O Diário Secreto de Anna Mei escrita por Fane


Capítulo 46
A Morte de Um Pote de Danoninho – E Outras Histórias


Notas iniciais do capítulo

Não me matem, please! Fiquei sem internet por uns cinco dias e quase morri por não poder entrar no Amor Doce - mas ganhei tempo, o capítulo que eu queria tinha que ser bem grande - bom, aproveitem!



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Dennis apareceu do nada, trazendo uma nuvem negra na cabeça (de verdade, feita de isopor e pintada com tinta guache, que cara dramático).

– O que foi? – abro a porta.

– Eles recusaram – ele senta no sofá e se deprime mais.

– Recusaram o quê?

– Disseram que eu não podia usar a influência do meu pai pro meu próprio bem estar.

– Que chato... – murmuro. – E o que eu tenho a ver com isso?

– Você é a minha “melhor amiga” – ele faz aspas com a mão. – Tem que me ajudar!

– E o que eu posso fazer? Te levar na minha mochila e te colocar numa mesa na sala A de penetra?

– Pode até ser que funcione!

– Não, não mesmo – as vezes eu penso se deu a louca no Dennis e ele bebeu a água suja das poças que ele tanto admira.

– Então o quê?

– Peça pra trocar de lugar com alguém, tipo, alguém que queira muito ir pra sala B – coço o queixo, isso pode ficar interessante.

– Quem, por exemplo?

– CJ! – grito.

– Cê Jota? Quem é? – por favor, estudou com o cara metade de um ano e não sabe quem é!

– Um dos três idiotas que estudavam com a gente, os outros dois estão na sala B e ele ficou sozinho na sala A, aposto que trocaria numa boa com você!

– Isso é incrível! – ele dá um pulinho.

– Nunca mais... – suspiro. – Faça isso novamente.

Ver o Dennis pulando assim me fez lembrar do sonho cor de rosa que eu tive. Foi triste.

Terça-Feira/5 de Agosto

– Trocar com você? – entro na classe enquanto Dennis fala com o CJ.

– É, eu preciso ficar nessa sala, por favor, cara, pense nas criancinhas! – ele fica mais estranho quando está implorando algo.

– Não, foi mal, não posso sair daqui – ele diz, determinado.

Mas, ele está olhando pra frente e... Está olhando pra Lianna! CJ gosta da Lianna, ui, que chique, ele gosta da menina mais cabeça quente da escola inteira!

Quanta coisa improvável.

No fim, o sinal toca, o Dennis me vê e faz um bico daqueles.

– Não consegui, sou uma vergonha pra minha espécie – e vai se arrastando pra sala ao lado.

– Isso é triste, ele queria ficar perto de você, Meizinha – Gabriel surge do nada.

– Eu sei... – murmuro. – Mas, talvez, você possa me ajudar – faço cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança.

– Não, desculpe – ele diz. – está fora de cogitação. Aliás, você nem sabe se vão permitir que alguém troque.

– É, mas...

– Tem que se acostumar com isso, Meizinha – ele afaga minha cabeça.

*

Dia terrível, vida terrível! É tão terrível que eu decidi visitar a Beatrice, vê se pode?

Só pra ver se ela ainda estava loira, porque das vezes que eu a vi ela estava se coçando pra não pintar o cabelo...

– Ei, eu tô com fome – entro na casa dela praticamente invadindo tudo. Eu sempre faço isso, somos irmãs! E eu tenho a chave, claro.

– Decidiu me visitar depois de décadas – ouço a voz dela vindo do quarto. – Sentiu saudades, foi?

– Claro que não, eu estava com muita fome mesmo, e como o seu apê fica mais perto da escola eu decidi vir, onde você tá?

– Aqui, sua chata – assim que eu entro no quarto, ela aparece atrás de mim. Fico boquiaberta. Beatrice não está mais loira. – Encarar as pessoas é feio, tá legal? – ela coloca a mão na minha cara.

– Mas como..? Como isso foi acontecer?

