nas proteções e vermelho vivo nos tecidos. O chifre acima da orelha esquerda dava a volta por trás da nuca, aparecendo do lado direito e subindo alguns centímetros.

— A batalha lhe tirou a cabeça?! — o velho, tinha um chifre quase tão grande quanto ao de Peter, mas nenhum cabelo restava. Era pelo menos duas cabeças mais baixo do que o homem. — Perdeu a cabeça e fizeram um péssimo trabalho ao recolocar. — já tinha chegado ao fim da escada, e precisava olhar para o alto para encontrar os olhos do outro – Faz ideia de quem você é?!

Com um solavanco, o velho foi levado ao ar e posto contra a parede. Segurando as camadas de tecido em seu peito, estava a mão do outro asmodiano.

— Sou Peter von Crimson, e voltei para ver minha filha. — sua voz pareceu quase tremer ao fim da resposta, como se a pergunta fosse a maior das insolências.

— É o Líder Sanguinário. — retrucou o velho, ainda no ar — E acabou de fugir do sangue da batalha.

Não houve outra resposta do homem. Após alguns segundos, ambos fulminando um ao outro com desprezo no olhar, Peter recolocou o velho no chão.

— Voltei para ver minha filha. — repetiu.

“Não para discutir com um velho”, entendeu:

— Ela está repousando no quarto.

Com a informação, o homem avançou escada acima deslizando pelo ar.

Após tempo o suficiente ter passado, o velho adentrou o quarto. Peter estava sentado ao lado da cama, olhando para sua filha, adormecida.

— Quem é o homem que trouxe consigo?

— Creio que ele tenha conseguido se apresentar sem a minha ajuda. — respondeu Peter.

—Estou perguntando ao senhor.

Seus olhos se delongaram um pouco mais na menina à cama antes de se voltarem para o velho. Estavam agora calmos, melancólicos, mas tinham certa firmeza misturada no olhar.

— Pode fazer algo por ela?

Quantas vezes não teria essa pergunta sido feita? E quantas vezes não teria sido a resposta a mesma? Mas dessa vez era diferente. Não tentaria fazer o possível.

— Tudo o que podia fazer, já fiz. ...Não creio que ela tenha muito tempo.

Peter von Crimson voltou a olhar sua filha. Após algum tempo, como se tivesse decidido naquele exato momento, anunciou:

— O homem é Oz Von Max Reinhard. Ele diz que pode salvá-la.

— Salvá-la?!

— Exatamente. — respondeu o homem. Carregava diversos anéis em suas mãos e um cajado quase da mesma altura dele. Seus dois chifres eram acompanhados de cabelos já escassos no topo, mas ainda proeminentes no resto da cabeça. Parecia ter surgido subitamente no local.

Como chegara ali? O salão de hóspedes ficava em um local completamente diferente. O velho ia dizer algo, mas se conteve ao ver que seu senhor não parecia se incomodar com a presença do estranho ali.

— Como já disse, o preço são algumas das... essências... que a família Crimson possui. — o homem, vestido em um robe bastante simples, deslizou pelo quarto, colocando-se ao lado da cama. Levou com cuidado uma mão à testa da menina e fez movimentos com o cajado por cima de seu corpo. — Hm... A situação parece mais... Grave... Do que pensei.

— O que quer dizer? — o tom na voz de Peter dizia claramente que não confiava mais do que o estrito necessário.

— Ah... Não me entenda mal!... Ela poderá viver... Sim, mas... Ah; o preço ainda é o mesmo, mas... O ritual... Será diferente. — então baixou os olhos para a menina e ficou a observá-la, calado.

Tendo esperado algum tempo, Peter ordenou, ainda em tom agressivo:

— Explique-se.

Como se chamado de um sonho, Oz levantou a cabeça, quase parecendo surpreso, e respondeu com cuidado:

— O ritual requer uma... uma alma. Não a dela... Outra... Outra alma, outra vida... Requer um sacrifício.

O ar em volta pareceu ficar pesado, mas isso não seria o suficiente para impedir o que ocorreria. Um sacrifício... Usar uma alma significada impedi-la de ir para Hades. Impedi-la de ter seu julgamento e impedi-la de ter seu fim. Tudo no mundo tem um fim... Precisa ter um fim, seja sofrendo nas prisões ou reencarnando...

Salvar sua filha significaria impedir uma alma de seguir seu curso natural... Significaria ir contra a ordem do mundo, algo pelo qual é sabido que Hades não tem apreço.

Mas era sua filha.

Pela sua filha...

— Essências... e uma vida. É isso que diz?

