P.O.V Thalia

O ar é essencial para qualquer ser humano. Mas ele tem uma mania irritante de faltar em momentos inoportunos. Foi assim que acabou o quinto ou sexto beijo, já não tinha mente para contar. Estava prensada na parede por um predador di Angelo, enquanto minhas pernas estavam entrelaçadas na sua cintura. Já tínhamos passado pela mesa, pela bancada e, até mesmo, pelo chão, mas parecíamos dois Indiana Jones explorando cada centímetro da cozinha. A mão do predador já estava dentro da “minha” camisa há tempos, já deslizando para dentro da “calcinha”, e esse era o momento de parar. Por ora, pelo menos. Mordi seu lábio inferior com um pouco mais de força, fazendo com que ele olhasse sem entender para mim.

– O que foi? – Ele pergunta. Seco e ofegante.

– Por ora, não vamos nos descontrolar, Nico – Falo, me soltando da sua cintura – Me lembrei que estou sem roupas aqui. – Quando chego no chão, dou um rápido selinho nele.

– Então você quer passar em casa? – Ele pergunta. Me lembro que deixei algumas roupas na cassa da Vaca.

– Você não acha que seria, no mínimo, estranho e constrangedor chegar em casa assim? – Ele dá de ombros.

– Parece ser a única opção. – Ponho o dedo no seu peito.

– Na verdade não. – Me afasto dele e vou até meu celular – Você não contava com minha astúcia. Deixei algumas roupas na casa da Annabeth. – Já disco o seu número – Acho que ela poderia deixar aqui.

– É, né... – Ele olha pro relógio da cozinha – Ainda são 2 e meia. Pede pra ela vir pra cá com o Percy. – Concordo com a cabeça, e a Vaca atende. Normalmente, ela atenderia com sua doce voz. Mas ela resolveu gritar, perguntando onde eu estava.

– Calma, vaquinha... estou na casa do Nico. É, Nico di Angelo. Sim, vim com ele depois da festa. O que nós fizemos? Não te interessa, vaca. Enfim, antes que me metralhe com perguntas, quero que você venha pra cá o mais rápido que você poder com o Percy. E o mais importante: Traga. Minhas. Roupas. Entendeu? Tá, tá, depois conversamos sobre isso, tem um moreno gostoso me encarando. Tchau – Nico, que estava alheio ao tempo, voltou sua atenção para mim.

– Hein?

– Nada, Nico. Enfim, eles virão o mais rápido que puderem, então não demorarão muito. O que fazemos enquanto eles não chegam?

– Sei lá... jogamos baralho? – Sorrio e balanço negativamente a cabeça.

– Idiota. – Então voltamos a nos beijar.

P.O.V Nico

Não demoramos muito tempo dessa vez, porque a campainha tocou. Vi no relógio: 3 horas. Pois é, esse pouco tempo foi meia hora. Pedi para a Thalia ir atender, enquanto eu trocava de roupa. Ou melhor, colocava uma camisa. Escolhi outra do Real Madrid, do galês e futuro melhor jogador do mundo Gareth Bale. Desci à tempo de ver Annabeth puxando Thalia para algum canto da casa e Percy me olhando com malícia.

– Tá me olhando com essa cara de rapariga por quê? – Ele olhou para trás, certificando-se que as meninas não estejam ouvindo.

– Nada mal, cara. – E bateu palmas. Sorri de lado.

– Vai se lascar, Percy. Mas e aí, trouxe as roupas dela?

– Sim, e de brinde, uma Annabeth que quer falar com vocês dois. Ela já deve voltar aqui em 3... 2... 1...

– EU FALEEEEEEEEEEEEI! – Uma Annabeth selvagem e gritante aparece de volta na sala, trazendo com ela, uma pobre Thalia. Percy já cobre a boca com a mão, para não explodir em risos. Ele me olha com uma expressão de “Eu avisei”. Mudo meu olhar para Annabeth.

– TÁ ME OLHANDO COM ESSA CARA DE RAPARIGA POR QUÊ? – Volto o olhar para Percy, tentando dizer mentalmente “Com certeza ela é sua namorada”. Ele parece que captou a mensagem. – EU FALEI, NÃO FOI, THALIA GRACE? – Thalia fazia uma cara de tédio.

– Tanto faz – Ela fala, revirando os olhos.

– Avisou o quê, Annie? – Pergunto. Percy mantinha sua postura, apenas acompanhando a cena.

– Thalia, diga à ele o que eu te disse ontem. – Annabeth cruza os braços e fica olhando para o teto, esperando a resposta.

Thalia sussurra algo como “Comeria manga com uma pedra de gelo”.

– Não entendemos, Thalia, fale mais alto. – Thalia bufa e revira os olhos.

– Você disse que eu acordaria numa cama com o di Angelo.

Admito que fiquei impressionado com o dom de profecias de Annabeth. Realmente, ninguém imaginaria que eu acabaria nessa cena com a Thalia. Até eu descobrir que estou apaixonado por ela. Observando a cena rapidamente, Thalia estava corada, praguejando algo para Annabeth. A mesma não dava atenção à Thalia, se concentrando apenas na sua dança de vitória. Percy se encontrava sentado num dos sofás, rolando de rir. A situação ficou por isso mais uns instantes, até que Thalia quebrou o ritmo:

– Tá, mas pode me dar minhas roupas? – Annie, então, entrega uma mochila à Thalia. Percy para de rir e fala:

– Cara, trouxe o filme “Vizinhos” num pen-drive. É de comédia.