– Hãn? Ah, o carinha do salão de beleza disse que se eu continuasse pintando meu cabelo ele ia quebrar todo, não levei a sério e pintei... e ele estava certo! – ela fala tudo isso como se não fosse nada.

Fala tudo isso como se o cabelo dela não estivesse acima do ombro. Super curto. E verde.

– Sério que pintou o seu cabelo de verde? – me jogo no sofá.

– E por que não? É minha cor favorita! – ela se joga também.

– Pensei que sua cor favorita fosse amarelo – resmungo.

– É, mas cabelo amarelo fica feio, vai que aparece alguém me perguntando se eu esqueci de matizar o cabelo – ela murmura, pegando uma mexa do cabelo super curto. – Eu nunca fiquei com o cabelo tão curto, minha cabeça parece mais leve e sinto que posso voar a qualquer momento, aliás, acho que preciso comprar um cachecol, sinto frio no pescoço agora que não tenho o meu cabelo pra me proteger.

Como ela faz tão pouco caso com o cabelo dela? Tipo, se fosse o meu eu ia juntar tudo do chão e colar na minha cabeça de volta.

– Mas você não veio aqui por causa do meu cabelo, veio?

– O Dennis não ficou na minha classe! – escondo a cabeça numa almofada.

– Pra quê tudo isso? Vocês nem são namorados.

Essa cabelo de mato fazendo pouco caso da vida alheia.

– Sim, mas somos amigos, e...

– Sem esse papo de amigos, Anna Mei, quero ver quando aquela Taylor tomar ele de você, o que você vai fazer?

Como ela soube da Taylor? Como ela sabe da minha vida?

– Como sabe da Taylor?

– Sabe, eu tenho um namorado – ela murmura. – E ele é irmão da sua amiguinha que, por acaso, gosta muito de falar. E parece que ela não gosta da Taylor também não.

– Ela é uma pirralha idiota – resmungo.

– Por que não deixa de ser chata e assume que gosta do Dennis, assim nós quatro podemos sair juntos e... – ele tagarela.

– Não – murmuro. – Eu não consigo.

– O Matheus voltou, né? – ela diz. – Eu sempre achei ele uma gracinha, menos quando ele fala aquelas coisas sem sentido em relação a biscoitos e bolos de fubá, é muito estranho.

– Dá pra me ouvir?

– Se você foi me dizer que não consegue assumir que gosta do Dennis eu vou dar uns tabefes fraternais na sua cara bochechuda!

– Tá, mas... O que eu posso fazer?

– Quer uma dica? – ela levanta.

– Quero... – digo, mas soa mais como uma pergunta.

Ela sacode os cabelos curtos e verdes com a mão (que está com as unhas verdes da mesma cor que o cabelo), vira e diz.

– Se joga, fofa – e sai correndo. Igual uma mula.

É, preciso comprar uma nova irmã mais velha, será que na feira tem? Acho que eu tenho que esperar uma Black Friday porque tô sem dinheiro.

Quarta-Feira/6 de Agosto

Ela disse se jogar... Se jogar... Como posso fazer isso?

Tenho que chegar nele dizer que ele é lindo e tudo mais? Ou tenho que bancar a fofa e abraça-lo na frente de todo mundo? Se declarar que nem aquelas gurias de dramas asiáticos? Ou, quem sabe, escrever uma carta de amor?

Todas as opções são broxantes! Eu não posso fazer uma coisa dessas, é loucura! É tipo, como pedir pra ser chacota do Dennis pra vida toda!

E eu não quero isso.

Aula da Marilda, uma professora nova que tem um sotaque horrível. Ela ensina espanhol, mas não sabe nem pronunciar o português direito. Coitada.

O sinal toca e eu não estou nem aí, me encolho na mesa enquanto o Matheus fala da vida dele.

– Matheus, dá pra ficar quieto um minuto? – Loiza aparece. – Está deixando minha pequena com dor de cabeça, seu mané!

– Mas eu... – ele se encolhe.

