O Diário Secreto de Anna Mei escrita por Fane


Capítulo 50
O Doce Amor Resumido em Pura Dor


Notas iniciais do capítulo

Vish... Cinquenta capítulos, já? O tempo passou muito depressa... O que posso dizer? Talvez... boa leitura, minhas balinhas de caramelo, tia Ho ama vcs



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Terça-Feira/12 de Agosto

Matheus foi pra casa bem tarde ontem, minha mãe fez alguns bolos e planejamos ir todo mundo pra sorveteria, por exemplo, eu iria com o Dennis (ainda ando meio confusa com tudo que aconteceu ontem) e eu convidaria a Lo e ele iria também, daí nós deixamos eles a sós pra irem socializando.

Pois é, mas acho que a Loiza tem atitude o suficiente pra não fugir como eu sempre faço...

Como o Dennis não passou na minha casa hoje, eu fui pra escola com meu pai, quando chego lá, basta eu colocar minha mochila na mesa pro Gabriel chegar gritando, dando pitaco.

– Meizinha! O Dennis sofreu um acidente – ele grita. Meus olhos se arregalam, acidente?

Corro até a sala B e encontro o Dennis cercado de gente, quando o vejo a bochecha está com o sobro do tamanho numa cor arroxeada. Eu não sabia que tinha tanta força.

Puxa, parece que a bochecha dele está grávida e vai explodir a qualquer momento...

– Ele entrou numa briga? – uma menina nojenta sussurra num canto. – Que másculo.

Aé, querida, quer saber o que é mais másculo? É o Senhor Sakai másculo aí ter levado um soco de alguém raquítico como eu! Espere, eu me chamei de raquítica?

Tem muita gente nessa sala, o que eu tenho que fazer pra falar com esse cara? Ah, não é importante, tenho que falar com a Lo primeiro.

– Loiza – grito.

– Annie! Ah, você viu? O coitado do seu melhor amigo legou uma pancada daquelas na bochecha – ela chega mais perto, ainda distraída. – Peraí, me chamou de Loiza? Me chame de Lo, mocinha! É trato.

– Que trato – começo a rir. Bom, agora é que as coisas ficam um pouco piores. – Então... o Matheus ganhou uns cupons pra comer numa confeitaria, quer ir?

– Hãn? Não, eu tenho que lavar o cabelo do meu cachorro – ela murmura.

– Você nem tem cachorro – ponho as mãos na cintura. – E você vai sim!

– O seu melhor amigo vai? – ela sussurra, apontando pro Dennis e sua bochecha que parece criar vida.

– Vai... – gaguejo. – Mas isso não vem ao caso, o caso é que você vai e pronto.

– Mas e a Kat? – ah, não! Esqueci da Kat... Tenho que resolver isso rápido...

O sinal toca e todo mundo sai da sala B, por incrível que pareça muita gente de outras salas, até do segundo e terceiro ano (principalmente as meninas) tinham se incomodado com a vida alheia e ido até a sala B pra ver se o fabuloso Dennis tinha mesmo sido espancado, ao que parece elas pensam que ele se meteu numa briga e o outro cara foi parar no hospital.

O caso é que o “outro cara” sou eu, e estou há quilômetros do hospital. Mas elas não precisam saber disso.

– Puxa, aquilo deve estar doendo muito – Gabriel senta perto de mim de novo. Por que ele não está mais sentando perto do Tyler? Estranho.

– Fui eu... – murmuro, enquanto a aula começa.

– E então a lhama pulou na cabeça do menino e tipo, deu aquela cuspida... Peraí... – ele para de falar sobre um programa de animais e me olha. – O que você disse?

– Fui eu...

– Você deu a cuspida na cara do menino? – ele quase cai da cadeira.

– Não... bom, não literalmente – sorrio, achando graça da besteira que acabo de pensar... Tipo, eu chegando bem perto do Dennis e dando uma cuspida de lhama bem na cara dele e de repente a bochecha dele inchando feito um balão.

