O Diário Secreto de Anna Mei escrita por Fane


Capítulo 48
Cabelo, Chiclete, Boné e Dennis – Tudo isso na mesma cabecinha!


Notas iniciais do capítulo

*brota do nada* Oiê! Desculpa a demora, eu tava pensando em postar só dia 12, e por quê? Porque é o dia do meu aniversário! u.u parabéns pra tia Ho!!!
Enfim, quero agradecer mil vezes à Pudim de Menta por recomendar a fic (rodei a baiana de tanta felicidade, sério), e vou agradecer quem continua acompanhando, mesmo porque vai fazer sete meses de fic e quase cinquenta capítulos, mas isso não vem ao caso, leiam e se desesperem.

LEIAM AS NOTAS FINAIS *em letras maiúsculas pra chamar mais atenção*
enfim, é importante, boa leitura ^^



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Ponho a mão no cabelo, sinto o chiclete lá, grudando nos meus dedos e no cabelo.

– Desculpa – ela diz, mas parece segurar uma risada. – Vou tirar.

– Você tá piorando a situação! – Dennis a empurra.

– Me deixa arrumar! – ela grita, e eu sinto uma dor aguda na cabeça.

– O que é isso, caramba? – grito, me virando.

Vejo uma mecha enorme do meu cabelo na mão da Taylor.

– Você não fez isso – me preparo pra pular em cima dela.

– Foi sem querer, me desculpa – ela choraminga, mas logo perde a pose. – Bem feito, sua bocó.

E sai correndo. Essa menina tem problemas.

E tem um chiclete colado na minha cabeça!

Corro pra dentro de casa e vou pro banheiro do térreo. Não dá pra ver bem, mas o chiclete tá possuindo o meu cabelo aos poucos.

– Dá pra tirar? – choramingo quando o Dennis chega.

– Dava – ele diz. – Mas ela meteu a mão e bagunçou mais ainda, grudou tudo e agora... só se cortar.

Cortar? Não sei o que é isso! Não vou cortar meu cabelo, ainda mais se for curto assim! Lo, me ajuda!

– Vá pra casa – murmuro.

– Quê? – ele parece se apoiar na pia.

– Vá pra casa! – pego a vassoura e o ameaço.

Daí é tudo muito rápido, meu pai chega e está indo para o quarto quando me vê, dentro do banheiro com uma vassoura na mão já pra joga-la na cabeça do filho do sócio dele.

– O que está acontecendo? – ele fala, meio atordoado, meio em dúvida.

– Dennis está indo pra casa – murmuro. – Dê um belo tchau e vamos voltar a viver decentemente.

– Estamos numa novela? – meu pai arregala os olhos azuis. – Cadê as câmeras.

– Não é isso... – murmuro. Acho que sei de quem Lukas herdou a personalidade um tanto... Assim.

Não falo mais nada e vou empurrando o Dennis até a porta, empurro mais até o portão e faço uma cara ameaçadora o mandando correr, e só entro de volta quando ele cruza a esquina.

– Anna... – meu pai pergunta. – Vocês estão... – ele pigarreia nervoso. – namorando?

Tudo fica embaçado, imagino um campo com flores, eu e Dennis sentados numa toalhinha listrada vermelha, com flores a nossa volta, meu cabelo bem comprido e tudo purpurinado.

“Ai, Dennizinho, coma essa uvinha”

“Não, Meizinha, coma você”

Toda essa melação me dá um choque interno e meu corpo todo treme.

– Nada disso! – nego, mas meu pai já está no quarto, imaginando mil coisas que poderiam acontecer se eu me casasse com o Dennis algum dia.

Mereço.

Mas, espere, o chiclete intruso ainda está no meu cabelo! O que eu faço? A maneira mais fácil, rápida e prática seria pega aquelas tesouras de jardineiro e ir na casa da Taylor lascar aquilo naquela cabeça ruiva e desbotada! Mas eu não vou sair na rua com um troço nesse no meu cabelo.

Minhas opções são bem claras.

– Dennis! – entro no quarto dele, ele está jogado na cama com um tamagochi na mão. – Ainda fabricam isso?

– É de uma colega – ela retruca, largando o bichinho virtual – Não enche, o que você quer?

