O Diário Secreto de Anna Mei escrita por Fane


Capítulo 35
Agente D e a Garota Beterraba


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem... ^^
(Não tenho nada pra falar, os capítulos estão ficando cada vez mais fofinhos)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/512527/chapter/35

– Por que está aqui? – Dennis apareceu de surpresa na minha casa. Está sério e parece que vai espancar o primeiro que aparecer na sua frente, no caso, eu.

– O que está acontecendo? – ele não espera eu o mandar entrar (até porque eu não o faria) e vai logo entrando.

– Eu é que pergunto? Pode invadir a casa dos outros só porque é rico? – falo e ele abaixa os olhos.

– Então é isso... – ele arqueia uma sobrancelha.

– Isso o quê? – mordo os lábios. Por que essa droga de boca tem que falar o que não é pra ser dito em voz alta?

– Está me evitando porque não somos da mesma classe social. – ele me olha.

– Isso foi uma pergunta? – não era isso que eu ia falar! Por favor, alguém me chuta pra longe!

– Não, – ele senta no sofá. – Eu até entendo que não goste da agitação que é minha vida, sabe, mas não é motivo para não sermos amigos.

Amigos. Vá para debaixo de uma égua com essa palavra! Seu filhote de cruz credo!

Bufo, não me controlo e bufo bem alto.

Pra quê me controlar? Esse cara trabalha da máfia e veio me infernizar porque eu sou a favor da paz no mundo das borboletas!

Por favor, alguém chuta ele pra longe!

– Vá pra casa e tome bastante leite com Nescau... – falo, empurrando ele pra porta.

– Mas, eu...

– Não estou te evitando, amiguinho... – digo. – Mas quero que você se engasgue bebendo leite. Quero que você tope numa pedra bem dura e arranque um pedaço do seu dedo. Que o caminhão passe em cima de uma poça que você tanto ama e molhe sua calça. E quando você passa numa rua com crianças e elas verem sua calça molhada, que elas riem bem muito de você. Agora vá, e não olhe para trás.

– Espera! – ele se desvencilha antes que eu abra a porta. – Não está me evitando? Podemos voltar a ser como antes?

Ah, minha doce proposta... “Sermos amigos comuns” foi o que eu disse. Tenho vontade de criar uma máquina do tempo e jogar ácido muriático na minha “eu” do passado. Ou talvez não... Pois as consequências iriam todas para a “eu” do futuro, no caso, eu.

– Amigos, amigos... Amigos... Bom, quer um amigo? Fale com o Gabriel, ele é uma boa pessoa, te dará bons conselhos e, quem sabe, te amará para sempre, amor fraternal é tudo! – pulo – Por que as pessoas insistem em me quererem como amiga, eu sou um troço de gente, não dou bons conselhos, não sei escutar, não sei pedir conselhos, resumindo, sou uma péssima amiga, por que?

– Você é legal, gentil, fofa, sincera, criativa e tudo mais... – ele diz. Quê? O quê?

– O que foi isso? – digo depois de um tempo. – Foi muito de repente.

Ele fica muito vermelho. Cora até o fio de cabelo.

– Hãn? Eu falei qualidades da minha amiga... – ele diz e eu fecho a cara. – Tá bom, não é amiga... Melhor amiga seria o termo correto? Ah, sabia! Não fica consente em ser apenas amiga, certo?

– Fala mais alguma coisa e eu te mando pra Júpiter! – falo, e ele abre a porta. Ah, vai pra casa, finalmente.

Sério, se eu tivesse uma casa do tamanho da casa do Dennis, eu não saía de lá nunca!

– Então até amanhã, melhor amiga! – ele sorri, se abaixando até ficar da minha altura e toca os meus lábios com os dele.

Bato a porta na cara dele.

Céus! Estou hiperventilando!

Sério que esse “beijo” durou meio segundo, mas ainda sim. Ainda sim. AINDA SIM! Considero isso um beijo!

Meu rosto deve estar muito vermelho. Devo estar como um tomate maduro.

Ai, eu só quero ir pro posto de gasolina Ipiranga e dançar Racatanga pra todos verem!

*

Bom, já passa da meia noite, mas eu não consigo pregar os olhos. Minha vontade é de ir na casa do Dennis e estapeá-lo com muita força.

Qual é o problema desse cara? Ele é doido? Mascou fumo e saiu por aí cheirando o sovaco dos caras na academia de ginástica?