– Espero não estar interrompendo os dois – a professora guincha.

Pois é, é melhor ficar calada e evitar dar cuspidas nos outros.

*

– Quê? – vejo pessoas de diferentes formas me olhando com o mesmo olhar. Menos Ellie, ela é especial.

– Você que destruiu a cara do Dennis? – Mandy parece estar se recuperando aos poucos. – Mei, isso foi incrível... Claro, incrivelmente doloroso, mas poderia aprender artes marciais.

– Isso foi muito perigoso, isso sim! – Loiza se apressa e cutuca minha mão. – Poderia ter machucado sério a sua mão!

– Ele mereceu... – Ellie cruza os braços.

– Então vocês espionaram mesmo, suas mocréias! – aponto pra cara delas e elas se fazem de desentendidas.

– Ok, até agora eu não entendi – Gabriel, o único “homem” no grupinho, se manifesta – A Meizinha deu um soco de direita na cara do Dennis porque...

– Porque sim – cruzo os braços. – Eu só queria deixar claro que fui eu quem fiz aquilo, pra ninguém do grupo pensar que ele é mesmo um “herói” como as sirigaitas do segundo e terceiro ano pensam...

– Sirigaita? – Kat começa a rir. – Parece aquelas mulheres que foram traídas naquelas novelas que passam de tarde!

Ok, Katlyn, já entendemos o seu desespero...

O sinal toca de novo e eu decido dar um cochilo na aula de educação física, a aula é pratica e as salas são em conjunto... Sala A e sala B fazem juntas. Isto é, em vez de ser só vinte e cinco alunos pulando de um lado para o outro decidiram ser cinquenta, e quem sou eu pra questionar.

Mas eu não faço educação física. Na verdade, nenhuma menina faz, o professor que se acha o bonzão só puxa os meninos pela cueca e quem aguentar mais joga futebol, quem não aguentar infelizmente vai pra enfermaria colocar gelo nas calças, e as meninas ficam se maquiando, conversando, dedurando, sendo feias e fofoqueiras e até paquerando.

Mas como a dona Loiza lacradora de cabarés é linda, maravilhosa e diva ela gosta muito de aparecer e logo pediu um pedaço do ginásio só pras meninas fazer o que quer, o professor nem deu muita bola, mas logo ela se juntou com a Lianna e as duas quase colocaram fogo no pouco de cabelo que o professor ainda tinha.

Dennis apareceu do nada, atrasado porque teve que ir na enfermaria pegar uma compressa de gelo pra bocar na bochecha, isso fica horrível. Os olhos dele já são pequenos, imagina agora que está inchado.

– Esse troço tá feio mesmo – aproveito que ele sentou do meu lado na arquibancada e cutuco a bochecha grávida.

– Graças a alguém... – ele murmura.

– Desculpa, tá legal! – cruzo os braços. – Não vou dizer que foi sem querer, porque não foi.

– Mas até que foi legal... – ele diz, e eu viro a cara tão de repente que estala.

– Quê?

– O Matheus me convidou pra ir numa confeitaria... – ele levanta uma sobrancelha. – Pode me dizer o que está acontecendo?

– Hãn? Ah, é que... – respiro fundo, arregalando bem os olhos pra não perder a reação dele.

– Pode parar de fazer careta? Isso dá medo – ele brinca. Quer ganhar outro soco, meu amor? Uma bochecha inchada não é o suficiente? Reviro os olhos.

– Enfim, ele gosta da Loiza – Dennis não reage. – E quer um pouco de ajuda.

– Ele é um zé mané, isso sim... – ele vira pra frente, encarando o povo.

– Eu quero ajudar porque a Lo também parece gostar dele... – murmuro.

– Isso virou operação cupido? – ele ri.

– Cupido? – Kat aparece. – Quem estão querendo juntar?