– Me empresta um boné – ele não costuma usar boné, mas tem um monte, caso o cabelo dele caia da noite pro dia e ele não queira mostrar pra ninguém.

Mal termino a frase pego um boné preto de cima da cômoda e saio correndo, isso tem que funcionar.

Pego o telefone, digito alguns números e ponho pra chamar, depois de dois puup ele atende.

“Oi?”

– Me espera na esquina da sua casa, com a sua bicicleta, por favor – digo, quase sussurrando. Não sei por que, não tem ninguém na rua. Ainda bem.

“Hãn? Essas suas ligações estão ficando cada vez mais frequentes, Meizinha” ele ri.

Depois de desligar o telefone disparo, corro igual eu corri quando me assustei com a Beatrice, os cachorros quase correm atrás de mim, mas quando eu chego no lugar que marquei, Gabriel está lá, com aquela bicicleta estranha, e com os mesmos headsets que estava no dia de modelo que tivemos.

– Me explica agora – ele me vê toda estranha, como sempre, mas ri – Por que tudo isso?

– Me leva no estúdio lá da Ellie! – imploro. – Preciso... – engasgo. Preciso o quê?

– Suba – ele sorri. Como podem existir pessoas tão bondosas assim? Isso é praticamente impossível!

Subo na bicicleta e ele dispara, eu grito, esperneio com aquele vento intrometido na minha carinha linda, até que chegamos lá.

Tudo parece maior, talvez seja porque não tem tanta gente, o lugar parece mais vazio, só tem uma ou duas pessoas sentadas, lendo ou olhando alguma coisa.

– Ah, que droga... – a Ellie abre a porta de uma sala. – Hein? O que fazem aqui?

– Quero falar com você! – empurro ela de volta pra sala puxando o Gabriel junto.

Faço uma inspeção digna pra ver se não tem ninguém mais naquele camarim, e quando olho pra Ellie ela tá pior do que minha vó depois de cheirar comida estragada.

– O que é? Eu sou ocupada, não posso perder tempo – ela reclama. Ellie sendo Ellie, reviro os olhos.

– Bom, já que você é a rainha dos penteados complicados e sabe quase tudo sobre cabelos – bajulo, parece que deu certo, ela está mais estufada do que um pavão – eu pensei que poderia resolver algo pra mim...

– Os penteados do casamento da sua irmã? – ela pula. – Ela já falou comigo sobre isso, claro que eu relutei um pouco pra fazer charme, mas... acabei aceitando, então...

Espera. A Beatrice pediu pra Ellie arrumar os penteados do casamento... Mas... como assim?

– A fabulosa Ellie vai se ocupar fazendo os penteados numa festinha simples? – murmuro e Gabriel ri.

– Deixe de enrolar! – até parece, quem está enrolando é ela! – Está tudo resolvido, então pode ir embora...

– Não vá me expulsando! – me viro. – Eu preciso da sua ajuda – murmuro. Meu rosto está muito quente... Ah, que ótimo.

– Puxa, senti uma paradinha meio elétrica no ar – Gabriel diz.

– Como assim? – Ellie levanta uma sobrancelha e cruza os braços, duvidando.

Tiro o boné e revelo a desgraça, mas quando vou puxar o boné não sai completamente.

Grudei o boné na minha cabeça... Ah, que idiota!

– O que foi isso? – ela quase pula pro outro lado do camarim. – Cocô de tucano?

– Meizinha! Que tipo de lhama cuspiu em você? – Gabriel foi tão exagerado quando a Ellie.

– É chiclete! – grito, suspirando logo depois. – Alguém me odeia tanto que jogou isso em mim e embaraçou ainda mais.

– Suponho que foi a mesma pessoa que te deu o boné... – Ellie gargalha, ela tá zombando da minha cara, essa mocréia.

– Não, né – sento na cadeira giratória.

– Quem foi a tal pessoa? – Gabriel fala. Ele pode ser o que é, mas continua sendo um garoto.

– Eu chuto na Taylor – Ellie cruza os braços. – Essa menina é mais irritante que o Elliot.

– Eu só quero ir na casa dela e jogar um balde de vômito de porca na cara dela – murmuro, tentando descolar o boné do meu cabelo, piorando a situação.