Uma coisa que eu não pensei na hora, mas que agora está me matando é: por que diabos ele me beijou se disse que somos “melhores amigos”.

Um cara desse deve ter sérios problemas com personalidade.

*

Acabei de acordar de um pesadelo. São... vejamos, três e vinte da manhã e Dennis me persegue até em sonhos.

O meu sonho foi assim, eu estava num quarto branco e de repente vejo uma mancha rosa desfocada, quando dá pra ver o que é, a mancha se vira pra mim.

É o Dennis, ou alguém muito parecido com ele, todo trabalhado na purpurina, com a maquiagem perfeita de um travesti, todo de colam rosa radioativo com presilhinha de borboleta pink no cabelo escuro.

E quando ele se vira, dá dois pulos (o salto alto rosa brilhante maior que a minha mão aberta), fica pulando, jogando purpurina pro alto e vomitando arco-íris e gritando que somos “melhores amigos para sempre”.

Ninguém na face da terra pode sonhar com isso. Sonhos como esses deviam ser proibidos por lei.

Terça-Feira/13 de Maio

Não quero ir pra aula... Mas claro que minha doce mãe não vai me deixar faltar... O que me resta é ir camuflada e me sentar com a Hanna (quando sento perto dela, Dennis não se aproxima, até porque se ele fizer isso ganha marcas de garras pintadas de vermelho-sangue na cara).

Quarta-Feira/14 de Maio

Dennis não me perturbou ontem, nem me perturbou hoje. Tem alguma coisa errada, muito errada.

Talvez eu finalmente vá no posto Ipiranga... Preciso arrumar um passatempo, sou a única desocupada.

Quinta-Feira/15 de Maio

Arrumei um passatempo legal. Passei a espionar meus vizinhos. A vizinha o lado é uma velha gorda que se chama Serafina, ela tem um poodle toy que sempre fica do sutiã dela quando ela o leva pra passear. É uma coisa horrenda de se ver.

No outro lado tem o Geraldo. Um desempregado que vive de bicos, na verdade a ex-mulher dele era rica, quando ela morreu ele ficou com a grana. Geraldo deu o golpe do baú na pobre moça. Isso parece até coisa de novela da globo.

Na frente da minha casa mora um velho que toca acordeão, o nome dele é Adolfo, e todo dia ele vai na casa da namorada, a Dona Ramona, uma velhinha que mora noutro quarteirão. Ah, o amor entre idosos ♥.

Do lado da casa do seu Adolfo mora a Cátia e o Zé Ribeira, eles tem cinco filhos, todos meninos, e um é mais barulhento que o outro. Rafael, Leonardo, Pedro, Carlos e Zé Júnior. Tenho pena desse último.

Do lado da casa deles mora uma tia solteirona que dá pra sentir o cheiro de ração pra gato da esquina.

Viu... Quando quero, investigo muito bem a vida das pessoas.

Credo, eu tô pior que as tias fofoqueiras da rua.

Sábado/17 de Maio

E quando eu finalmente arrumo um passatempo – que é espionar meus vizinhos... Descobri que o Seu Adolfo e a Dona Ramona fazem cinco meses de namoro hoje, eles foram pra um jantar romântico e depois vão se acabar no forró da terceira idade. Mas enfim... – basta eu arranjar um passatempo legal e alguém vem destruir minha alegria. E quem pode ser?

Dennis.

– Vamos sair hoje, comemorar hoje, e você não pode dizer não. – ele invade a minha casa. Por que não tem ninguém aqui? Por favor, alguém interrompa esses dois adolescentes na flor da idade, exalando hormônios por onde passam!

Ninguém vem.

– Vista isso. – ele empurra um vestido azul pra cima de mim.

– Não vou vestir! – digo, mas acho o vestido tão lindo que pego mesmo assim.

– Vou esperar você se arrumar.

Pego o vestido e voo escada acima. É tão lindo, na altura dos joelhos, azul bebê e tem vários babadinhos... E é feito com tecido de última linha. Visto rapidamente e... não combinou nada comigo. Primeiro, ficou parecendo um saco, não dizendo que sou magra demais, pelo contrario, parece que os doces que eu comi durante quatorze anos fizerem o efeito esperado, segundo, meu cabelo tá tão armado, que se eu plantasse bananeira, Harry Potter surgiria do nada e me confundiria com sua firebolt.