Ela se retorce toda, que eu lembre Kat não gosta mesmo de esportes, ela detesta ficar suada e fedida, eu também detesto, mas não é por isso que não quero jogar... Desastres acontecem quando estou numa quadra, segurando uma bola.

– Ninguém... – digo, eu preciso explicar essa história detalhada pra ela, mas não pode ser agora.

– Mas lembrem-se... – ela levanta e aponta para o nada. – Não dá pra unir amorosamente duas pessoas, se quem tenta unir estão amorosamente separados.

– Quê? – falo, quase em uníssono com o Dennis.

– Quero dizer que, se vocês dois não estão juntos, não vão conseguir juntar ninguém – ela faz um facepalm.

– Mas o que tem a ver...? – começo, mas Dennis segura minha mão.

– Quem disse que não estamos juntos? – ele mostra a mão dele segurando a minha e Kat cruza os braços.

– Juntos... Juntos amorosamente? – eu balando a cabeça negando enquanto Dennis afirma. – Sério?! Que incrível... – ela murmura. Aposto que está pensando em mil maneira de espalhar por aí, tenho que acabar com isso.

– Ninguém te contou? – falo.

– Contou o quê? – ela para e pisca.

– Faz tempo isso... tipo, estamos juntos faz tempo – mostro nossas mãos.

– Quê? E todo mundo já sabia? – ela aponta pro povinho.

– Já... – digo. – Bom, pelo menos a Ellie, a Mandy, o Gabriel e o Matheus já sabiam – falo e sinto o Dennis segurar o riso. – Pensei que eles tinham te contado.

– Não... não me contaram – ela murcha.

Provavelmente eu piorei as coisas, talvez eu só devia ter dito que não era pra ela contar pra ninguém e que... bom, piorei tudo.

– Só não conta pra eles que você sabe, tá? – digo.

– Não, ela tem que se vingar! – Dennis solta a gargalhada que estava prendendo. – Tem que dizer que os amigos que ela tem são horríveis por não dizer uma coisa dessas – aperto a mão dele com força – Ok, vou me calar.

Levanto, fuzilando ele com o olhar, Kat olha tudo completamente desorientada.

– Tchau, Kat, não faça besteiras – sorrio, puxando Dennis comigo.

Puxo ele pra enfermaria.

– Oi, crianças – a dona senhorinha que fica lá está guardando o jaleco e tudo. – Posso ajudar?

– Eu só vim procurar outra compressa, tia – Dennis fala. – Essa doente aqui levou uma bolada.

– Quê? Ah, é – esfrego minha cabeça.

– Bom, podem ficar, eu tenho que sair porque tenho que ir pra auto escola – uma velha daquela na auto escola? – Enfim, a chave tem que ser dada ao diretor.

Depois que ela sai (quase meia hora arrastando os pés) eu resisto ao impulso de pegar uma seringa qualquer e enfiar a agulha do Dennis milhares de vezes.

– Por que disse aquelas coisas pra coitada da Kat? – quase grito. – Ela deve estar se sentindo péssima!

– Ué, mas não é verdade? – ele senta na maca. – Não estamos juntos? Se não estamos porque disse tudo aquilo? Por acaso só quis meu corpinho pra depois jogá-lo fora? Que cruel.

– Eu quero te estrangular, seu filhote de capivara! – avanço pro pescoço dele e aperto.

– Anna, não seja tão cruel com o seu na-mo-ra-do – ele fala pausadamente.

Namorado? Quando isso aconteceu? Acho que a palavra é tão forte que me empurrou na parede oposta, ou talvez eu tenha andado de costas e me jogado lá sozinha, o motivo não interessa, o que importa é que num segundo eu estava esganando o Dennis por ser tão idiota e no outro eu estava no chão de pois de bater as costas na parede depois de ouvir a palavra “namorado”.

– Quando... quando... quando isso aconteceu? – gaguejo, me levantando. – Não decida tudo por si só!