— Sim... senhor. Não me atreveria a mentir. Tenho... Certeza absoluta que sua filha... viverá. — olhou novamente para a menina — Ainda é criança... Muito criança... Merece viver mais. Com a guerra ocorrendo, não será difícil encontrar uma alma para a... Como é mesmo o nome dela? ...Senhor.

Peter levantou-se, dirigindo-se à porta.

— Rey. — respondeu, ao segurar a porta, convidando o velho e Oz a saírem do quarto. — Rey von Crimson.

~

O mundo à sua volta estava se derretendo.

E era lento.

Tão lento... Tudo, tudo à sua volta se derretia, perdia e mudava a forma e então se misturava com todo o resto. Luzes e figuras... Vultos de diversas cores tremiam, se dividiam, se juntavam, e se separavam... Dançavam, dançavam uns com os outros, uns contra os outros, e ele os cortava, e cortava, e cortava.

Mais! Mais! — dizia a voz; Aquela voz feminina... Aquela outrora irritante voz. Era agora o seu comando, seu caminho.

Explosões de claridade o envolviam. Luzes vermelhas, azuis, brancas, verdes, roxas e de mais diversas outras cores que nunca vira. Projéteis brilhantes voavam em toda direção, inclusive a sua, mas não eram mais que pequenos incômodos. De tamanha inconsequência que não precisava mover um músculo para dispersá-los. Somente pensar era o suficiente, e ainda assim...

Não precisava pensar. Só sentia... Só precisava sentir.

Sentia o mundo à sua volta, o solo sujo de poeira, terra e sangue, o ar carregado da batalha, os infinitos corpos e aqueles que logo se juntariam aos mortos... Asmodianos ou tribais, moderados ou radicais, não importava. Precisava cortar; só o que precisava era cortar. Um golpe da Crescente ceifava a vida de dezenas, e com cada vida ela rejubilava de prazer.

Mais! Quero mais! — gritava o objeto, e tinha o pedido garantido dezenas, centenas, milhares de vezes.

O desejo da espada não tinha fim, e ele, ele desejava...

...

Não desejava nada. Não tinha nada a desejar, e nada queria desejar. O mínimo necessário era continuar assim, entre as formas, luzes e vultos, e isso era também mais do que o suficiente.

Só precisava cortar, e cortar, e cortar...

Mais!

Mais!

Cortar. Mais! Cortar!

Mais! Cortar! Mais! Cortar! Mais, cortar, mais, cortar, mais, mais,mais!...

Mas algo o tiraria do transe. Algo o traria de volta. Não poderia ficar para sempre naquele mundo de tudo e nada, onde só o que precisava fazer era o que fazia melhor. Voltaria para aquele mundo de sofrimento.

Tinha sido empurrado por algo. Se virou para também cortar o novo alvo, mas a consciência acordou da dormência e parou seu corpo: conhecia a forma.

A figura lhe era familiar, e não podia cortá-la; não ela.

No final, não faria diferença. Qualquer um que visse seus ferimentos saberia. E ela também sabia.

Levantou-se e correu até ela. A espada dizia algo, mas a voz sumiu ao largá-la para trás. Ela também disse algo.

— Eu avisei...

Sorria, como se quisesse confortar. As lágrimas começaram a embaçar sua visão, e ela também chorava.

E ele sentiu a vida dela deixando o corpo, deixando seu mundo.

Lembrou-se do que tinha ocorrido: a batalha, e a espada. Um dos Lordes abandonara a batalha, e logo outros o seguiram. Estavam sendo esmagados pelas tribos e os radicais... e foi então que a espada... ... ...não... Foi ele. Ele é quem perdeu o controle.

Olhou em volta — tinha sido uma armadilha, e quem quer que a fizera... havia fugido após a falha. A vítima acabou sendo outra, e sua vida foi salva.

Jurou que a traria de volta. Não importava como. Não poderia deixar que morresse assim, desse modo...

E agora, finalmente tinha o meio de trazê-la. Depois de tanto tempo, de tantos anos... Finalmente tinha conseguido. Finalmente estava pronto para trazê-la de volta, mas...

À sua frente, a ruiva e aquela aberração de Oz empunhavam suas armas, mas não se atreveriam a atacar — conheciam bem demais a diferença entre suas forças. O importante estava atrás deles: o herdeiro do Desfiladeiro Flamejante segurava a garota dos Crimson, e ela sangrava.

Êpa... — comentou Crescente. Aquela maldita e irritante voz.

O golpe que dera tinha fora tão… fácil de evitar. Não tivera a mínima intenção de machucá-la… Era filha de um dos Lordes, e ainda assim, qualquer guerreiro que se prezasse poderia ter defendido ou desviado…

Azar. Era a única explicação. E teria sido só mais uma das vidas que tirara para alcançar seu objetivo... mas dessa vez era diferente.