– Depois me perguntam por que não gosto de garotas – Gabriel murmura, fazendo Ellie rir nervosa.

– Bom – ela suspira. – as cabeleireiras não estão aqui hoje, não temos nenhuma sessão. Mas... – ela me olha maliciosamente. – Se você quiser – ela abre a gavetinha e tira duas tesouras prateadas enormes – posso cuidar disso eu mesma.

– Gente – Gabriel diz, depois de ficarmos uns trinta segundos ouvindo a Ellie abrir e fechar as tesouras fazendo um barulhinho macabro. – Eu vou ao banheiro, fiquem aqui fazendo coisas de menina.

Ele fugiu. Me deixou sozinha com essa bruxa! O que ela é? A Ellie Mãos de Tesoura?

– Pode ser – digo, por fim. Ela pula e vira a cadeira giratória, me deixando de costas pro espelho. Por acaso estamos num programa de televisão?

– Vai que você tenta me impedir... – ela murmura, abrindo e fechando uma tesoura.

Ela larga a tesoura da mão esquerda e pega um pente fino, passa o pente até a parte que o boné está preso e ouço a tesoura trabalhar.

– Credo, menina, você passou super bonder nesse boné? – ela brinca.

– Ellie... – murmuro. – Cala a boca – choramingo. Meu cabelinho lindo, eu cortei muitas vezes, não vou dizer que estou cortando depois de décadas, mas cortar as pontinhas é uma coisa, cortar meio metro do cabelo é uma coisa redondamente (e dolorosamente) diferente.

Depois de quase duas horas numa tortura terrível a Ellie grita um “Acabei!” e vira a cadeira, olho pra baixo, não quero me ver, mas fica meio difícil quando tem um espelho enorme na sua frente, então me levanto rápido e me viro pra Ellie.

– Tem um boné preto, qualquer pra me emprestar? – murmuro me abaixando e pegando o resto do meu cabelo do chão. – E uma sacola.

– Eu passou tempos ajeitando o seu cabelo e no fim você nem me agradece – ela faz bico. – tenho sim.

Ela abre alguns baús e me dá uma boina preta maior que minha cabeça, isso é bom, pelo menos ninguém vai ver o estrago.

– Ah, e... – ela me entrega a sacola. – Nada de tentar colar esses tufos de volta na sua cabeça – ela diz docemente. – Se fizer isso eu acabo contigo! Uma sombra preta aparece no quarto, eu hein, isso aqui me assusta mais que aquela velha papagaia que cozinha naquele programa da globo.

– Valeu – solto um muxoxo e me arrasto até a porta, onde Gabriel está bebendo uma caixinha de suco.

– Meizinha! Você tá ótima! – ele diz, meio em dúvida, sei que tô péssima, chorei o tempo todo, meu cabelo todo está enfiado numa sacola (bom, a parte sem chiclete) e ficou tão curto que nem dá pra ver com a boina que eu tô usando.

– Para de mentir – suspiro. – Me leva pra casa.

Ele suga o conteúdo da caixinha depois a joga no lixo.

– Vamos lá! – ele me puxa pela mão e tenho que segurar a boina pra não cair, subimos na bicicleta e seguimos o caminho de casa, mas paramos no caminho. Numa lojinha de doces.

Não é a lojinha da família da Mandy, que vende doces como bolos e pudins, é aquelas lojinhas que vendem doces porcaria, como chicletes (que eu nem quero mais ver na vida), jujubas, balas de goma, pirulitos.

– Só pra te animar, pode escolher qualquer coisa – ele sorri.

– Sério? – pulo e saio correndo feito uma aloprada, e eu nem sei o que isso é, mas eu fiz igual, enfim, nós comemos marshmallow e balas de goma o resto do dia todo, e quando vi já estava escuro.

– Vish, eu tenho que ir pra casa senão... – tento puxar uma mecha do cabelo pra frente. Mas o cabelo não vem. – Ah é, eu cortei – olho pra sacola que o meu cabelo está, Gabriel se ofereceu pra carrega-la então acho que foi por isso que eu esqueci.

– Não fica assim, Meizinha! – ele passa a mão na minha cabeça, por cima da boina que eu não tirei por nenhum segundo. – É só cabelo.