Minhas pernas tremem, o que é isso agora?

– Mas não foi isso o que você quis dizer ontem? – ele parece visivelmente desentendido.

– O quê? Eu não disse nada, eu não fiz nada, esqueça! – minha cabeça dói agora, de verdade, talvez seja o castigo por ter fingido que levei uma bolada.

– Bom, vejamos os fatos... – ele põe a mão no queixo fazendo uma careta horrenda. – Você disse que gostava de mim no festival... não foi?

– Foi, mas... isso não vem ao caso! – respiro com dificuldade, o que ele está querendo dizer? Sinto como se meu estomago estivesse dando uma festinha partículas com meu fígado.

– Bom, mas eu pensei que você estava querendo dizer “Dennis, você é demais, cara, é um cara incrível, sexy e bonito!” – ele faz uma pose completamente frustrante.

– Por que, no mundo, eu diria isso? – ponho o indicador e o polegar na ponte do nariz.

– Não sei, mas... – ele coça o queixo. – Foi o que eu pensei...

– Por isso falou que não gostava de mim do mesmo jeito... – murmuro.

– Enfim, não importa, agora a Anninha é só minha – ele aproxima o rosto e leva um tabefe... bem na bochecha inchada.

O impacto foi demais pra ele.

– Dennis...? – murmuro, cutucando o corpo inerte dele com um pedaço de pau. – Ei... – viro ele com o pé, vish, as coisas pioraram um pouco, parece que a bochecha grávida sofreu um aborto espontâneo.

Tenho que tentar coloca-lo na maca, pelo menos, é o mínimo que posso fazer depois de praticamente espanca-lo pela segunda vez. Puxo o braço dele e coloco no meu ombro, ele é muito mais pesado do que parece...

– O que está fazendo? – ele acorda de repente e me vê o puxando na minha direção. – Anna, você vai se aproveitar do meu corpinho...? – ele se aproxima mais, me pressionando contra o armário de vidro, cheio de vidrinhos pequenos de médico. – Parece que vou ter que...

– Anninha...? – a porta abre de repente, Matheus entra e me vê naquela posição vergonhosa com o Dennis, eu encostada na parede e ele se aproximando ainda mais de mim. Matheus cora tanto que seria capaz de enfiar a cara no chão. – Desculpe... eu...

– Anna, eu... – ele se aproxima mais, está quase me beijando quando eu, no impulso, o empurro pra longe. Mas o coitado está com o corpo tão mole que cai por cima de outra estante, batendo a cara no chão.

– Opa – digo pro Matheus, que me olha como se eu fosse uma monstra.

Ele me ajuda a colocar o Dennis quase morto na maca, a bochecha está ainda pior, e agora o nariz está sangrando. Me perdoe, senhor, mas por que não me fez um pouco menos exagerada?

Por exemplo, eu acabo de descobrir que estou namorando, até aí tudo bem, mas daí eu espanco o meu suposto namorado, aí as coisas ficam um pouco mais... românticas, não é? Mas se eu tentar dar comida, ou aquelas sopas que se dão pra doente é possível eu deixar cair na cara dele, desfigurando ainda mais a cara inchada.

– Droga – digo, depois de dar um suspiro bem audível.

– Anninha? – o Matheus me olha, ainda com medo. – Está tudo bem?

– Não, não está! – olho pro indivíduo quase desfigurado dormindo na maca. – Eu praticamente espanquei o filho do sócio do meu pai!

– É só isso...? – ele pergunta.

– Bom... – pato os polegares um no outro. – é meu namorado também... – sussurro. – Mas isso não tem nada a ver!

Não sei se foi minha imaginação, mas a boca do Dennis se contraiu no que pareceu ser um sorriso. Se for, por favor para, tá horrível. Sabe aquele sorrisinho lindo que eu disse que ele tinha? Esqueça tudo por, no mínimo, duas semanas, acho que esse é o tempo da cara dele desinchar.