– Vamos, Annie! Se anime, vamos comprar um pudim pra você no fim da aula! – Ela diz, e o meu modo automático é pressionado.

– Pudim?

– O Dennis vai com você! – Kat murmura e eu volto pra mesa. Era bom demais pra ser verdade.

O caso é que eu não quero vê-lo nunca mais! Se eu sou problemática? Sim, eu sou! Se eu sou uma chorona sem motivos? Não, não sou, porque meu rosto é muito lindo pra ficar todo inchado e com lágrimas, então, prefiro chorar por dentro.

Quinta-Feira/7 de Agosto

Estou com tanta raiva do Mundo que eu explodiria. Por que eu escrevi “Mundo” com “M” maiúsculo? Por que o Mundo é o novo poodle da vizinha. Eu ia pisando nele e ele mordeu minha perna. Por mais que ele seja um poodle super pequenininho e fofinho, ele tem dentes bem afiados, caramba!

Aliás, nem parece um poodle, parece mais um chihuahua nojento, parece que tem alguma doença e fica latindo direto, cara, minha cabeça dói que eu não posso pensar. E se tem uma coisa que eu preciso fazer é pensar.

Mas pensar dói. Tanto quanto a minha perna mordida, tem um calombo grande agora.

– Anna Mei! – um vulto surge no meu quarto gritando e se esperneando.

– O quê? – me levanto tão de repente que parece que a minha perna não está mais aqui. Ah, é só a Beatrice.

– Eu vou me casar! – ela pula, tirando o corro preto que comprou pra esconder o cabelo verde.

– Casar...? – demoro um pouco pra assimilar tudo, a minha irmã encalhada vai casar? – Quem é o infeliz que vai desistir de ter uma vida normal pra casar com você? – digo, ela pega um dos meus livros e ameaça jogar um mim.

– Não faça pouco caso da minha vida, sua tampinha! – ela guarda o livro na estante, está tão feliz que não pode me agredir... Isso é muito sério. Chamem o médico!

– Então... O Alex te pediu em casamento? – pergunto, isso é muito óbvio, claro, porque minha irmã não casaria com outra pessoa. Ou será que ela dispensou aquele cara legal pra ficar com um cara gordo e super rico? Nunca se sabe.

– Pediu – ela balança a cabeça feito uma retardada. – Foi lindo, sabe? Ontem ele me disse que queria me contar uma coisa, estava tão nervoso que eu pensei que a mãe dele ia mandar me despedir porque eu deixei um prato cair de manhã, mas ele me deu este anel! – ela grita. Grita muito. Mostrando o anel com uma pedrinha verde. – O anel é verde, cara! – ela grita mais. E pula. Tudo isso porque vai se enfiar num vestido branco e dizer “sim” no altar?

– Você não tem amigas, né? – digo, quando ela finalmente para de surtar. – Tipo, pra vir aqui e me dizer uma coisa que podia contar pras suas amigas...

– Eu queria te contar primeiro, sua idiota – ela cruza os braços e faz bico – Porque você vai levar as alianças...

Quê? Como é? Eu ouvi direito? Não, ela pode me obrigar a morar com ela, pode lascar tinta colorida no meu cabelo e me transformar num pônei arco-íris, mas ela não pode simplesmente chegar no meu quarto e dizer que eu vou ter que vestir um vestidinho bonitinho e levar duas alianças como se eu tivesse sete anos!

– Por que eu? – quase grito.

– Porque eu não conheço ninguém mais perfeito pra ser dama de honra do meu casamento! – ela pula e fica num pé só.

– Eu conheço! – lembro da Taylor, da Kate, da amiguinha ruiva da Kate. Lembro de um monte de gente mais baixa e mais fofa que eu.

– Mas eu quero você, sua fofa – ela aperta minha bochecha e grita mais.

– Quando... – pergunto. – quando é o tal casamento?

– Dia dezoito... – ela pisca.

– Já, tão cedo? Pra quê essa pressa? – quase engasgo... Dia dezoito é...