– É fácil pra você falar, senhor Eu-tenho-cabelo-loiro-e-lindo – murmuro e ele ri. – Bom... – sorrio sem graça. – posso ser feliz mesmo sem o cabelo comprido, né? E daí? Mulheres com cabelo curto são bem atraentes! Eu estava mesmo querendo cortar ele assim!

Cruzo os braços.

– Agora sim posso te deixar em casa, sua cara tá bem melhor – ele diz.

*

– Anna Mei, o que foi isso? – minha mãe cruza os braços assim que eu tiro a boina.

– Mãe! Foi aquela ruiva desbotada! Ela jogou chiclete no meu cabelo, eu sofri tanto, tanto! – pulo nos braços dela pra fazer um escândalo.

– Pare com isso! – ela me afasta e pega numa mecha. – Era tão lindo e comprido... Você e a sua irmã são mesmo iguais, puxa...

Ficamos as duas choramingando no sofá, falando de cabelos e comentando o quão ruim as novelas de hoje em dia são, até que meu pai chega.

– Anna? – ele pergunta. – Puxa, não parece com quando ela tinha cinco anos, Avalon? – ele pergunta, afagando minha cabeça, minha mãe ri e concorda até se dar conta que foi chamada pelo segundo nome. Então ela fecha a cara para o mundo.

– Não enche! – ela murmura e corre pro quarto, como uma criancinha.

Subo as escadas e uma vez ou outra passo a mão no cabelo esperando ser tudo minha imaginação e meu cabelinho não estar dentro de uma sacola abafada e sim na minha cabeça... Mas não, ah, o que eu vou fazer? Amanhã tem aula, faz tempo que não mudo tão drasticamente. Confesso que até quando eu pintei meu cabelo de uma mecha de cada cor eu me sentia mais confiante por causa do comprimento. Agora, me sinto uma mocinha que perdeu os cabelos porque ficou farofando na rua.

Tomo um banho pra tirar os fiapos que grudaram no meu corpinho sensual e vou dormir sem nem mesmo passar o pente nessa moita que eu chamo de cabelo, bom, talvez eu deva chamar resto de cabelo, são como as sobrar no jantar.

Sábado/9 de Agosto

– Mas o quê...? – digo assim que me olho no espelho, até que não estou mal, meu cabelo está um pouco acima do ombro, como o da Beatrice, isso me incomoda. Sinto eles roçando do meu ombro e faz cócegas, me sinto um urubuzinho.

Ainda bem que é sábado e não tenho que ver o Dennis, nem o Matheus, e nem ninguém, prefiro ficar quieta num canto, ou fazer um quadro com o cabelo que eu guardei na sacola, seria uma boa, eu penduraria perto da cômoda e acenderia um incenso todo dia, em luto pela perda.

Talvez eu colocasse ragatanga pra tocar de vez em quando, talvez meus piolhos agradeceriam. Não que eu tenha piolhos, claro, eu não tenho, usei escabin até os oito anos.

Tenho prender meu cabelo para trás, mas não dá, tenho que aguentar ele assim, até que é bem prático, é fácil de pentear, é fácil de lavar, não fica grudando, é tão prático que ele até está mais comportado.

A Ellie fez um ótimo trabalho, ela até cortou minha franja que estava longa e agora ela está acima dos olhos, divando na parada. Além de parecer mais leve, parece que meu cabelo tá mais liso do que costumava ser.

Mas mesmo assim, mesmo que esteja bonitinho não significa que tenho que perdoar a Taylor, tenho? Aquela frango mal assado, ela vai ver só!

Domingo/10 de Agosto

– Bom dia, Mei – a D. Lara me diz. – Puxa, o que aconteceu com seu cabelo?

– Oi, tia Lara – sorrio. – É que a Taylor me fez um favorzinho um dia desses e eu vim perguntar se ela quer que eu retribua.

Subo as escadas rapidamente e abro a porta do quarto da Taylor.

– Mas o que você tá fazendo aqui? – ela grita.

Eu pego a tesoura que tinha trazido e corto os cabelos ruivo-desbotados dessa menina que mais parece uma caixa de sabonete velho.

