P.O.V Klaus

Eu não tinha conseguido dormir.

Repassei minha conversa com Jeremy do dia anterior várias e várias vezes na mente. Ontem eu estava convencido que colocar dispositivos descartáveis de escuta em Elena e na amiga dela seria suficiente para garantir que minha sobrinha não cedesse antes que eu pudesse interferir.

Mas agora já não tinha tanta certeza disso.

Conhecia os homens Salvatore há muitos anos e estava completamente ciente do poder de persuasão que eles tinham. Afinal, aprendi meus maiores truques com Joseph, que seria o possível avô de Damon se Jeremy estivesse acertado sobre o garoto.

Ficar de olho não era o suficiente. Se eu achei por um momento que era, bem... Havia sido um terrível erro de cálculo.

E planos perfeitos não podem possuir erros de cálculo. Eu estava perto de obter sucesso e não deixaria que nada atrapalhasse. Elena não iria mais ter contato com Damon Salvatore. Ponto final.

Olhei pela janela, já vendo as primeiras luzes do dia despontarem no horizonte.

Eu tinha que separar aqueles dois. Mas só esperava não machucar Elena demais no processo.

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P.O.V Elena

As coisas acordaram... diferentes, naquela manhã de sexta.

Para começar, tinha Caroline, que estava estranha desde que despertou. Pensando bem, ela andava estranha desde a noite anterior.

Havia se recusado a assistir o filme que eu arranjara, com o pretexto que estava com muito sono e que precisaria acordar cedo no dia seguinte.

E o mais impressionante foi que ela realmente havia acordado cedo, muito mais do que o necessário por sinal, e ido embora com uma pressa totalmente igualmente desnecessária, já que nossos ensaios só começariam as dez.

Depois, tinha meu tio.

Levantei-me momentos depois de Caroline ter saído, ainda aborrecida por ter sido tirada da cama tão cedo. Caminhei com passos lentos e preguiçosos até o andar de baixo, esfregando os olhos.

Foi então que notei, com um sobressalto, que a mesa de café da manhã estava posta e Klaus estava na pequena cozinha coberto farinha e usando um avental que dizia: “Cuidado, homem na cozinha”, preparando panquecas.

– O que é que está acontecendo aqui?

Meu tio levou um susto com minha voz e quase se queimou com a frigideira. Depois de ter virado a última panqueca às pressas e desligado o fogão, olhou para mim.

– Ah, Elena! Bom dia! O que está fazendo aqui a essa hora?

– Bem, posso te perguntar a mesma coisa. – apontei para as panquecas no prato em sua mão, com um ar desconfiado – Eu nem sabia que você fazia panquecas.

O olhar de Klaus passou de mim para o prato. Caminhou até a mesa e o deixou lá, voltando para a cozinha em seguida, sem voltar a me encarar.

– Ah! Isso. Eu só queri...

Enquanto falava, se atrapalhou com o pano de prato e esbarrou a mão na frigideira quente, deixando-a cair e fazendo um verdadeiro estardalhaço.

Corri para ajudá-lo, sem consegui conter a gargalhada.

– Se está tentando impressionar uma garota, Klaus, vai precisar de umas aulas. Por que não me chamou? E cadê ela? – olhei em volta confusa, procurando a menina que Klaus supostamente teria trazido para casa daquela vez.

Com minha ajuda, terminou de limpar a bagunça e caminhou até a mesa. Foi então que eu percebi que só haviam dois pratos ali.

– Senhorita. – ele puxou uma cadeira para mim, com um sorriso brincalhão no rosto. Ainda confusa, aproximei-me e aceitei sua gentileza. – Fiz isso para você. É tão errado um tio arrependido fazer uma coisa dessas para a sobrinha de vez em quando?

Dei um risada.

– Diga logo o que você quer de mim, Klaus.

Ele sentou-se também e começou a servir as panquecas. Depois de um tempo examinando-as, me perguntei se seria seguro comê-las.

– Eu queria me desculpar, por... Você sabe. Trazer muitas garotas aqui, te forçar a passar por situações – tosse – constrangedoras.

Então era daquilo que se tratava.

Assenti, sentindo-me ruborizar. Mas se Klaus notou meu embaraço, fingiu que nada acontecera.

– E também queria propor que você mude de parceiro para o teste final.

Engasguei com o pedaço da panqueca queimada que estava mastigando. O que Damon tinha a ver com aquilo? Melhor, o que Klaus tinha contra Damon?

– Do que você está falando? Tudo bem, ele pode não ser o melhor dançarino daqui, mas o diretor disse que com ele eu tinha uma grande chance para ser escolhida como principal na GAA! É só tirarmos uma nota maior que nove no teste!

Todo o bom-humor que Klaus exalava segundos antes desapareceram como mágica. Agora seus olhos estavam frios e continham aquela expressão vazia que eu não via a muito tempo. Era como se eles dissessem: “Elena, você não tem maturidade suficiente para falar comigo sobre esse assunto”.

– Eu falei com o diretor. Ele reconheceu que estava sendo precipitado. Afinal, nós nem vimos vocês dançando, aquela química pode ter sido coisa do momento e...

