Descomeço escrita por annacrônica


Capítulo 1
Capítulo 1 – Daniel




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Capítulo 1 – Daniel

Mais uma manhã, eu acordo. Os lençóis de seda escorregam debaixo de meu corpo e eu sinto algo quente do meu lado. Abro os olhos somente para ver o que é. Ah, é uma mulher. Qual o nome dela mesmo? Que puta dor cabeça. Noite passada deve ter sido maravilhosa, pelos hematomas que posso ver no corpo da loira ainda nua deitada do meu lado. Somente suas pernas estão cobertas e eu a observo por um tempo. Não acredito que dormi com outra loira. O que as morenas tinham comigo? Da próxima vez, farei uma festa só com morenas. Afasto o pensamento e constato que eu estou de cuecas e que minha dor de cabeça vai piorar ainda. As cortinas finas não impedem a luz do sol de passar pelas janelas que vão do teto até o chão; tenho de me lembrar de passar isso para Nick.

Ah, Nick. Só de lembrar seu nome me dá vontade de revirar os olhos. Passo a mão nos meus cabelos loiros e me sento na cama, esperando a tontura inicial passar. Me inclino até o criado mudo de mogno que está a minha esquerda para pegar o remédio contra ressaca que deixei ali propositalmente. Merda, onde está a água? Minha cabeça começa a doer mais e eu sei que vou precisar desse remédio rápido. Não posso gritar para chamar o mordomo, a garota que eu ainda não lembrei o nome está deitada ao meu lado num sono profundo; deve ter bebido o mesmo tanto que eu. Decido me levantar de uma vez, sem me importar de estar seminu.

Por alguns momentos, me arrependo de ter pedido um quarto tão grande para Nick, mas logo me lembro de grandes noites que já passei ali com grandes garotas. Esse pensamento me faz sorrir, enquanto abro a porta que dá acesso á um grande corredor (tão longe). Alguns passos de lá, fica a sala de estar, decorada de maneira no mínimo futurista. Preciso mudar isso também, mas faço questão da grande TV de 70 ou 75 polegadas. Não a uso, mas é uma decoração legal e eu posso me fingir de normal na frente dos outros.

Caminho calmamente até a cozinha, uma parte do apartamento pouco frequentada por mim. Sra. Grani, a melhor cozinheira que eu já vi na vida, estava lá, provavelmente preparando alguns pratos para o meu café da manhã. Ela me olha assustada, por quase nunca aparecer lá.

– Sr. Catori, bom dia. O que gostaria para seu café da manhã, senhor? – Perguntou, e vejo que se controlava para não olhar meu corpo. Modéstia a parte, sou lindo.

– Por agora, só um copo de água. – Digo a ela, com um tom superior, mas me lembro de Nick me falar diversas vezes para ser gentil ou tudo que eu tinha voltaria a ser minha velha cabana. Meu rosto se contorce e eu murmuro um “por favor” tão baixo que penso que vou ter de repetir, mas Sra. Grani ouve e acena a cabeça, contendo um pequeno sorriso. – Pensando melhor, me dá um copo de uísque com gelo, por favor.

Sra. Grani muda sua direção e vai até o armário imenso cheio de bebidas das mais caras encontradas por ai. Escolhe o meu preferido e põe num copo, com três cubos de gelo, e me entrega o copo. Eu agradeço, me retirando da cozinha e sentido seu olhar nas minhas costas, apesar de não ter certeza se ela estava olhando mesmo para as minhas costas.

Da sala de estar, se abre uma varanda enorme, com uma piscina de água aquecida e uma sauna, além de um espaço que serve tanto para churrascos ou para festas. Nenhum resquício da noite anterior permanecia ali. Os litros de cerveja e vodka jogados na piscina já haviam sido drenados e as calcinhas alheias recolhidas. Sento-me em uma cadeira qualquer e deixo que o vento bagunce meu cabelo já desarrumado. A paisagem de uma cidade grande era maravilhosa, mas eu realmente preferia o lado em que uma praia de águas claras me proporcionava. O cheiro do mar possui meus pulmões e eu fecho os olhos. Como a vida de um CEO multimilionário é difícil.

Ah sim, esqueci-me de mencionar. Sou um CEO multimilionário. Na verdade, eu finjo ser um. Nick é o verdadeiro CEO, mas ele me paga uma boa grana e tudo mais o que eu quiser, contanto que as câmeras estejam sempre apontadas para mim. Nunca vou a reuniões, não sei os dados da empresa, não administro nada. Para ser honesto, nesse momento eu nem me lembro do nome da empresa. O que eu realmente faço é ir a eventos extremamente chatos, tirar algumas fotos e depois sair com alguém das festas, comer, e nunca mais ver novamente. Repete. E repete, e repete. Não tenho ideia de quantas mulheres comi desde que recebi esse emprego, sete anos atrás. Mas isso não importa, por que eu vou comer muito mais, desde que Nick continue me pagando.