– É que o Alex vai intensificar a faculdade, ele tá fazendo medicina, certo, vai ter que estudar o dia todo, e não vai ter tempo depois do dia dezoito, e então tem que ser nesse dia!

– No dia do meu aniversário? – murcho.

– Ah é... Bom pra você! Fazemos uma festa de casamento e de aniversário em uma só, é econômico! – ela pula. – Só diz pro Dennis não ir de preto, vai que as pessoas confundem e pensam que é você quem está casando... – ela sussurra.

– Fala sério, por que eu? Poso chamar a...

– A Taylor? Aquela menina chata que me disse que parecia que eu tinha plantado alface no meu cabelo? Dispenso... – eu ia dizer a Kate, mas... A Taylor realmente fez isso? Credo, por mais que eu não goste dela, foi engraçado.

– Meu amigo tem uma irmã linda... Fofinha e bonitinha... Que tal? – faço gestos. Vamos, Beatrice, coopere.

– Talvez... – ela semicerra os olhos. – vamos ver isso depois. Tenho muitas coisas pra fazer! – ela pula e sai correndo do quarto. Todas as encalhadas fazem isso quando finalmente casam? Quero saber o que aconteceria se a Beatrice tivesse mais de trinta e tivesse nessa situação, ela faria pior, muito pior, se com vinte e quatro anos age como se fosse a única chance de se casar, até pode ser, porque é um milagre o tal Alex aguentar essa doida.

Eu prefiro dormir, a aula hoje foi horrível, o Matheus não me deixa em paz na aula, o Dennis não me deixa em paz nos intervalos e a Taylor não deixa o Dennis em paz toda hora.

Sexta-Feira/8 de Agosto

– Sua irmã vai casar? – Gabriel me olha, espantado. – Ela parece ser tão nova.

– É, mas não é esse o problema – digo. – Pode me emprestar a Kate?

– Quer que eu te empreste a minha irmã? – ele ri. – Pra quê?

– A Beatrice é doida, doidinha da cabeça, ela quer que eu me fantasie de fada e vá voando entregar as alianças – exagero um pouco. Sei que foi ridículo, mas eu precisei fazer isso.

– E você quer que a Kate vá no seu lugar? – ele ri mais ainda.

– Não! Eu pensei que, se não fosse eu, a Beatrice podia só arrumar um vestidinho comum e ser menos... bizarra.

– Bom, mas isso não depende de mim, depende da Kate – ele põe a mão no queixo – Se ela quiser, tá bom.

– Jura? Ah! Valeu, salvou a minha vidinha miserável! – abraço a cintura dele.

– Mei, você soube da... – Mandy chega na sala junto com a Ellie e o Dennis (consequentemente a Taylor veio junto) e me vê pendurada na cintura do Gabriel.

– Puxa, foram pegos no flagra – a Taylor começa. Essa menina irritante.

– Que flagra, garota? – trato de me soltar – Vá pro seu canto, sua remelenta!

– Você foi pega agarrando o menino aí que eu não sei o nome, e ainda tem coragem de dizer que gosta do Dennis? – ela grita e a sala toda se vira pra ver a treta acontecer.

– Eu não tava agarrando ninguém! – digo, não quero gritar, não sou barraqueira que nem essa cabelo de... de... o que posso fazer se o cabelo dela é bonito, hein?

– Ah, não... não mesmo... sua traidora – ela faz um whatever com a mão e sai, morrendo de rir.

– O que foi tudo isso? – a Ellie se manifesta depois de uns minutos de silêncio.

– Nada... a Mei só pediu minha irmã emprestada – o Gabriel sai do estado figurante pra protagonista de situação.

– Como é? – o Dennis acorda.

– Pra levar as alianças – murmuro.

– Pois é! Vamos ser parentes, Mei! – Mandy chega e me abraça.

– Pelo menos seu irmão não te convenceu a levar as alianças – eu murmuro.

– Não, mas ele me convenceu a fazer uma penca de docinhos – ela faz uma expressão cansada. – Já no dia dezoito, não sei se vou dar conta, mas vai ser divertido. Eles já disseram da casa?