– Espera só um segundo! Você fez o diretor mudar de ideia sobre a minha chance na GAA? – eu me esforçava muito para não gritar, mas a raiva começou a me consumir – O que foi que eu fiz? Não, não, espera. O que foi que você fez? Não percebe que acabou de pegar o meu sonho e pisar nele? Era um papel principal na Grande Apresentação!

– Elena. Você não ia conseguir. Não com aquele garoto.

– Você nem assistiu aos nossos ensaios! Como pode desistir de mim assim sem nem mesmo me dar uma chance?

Klaus espalmou as mãos na mesa e fechou os olhos, claramente controlando a raiva.

– Elena. Eu não estou desistindo de você. Só não te quero com ele. Pode escolher outro parceiro, qualquer um, e eu peço ao diret...

– Não.

Minha cabeça girava em busca de respostas. Todo aquele tempo, Klaus nunca havia me proibido de fazer coisa alguma. Ele costumava confiar em mim e eu nele. Era nosso trato, feito anos atrás. O que Damon tinha feito para interferir naquilo?

– O que disse?

– Eu consegui dançar com ele, Klaus. – encarei seus olhos com firmeza – Quero dizer... Tudo bem, Damon parece ser esnobe, frio e até um pouco bipolar. Mas desde aquele momento quando ele impediu meu tombo na apresentação, eu senti que tínhamos algo. E eu consegui deixar que ele me conduzisse. Não errei nenhuma vez! Não o machuquei! Com que parceiro consegui ficar a vontade assim antes?

Toda a paciência que meu tio parecia ter juntado desapareceu, assim como sua alegria de momentos atrás.

– Sinto muito – sua voz era ameaçadoramente calma e falava devagar – Mas com ele, você não dança mais.

E sem dizer mais nada, levantou da cadeira e rumou o corredor.

Ah, mas aquilo não iria ficar daquele jeito. Não mesmo.

Segui seus passos e o interceptei no começo da escada, subindo um degrau a mais para igualar nossa altura.

– Qual é a droga do problema, Klaus? Me fala! Se eu achar que é um bom motivo, te obedeço sem pestanejar. Mas não posso desistir do meu sonho assim, sem explicação nenhuma!

– Desculpe, love. Ou você segue com o seu sonho sem o Damon, ou desiste dele.

Ele tentou passar por mim, mas coloquei-o de volta no lugar com um puxão furioso.

– Era para confiarmos um no outro! Você jurou que iria cuidar de mim!

– É o que eu estou tentando fazer, Elena. Por que não aceita isso de uma vez?

– Eu EXIJO uma explicação! – gritei, sem conseguir mais me controlar.

– Não exige coisa nenhuma! Você não vai mais ver aquele canalha, nem que eu tenha que te amarrar para isso. – seu tom de voz era neutro, mas também frio o bastante para me causar arrepios de indignação. Klaus, meu doce e divertido tio Klaus, não era aquele homem que estava na minha frente agora. – Eu tenho sua custódia e mando em você. Não lhe devo qualquer explicação. Vai ficar longe do garoto e está decidido!

Chocada demais para reagir, não o impedi de seguir seu caminho daquela vez. Em vez disso, fiquei ali apoiada ao corrimão tentando engolir a grosseria, até ouvir uma batida de porta violenta atrás de mim.

Ainda entorpecida, arrumei uma mala rápida, peguei meu cachorro e fui para o dormitório da Caroline.

Foi só quando cheguei lá, que me permiti chorar nos braços da minha amiga.

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O.V Damon

Estava encostado na parede da sala de ensaios, observando os movimentos de Jeremy. Meu principal suspeito, depois de Klaus.

A verdade era que eu parecia conhecer aquele rosto, mas não de um jeito bom. Toda vez que ele olhava na minha direção, mais precisamente para meu braço, em busca da tatuagem “Hit et Nunc” que carregava, sentia um arrepio desagradável de alerta.

A tatuagem retratava o lema da agência do meu pai. Hic et Nunc é uma expressão latina que significa literalmente “aqui e agora”. Designa o imediatismo, a recusa da espera, da paciência, do desvio e da frustração. Eu gostava daquele lema, mas não havia me tatuado por isso. Fiz em sinal de rebeldia. Tatuagens eram símbolos que espiões não podiam ter. Acabavam sendo um meio de os inimigos reconhecerem quem você é. Meu pai ficara furioso quando descobriu meu feito.

Eu era conhecido pela tatuagem e pelos olhos azuis. E tinha a impressão que Jeremy também sabia disso.

Ainda refletia sobre isso quando a porta foi escancarada com violência, fazendo tamanho barulho que me pus de pé em um salto.

Atrás da porta, exibindo um sorriso nada amigável, estava Klaus.

– Damon Salvatore. Acho que precisamos conversar.

Retribuí o sorriso e cruzei os braços na frente do peito em sinal de desafio.

– Engraçado, titio. Eu estava pensando a mesma coisa.

O sorriso de Klaus desapareceu, dando lugar a uma expressão sombria. Ele cochichou algo para Jeremy, que saiu apressado dali do mesmo instante, fechando a porta atrás de si.

Estávamos a sós. A presa e o caçador.

Só restava decidir quem era quem naquela história.