Quando ela fica quase careca começo a ri descontroladamente, ela começa a gritar eu começo a gargalhar mais ainda. Quando ela passa a mão da cabeça que agora parece uma bola de basquete eu engasgo de tanto rir.

Sinto uma pancada e vejo que caí da cama. Ah, que droga, foi só um sonho. Desço as escadas pra comer alguma coisa pra saborear ainda mais esse doce sonho que tive, e quando chego na cozinha o Júnior está falando com a minha mãe.

– ... e ela tava tipo, tendo uma convulsão, dava pra ver a baba branca saindo da boca dela, ela tava colapsando e tinha uma meleca grandona no nariz dela, foi horrível – ele fala, e minha mãe afaga a cabeça dele por um tempo até me ver.

– Mei! Você está bem?

– Tô – falo, desconfiada. O que foi tudo isso?

– Seu moleque – minha mãe dá um peteleco no Júnior – Não invente bobagens.

Ela chega perto e analisa minha cara.

– Ai, socorro, jeová! – ela pula pra trás.

– O quê? – grito. Pra quê toda essa revolta?

– É verdade, Júnior – ela treme. – Tem uma meleca grandona no nariz da sua irmã.

– Querem parar de se incomodar com a meleca dos outros – cutuco meu nariz e tiro aquela coisa horrenda, – Poxa, é grandona mesmo.

– Deixa de ser nojenta – Júnior me empurra. – Aquele cara não vai te querer se souber que você faz esse tipo de coisa na frente dos outros.

– Aquele cara...? – repito, ele tá falando do Dennis? Falando nele, ele queria falar comigo, não queria? O que era assim tão importante?

Bom, eu até poderia ir na casa da Taylor e fazer com que meu sonho vire realidade...

– A Mei era muito mais fofinha com aquele cabelão grande – minha mãe murmura, como se eu não estivesse lá.

– Pois é, ela ficou muito mais esquisita agora – Júnior retruca.

– Eu tô aqui, sabe?

– Por que ela teve que fazer isso – dona Avalon coloca as mão no rosto.

– Agora a cabeça dela parece muito maior – ele cospe as palavras.

– Seu moleque! – estou prestes a lascar meu lindo pé na bunda mole do Júnior quando minha mãe me interrompe.

– Não pode bater no seu irmão por ele ter dito a verdade, Mei – mas... Mãe? Até a senhora?

Tô chorosa.

Segunda-Feira/11 de Agosto

Levanto num pulo, ainda são seis e meia, visto o uniforme e tento me admirar no espelho grandão, até que eu fico muito fofa com esse cabelinho curto, realmente parece quando eu estava na sexta série, mas ainda não me acostumei, tenho que arrumar um plano pra me vingar daquela manézona!

Ponho a boina e por cima coloco o capuz, acho que deveria ter feito isso no dia em que pintei aquele cabelão que eu tinha – esse “tinha” me machuca bastante. Bom, mas já que eu já fiz aquilo, o pessoal nem se incomoda em me ver de capuz, me escondendo, eles até falam comigo normalmente, bom, até eu chegar na sala de aula.

– Anninha! – o Matheus me puxa e a boina voa, claro que, já que o capuz do moletom tava por cima ele saiu junto, e todo mundo pôde ver a miniatura de cabelo que eu tenho agora.

– Puxa, tá parecendo o cabelo da Rapunzel depois dela ir no cabeleireiro das princesas da Disney – Katlyn falou, com um potinho de geleia de mocotó.

– Annie! Puxa! Tá muito fofo! – ela surta e pula em cima de mim.

– Anna, eu... – Dennis aparece do nada e analisa a cena, Katlyn com a boca melada de geleia de uva, Loiza me fazendo cheirar os peitos dela e o povo olhando pra gente como se já tivessem se acostumado com os surtos de manhã cedo.

– Olha, a Mei cortou o cabelo! – Mandy me abraça junto com a Loiza. – Agora nós três estamos parecidas!

Sinceramente, essas duas estão mais unidas do que tem que estar, mas é verdade, Mandy sempre teve o cabelo curto, já Loiza cortou de uns tempos pra cá, já eu... Lembrar disso é triste.

Sinto um puxão e sou levada até atrás do laboratório, realmente, ele podia ter me puxado até detrás do ginásio, é mais longe, eu sei, mas a gente sempre costumava ir pra lá... Ah, é o Matheus.