– Mas... e a confeitaria, ainda vai dar pra ir hoje? – ele murmura.

– Não sei... – murcho, queria tanto comer doce. – Mas se não der, você vai mesmo assim! Seja homem!

Ele fica em silêncio, olhamos o rosto do Dennis e está precisando definitivamente de cuidados.

– Vai deixar ele assim? – ele pergunta.

– Pega alguns gazes e esparadrapo, eu vou pegar as bolsas de gelo – reviro os olhos, me sentindo uma enfermeira profissional.

Coloco uma compressa na bochecha dele enquanto limpo o sangue do nariz, é estranho ver ele deitado, quase imóvel... Chego tão perto que...

– Puxa, os olhos dele são tão lindinhos – falo, chegando perto. – Olhos asiáticos são fofos.

– Anninha... – ele me faz olhar pros olhos dele, apesar de ter indícios asiáticos ainda é diferente, por exemplo, os olhos dele são verdes...

– Os seus olhos tem a dobrinha – reviro os olhos. – os dele não tem, é muito fofo.

Ok os olhos do Dennis também tem a dobrinha, mas é muito menos em comparação aos olhos do Mister Simple* aqui.

Olho um pouco mais, até achar que fiz um ótimo trabalho... Agora é só tampar o estranho na bochecha com gaze e o curativo fica bem melhor.

*

O sinal acabou de tocar e eu, Matheus e Dennis saímos da enfermaria, todos olham pra cara do Dennis, talvez seja porque ele acabou de acordar e o cabelo dele está incrivelmente desarrumado, ou talvez seja porque ele está de mãos dadas comigo. Mas não... é só o curativo nada discreto que tem na bochecha esquerda.

Eu tentei fazer ficar discreto, mas o gaze é branco, e branco é muito brilhante e ofuscante. Mas se fosse preto ia parecer uma pereba podre gigante, então... Poderia ser bege ou alguma cor mais mortinha.

Entramos na sala B pra pegar as coisas dele quando vemos Taylor, com o cabelo liso, repicado, um palmo abaixo do ombro. Ela cortou também?

Ela olha pro Dennis, vê a bochecha dele, me olha, vira a cara, pega a bolsinha brilhos a e sai.

O que deu nela? E esse visual de quem acabou de sair de terreiro de macumba?

– Ela disse que minha geleia grudou tanto no cabelo dela que teve que cortar – Kat surge atrás de nós.

– Estão de mãos dadas? – Loiza aparece.

– Você vai com a gente pra confeitaria...? – mudo de assunto, antes que Dennis comece a falar de novo.

– Ai, tá bom... – ela diz com uma vontade danada, tanto que quase derrete.

*

– Vamos pra confeitaria da Mandy, você e o Matheus vão ajudar a pagar depois porque eu disse pra ela que ele tinha ganhado cupons... – sussurro tudo só por Dennis ouvir.

– Eu tenho que... Ai! Falar dói – ele passa a mão levemente na bochecha.

Faço bico. Por que tenho uma vontade louca de pular nele e pedir desculpas? Ah, a culpa nem foi minha, ué!

– Enfim, não fale, apenas saia quando eu der o sinal – sussurro.

– A Kat vai vir com a gente – Loiza vem agarrada no braço da Kat, que parece estar rezando pra sair daqui.

– Hmm – penso um pouco. – Tá, vamos logo.

Estamos nos arrastando até a confeitaria quando o Dennis aperta minha mão. Olho pra ele e ele está incrivelmente vermelho.

– Dennis... não morra! – balanço os ombros dele (sabe-se lá como eu alcancei). – Kat, me ajuda a levar ele pra casa?

Olho pra ela e ela pula.

– Mas e nós? – Lo fala.

– Podem ir, vocês podem guardar um ou dois doces pra gente, tá? – faço cara do Curinga e eles continuam andando.

