‘’Triiiiiiin’’

Acordei com o som estridente do despertador. Até ontem a noite nada estava claro.Mas agora,quando vi o sol batendo em meu rosto pude perceber que o pesadelo estava de volta.As férias tinham acabado e tudo voltaria ser como antes...

Mesmo não querendo eu tinha que ir pra escola. Meu pai não é muito presente na minha vida,mas quando se tratava de estudo ele vinha até da China,pra me cobrar boas notas.Enquanto a minha mãe,bom ela não era de pegar muito no meu pé por conta da escola,ela preferia deixar essa função com o meu pai. Mas sempre procurava se certificar de que eu estava realmente frequantando a escola e não me deixava perder um dia sequer de aula,só se eu estivesse extremamente doente.

Minha mãe não me compreendia,mas ela sabia que eu odiava a escola. E sempre me levava pra escola no primeiro dia de aula.Mas desta vez ela não estava em casa e eu teria que enfrentar a escola sozinha.Eu sei que esse comportamento é de uma criança de 3 anos.Mas eu nunca gostei da escola e minha mãe me passava segurança,mesmo que ela não soubesse o quanto era importante a ida dela comigo até a escola no primeiro dia de aula.

Mas eu já estava acostumada a estar sozinha...Então sentei na beira da cama e ainda com os olhos fechados e pesados de sono comecei a passear com os pés pelo chão gelado a procura dos meus chinelos. Quando os encontrei me pus de pé abrindo um pouco os olhos e fui cambaleando até o cabide em busca da minha camisola. A noite tinha sido tão quente que acabei me despindo das roupas e dormindo apenas de calcinha.

Entrei no banheiro e uni minhas mãos de baixo da torneira deixando-as encher de água e jogando toda aquela água fria em meu rosto.

Nossa os remédios fizeram grande efeito esta noite.-Pensei

Minha casa era gigante e parecia ficar maior ainda quando minha mãe não estava.Apesar de ser uma casa grande,não tínhamos muitos empregados porque minha mãe quase nunca estava em casa e quando eu não estava na escola passava a maior parte do tempo no meu quarto,dormindo sob efeito dos antidepressivos.

Quando cheguei na cozinha a Lia,uma das nossas mais antigas e confiáveis empregadas estava preparando meu café. Lia sabia que eu não me alimentava bem por conta da bulimia,então ela tinha feito o de sempre..Uma xícara de café e uma torrada com requeijão em cima.

Eu estava com o corpo pesado e vista ainda meio escura.Eu tinha tomado remédios demais na noite passada e o efeito ainda não havia passado,então mau consegui abrir a boca pra dar bom dia pra Lia. Apenas cumprimentei-a com um sorriso.

Levantei da mesa deixando um pouco do café na xícara. Eu não estava satisfeita,mas sentia que se comesse mais iria explodir.Então subi as escadas quase que desesperada e me joguei no chão do banheiro enfiando a cabeça no vaso e pondo aquele pouco que comi pra fora.

Eu sofria de bulimia a tanto tempo que nem precisava mais fazer força pra vomitar. As vezes a vontade vinha inesperadamente,era como se meu corpo rejeitasse tudo o que eu comia.

Ainda sentia fome,mas não dava mais tempo de tomar café de novo. Dei descarga no vaso e joguei meu corpo com roupa e tudo dentro do boxe. Liguei o chuveiro e deixei com que aquela água fria caísse sob meu corpo.

Depois de alguns minutos tirei minha roupa,joguei-a dentro da banheira e continuei parada em baixa do chuveiro,agora com a água que parecia estar mais fria,caindo sob todo meu corpo nu. Me ensaboei e depois de tirar todo o sabão desliguei o chuveiro e continuei parada dentro do boxe.

Queria adiar cada minuto na escola.Mas era inevitável. Então me enrolei na toalha e sai do banheiro. Peguei qualquer coisa no closet e vesti. Abri uma das minhas gavetas da estante e peguei algumas pulseiras pra esconder os cortes. Peguei minha bolsa,meu celular e desci.

Fiquei deitada no sofá vendo o noticiário da manhã,enquanto esperava dar a hora de sair de casa. Deu meu horário e o carro já estava pronto me esperando.Entrei no mesmo me jogando no banco de trás e o Valdir,nosso motorista.Foi saindo devagar do condomínio.

Já estávamos a caminho da escola quando meu celular tocou.Era um número desconhecido,mas mesmo assim atendi.

–Alô?

–Bom Dia filhota.

–Ah,oi mãe.

–Já está na escola?

–Estou quase lá. To no carro.

–Ok. Mamãe tem que desligar agora..Mas tenha um ótimo primeiro dia de aula e Boa Sorte viu? –Ela dizia em um tom alegre.

–Obrigada mãe.-Respondi.

Então ela desligou. Eu sabia que por mais que ela me desejasse boa sorte e um ótimo primeiro dia de aula,nada iria ser bom