P.O.V Klaus

Passei pela porta entreaberta da sala de ensaios tentando controlar minha respiração entrecortada pela raiva.

Obviamente aquilo não estava dando certo.

Depois que saí daquela outra sala, Elena veio me procurar, procurando entender o que estava acontecendo. Mas eu saí sem nem mesmo olhar na sua direção. Mentir descaradamente na cara da minha sobrinha? Fora de cogitação naquele momento. Estava instável demais para bancar o ator.

E também havia o fato de que olhar para aquela Elena furiosa e coberta por marcas de luta abria um buraco negro no meu coração. Ela era parecida demais com a mãe.

Não, Klaus. Não comece a pensar nela agora. Controle-se!

Aproximei-me de uma mesinha coberta com pilhas de Cds e comecei a organizá-los, na tentativa de dispersar as lembranças. Mas de nada adiantou. Elas me atingiram com tamanha força, que senti uma leve tontura.

Flashback On

Miranda corria pelos corredores brancos, os pés descalços batendo no piso.

– Klaus! Venha! Papai não pode nos pegar aqui.

Eu estava com muito medo de seguir com aquela aventura, mas Miranda sempre ignorava minha opinião. Se meter em encrencas era seu passatempo favorito.

– Miranda, isso com certeza não é uma boa ideia. Não temos permissão para vir aqui! Papai vai enlouquecer se nos pegar observando esse pessoal treinando. Eles são de outra agência! Por que está se arriscando tanto para isso afinal?

Ela parou de correr e sorriu para mim.

– Você promete guardar segredo se eu contar?

– Claro. Já contei alguma coisa para alguém antes?

Ela soltou um gritinho feliz e passou os braços ao meu redor, apertando-me forte.

– Você é o melhor irmão do mundo. Mesmo sendo um pirralho de 13 anos!

– Ei! Sou quase maior que você!

Miranda gargalhou e se afastou um pouco. Seus cabelos, normalmente lisos, estavam rebeldes naquela manhã, mas ela parecia não se importar.

– Tem um rapaz. O nome dele é Grayson. Grayson Gilbert. Nos conhecemos no mês passado, durante a festa de boas vindas.

Meu queixo caiu. Não podia acreditar naquilo.

– Miranda! Ele é de outra agência! Você sabe muito bem quanto o chefe do nosso pai pensa sobre esses envolvimentos. Você teria que ser transferida... Ou ele... Meu Deus! E como fica seu namorado?

A garota suspirou, encarando o chão.

– Eu terminei Klaus. A verdade é que eu só estava com Giuseppe por que parecia ser o correto. Deixei de amá-lo há muito tempo. Mas com Grayson é diferente!

– Mas... Miranda, você já tem vinte e dois anos! É uma das melhores daqui. Se o senhor Salvatore descobrir vai...

– Não vou me transferir. – Seu olhar passara de alegre para duro – Mas não ficarei aqui tampouco.

O ar abandonou meus pulmões e eu arfei.

– Vai me deixar aqui sozinho? Com eles?

– Klaus... – seus olhos estavam marejados. – Essa não é a vida que eu queria para mim. Para nós. Grayson e eu já combinamos tudo. Vamos abandonar a agência e quando eu estiver estabelecida, volto para te buscar.

Joguei-me em seus braços novamente. Não podia pensar na possibilidade de perdê-la.

– Prometa que nunca, ninguém vai me afastar de você. – funguei.

– Eu prometo Klaus. Somos uma família. Sempre e para sempre.

Flashback Off

Sacudi a cabeça.

Família.

Cai de joelhos, ainda segurando um cd cor-de-rosa com uma etiqueta azul, que dizia “Lambada”.

A voz de Miranda martelava na minha cabeça. Com um grito, bati a mão na pilha a minha frente, esparramando capinhas de CDs multicoloridas pelo chão.

Para sempre.

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P.O.V Caroline

Disquei o número de Aaron pela terceira vez, frustrada. Qual era o problema das pessoas naquele dia?

No terceiro toque, ouvi a voz do rapaz.

– Caroline! Estou um pouco ocupado aqui!

Eu havia me esquecido completamente que Aaron estava na casa de uns primos na cidade e só voltaria no dia seguinte.

– Aaron, desculpe interromper. Mas é urgente. Tem alguns minutos?

Então contei a ele os acontecimentos das últimas horas. A briga de Elena com Klaus, a luta de Klaus com Damon e claro, não pude deixar de mencionar minha incrível recém-descoberta habilidade em artes marciais. Por mais que eu não quisesse admitir, tinha gostado muito de bater naquele brutamontes do Jeremy.

– Meu Deus! Que horror! O que deu no Klaus? E onde está a Elena?

Torci os dedos nervosa, olhando para a cama vazia do meu lado.

– É por isso que eu te liguei. Ela... Bem, digamos que...

– Eu não acredito nisso! A Elena está aonde eu acho que está?

Choraminguei, massageando a têmpora esquerda.

– Eu não tenho certeza. Só que quando cheguei aqui ela havia sumido... Junto com meu tubinho preto e meus saltos.

– Ai meu Deus, Car! O que nós vamos fazer? Estou muito longe e alguém precisa buscar a Elena agora! Você se lembra do que aconteceu da última vez, não é? – Antes que eu pudesse concordar, Aaron soltou um gritinho – Por que você não tira carta logo?!