Quase morremos pra chegar na casa dele, e como subir aquela escada grandona era sacrifício demais, largamos ele no sofá.

– Já vai, Kat? – falo, quando ela levanta e pega a mochila. – Vai pra casa?

– Vou – ela sorri. – Se eu ficar aqui, seguro vela, se eu for pra confeitaria, seguro um castiçal, enfim... não gosto de vela.

– Mas... – ela já saiu. Tipo, foi correndo que nem uma tapada até a porta e quase cai quando atravessou o jardim, mas... bom, ela saiu.

A coisa ficou completamente diferente do que eu esperava... Primeiro, porque eu não esperava que o Dennis fosse ter um piripaque antes de chegarmos na confeitaria, segundo porque eu queria muito comer doces, terceiro porque deixamos a Loiza e o Matheus sozinhos antes do tempo combinado... Se alguma coisa der certo com eles hoje eu me visto de Emília e saio por aí gritando.

– Acorda logo – suspiro, cutucando o corpo quase sem vida em cima do sofá enorme.

Acho melhor ir pra casa, eu não tenho nada pra fazer aqui, a Hanna não mora mais aqui, Dennis está inconsciente e não tem nada divertido à vista. Vou pra casa.

Mas antes... Que tal dar uma passadinha da confeitaria e ver o que estão fazendo...? Talvez, mas o que eu vou dizer quando chegar lá? Eu invento alguma coisa, ir ver como eles estão é mais importante, e se eles perguntarem muito eu digo que só queria ver a Mandy.

Se eu falei que a minha casa é longe da escola agora eu mudo de opinião, a casa do Dennis até a confeitaria é muito pior, chego quase suando, e nem tá fazendo sol, na verdade são cinco e pouco da tarde, devia ter aquelas brisas divas e maravilhosas, mas não, o que tem é esse sol do exu que só serve pra deixar o terreiro seco.

Chego na confeitaria quase morrendo, estou quase implorando por um copo d’água quando ouço vozes.

– Annie! – ela está sentada numa mesa com o Matheus e... Katlyn? O que ela veio fazer aqui? Não disse que não gostava de vela?

– Oi... – digo, fuzilando a ruiva.

– Senta com a gente – Loiza convida.

– Senta aqui, por favor – Katlyn implora.

– É, Anninha, vem – ele disse isso, mas parecia que queria me expulsar de lá. Que mudança de personalidade foi essa? Está fazendo aulas de bipolaridade com o Dennis por acaso?

– Eu só vim ver como vocês estavam e... – e o que? O que eu falo? – Queria comprar um pudim pro Dennis, ele estava delirando e me pediu um pudim... foi isso.

– Ai que fofo – Loiza pula. – Já estão tão juntos que já pedem favor um pro outro.

– Sempre foi assim... – murmuro, quase incrédula. Loiza está ignorando o Matheus?

– Bem, Kat, vamos ali comigo, eu não posso comprar o pudim aqui, é mais do que meu dinheirinho pode ter – sorrio, como sempre, mas quando a Katlyn chega perto de mim eu agarro o braço dela, sorrio, aceno, dou um tchauzinho, jogo confete e saio.

– Muito obrigada, Mei, eu te agradeço por me tirar daquela tortura medieval! – ela quase se derrete, me agarrando.

– O que foi fazer lá? Era pra ter deixado eles sozinhos... – digo. – Você disse que não gostava de vela.

– É, mas eu fui ver como eles estavam... – ela me solta. – mas a Lo me chamou e começamos a conversar, depois ela e o Matheus começaram a discutir, ficaram nisso por meia hora, me ignorando e discutindo entre si. Foi uma tortura pra minha ruivisse.

Como se ela fosse ficar menos ruiva...

– Mas e você... – ela me olha, maliciosa. – Por que saiu de perto do seu namoradinho?