– Que casa? – pergunto.

– A casa que o Alex comprou pra... – ela arregala os olhos – Puxa vida, era segredo! Não conte pra sua irmã, se ela ficar sabendo eu vou perder todo o meu cabelinho.

– Do que estão falando? – Ellie quase perde a paciência... que não tem.

– Do casamento dos nossos irmãos – Mandy diz.

– Pois é... Logo, logo a Ellie também vai ser minha parente, todos querem ser meus parentes! Eu sou muito especial... – grito.

– Do que estão falando? – Kat se junta a nós, comendo um Danoninho. Ah, não. Vai dar treta.

– Que eu e a Ellie vamos ser parentes da Mei, já que meu irmão namora a irmã dela e a Ellie namora o irmão mais velho dela – a Mandy fala rindo e a Loiza arregala os olhos. Na verdade, eu também arregalo os olhos. Nós duas olhamos em direção da Kat.

– Namorando o Lukas? – ela repete.

– É sim... – Mandy diz. A Ellie está muito vermelha, são raras as vezes que ela fica envergonhada, eu podia tirar uma foto se não tivesse preocupada com a reação da Kat.

– Ainda tem o Júnior, – ela suspira – Fala sério, ele foi só uma paixonite – ela ri, triste. – Eu conheci vários carinhas na Inglaterra, sabe?

Ela sai. Loiza vai atrás. Eu tenho que ir atrás também, poxa! Começo a correr, mas alguém me puxa.

– O que você quer? – me viro e vejo o Dennis. Ele parece triste, meio pra baixo, sabe. Olha nos meus olhos e...

– A Bia vai casar? – os olhos dele brilham como se fossem pular na minha cara.

– É... que seja – reviro os olhos.

– E você vai levar as alianças...? – ele balança meus ombros.

– Não! De jeito nenhuma, por que acha que eu pedi a irmã do Gabriel emprestada? – cruzo os braços – pra servir de empregada que não foi!

– Ah, mas seria fofo se a Anna levasse os alianças – ele aperta minhas bochecha.

– Eu tô ocupada, tem algum assunto importante ou só veio pra me perturbar? – coloco as mãos na cintura, ele parece pensar um pouco, põe as mãos no meu ombro e se abaixa, olhando nos meus olhos.

– Eu amo... te perturbar! – ele diz, me olhando sério.

– Ah, vá procurar o que fazer. – me desvencilho e corro até a classe B, Kat está sentada, torturando o potinho de Danoninho.

– Mas o que... – digo, enquanto ela xinga o coitado do potinho e amassa ele, corta, morde essas coisas.

– Amaldiçoo todos aqueles que se meterem com esse potinho – ela diz, fazendo uma cara terrível.

– Pra quê tudo isso, Katlyn? – a Loiza bate no potinho, jogando-o no outro lado da sala.

– Sua retardada! – a Kat grita. – Eu odeio aquela menina! Ladra de paqueras! – ela abraça a Loiza. – Mei! Você devia odiá-la, ela tomou o seu irmão de você à força!

– Na verdade... – começo, mas ela não precisa saber que fui eu que fiz eles ficarem juntos... Agora a coisa ficou feia pra mim.

– Na verdade o quê? – ela pisca, jogando a Lo num canto e vindo na minha direção. – Eles não estão juntos de verdade, né? É só um ficante, certo? Me diga que é!

– Na verdade... – digo, pausadamente pra ganhar tempo. – Eles estão namorando, sim, mas... – ela murcha. – Mas eu não ia deixar você ficar com o Lukas mesmo, ele é muito porcalhão, você merece alguém melhor!

– Mas...

– Isso! – a Lo se intromete. – E como a Annie não gosta da Ellie ela fez eles ficarem juntos porque ele, na verdade, é um porquinho!

– Fez eles ficarem juntos? – ela avança na minha direção.

– Não foi isso que eu quis dizer... – a Lo tenta concertar.

