Diário de confissões escrita por Clary Cahill


Capítulo 3
A festa.


Notas iniciais do capítulo

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Assim que me despeço de Fernando no ponto de ônibus eu e Caio vamos até minha casa.

–Como foi a escola?- tento puxar assunto.

–O Diego levou uma advertência.- ele dá os ombros. Diego leva advertências com muita freqüência e é o melhor amigo do meu irmão.

–De novo?- falo sem surpresa. –O que ele fez dessa vez?

–Pulou o murro para o ensino médio e foi pego.- ele disse.

–Você já fez isso antes?- pergunto.

–Lógico que não!- ele diz.

Acredito nele. Caio é um péssimo mentiroso.

–E o seu dia?- ele pergunta.

–Normal. Nada demais.

–Você parece cansada. Está tudo bem?

Meu irmão me conhece bem demais. Não quero mentir para ele e tenho que me abrir com alguém.

–É Letícia. -digo. –Ele está em toda parte.

Ele para de andar.

–Achei que fosse o único de nos que pensasse assim.- ele diz. Ele não força o assunto. Ele realmente entende e me sinto grata.

–Acho que todos nos pensamos.

Então, paramos de conversar e seguimos até minha casa em um silencio constrangedor.

Chegamos em casa e eu abro a porta. Entramos pela cozinha. Caio entra e eu me viro para fechar a porta estou dando a segunda volta da chave...

–Rafa!- escuto meu irmão gritar. Paro por um minuto. Não. Não é possível ele estar ali.

Viro para atrás, corro até sala, e meu irmão Rafael está ali. Corro em sua direção e pulo em seu pescoço.

–Olá pequena. Parabéns, Lisa. – ele me levanta.

–O que está fazendo aqui! –pergunto animada. Adoro meu irmão e já sentia sua falta. Ele deposita um beijo no topo da minha cabeça.

–Não ia perder seu aniversário. –ele disse.

–Suas aulas...

–Está tendo greve, uma semana sem aula e aproveitei para vir. –ele disse. –Não podia quebrar a tradição e não te levar no Mc Donalds.

Sorrio.

Ele faz isso desde que eu tenho nove anos. Vamos até o Mc. Tomamos um Milk Shake. Não é nada demais. Mas é uma coisa anual e para mim, se tornou algo importante. Pois o Mc Donalds é um lugar que não gosto de ir. Tenho lembranças ruins. E não relacionadas a minha irmã e sim algumas amigas que eu briguei. Parece que não foi nada, mas foi. Nenhuma delas jamais voltou a falar comigo. Nem me lembro o porquê de briga. Foi há sete anos atrás e elas continuam na mesma sala que eu.

No final, passamos em uma locadora e pegamos um filme e vemos com a minha família. Para mim é o melhor jeito de celebrar meu aniversário.

Minha mãe sempre acaba pedindo uma pizza para o jantar e pronto. Esse é meu aniversário a anos e para mim, está perfeito.

–Vamos lá. – fala Rafael.

Deixamos meu irmão, Caio, para trás. É uma coisa minha e do Rafa. Caio ficava bravo antes, agora não se importa mais.

No caminho até o Mc, meu irmão me contava sobre a faculdade.

–Já estou no quarto ano e ainda não sei cozinhar, se não fosse pela Renato, estaria vivendo daquela comida nojenta do refeitório.

Renato é o melhor amigo do meu irmão. Desde sempre. Eles prestaram o mesmo curso e os dois passaram. Eles até dividem um apartamento em São Paulo. Ele não pode vir, tinha deixado muitos trabalhos acumularem.

–O Renato cozinha? –eu pergunto surpresa.

–Melhor que a nossa mãe.- ele diz.

Eu rio.

– Achei que quem cozinhava era a Alana.- Alana é a namorada do meu irmão.

–O miojo dela é muito bom e ela tem uma ótima habilidade em pegar o telefone e pedir comida.

Dou risada novamente. O lugar é um pouco longe da nossa casa. Mas gosto de caminhar ao lado de Rafa. A última coisa que imaginava era ir com ele hoje até lá. Foi realmente uma boa surpresa.

Rafael não havia comprado nada para mim e se sentiu extremamente culpado. No shopping ele comprou uma regata básica preta na C&A enquanto eu ia ao banheiro. É o que ele me dá todo o ano. Só que cada ano é uma cor diferente. Não sei por que ele me dá isso. Posso até lhe dizer que não quero a blusa, ele vai me dar ela o mesmo jeito.

Estávamos voltado para casa e estávamos perto da locadora e meu pai ligou.

Atendi o celular.

–Alô? – falei.

–Oi filha, tudo bem? – A voz do meu pai animada perguntou.