– Ei! Você sabe muito bem que aquele instrutor tem algum problema comigo. Já é a terceira vez que sou reprovada no teste de direção.

– ESTE NÃO É O PONTO CAROLINE.

– Ok, só fique calmo! Preciso pensar.

Fez-se um momento de silêncio, enquanto pensávamos em possíveis saídas para o problema. Até que Aaron gritou:

– Damon! Eu o ajudei com a bagagem. Ele tem um Jeep preto.

– Mas... A Elena não vai ficar muito feliz com isso. E outra, esse tipo de carro só tem dois lugares.

– A menos que você queira ligar para o Klaus, não vai conseguir mais nenhuma ajuda. Dê as coordenadas para ele. Tenho certeza que vai conseguir trazer nossa amiga de volta.

– Ta bom! Você venceu! – suspirei – Qual é o telefone dele?

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P.O.V Damon

– Damon, diga-me exatamente como esse tal de Klaus se parece.

Fechei os olhos, rogando paciência. Estava naquele telefone há quase meia hora falando com um dos agentes de seu pai, transmitindo todas as informações possíveis. E a pior parte daquilo era o tanto de vezes que era preciso repetir determinada informação.

– Olhos verdes, cabelos cor de areia, barba rala. Porte musculoso, mas não em exagero. – vasculhei minha mente em busca de mais alguma coisa que eu não havia falado nas vezes anteriores – Ah, sim. Mais uma coisa. Enquanto eu lutava com ele, pude perceber também uma tatuagem de pássaros negros voando na clavícula esquerda quando puxei sua blusa.

Diferente das outras vezes, não houve som algum do outro lado da linha.

– Hã... Alô?

– Está certo sobre a tatuagem senhor?

Franzi a testa.

– Acho que sim. Por quê?

– Aguarde um momento.

Apertei o telefone com mais força. Se eles ousassem me passar para mais um terminal e me obrigarem a passar todas aquelas informações novamente, eu...

– Damon?

Estaquei no lugar. Minha respiração ficou mais lenta.

– Pai?

– Damon, você pode, por favor, descrever a tatuagem de pássaros com mais clareza?

Apelei para a lembrança novamente, formando uma imagem na minha cabeça. Descrevi tudo com todos os detalhes que consegui.

Quando terminei, ouvi a voz de meu pai ao fundo. Ele provavelmente estava tapando o bocal, pois o som estava abafado. Consegui distinguir palavras aleatórias como “líder”, “irmão” e “segura”.

Já estava suando de ansiedade quando meu pai voltou a falar comigo.

– Boa descoberta Damon. Esse homem de quem você fala é uma figura importante e conhecida. Seu nome verdadeiro é Nicklaus Morgan, irmão de Miranda Morgan. Ele já foi um membro da SSS, mas acreditamos que depois da morte da irmã, ele tenha assumido a SFUS.

Fiquei em silêncio e meu pai continuou:

– Está dispensado da missão Damon. Arrume suas coisas e volte para a agência.

Fiquei boquiaberto. Era isso? A missão de alto risco e sigilo era aquilo? Dois dias em um acampamento de verão?

– Você não pode estar falando sério. Ok, o tio da Elena é o suposto líder da SFUS. Mas o que isso muda? Ela continua correndo perigo.

– Muda tudo. Essa missão teria sido bem mais complicada se quem tivesse “raptado” a Elena fosse outra pessoa. Mas Klaus é um antigo colega, quase de confiança. – ele fez uma pausa breve – E conhecendo-o como eu conheço, se está incomodado com a sua presença, então não podemos arriscar perder essa aliança. A última coisa que precisamos nesse momento é uma guerra civil causada pelas agências.

Balancei a cabeça.

– E a Elena, pai?

– Ela está tão segura com ele quanto com você. E, além disso, não é mais problema nosso!

– Como você pode continuar com esse papinho? É claro que é problema nosso. A vida de uma pessoa está sendo ameaçada por uma força terrorista. Não é disso que nós cuidamos?

– Damon, a Elena não é uma pessoa comum. Ela tem Nicklaus Morgan como tio.

– Isso não me garante nada! Como posso saber se ela está segura ou n...

– Eu não posso acreditar no que estou ouvindo! Está realmente preocupado com a garota? Se apaixonou por ela, foi isso?

– Não. Não é nada di...

– Pois me escute com atenção Damon. Se você quer mantê-la longe de problemas, então é melhor sair de perto dela. A pobrezinha já sofreu demais. Quer mesmo que ela tenha que escolher entre você e o próprio tio no final dessa história?

Abaixei a cabeça. Meu pai tinha razão. Klaus também. Eu era ruim demais para Elena. Só traria sofrimento para a vida dela.

– Volto dentro de dois dias. Ainda tenho coisas a fazer, como cancelar a matrícula. – “E me despedir” completei em pensamento.

– Dois dias. Nada mais que isso.

Passei a mão pelo rosto, deixando um suspiro escapar.

– Sim senhor.

Mal eu havia desligado o celular, ele começou a tocar novamente.

– Alô?

– Damon, é você? – era uma voz feminina. Ela parecia ansiosa.

– Sou eu... Quem é?

– Ah, Damon, graças a Deus. Aqui quem fala é a Caroline. E eu preciso de um favor seu.

Senti meu coração disparar. Eu não estava gostando daquele tom de voz.

– Do que você precisa, Caroline?

– É... Hmm... É a Elena. Ela fugiu e preciso que você vá atrás dela.