– Ele não...! – grito, o povo da rua me olha, agora não posso mais dizer “ele não é meu namorado” posso? Mas eu sempre sonhei numa coisa mais romântica, do tipo, ele se jogar de uma caçamba de lixo me entregando flores e dizendo que eu sou a tampa da panela dele, ele é a carne e eu sou a unha, que somos perfeitos um pro outro... Ok, eu nunca imaginei isso, mas posso fingir que sim pra ficar decepcionada.

– Ele não...? – ela ri. – Qual é... bom, todo mundo está se acertando... Eu queria me acertar também, só que com um cabo de madeira...

– Por quê...? – olho pra ela.

– Por que eu tenho que ser tão bocó? – ela esfrega o cabelo na cara.

– Como é...? – juro, não entendo mais nada nessa vida.

– Tô brincando... – ela para de drama, rindo da minha cara. – Você acreditou? Bem que disseram que eu seria uma excelente atriz.

– Eu vou te deixar menos ruiva com uma tesoura – pelo uma mecha do cabelo dela.

– Para com isso, Mei, sua filhote de unicórnio manco – o que foi isso? Vai sair por aí cantando a música do unicórnio manco e fazer sucesso que nem a Joelma? Arregaça, fofa. – O que você tem que me dizer é... Por que está juntando eles? E como o Matheus deixou de gostar de você pra gostar da Lo e... – ela para. – Por que está juntando... juntando os... os dois...?

– Kat...? – olho pra ela, ela está chorando. Aimeudeus, não chora! Eu te dou um doce, só não chora... Espera... Ela está sorrindo, ela está rindo do meu desespero! – Ora, sua ruiva melequenta.

– Desculpa, Mei, não resisti! – ela seca as lágrimas de crocodilo e puxa meu braço. – Vamos pra sua casa, está escurecendo e parece que aqueles dois vão demorar.

– Espera, temos que espiar... – digo. – Só um pouquinho.

Ela ri e ficamos em pé, perto da entrada, tava na cara que a gente tava espiando, mas por sorte eles estavam muito ocupados discutindo sobre uma música de um grupo que acabou de lançar, os dois pareciam encantados, mas não pareciam um casal... Preciso por meus pés em prática... Hãn? Eu devia ter dito mão na massa? Mas eu nem sei cozinhar...

– Kat, precisamos fazer alguma coisa, eles não vão ficar juntos nunca se continuarem se tratando feito... bocós – murmuro, quando finalmente decidimos sair de lá.

– Podemos bolar alguma coisa... – ela põe a mão no queixo.

– Tipo um encontro arranjado? – digo. – parece forçado demais.

– Não podem simplesmente convidarem os dois pra um encontro duplo? – ela pisca. – Eles dois e você e o Dennis.

– Isso seria muito ridículo... – reviro os olhos. – Precisa ser logo, a cara do Dennis vai chamar muita atenção... Ele chama muita atenção.

– Só quando está perto de você – ela retruca. – Tipo, quando está sozinho ele é um cara normal, quando fica perto de você se transforma na torre dos macacos.

– Tá bom... O que podemos fazer...? – digo, colocando a mão no queixo como ela.

Daí ficamos, as duas, paradas na rua, com a mão no queixo, feito idiotas, até chegar um menino de mais ou menos sete anos e se agarrar nos cabelos da Katlyn, ele saiu puxando o cabelo dela até na esquina, acho que ter cabelo curto tem certas vantagens... Bom, daí chegou a mãe no menino e quase joga o menino no outro lado da rua, eu hein, prefiro ir pro planeta dos macacos, o povo é mais delicado lá.


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Notas finais do capítulo

*Mister Simple = Minha segunda música preferida do Super Junior (depois de Mamaxita ayaya), a Mei fez a comparação só pelo fato deles serem coreanos e o Matheus ter sangue coreano também, nada demais.

Estou fazendo uma shortfic especial baseada no Gabriel, o nosso moço... vai ter um leve yaoi, não se preocupem...



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