Tá bom, chega de besteiras e vamos consertar esse cabelo. Entro no banheiro e vejo três opções: o chuveiro, que respinga água pra todo lado e não tem como evitar, o chuveirinho perto da privada, dá pra controlar e é perfeito e a pia, fora de cogitação.

O que escolher?

Quem disse chuveiro levanta a mão e vai pra casa, porque, é óbvio, né? Já que estamos falando de mim, seria um erro se eu não desse uma de retardada e escolhesse o chuveirinho sensatamente.

Tipo, na hora pareceu ótimo, muito mais rápido e prático que o chuveirinho, então coloco a cabeça lá e o jato de água quase me degola e quando eu acabo o serviço, tenho até o cuidado de enrolar uma toalha nos cabelos pra não me molhar, bom... mas era tarde demais, aquele lindo vestidinho azul já estava colado em mim... Tipo, quase literalmente.

Qual é! Por que isso tinha que acontecer?

Corro pra perto do guarda-roupa e pego a primeira roupa que alcanço, me seco, me visto, e ajeito os cabelos sem nem me olhar no espelho, desço as escadas e apareço na frente do Dennis, que está olhando os porta-retratos na estante.

– Já podemos ir... – digo, atraindo a sua atenção toda pra mim.

– Então tá... – ele me olha e depois grita. – Cadê o vestido que eu te dei?

– Eu fiquei parecendo um palmito embrulhado pra presente, então achei melhor não ir com ele.

– Não gosta de parecer um palmito, mas acha ótimo fazer cosplay de beterraba, é isso?

Quê? Olho minhas roupas, vejo uma camisa verde vômito terrível e um calção roxo broxante. De onde eu tirei esses trapos?

Eu posso não entender muito de moda, mas sei dizer que se vestir de berinjela não é a nova tendência do momento?

– Não tô nem aí! – digo. – Tá achando ruim? Vá pra casa e beije uma beterraba, seu idiota!

– Então, tá, né... – ele põe as mãos nos bolsos, ficando sério. – Vamos, antes que eu me arrependa.

O que ele está pensando?

Cadê o carro imenso que eu pensei que estaria aqui? A casa dele não é tão perto! Aonde vamos? Ah, isso vai fazer minha cabeça pirar ainda mais!

– Por que sua cara tá vermelha? – ele pergunta, se segurando pra não rir.

Isso me lembra muita coisa.

– Por nada... – eu estou tremendo. O que significa isso? Foi pifar de novo, no meio na rua? Tô pifando mais que bateria de carrinho de controle remoto.

Então não sei o que acontece, o caso é que começa a chover.

Chuva? Em um dia ensolarado? Dennis! Por que você não está molhado, meu filho?

Ah, foi só o irrigador do jardim de alguém que eu acabei invadindo.

O que fazer se eu tenho tanta sorte?

– Só você mesmo, Anna! – Dennis termina mais uma sessão de gargalhadas pra poder começar outra.

Eu quero que alguém peide na cara dele.

*

– Que ideia é essa? Cadê a Hanna? Cadê a Lynn? Onde é que tá o povo dessa casa?

O negócio é o seguinte, depois que o senhor Sakai terminou de rir do fantástico show da Garota-Beterraba sendo irrigada, ele ligou pro Ceddie, que veio do nada e nos fez entrar naquele carro preto super suspeito. Sinto cada vez mais que a família Sakai está toda envolvida com a Máfia. Será que Dennis é o agente “D” dos Homens de Preto?

E quando chegamos, uma pessoa vinda das profundezas tirou minha roupa molhada e me vestiu com uma camisola roxa, mais broxante que o meu calção.

E agora estou gritando, enquanto ele joga e se recusa a me deixar jogar também.

– Perguntei que ideia é essa! – repito. – Por que não tem ninguém aqui e por que me vestiram com essa camisola horrível?

– Você fica bem de roxo – ele diz, tipo, do nada. – Senta aí.

Ele me dá o controle e fica me olhando jogar.

– Não é assim! Tem que apertar primeiro o botão da esquerda, e depois o da direita... – ele explica. – Ah, vá! Olhe aqui!

Ele fala com tanta frieza que quase quebro o pescoço ao olhar pra ele.

E ele me beija.

Mas não foi como o do dia em que eu fiquei doente, ou o “encostamento de lábios por meio segundo na porta da frente”, esse demorou muito mais que meio segundo.

O quê? Você que não gosta de mim! Por que está fazendo isso?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Diário Secreto de Anna Mei" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.