– Eu fiz sim – digo. – Eu que fiz eles ficarem juntos, mas eu pensava que você já tinha superado essa queda maligna que você tinha pelo meu irmão e, fala sério, ele morre de medo de você! De vocês duas, aliás... Ele tem medo de todo mundo que anda comigo, desconfio que tem medo até da Ellie, mas...

Paro de falar, ela começou a chorar, ah, não, Kat, não chore na minha frente!

– Não chora! – murmuro.

– Mas é que... – ela funga. – Nessa confusão toda acabei quebrando minha unha – ela mostra a unha do indicador, está menos que as outras, mas não foi grande coisa.

– Fez esse drama por causa de uma unha? Katlyn Garcia, você vai se ver comigo! – a Lo diz.

– Me dá um tempo, acabei de descobrir que a paixão da minha vida está comprometida – ela cruza os braços, mesmo dizendo isso, ela sorri.

– Você nem gostava dele de verdade, sua mocréia! – bato de leve na cabeça dela.

– Gostava sim! Mas eu pensava que ele nunca sairia com alguém tão mais nova que ele... – ele murmura.

– Mas ele saiu – a Loiza começa a rir. Ih, levou um peteleco na testa – Ai!

– Bem feito! – digo – Pra parar de ser maldosa!

– Mas pelo menos eu disso de quem eu gosto – a Kat cruza os braços e vira de costas.

– Como assim? – perguntamos quase ao mesmo tempo.

– Pelo menos eu tive coragem de dizer pra vocês duas que eu gostava dele – ela vira, diz isso e depois vira de novo.

– Ainda não entendi – coço a cabeça. Ela se vira de novo.

– A Loiza não me diz que gosta do Matheus, mesmo estando na cara que sim! – ela fala e a Loiza quase põe os bofes pra fora. – E você, Mei! Não me diz que gosta do Dennis, você pelo menos sabe disso?

– Sei do quê? – pergunto.

– Ah, deixa de ser lesada, mulher! – ela balança meus ombros. – Você gosta dele, ele gosta de você, e o que vem depois?

– É isso mesmo! – a Loiza cruza os braços e vira pra mim.

– É um interrogatório – fecho a cara. – Vocês não faziam isso antes!

– É porque você não tinha ninguém antes! – a Kat diz.

– E agora que tem nós ficamos preocupadas – a Loiza completa.

Isso foi tocante, minhas duas amigas que se mandaram pro exterior por meio ano voltam e me enchem de amor, vou ficar muito mimada desse jeito!

– Vai estudar na turma B agora? – o Dennis chega, me irritando.

– Ah, é... O sinal tocou faz tempo, né? – Loiza olha o relógio.

– Quê? – como pode? Fique todo esse tempo sendo amada que não percebi o tempo passar, e nem ouvi o sinal tocar!

Corro pra sala de aula e dou de cara com o professor de inglês.

– A Anna chegando atrasada? – Lianna diz, rindo um pouco.

– Desculpa! – digo, é a primeira vez que me atraso depois da hora do intervalo, e eu costumava dizer que só acontecia isso com os idiotas.

– Ah, o CJ e o Matheus também chegaram atrasados – ela murmura.

Viu? Só idiotas! O CJ disse que estava recolhendo uma montanha de latinhas vazias que estavam estranhamente empilhadas e ele deixou cair enquanto passava, já o Matheus está com a boca toda lambuzada de chocolate, então ele não precisou inventar desculpas.

– Vocês são ótimos alunos – até um surdo-mudo perceberia o sarcasmo vindo do professor. – Vou ter que dar uma advertência, vão ficar até as quatro da tarde na escola, prestando serviços.

– Quê? – gritamos.

– Isso é totalmente injusto! – o CJ fala. – Tipo, eu estava ocupado com coisas da escola, se quiser posso chamar o supervisor pra avisar o senhor que eu estava mesmo ajudando ele!

O CJ falando assim parece bem sério... Ele quer mesmo impressionar a Lianna, puxa vida, isso é que é vontade de morrer.