–Ah oi pai. Tudo bem e você?

–Tudo. Parabéns!

–Obrigada.

–Eu não vou poder ir até sua casa hoje, estou...

–Viajando?

–É. – ele viaja no meu aniversário, no de Caio, no do Rafa... ele nunca está. Todo ano. Já me acostumei. Não ligo mais. Mas fico feliz que ele ligue.

–Não tem problema. A gente se fala. Eu tenho que ir. Obrigada por ligar pai.

–Ah, sem problemas. Parabéns querida. Beijos, a gente se fala.

–Ok, beijos. Até.

Desliguei o telefone.

–Viajando?- Rafael pergunta.

–Sim.

–Por que não estou surpreso.

Sorrio.

–Vamos alugar um filme agora? O que acha?-pergunto.

–Não estou com vontade, foi mal. É que já está tarde e sempre demoramos para escolher alguma coisa e está escuro e mamãe não sabe que vim...

–Não a avisou?- perguntei.

–Não.- ele disse.

–Por que não? Bom, isso não importa. O Caio sabe que você veio.

–É o Caio! Ele deve ter saído para algum amigo para jogar vídeo game e avisar, não é o forte dele.

Isso é bom ponto. Eu podia discutir, mas eu poderia voltar aqui com minha mãe mais tarde e pegar um filme, tenho certeza que ela iria deixar.

–Tudo bem.

Então fomos para casa. A última coisa que esperava assim que abrisse a porta era um monte de gente gritando surpresa. A sala estava com no mínimo 30 pessoas.

Olhei para o meu irmão e ele sorria. A música,Timber, tocava alto. Tinha uma faixa na parede em cima do sofá que dizia: Parabéns Elisa! Não consegui olhar a faixa por muito tempo, tinham pessoas se pegando no sofá. Assim como na varanda.Tinham muitas pessoas dando amassos , rindo sem motivos e todo mundo tinha uma garrafa ou lata de cerveja na mão.

Vai ser uma longa noite.

Eu não tinha ideia o quanto.

–Rafael o que é isso?

– Uma festa.- ele deu os ombros.

–Isso eu percebi!- disse com raiva. – Por que tem tanta gente!

–Quanto mais gente melhor. Aproveita eu vou sair.

–Você vai o que?

–Eu combinei com uns antigos amigos meus que eu ia num bar com eles.

–Vai me deixar sozinha com uma casa cheia de adolescentes bebendo!

–Vou. Divirta-se.

–Rafael!- chamei.Mas ele já tinha ido. Fechei a porta atrás de mim.

–Parabéns Elisa!- disse Paulo. Um menino da minha sala que eu quase nunca falei. Ele tinha uma garrafa na mão e estava agarrado a um menina, Bárbara. Os dois já tinham passado da conta.

–Obrigada. –disse e sai correndo. Fernando estava mais ao fundo com os braços abertos.

–Uma festa!- exclamei.

–Sim! O que esperava? É deprimente que você passe seu aniversario de modo tão indiferente! Por que gosta tanto de simplesmente tomar um Milk Shake no Mc Donalds, ganhar o mesmo presente todo ano e assistir a um filme triste e comer pizza? É isso que você faz quando não tem nada para fazer e achei que ia ser legal. – ele disse.

Fernando estava pulando com uma garrafa na mão.

–Me diz que minha mãe sabe.

–Não acho que eu tenha mencionado.

–Fernando, ela vai me matar! Quando ela chegar em casa e ver a casa lotado de menores bêbados o que ela vai pensar! Isso é se os vizinhos não chamarem a policia antes!

–Relaxa Elisa! Olha eu e o Caio...

–Meu irmãozinho está aqui?

–Não. Eu combinei com um amigo dele sobre o Caio dormir lá hoje.Disso sua mãe sabe. Ela tem uma reunião até tarde e o Rafa vai distraí-la por um tempo. A reunião acaba meia noite. Então 12h20min ela está no prédio. A festa acaba 12h00min, mas seu irmão a distrai e a gente limpa a casa. Eu tirei tudo o que podia quebrar e todos os tapetes da sala e os coloquei no quarto da sua mãe, que está trancado, se quer saber. Já comuniquei os vizinhos sobre o barulho e por eles tudo bem. Também lembrei de por plástico nos sofás para que ninguém os manche. Agora, relaxe e divirta-se!- Ele pegou uma garrafa e deu para mim.

Eu gosto de cerveja. Embora, quase nunca bebo. Fiquei feliz por ele tomar tantas precauções, mesmo assim, estava tensa. Podia dar tudo errado.Dei um gole.

Tinha um monte de gente na minha casa e se elas manchassem a parede? Se quebrassem uma porta? Se...

