Sábado/1º De Março

Passei a semana inteira tentando achar um jeito de descobrir se aquela frase foi ou não realmente dita por Dennis, eu e Hanna estamos muito próximas e ela me ajudou em algumas coisas, Dennis está agindo meio esquisito, mas eu não tenho tempo pra isso, não até eu fazer algumas descobertas, além do mais, Hanna me disse que, se eu ouvi bem, Dennis disse que também gostava de mim e se ele disse o “também” eu devo ter digo algo enquanto dormia, que eu não lembro, por causa disso que ele estava num canto encolhido quando acordei pela primeira vez. Eu não entendi muito bem, mas ela explicou muitas vezes que comecei a entender.

Decidi ficar uns tempos fora do apartamento de Beatrice, já que Dennis praticamente mora lá não posso arriscar vê-lo de jeito nenhum!

Acho que de tanto me esforçar pra entender essas coisas estou ficando doente, quando acordei senti uma tontura, mas agora está pior, minha cabeça lateja e acho que não vou conseguir me levantar tão cedo.

– Mei, visita! – minha mãe grita do térreo. Ah, só pode ser a Hanna, quem mais vai aparecer num sábado de manhã pra me perturbar? Como estou com a minha pior roupa, visto uma ao menos decente e desço as escadas ignorando minha dor de cabeça, a cada degrau sinto uma pontada nas têmporas, ah essa vai ser uma longa manhã.

– Hanna? – sussurro.

– Oi, Anna – abro os olhos de repente, não é a loira que eu vejo, é o primo dela. Ah, ótimo... Estou morrendo de vergonha porque, provavelmente, eu disse que gostava dele enquanto dormia... Sério, quero morrer.

– O que faz aqui? – me esforço o máximo para franzir a testa, mas o máximo que consigo é fazer uma careta, ao menos mostra que eu não gostei da presença dele aqui.

– Quanta animação, o que ouve?

– Nada... – falo, – Tô com sono...

– Ah – por favor, diga que volta depois, ou que vai embora, estou prestes a pifar de novo.

– Você tá bem? Parece zonza?

Balanço a cabeça e subo as escadas, minha cabeça está quase explodindo... Mas eu vou aguentar, depois que Dennis sair é só eu tomar um remédio qualquer e pronto, fico novinha em folha.

– Por que está aqui? – falo, sentando na minha cama, quero que ele saia logo para que eu possa dormir.

– É que, você e Hanna estão muito unidas, sabe... – ele coça a cabeça – e você precisa saber que não é seguro ficar tão perto dela.

– Seguro é não ficar perto de você – murmuro.

– Que seja, eu só vim porque...– eu quero tanto que ele saia que interrompo suas palavras narcisistas.

– Eu quero que você saia logo daqui! – digo, se eu gritasse minha cabeça doeria mais, então apenas falo – Eu quero dormir e não quero que você fique aqui pra escutar o que eu falo quando durmo! – ele abre bem os olhos, assustado.

– O quê...

– O que você me ouviu dizer quando eu estava doente? O que eu disse enquanto dormia?

Ele parece atordoado com as minhas perguntas, minha cabeça está latejando ainda mais.

– Você disse, na verdade – sei que ele está preste a desviar a história, eu só quero saber a verdade antes de pifar...

– Fale a verdade – olho pra ele, nos olhos.

– Você disse que, gostava de mim – ele fala, me olhando seriamente.

Tudo bem, eu desconfiei – nota: Hanna desconfiou – que seria isso, mas agora eu tenho que ira adiante, nem que eu pife no meio do caminho.

– Eu estava acordada – falo, ele parece surpreso.

– Acordada?

– Sim, quando disse... – não consigo terminar de falar, minhas pálpebras estão pesadas.

– Disse...? – ele parece não lembrar, mas de repente arregala os olhos de uma vez – Ah! Não! Quero dizer...

– Cala a boca – falo, tentando sorrir – idiota...

Ele dá um sorriso, mas ao que parece não foi sincero, tem alguma coisa errada, talvez eu deva comprovar o que foi dito... Talvez... Eu deva...

Eu apenas disse que gostava dele, e foi enquanto dormia! Não pode ser verdade, as pessoas só falam a verdade quando estão bêbadas! Será que elas falam a verdade dormindo? Droga, porque eu fui dizer aquilo? Bom, ele pode me xingar, mas não custa tentar, se ele vier tirar satisfação comigo depois é só eu dizer que não me lembro de nada... Tenho que fazer isso logo, antes do meu cérebro sair pelo ouvido.

Mas, ele está se aproximando... Ele está muito perto! Saia daqui seu aproveitador de criancinhas! – meu rosto está esquentando, ah, esqueci que estou doente, pode esquentar, rostinho! Bom, em toda história tem que ter aquele beijo em que a garota fica com os olhos arregalados, certo? – Errado, não consegui arregalar tanto os olhos.

– POR QUE FEZ ISSO?! – grito, nossa! Despertei muito rápido.

– Você... – ele está vermelho, e, delicadamente, de uma forma que nunca poderia imaginar já que Dennis Sakai não é nada delicado, enfim, ele passa a mão no meu rosto, enquanto faz uma careta, ah, qual é! Se eu usasse os produtos Ivone minha pele seria bem mais macia! – Você está queimando!

– Queimando? – o que isso quer dizer?

– Está com muita febre! – ele parece bem preocupado, ah, pare com isso, ele acabou de te beijar Anna Mei, não pode estar tão preocupado com você, só está preocupado em poder pegar sua doença.

Ela coloca a mão na minha testa, eu me lembro de quando fazíamos isso de brincadeira mesmo.

– Não é a mesma temperatura das outras Annas? – pergunto, rindo da piada horrível.

– Não posso ter certeza – ele ri – Só chequei a temperatura de uma Anna na vida toda.

Franzo o cenho, minha cabeça dói mais ainda... Porque ele não me beija de novo e me faz despertar com o susto?

– Tenho que avisar pra sua mãe, fique aqui – ah, eu não vou receber ordens dele... Principalmente porque não quero preocupar ninguém!

Saio do quarto, me sentindo um zumbi (mas isso é normal pra mim), minha cabeça está prestes a explodir, me sinto um granada... Bom, e minha visão está embaçada... Agora pense um pouco, visão embaçada, balançando de um lado para o outro enquanto desce uma escada... Não pode resultar em coisa boa.

Desço as escadas bem devagar, cada degrau é torturante, descer é muito pior que subir, é muito pior! Agora meus olhos estão ardendo, ah! Vejo que Dennis está falando alguma coisa com minha mãe, se apresse Anna Mei, dê o seu melhor sorriso e diga que está bem e você ganha um doce!

Estou quase acabando de descer os degraus, estou no penúltimo quando piso errado e escorrego... Gente que terrível, eu sempre caio, mas essa foi a primeira vez que me machuquei assim. Sinto o impacto no chão e acho que bato a cabeça porque dói muito mais que antes... Depois disso eu não sinto mais nada. Só sei que caí e pronto... Ah, acho que vou pifar! Além de tudo não consigo ver mais nada... Só falta mesmo eu ter ficado cega...? Ando caindo por aí mesmo com a visão perfeita, cega eu fico pior! Bom, só o que me resta é dormir, eu vou acordar um dia – que dramático – então... Que eu sonhe com cogumelos cor de rosa com gosto de marshmallow.