– Então tá – o professor suspira. – Vou conversar com o supervisor, se ele confirmar, está liberado, mas a senhorita Anna e o senhor Matheus aqui vão ficar depois da aula, por estarem tirando a barriga da miséria e fofocando na sala vizinha.

Esse professor é muito assustador quando quer. E até quando não quer. Lo, me ajuda!

*

A aula acabou, mas eu não posso ir pra casa, quero chorar, mamãe, quero chorar até meu olhos virarem docinho!

– Mei! – Kat e Lo chegam na porta da classe – Vamos pra casa?

– Não posso! – choramingo. – Fiquei de detenção por ficar fofocando na sala vizinha!

– E o que esses dois estão fazendo aqui? – Loiza aponta pro Matheus. – Ah, oi guri. – ela fala com o CJ, que parece nervoso.

– Hãn, detenção? – escuto a voz do Dennis do lado de fora da sala. – Ficou de detenção, Anna?

– Fiquei – solto um muxoxo e me deixo cair em cima da mesa.

– Ah, mas o CJ vai junto, não é? – ele diz, alto, quando o professor surge trazendo o supervisor, que na verdade é só o porteiro, apesar de ser chamado de “supervisor”, acho que é porque parece ser mais chique.

– É esse garoto mesmo – ele fala, como aqueles idosos sem dentes de filmes, o estranho é que ele tem todos os dentes. – Ele foi gentil e me ajudou a recolher.

– Está liberado – quando ouve isso há várias reações na sala, CJ levanta e sai, vitorioso, Matheus se alegra de repente, Dennis emudece, Loiza fica pálida, Katlyn pega outro Danoninho da mochila... – Vocês dois! Venham comigo!

– Professor! – o Dennis chama – O que é preciso fazer pra entrar na detenção?

– Infringir alguma regra da escola é óbvio – ele murmura, sem vontade, é... parece que nosso professor aqui levou um fora.

– Bater em um professor é infringir as regras? – ele perguntam animado.

– Sim, mas o que você está pensando em... – Dennis dá um peteleco de leve na testa do professor, que emudece e se enfurece.

– Posso ir pra detenção agora?

O professor olha com um olhar que gelou meus ossos...

– Desculpa! – o Dennis sai correndo.

– Que mané... – Loiza fala. – Annie, nós vamos na frente, qualquer coisa, à noite a gente aparece na sua casa.

– Tá... – murmuro, estou prestes a ficar de detenção pela primeira vez na vida... E com o Matheus.

Ele nos leva até o laboratório de ciências – bem clichê isso, queria que fosse a cantina, pra poder comer à vontade.

– Vocês só vão ter que limpar a bagunça que as turmas do terceiro ano fizeram, eles dissecaram uma rã e foi uma loucura – ele diz.

– Você não é o professor de inglês? – o Matheus pergunta.

– Sou sim.

– Então porque nos trouxe pra sala de ciências enquanto poderia ter mandado a gente fazer algo mais a ver com a sua matéria... Foi metade da sua aula que perdemos, e não a de ciências – ele fala, sério.

Se eu fosse ele, não falaria mais nada.

– Fiquem quietos e limpem isso logo, seus pestinhas! – ele fecha a porta.

Corro e tento abrir.

– O que foi, Anninha?

Suspiro, está aberta. Ele não os trancou.

– Pensei que seria como nos filmes, ficar trancada num laboratório não é uma coisa que eu queira... – suspiro.

Ele sorri, parece atordoado.

– E então, o que você estava fazendo pra vir pra detenção? – ele murmura, parece aqueles começos de conversa de filmes americanos... “Você sempre vem aqui no laboratório, limpar os restos mortais de um pobre anfíbio?


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Notas finais do capítulo

Bom, só um aviso, faltam dez dias pra fanfic acabar (tipo, acaba no dia 18 aí, pensei que seria mais fácil do que falar quantos capítulos faltam, já que nem eu sei) prometo que os outro vão ser mais engraçados, esse foi uma negação, foi mal mesmo.
Beijo da tia Ho! ^^



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