–Ei, calma! Tá tudo sobre controle. – disse Fernando.

–O amigo do Thomas estava dizendo a mesma coisa no projeto X.- lembrei.

–Só que dessa vez, é serio.

A musica estava alta, mas não no volume máximo. Tinham pessoas dançando e Fernando começou a dançar, eu estava tensa demais.

–Devia ter me avisado. –comentei.

–Elisa, se eu tivesse te dito, não estaríamos aqui.

Eu ri. Por que era a mais pura verdade.

Então eu também dancei. Se vai dar tudo errado, pelo menos vou me divertir certo? Não vou beber tanto. Alguém tem que manter a ordem e lembrar as horas.

Tito surgiu por trás de mim. Bom, só faltava cair de tão bêbado. Ele estava segurando a mão de Lara. Os dançavam (ou ao menos tentavam, pois estavam bêbados demais para se manter em pé).

–Cadê a Sara? – lembrei depois de um tempo.

–Não quis vir. – Fernando deu os ombros, mas se mostrava levemente irritado.

–Problemas no paraíso?

Ele riu.

–Podemos ver por esse lado. Não achei que você soubesse dançar.- ele falou.

–Você não viu nada. - dei uma piscadinha.

–Mostre então, dancing Queen.

–Está citando Mama mia. Que brega. – ri.

Então foi assim. Eu dancei, por hora e não liguei. Não era hora de ser a careta Elisa. Estava na hora de não pensar. Simplesmente deixar rolar.O relógio de Fernando apitou.

–Vou pedir uma pizza ele disse.

–Por que?- perguntei.

–É a sua tradição comer a pizza, se não tiver pizza, tem algo errado.

Então ele foi ao banheiro e voltou depois como se nada tivesse acontecido. Depois de um tempo, novamente, o relógio dele apitou.

Ele então desligou o som.

–Pessoal, acabou a festa!- gritou Fernando.

Ouvi um murmúrio de pessoas negando o fato de a festa ter acabado.

–Gente, era o trato. Meia noite! Temos que arrumar isso aqui.Então eu e Fernando conduzimos o amontoado de pessoas para fora. Havia pessoas muito bêbadas para andar.

–Vamos deixá-las no seu quarto.

–Por que no meu!- perguntei.

–Sua mãe vai checar o lençol de cama para o Rafa!

Parei para refletir.

–Bem pensado.Então levamos as pessoas para o meu quarto. Uma por uma. No final tinham cinco pessoas lá. Uma delas era Tito.

–Liga o umidificador de ar. Abre a janela. Vou pegar aquele negocio para deixar o ambiente mais cheiroso. Minha casa está cheirando maconha. – disse.

–Eu vou varrer o chão!

–Beleza.Então eu comecei a espirrar o aroma de lavanda pela casa inteira.

–Tem alguma parede suja ou vomito?

–Tem vomito na parede. –comentou Fernando.

–Então limpa!

–Por que eu?

–Você deu a festa, bonitão.

Taquei um pano com álcool para ele.Ele suspirou.

Destranquei o quarto da minha mãe e comecei a colocar as coisas no lugar. Tirei os plásticos do sofá (eles foram uteis, alguém de fato vomitou lá).Depois recolhemos todas as latas e garrafas de cerveja. Tinham muitos sacos de lixo cheios.

–O cheiro não está ruim. –comentei orgulhosa.

–Nada quebrado ou manchado.

–Apenas há algumas pessoas inconscientes no meu quarto. –falei.

–Semi- conscientes. –corrigiu Fernando. –Não foi tão ruim no final, foi?

–Não. Desculpa.

–Desculpas aceitas.

–Só temos que jogar isso aqui fora. – apontei para os sacos.- Nunca achei que fosse dar tempo.

– Eu terminei a festa meia hora mais cedo, se não realmente, não ia dar tempo de fazer tudo o que nos fizemos. Depois nos temos que tomar um banho, estamos fedendo.

Cada um de nos pegou dois sacos e levamos para frente do prédio.Na portaria, seu Neves nos entregou a pizza e Fernando o pagou.

Subimos e ao chegar na frente da minha porta, vi um embrulho.

–O que é isso? –perguntei. Peguei o embrulho do chão.

Fernando colocou a pizza sobre a bancada.Desfiz o embrulho e vi um caderno. O caderno era bem bonito. Roxo com varias colagens na frente.

O abri e paralisei.

–Elisa? Tudo bem?- Fernando perguntou se aproximando.

–Isso é uma piada doentia!- perguntei com raiva.

–O que é isso?- perguntou Fernando.

–Está dizendo aqui, que é o diário da minha irmã.


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Notas finais do capítulo

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