Era a mesma cena. Era exatamente a mesma cena de anos atrás.

~

Ele não parava de gritar. Mal conseguia ouvi-lo, mas até agora conseguia ser irritante...

— Dio... Seu... idiota...

Por quê eu não... parei... o golpe daquele... Duel...

Esse... sentimento... não consigo... parar de... amar ele...

Não! Eu não!... gosto dele...

Quem é você?! Sai! Sai da minha cabeça! Eu não sou você não sou eu!

Eu não... não entendo mais por quê ainda estou aqui?

A minha cabeça... esses pensamentos... não... não é meu corpo.

Para!... Para!... Deixa eu já não morri?

— NÃO! — tinha se empurrado para o chão, fugindo do colo de Dio. Via o sangue dele em sua arma. Acabara de feri-lo. As lágrimas começaram a fazer arder seus olhos.

Não entendo isso.

Por quê é que... Estava tão fácil!... Um golpe ridículo daqueles... Uma barreira simples já teria protegido. Se essa… voz! Esse… sentimento…! Não tivessem...

ME DEIXA EM PAz. Quero... descansar.

Tudo... doendo... não quero mais sofrer. Dói tanto. Isso... já não tinha passado?

— Vai... logo... matar esse… esses radicais... para de... perder... tempo comigo...

Eu... amo você... Duel...

NÃO! NÃO, NÃO, NÃO, NÃO!

— QUEM É VOCÊ?! SAI DA... — sentiu uma pontada de dor no peito, que silenciou sua voz. — Meu nome é Rey!... — sussurrou, de dentes cerrados — Rey... Eu não...

Eu... Eu sou...Edna!

Meu nome é... é...

Não... Não quero mais...

Preciso... Preciso dizer...

Preciso pedir...

Antes de... vou... morrer...

Não posso deixar...

— Dio... Eu avisei... A espada... Seus sentimentos... Controle os... sentimentos... Não lute... — tosses, e sabor de metal — por mim... ... Por favor... não me... não... me esqueça... Não… Deixe-me. Por favor…

Tinha agarrado a roupa dele, mas logo soltou. Encolher os dedos custava força demais. Doía, e queria descansar. Ficar de fechados também era cansativo, mas mantê-los abertos cansava ainda mais. Sentia o próprio sangue misturado com o ar que inalava, e respirar também ficava cada vez mais difícil. Até pensar... Não conseguia mais pensar direito. Pensar... no quê?

Não sabia. Não conseguia, então se agarrou à única palavra que conseguia lembrar:

“Pensar”... “Pensar”... “Pensar”... “Pensar”... “Pensar”...

E mesmo a última tentativa de manter a consciência provou ser inútil. Não conseguia mais sentir nada. Ainda tinha mãos? Pele? Boca? ...Olhos?

Já no limiar, subitamente, pareceu conseguir pensar mais claramente. E viu aquela alma, aquela outra pessoa que viveu sua vida... ao lado? Não... Dentro...?

...

Junto?

Quem era...?

...

Meu nome é... Edna.

Sou... Rey...

A filha do Líder Sanguirio.

Meu... pai.

O desertor.

Abandonou a luta.

Meu... herói...

Um traidor.

Um guerreiro...

Ele precisa...

Me esqMorruecer.

Não quero morrer

...Quero ficar

Mais tempo com...

Dio...

...

..

.

~

Dessa vez, ele era o assassino.

Tinha sido o motivo, e agora se tornara também a causa da morte.

Sentia a mesma vida. Uma vida a mais onde ela não devia existir... Sentiu a vida dela deixando o corpo da Crimson e se despedaçando.

Nunca poderia trazê-la de volta.

Não tinha somente matado. Tinha destruído qualquer traço de sua existência.

Edna não existiria mais, e a culpa era sua.

Deixou novamente a espada cair. Não mais seguraria a Crescente. Nem a Eclipse, nem qualquer outra espada. Não mais empunharia arma alguma.

Recuou para um portal, que se fechou com a sua passagem. A escuridão o engoliu, e ali ficaria.

Acabara de destruir, com as próprias mãos, a razão de sua vida.

Sua dor seria…


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Notas finais do capítulo

Créditos de parte da ideia são de http://rey-grand-chase.tumblr.com/post/40495754100/o-sieg-matou-a-edna-o-o, que... parece não existir mais então você não pode saber qual parte eu peguei como inspiração. Aí complica. O que eu peguei foi a ideia de Duel matar Rey que se sacrificou pelo Dio e acabar destruindo a alma de Edna. Toda a história em si, a escrita do texto e sua execução são de autoria minha. E, para o caso de não ter notado, o título não está ali somente e únicamente porque é a arma da Rey.



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