Ouço a porta da varanda se abrindo e logo depois a loira, agora vestida com uma blusa minha usada recentemente, aparece, sentando no meu colo e me dando um beijo. Ofereço o copo para ela, que toma dois goles.

– Bom dia, Daniel. – Ela sorri, mostrando seu sorriso mais safado. Eu me retenho a elevar o canto da boca e cerrar um pouco os olhos. Ela olha para meu corpo e passa as unhas pelo meu abdômen definido, sentido desejo. Levantou a cabeça e me envolveu com as pernas, tomando cuidado para não derramar o copo. Ela apoiou seus braços nos meus ombros e chegou perto, me beijando. Meu celular, que estava no bolso da camisa que ela vestia, começou a tocar, e eu parei o beijo. Peguei o celular: era Nick. Arg. Soltei um suspiro alto e forcei a garota a sair do meu colo, que saiu com uma cara não muito boa. Me afastei, tentando não deixar ela ouvir minha conversa.

– Estrela da manhã! O que me faz ter a honra de uma ligação? – Perguntei ironicamente, e pude sentir que ele rolava os olhos.

– São duas horas da tarde, Daniel. No mínimo está na cobertura com um copo de uísque nas mãos e uma morena no colo – Ele diz com um tom brincalhão. É incrível o tanto que nós acabamos por nos conhecer e ficamos amigos, apesar de eu realmente não suportar toda a “bondade” que ele tinha no coração. Fazia qualquer coisa pra sair dos olhares de todos. Ah, dane-se ele, minha vida está boa, e isso o que importa.

– Tá, tá – Apressei-o, pois sabia o sermão que viria. – O que quer?

– Precisamos conversar. Parece que tem alguém te vigiando – Ele fala, quase sussurrando ao telefone, o que não é exatamente um bom sinal. Institivamente, eu olhei para os lados, procurando alguém a me observar. O prédio era grande, mas não era o maior na região, o que poderia tornar fácil alguém de uma cobertura maior olhar o que acontecia aqui. Automaticamente, todas as festas que eu já dei naquele lugar vieram na minha cabeça. Merda.

– Onde eu te encontro?

– Daqui a meia hora no McDonald’s mais próximo daí – Ele diz, e seu sorriso é perceptível, mesmo por telefone. Franzo a testa.

– McDonald’s? Sério? Cara, se sua empresa estivesse falindo era só me avisar – Nick suspira forte.

– Só me encontra lá.

– Estarei lá. Ah, e ela é loira. – Ouço sua risada e ele desliga a chamada. Vou até a garota, que está parada na porta.

– Quem era? – Ela pergunta, curiosa. Balanço a cabeça negativamente, não dando importância á pergunta. Entro em casa e vou até o meu quarto, com ela me seguindo.

– Coloque uma roupa – Peço, jogando as suas peças que estavam no chão para ela. – Irei te levar em casa...? – Ela me olha incrédulo, por não saber seu nome. Então simplesmente pega as roupas e vai até o banheiro da minha suíte, com cara de brava. Dou de ombros e começo a me vestir também. Quando termino de vestir minha camisa Polo, ela sai do banheiro com cara de choro. Olho para a garota e faço uma careta, que fresca. Dou de ombros novamente.

Vou até a sala e chamo o elevador, com ela do meu lado, de braços cruzados. Ele chega, e eu entro, com passos calmos. Acho que ela me segue, mas está parada na porta, me encarando.

– O que foi? Não vai entrar? – Sem resposta. – Tudo bem então. – Aperto o botão que fecha as portas do elevador, mas ela põe a mão antes de elas se fecharem e entra. Começamos a viagem de pouco menos de 2 minutos até a garagem do prédio. Pelo primeiro minuto, ela fica calada, mas de repente, começa a falar, com a voz chorosa.

– Você disse que ia se lembrar.

– Me lembrar do que?

– De mim. Do meu nome. Da noite passada. - Olho para ela, levantando uma sobrancelha.

– Gata, eu estava bêbado, completamente bêbado. Nesse momento, eu não sei nem o nome do prédio. – Respondi, seco. O resto do trajeto se passa em silêncio. Chegamos á garagem, onde sou recebido por um funcionário qualquer com um grande sorriso. Olho pela garagem e para os meus cinco carros diferentes. Fechos os olhos e faço uni-duni-tê mentalmente, apontando para um Lamborghini Reventon vermelho. Pego as chaves com o empregado sorridente e entro no carro, esperando a garota entrar também. Assim que ela entra, partimos.

