Diário de confissões escrita por Clary Cahill


Capítulo 5
Estou apenas começando.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Boa leitura.



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Acordei tarde. Eu simplesmente desmaiei de exautão. Minha cabeça dói. Estou de ressaca? Provavelmente. Posso não ter bebido tanto ontem, mesmo assim, foi o suficiente.

Olho no relógio.Meu coração para.

Onze e meia.

Levanto-me e vou para o meu quarto.

No caminho Passo pelo corredor. Rafael e Fernando estão lá. conversando casualmente.

–O que está fazendo aqui?- pergunto para Fernando.

Ele sorri.

–Alguém tinha que levar o pessoal embora, não? -ele diz.

–Por que não me chamaram?- pergunto.

–Você parecia cansada. - Diz Rafa. -Acho que deveria tomar outro banho.

Sinto-me corar. Por dois motivos. Um eu menti ontem para meu irmão e dois tinha esquecido que estava de pijama. Por mais que eu seja amiga de Fernando, não me sinto confortável de pijama frente dele. Corro para meu quarto. Pego a primeira roupa que vejo na frente, depois disparo para o banheiro.

Olho-me no espelho. Assusto com o que vejo. Parece que não durmo há quatro dias. Meu cabelo está oleoso, com um excesso assombroso de nos e estou doentiamente pálida. Tomo um banho rápido e me deixo aproveitar a água quente pelo meu corpo. Depois volto para a sala.

Rafael não está mais lá. Fernando parece me aguardar no sofá.

–Olá.- digo.

–Bom dia, flor do dia. -ele fala.

–Leu o diário?

Assinto.

–E...

–Por enquanto, nada demais. Ela só apresenta seus amigos. -Lembro-me que Letícia comenta sobre Sara, mas decido não dizer nada a respeito ainda.- Ela diz sobre seu primeiro beijo. Ela disse que todo o dia depois da aula, ela e a ex professora Marcela conversavam sobre doenças raras. Cada uma trazia um tópico todo dia. Depois ela comentou que estava com receio de voltar a escola no dia seguinte, pois ela e o amigo dela Matheus tiveram uma briga.

–Que tipo de briga?

–Eles brigaram, pois minha irmã não nutria os mesmo sentimentos por ele que ele por ela. -disse.

–Interessante. Vai ler mais.

–Eu preciso. -digo. Suspiro.- Onde foi meu irmão?

–Buscar o Caio. -ele diz.- Acho que eu já vou indo.

–Por que?

–Sara e eu vamos nos encontrar no shopping. A não ser que precise que eu fique aqui.

–Divirta-se. Sério, curta seu sábado. Acho que eu vou ler mais um pouco.

Ele dá um beijo no topo da minha cabeça.

–Eu te ligo mais tarde.- Ele diz. -Lara disse que hoje ia ter festa open bar se quiser ir.

–Acho que vou deixar passar.

Ele sorri.

–Até mais. -Ele diz.

–Até.

Então, ele vai embora. Ouço a porta bater. Corro para minha mochila e pego o diário de Letícia e me tranco no quarto. Sento na minha cama.Tenho que ler mais.

2 de agosto.

O cinema foi um desastre total. Durante a manhã, Matheus, parecia indiferente. O que me fez ficar aliviada.

Houve um imprevisto no cinema.

Os lugares juntos para toda a turma que me acompanhavam teriam que ser separados, se todos nos quisemos ver o filme. Porém haviam dois lugares juntos. Bruna deveria sentar ao meu lado. Mas na hora H, Matheus sentou.

Não me incomodei no começo. No começo, estávamos conversando, normalmente, como sempre.

Ai, no meio do filme, ele fez o velho truque de colocar o braço em volta da minha cadeira. Depois ele tirou o braço dali. Agradeci mentalmente.

Porém, dez minutos depois ele colocou a mão na minha coxa e começou a acariciá-la. Ele começou a subir a mão. Dei um tapa em sua mão e sai correndo do cinema. Ele me seguiu. Corri até a entrada do shopping o mais rápido que pude...

Eu tinha que fugir. Mas ele me alcançou. Virando-me de frente.

–Não ouse tocar em mim. Você entendeu? Eu te disse. Não quero esse tipo de relacionamento com você!

Ele ficou me olhando e parecia não saber o que dizer. Ele parecia... Envergonhado. Matheus é uma boa pessoa. Sei que é. Qualquer outra menina ficaria lisonjeada. Eu talvez devesse ficar, mas... não fico.

Voltei para minha casa, onde estou neste exato momento, trancada no quarto, estou chorando e evitando todo mundo.

Talvez eu devesse sentir alguma coisa. Pois estamos no mesmo cômodo, trancadas e evitando qualquer um nesse momento. Mas, não sinto nada.

Bruna não para de me ligar, mas não posso atender. Sinto que vou explodir.Só tenho que ficar sozinha no meu quarto.

Será que eu perdi meu amigo para sempre? Espero que não. Pois eu realmente gosto muito dele e ele é alguém importante para mim. Por que as vezes as somos patéticos? Por que temos que gostar das pessoas erradas? Por que machucamos os outros?

Por quê?