– É aquele com o gato Zac Efron? – Annabeth pergunta, enquanto Thalia sobe as escadas. Percy bufa e fala.

– É, é o filme com o Zac Efron. – Annabeth comemora, e Percy faz uma cara de reprovação, me encarando.

– É sua namorada, cara. Se vira. – Digo, dando de ombros.

– Não, quero saber se vocês querem assistir. A Thalia se ausentou. Meu voto, agora, é não – Annabeth ia protestar, mas ele continua - o da Annabeth, pelo visto, é sim. Você está com o voto de Minerva.

– Provavelmente, a Thalia também vai ficar com frescura por causa do Zac. Então meu voto é não.

Percy soca o ar em comemoração. Annabeth ia protestar, mas, dessa vez, Thalia, surgindo do primeiro andar, atrapalha:

– Nico, você tem Livrai-nos do mal? Aquele terror?

– Tenho sim. E vamos assistir ele. Todos de acordo? – Thalia e Percy concordaram com a cabeça. Annabeth, novamente, ia protestar, mas, dessa vez, eu atrapalho – Então fiquem aí, vou pegar o notebook.

Enquanto subia as escadas, pude ouvir os gritos de protesto de Annabeth, e Percy se queixando de uma suposta “queda” da Annabeth por Zac. Eu e Thalia nos cruzamos no caminho, o que me dá a oportunidade de dar um rápido beijo nela. Nos separamos e eu continuo meu caminho. Antes de levar o notebook, ligo-o e checo sua bateria. Por sorte, estava cheia. Daria e sobraria muito. Levo-o, junto com um cabo HDMI para a sala. Chegando lá, vejo que Percy e Annabeth estão sentados no sofá lateral, emburrados, e sem se falarem. Thalia estava sentada no sofá frontal. Coloquei o notebook numa bancada próxima a televisão e conectei o cabo. Antes de dar o play no filme, percebo que não havia pipoca feita.

– Esquecemos da pipoca. Vou fazer e já volto.

Vou em direção à cozinha. Chegando lá, pego dois pacotes de pipoca de micro-ondas, uma de chocolate e uma de manteiga. Abro o micro-ondas e coloco logo a de chocolate. Marco 3 minutos e me escoro na mesa, esperando. Quando o display chegou a um minuto e pouco, Thalia aparece na cozinha. Percebo que ela havia posto um short branco, mas continuava com a mesma camisa do Muse. Minha, por sinal.

– Colocou uma calcinha, Thalia? – Ela dá um soco um pouco forte demais no meu abdômen, fazendo com que eu me curvasse para frente. Ela aponta o dedo para o meu rosto e fala:

– Isso não é pergunta que se faça, Nico. – Então, ainda na sua expressão de seriedade, ela coloca a mão na minha nuca, aproveitando minha curvatura, e me beija. Ficamos assim até o micro-ondas apitar.

– Thalia, por favor, vá colocando a outra pipoca, enquanto derramo essa no balde. – E assim fazemos, voltando ao beijo enquanto a outra pipoca não ficava pronta. Pude sentir o seu cheiro. Ela não usava perfume, mas mesmo assim, cheirava muito bem. Um cheiro que não me lembrava nada mais, mas que me trazia uma paz inabalável. Cheiro de... Thalia Grace. Ao sinal do micro-ondas, tiro a embalagem e derramo seu conteúdo em outro balde. Entrego esse à ela e levo o outro para a sala. Chegando lá, percebo que o casal 100 ainda está emburrado. Thalia se senta no sofá vazio e joga uma almofada em Percy.

– Own que bonitinho com ciúme, não é, Nico? – Rio alto, e ele nos encara com um olhar mortal. Então, dou play no filme e sento ao lado da Thalia, que, instantaneamente, se aconchega em mim, me dando mais uma oportunidade de sentir seu cheiro viciante. Na primeira cena de medo do filme, Annabeth se jogou em Percy. E com 20 minutos de filme, eles já estavam se beijando. Eu e Thalia ríamos da situação e curtíamos o filme. Ocasionalmente, nos beijávamos. Nossa atenção estava, realmente, focada no filme, porque tanto eu, como ela, gostamos de terror, e é um ótimo filme. Quando o filme acabou, Percy e Annabeth falaram juntos:

– Não entendi nada. – Eu e Thalia nos olhamos, e ela falou:

– Era de se esperar, casal 100. – E jogou outra almofada nos dois. E assim começou uma pequena guerra de almofadas.

Eram 6 e 10 e Annabeth e Percy iriam embora.

– Temos que ir. Tínhamos combinado de jantar hoje, e ainda pretendemos continuar com o plano. Obrigado pela tarde, cara. – Percy fala, estendendo a mão para mim. Aperto sem hesitar. – E você, Thalia, bote juízo nele.

– Ou melhor: Juízo pros dois. – Annabeth intervém – Até mais. – Ela dá um rápido abraço em nós dois, e o casal 100 sai em direção ao carro do Percy.

– Nico, tem um parque de diversões aqui perto. O que acha de irmos lá?

– Pode ser. Mas depois? Temos o resto da noite apenas para nós? – Falo, me aproximando dela. Esperava uma resposta, mas ela resolveu me beijar. Quando nos separamos, ofegantes, ela responde:

– Hoje não, Don Juan. Tenho que dormir em casa.