– Anninha, eu... – ele repete quase a mesma coisa que o Dennis. – Você tá bonita.

Não consigo evitar e coro. Lógico, não sou acostumada com elogios tão sinceros, apesar de saber que eu sou linda mesmo.

– Valeu – murmuro, depois que o embaraço passa, minha vontade de sair correndo dali e falar com o Dennis é maior.

– Parece muito quando a gente estava no fundamental! – ele ri.

– É... – chuto uma pedrinha com força, ela bate na parede e volta com tudo pra minha perna. – Ai!

– Eu quero que soubesse de uma coisa – ele respira fundo, como se fosse se declarar.

Não! Eu não quero ter que lidar com isso, faço simplesmente uma coisa que eu sempre faço.

Corro, mesmo com a perna doendo da pedrada que eu mesma dei em mim... É, sou um bode.

Corro até sentir mais alguém me puxando e me levando pro lugar que eu queria ir.

Dennis? É, mesmo sentindo uma felicidade maior do que a tristeza de ter meus cabelos cortados, eu faço cara feia, quem ele pensa que é pra ficar me puxando?

– O que vocês fizeram? – ele me fala, enquanto andamos rápido até o fim das salas de aula, atravessando o pátio e indo em direção á quadra.

– Vocês... quem? – eu me sinto meio atordoada, acho que meus cabelos mantinham alguma inteligência em mim, agora que eles se foram, minha inteligência sumiu também.

– Você e o... carinha lá – ele para e se vira pra mim, parece atordoado e trêmulo. É, Dennis está doente.

– O Matheus? Ah, – começo a rir, nervosa, mas não respondo, continuamos andando até a parte de trás do ginásio, a parte que a gente sempre ia...

– O que vocês fizeram? – ele repete, nervoso.

– Ele me disse que eu tava... – bonita? Eu não posso dizer isso! Coro antes de terminar a frase. – bem... bem parecida como quando nós estávamos no fundamental.

– Ah... – ele suspira, escorregando as costas na parede e sentando na grama seca.

– Por que tudo isso? É retardado, por acaso?

– Eu só não aguentei ser ignorado mesmo com você sabendo que eu quero e falar uma coisa! – ele não grita, mas dá um sorrisinho de lado no fim.

Dennis... amigo? O que está pensando?

Amigo... Eu desisti de gostar dele, não foi? Espere, eu acho que nunca mencionei em desistir... Acho que eu nunca mencionei que gostava dele, afinal. Mas eu prefiro desistir de tudo.

– Você gosta dele? – ele murmura.

– Não... – murmuro. – Eu gosto de um idiota... mas ele é retardado demais pra entender.

Ele parece murchar. Sério, isso? Eu acabei de dizer que gosto dele indiretamente e ele ainda pensa que eu gosto de outro cara? Desisto da vida, é sério!

Ele é indeciso demais... As vezes demonstra que gosta de mim, mas sempre que digo, ou demonstro gostar dele ele recua.

– Idiota – murmuro. – Você é mais retardado do que eu pensei que fosse.

Saio de lá, nem me importo de ficar toda descabelada, meu cabelo é pequeno, agora só de passar a mão uma vez ele fica show...

Esse idiota, eu vou fazer outro bonequinho de vodu e socar na privada, como da última vez!


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Notas finais do capítulo

Bom, a próxima versão dessa fanfic (e última) ganhou um ilustrador! Isso! Imagens originais! Os desenhos vão ser feitos por um amigo (virtual, mas a amizade é a mesma) Alec Ferreira, vai demorar um pouco, mas vai ser muito melhor do que essa, prometo.

E pra quem for comentar, não me dêem parabéns, ou feliz aniversário, dizem que dá azar se for antes, e eu já estou doente porque ficar quase bêbada na virada do ano não é pra mim (e foi a primeira vez, socorro!)
Espero que este capítulo broxante tenha redimido minha demora ^^
Bjo da tia Ho, até o próximo! (me desculpem se não tem muito romance, não consigo fazer melhor)

P.S. Para as fujoshis de plantão (ou pelo menos pra quem aprecia um bom yaoi light), tenho uma notícia meio bombástica no próximo capítulo.



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