O relato acabou ai.Paro de ler e penso.Ela fez boas perguntas.Tenho que saber o que aconteceu.

Dia 3 de agosto.

Hoje, deu quase tudo certo. Eu não falei mais com Matheus. Sentamos na mesma mesa. Mas não falamos um com o outro, mal nos encaramos. Não contei o que aconteceu para Bruna. Mas, sei que ela tem certeza que houve algo entre eu e ele. Não sei por que não disse nada. Só não quero contar.

Mas o resto está indo bem. Minhas notas estão boas. A única coisa me incomodando é Matheus.

Espero que ele um dia me perdoe. Por simplesmente o rejeitar. Quando meu irmão mais velho, Rafael, foi rejeitado por sua primeira namorada, Bianca, ele... ficou deprimido.

Prometi a mim mesma que nunca faria isso com ninguém.

Acho que sempre quebramos as promessas que fazemos a nós mesmo. O pior que acho, que estou só começando.

Ela não escreveu muito. O que ela quis dizer com estou só começando? Olho o relógio. Ainda tenho a tarde inteira. Não sei se vou almoçar. Provavelmente Rafa e Caio vão almoçar fora. Vou devorar o diário em uma só tarde?

Dia 10 de agosto.

Por que alguém como ela se mataria?

Meu deus. Preciso de um tempo encarando a primeira frase. A releio mais de dez vezes. Não pode estar certo. Quero ler isso?Tenho que ler.

Não paro de pensar nisso. Não consigo enxergar o porquê. Sei que todos temos muito mais problemas do que compartilhamos, mas nunca imaginei que Carolina Mendes, se mataria.

Nunca iria imaginar que Carolina Mendes era a Carol que minha irmã se referia.

Quando fomos ao cinema dias atrás, ela estava bem. Ela ria. Fazia piadas. Então... Por quê? Está me torturando olhar para a carteira vazia dela ao lado da minha. Só faz uma semana. Será que vão tirar a cadeira de lá? Ou vou ser obrigada a olhar por seis meses o lugar onde ela deveria sentar?

Ela está morta. Ela se matou.

Foi um escândalo. Estava em todos os jornais. Eu sabia que ela estudou em nossa escola. Só não sabia a que ela tinha relação com minha irmã.

Eu estava bem. Estava me preocupando com meu mundo. Enquanto o dela, desabava por completo.

Uma semana atrás ela foi à escola. Foi como sempre. Era o último dia dela. Ninguém sabia, só ela. A última coisa que ela me disse foi: Você não merece isso. Achei que isso se referia ao empurrão que tinha acabado de levar na última aula do dia. Educação Física.

O que ela se referia? Eu não mereço o que?

Então, Bruna me ligou e me contou que Carol tinha se matado.

Carol pendurou uma corda no seu pescoço e pulou da sacada do prédio. Simplesmente se jogou. Deixou seu corpo inerte balançar na sacada por 20 minutos antes que alguém chamasse a polícia.

Pergunto-me por que ela não disse nada. Eu não estava esperando algo tipo: Ei Le? Quero me matar. O que acha?

Se alguém pensa na ideia, não deve ir procurar ajuda? Pedir ajuda. Não? Eu podia ter ajudado. Quero pensar que podia. Mas talvez ninguém pudesse.Será que ela pensou em como isso ia afetar os outros? Será que ela pensou que... Não sei. Nunca vou saber. Não vai ter velório. Por que ela não pelo explicou o por quê? Não deixou um bilhete? Qualquer coisa? Simplesmente deixou uma lacuna.

Como é chegar no ponto de temer mais a vida do que a morte?

Carol era minha amiga, por que eu não notei nada? Ela tinha vários amigos, sua família a amava, ela me disse que ia acampar com o pai no sábado... mas, sábado, nunca chegou para ela.

Sinto-me egoísta. Ela precisava de alguém, eu estava lá. Mas nunca perguntei nada. Talvez fosse isso que ela estava esperando afinal. Alguém ir atrás. Mas eu não fui. Ninguém foi. Talvez ela queria que alguém se importasse.

Agora estou chorando. Devo chorar? Se realmente existe vida a pós a morte, estaria ela simplesmente me odiando por me importar tarde demais?

Acho que é isso que fazemos, nos importamos tarde demais.

Não posso ler mais hoje não aguento mais.

Isso foi demais.

Eu não sabia que minha irmã era próxima da Carol, a garota que se matou.Sei quem ela é. Sei pois tem um memorial a ela na minha escola. Passo por ele para ir para a sala do Dante.

Guardo diário na bolsa. O diário mexe comigo.

Elisa! Trouxe comida - grita minha mãe.

Estou enjoada demais para pensar em comer.

Saio do meu quarto e vou até a cozinha.

–Oi mãe. - digo.

–Oi. Não vai comer?

–Vou encontrar Fernando no shopping combinamos de almoçar. - minto.

–Ah. Tudo bem então.

Tenho que sair dali. Tenho que ir até o parque. Dar uma volta, respirar. Só não posse ficar em casa. Pego minha bolsa no meu quarto, antes de sair. E sinto o peso do diário.

Ou seria minha consciência?


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