– Olha, eu sei que está brava comigo, mas se quiser que eu te leve em casa, eu preciso do seu endereço, gata. – Ela não responde. – Sabia que eu podia simplesmente te deixar aqui até que algum dos meus empregados te expulsasse do meu apartamento e você teria de ir para casa por si própria? – Ela arregala os olhos e dita rapidamente as ruas. - Boa garota.

Em menos de dez minutos estávamos na casa dela, e a garota sai do carro, batendo a porta com força. Eu sorri e escutei sua (provavelmente) mãe berrar pelo interfone, ‘suavemente’.

– Daniela, isso é hora de chegar em casa? Que merda! – Meu sorriso se transformou numa risada. Que merda, o nome da menina era Daniela. Não podia existir nome melhor para alguém dormir comigo. Abri a janela do carro e comecei a olha-la, enquanto a mãe berrava mais um pouco. O portão se abriu e ela deu um pequeno aceno para mim.

–Tchau, Daniela! – Berrei. Ela abriu um sorriso enorme e entrou em casa. Ri mais um pouco e programei o GPS para o maldito McDonald’s que eu tinha que estar a 5 minutos.

Quando cheguei lá, não teve uma alma que não olhou para o carro. Já estou acostumado. Fechei o carro e me direcionei a uma mesa, onde já tinha avistado o cabelo castanho-escuro de Nick. Cutuquei ele pela esquerda, e sentei a sua direita, observando sua cara quando percebesse que caiu no mesmo truque que eu faço a cinco anos. Não consegui evitar rir quando ouvi os nomes que ele me chamou, pela quinquagésima vez.

– Idiota. – Ele murmurou. – Cara, chega dessa coisa, que merda. Toda vez é isso. – Ri mais um pouco. – Ok. Imaturidades a parte, temos um assunto sério a tratar. Você está realmente sendo observado. Mas eu não vou falar com você aqui, isso era somente uma distração pra quem quer que esteja atrás de ti. Vem comigo.

Nick se levantou, e eu o segui, mas, quando vi uma menininha de quatro anos com uma casquinha, minha boca se encheu de saliva. Há quanto tempo eu não comia uma dessas? Fui até o balcão e comprei uma, enquanto Nick revirava os olhos diversas vezes.

– Você não tem jeito, não é? – Perguntou, indignado.

– Você me mal acostumou.

Ele continuou a andar até uma Mercedes escura parada na rua lateral. Entramos no carro e seguimos até um restaurante pequeno a algumas ruas dali. Entramos e escolhemos uma mesa afastada da rua, para podermos conversar em paz.

– Você se lembra do Dr. Saviotti? – Nick pergunta. Eu paro de lamber minha casquinha e olho para ele. Nick realmente acha que eu me lembro de alguém? Além do mais, de um homem? – Lógico que não. Há duas semanas você foi á uma festa em Nova Iorque, e ele estava lá. – Forcei minha mente a lembrar. Hmm, eu me lembro que sai de lá com uma ruiva maravilhosa, mas não me lembro desse homem. Acenei a cabeça negativamente. Nick bufou.

– O fato é que os capangas desse cara estão em todo lugar, literalmente. Provavelmente um deles nos observa nesse momento. E você sabe que eu não posso deixar que ninguém saiba sobre a empresa. Então eu vou reunir uma equipe para começar a te seguir por ai. Eles vão te observar dia e noite. Vou fazer de tudo para acabar com todos que são do Dr. Saviotti.

– Ok, mas por que nós viemos a esse restaurante? E onde diabos está o garçom? Eu estou com fome! – Olhei para os lados, e vi uma mulher com o uniforme do restaurante chegar. Graças a deus, pensei. Observando melhor, eu percebi que a garota era linda. Ela era baixinha, pelo o menos um palmo mais baixa que eu. De olhos castanhos. Seus cabelos caiam em onda sobre seus ombros e o colete do restaurante deixava seus seios maravilhosos. Voltei o olhar para Nick, que me observava sorrindo.

– Por isso eu te trouxe aqui. A garçonete.

– Agora você falou a minha língua! Daria bastante coisa por aquela ali. – Apontei sutilmente.

– É, mas você não vai dar nada e não vai se envolver em nenhum tipo de relação com ela. – Olhei para ele, desconfiado.

– Por que não? Não vejo nenhuma aliança em seus dedos.

– Por que aquela é Carolina, – Nick me olha no fundo dos olhos, com uma expressão estranha. – e ela tem alguma ligação direta com o Dr. Saviotti.


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