Zona B escrita por Bry Inside the Box


Capítulo 3
Capítulo Especial: A Aposta


Notas iniciais do capítulo

Bem, como dito nas notas abaixo do índice, eu irei postar às quartas e sextas. Esses dias são bons para mim e com dois capítulos por semana eu posso adiantar outros e melhorá-los. Boa leitura ^^!



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Eram quase doze horas, ela geralmente almoçava as doze. Foi até o banheiro, escovou os dentes e lavou o rosto. Despediu-se da mãe com um beijo no rosto e do pai com um breve aceno rápido. Escovou o cabelo, calçou os sapatos, ajeitou a blusa e começou a andar em direção à casa de Charmin.

Fazia alguns meses que tinha se tornado amigo da menina. Conheceu-a na feira, quando trombou com ela e acabou derrubando todas as maçãs da mesma. Então recompensou pagando alguns pêssegos e soube que iria querer trombar com a menina pelo resto de sua vida. Semanas depois do acontecido na feira, foi até sua casa e conheceu seu irmão mais velho, Collin, que no início pareceu odiá-lo por estar mexendo com sua irmãzinha, mas percebeu o quão bom o garoto era e permitiu que a amizade continuasse.

Parou em frente ao portão enferrujado e bateu algumas palmas. Minutos depois, ouviu os passos agudos e rápidos de Charmin. Provavelmente estava indo de uma direção para a outra nas pontas dos pés, completamente perdida e bagunçada.

Mas quem atendeu foi Collin, o mesmo com algumas apostilas embaixo do braço que provavelmente eram de alguma prova difícil que se é obrigado a fazer no colegial. Ao olhar para baixo, estreitou os olhos e tirou a caneta que segurava entre os dentes.

– A Charmin está se arrumando. Nós vamos almoçar daqui a pouco, por que não entra?

– E-eu p-posso? – Perguntou com o rosto rubro de vergonha. Collin não era do tipo gentil.

– Claro! Entre, entre! – Sinalizou com o braço livre o interior da casa. – Eu vou guardar minhas coisas então pode, por favor, colocar os pratos na mesa?

– Hum... Tá. – Assentiu e então adentrou a casa.

Era menor que a sua, por mais incrível que parecesse. Havia um sofá simples e desgastado em um cômodo que poderia ser a sala e, para a direita, os dois quartos dos irmãos. Virou na direção oposta e entrou na cozinha. Sabia onde eram os pratos, Charmin havia feito frutas cortadas para ele várias vezes naquele lugar. Então foi até a prateleira e pegou três, depois os talheres e sentou em qualquer cadeira.

– James! – Gritou a voz fina, correndo para ele e o abraçando. – Oi! Collin te deixou mesmo entrar?

– Charmin. – Respondeu, correspondendo ao abraço. – Sim, ele deixou. Eu sabia que isso era feito seu. Seu irmão nunca me convidaria para entrar.

– Ele gosta de você. Eu te garanto. – Sentou ao seu lado, balançando as pernas. – Então, o que nós vamos fazer hoje?

– Eu pensei em irmos brincar de tira ao alvo lá perto da floresta. Achei umas latinhas de refrigerante que nós poderíamos usar. – Falou, virando-se para ela. – E também achei umas coisas da guerra muito legais perto da floresta.

– Legal! Isso vai ser legal. – Respondeu sorrindo. – Eu vou ali tirar o arroz e os legumes, já volto.

– Ok.

Ao levantar-se, James reparou nas roupas da garota. Charmin estava com os cabelos soltos, se espalhando como uma cascata negra pelas costas. Por mais incrível que estivesse achando, ela estava usando um vestido amarelo com algumas flores brancas na barra que ia até os joelhos. Os pés descalços, como sempre.

Achava incrível o equilibro emocional que Charmin possuía: conseguia ser uma menina extremamente séria quando queria, mas seus gestos e tons de voz eram tão infantis quanto bichos de pelúcia coloridos. Isso era demonstrado em seus passos leves e ao mesmo tempo ágeis que dava. A voz fina e sutil, mas controladora e ameaçadora. Era muita coisa pra uma menina de doze anos, James sabia, mas os acontecimentos levaram a isso.

Ao perceber que ela não conseguiria segurar as duas panelas, James levantou e foi até ela, ajudando com os legumes que por pouco não caíram sobre seus pés. Os dois se olharam e ela sorriu, balançando a cabeça em agradecimento. Então começou a palpitação. Droga.

Seguindo a garota, foi até a mesa e colocou os legumes ao lado do arroz, sentou-se novamente e esperou por Collin, que parecia estar conversando com mais alguém na porta.

– Quem é o cara que seu irmão está falando?

– Eu também não sei. Col diz ser um colega de classe que têm dúvidas com exatas, então ele vem pra cá tirar essas dúvidas com o mestre da matemática que meu irmão é. – Deu de ombros. – Eu já vi o cara uma vez, cabelos castanhos e pele meio bronzeada para um B. Ele fica dando umas tiradas no meu irmão de vez em quando, é engraçado.

– Sei.

Minutos após a conversa de Collin e o garoto, ouviu-se o som do portão sendo fechada e o mais velho adentrou na cozinha. Não havia mais apostilas entre os braços nem canetas entre os dentes, somente um Collin assobiando uma melodia de blues qualquer com as mãos dentro da bermuda.

– Desculpem minha demora, crianças, tinha um assunto importante para resolver. Mas então, vamos comer?

Os dois afirmaram ao mesmo tempo e Collin sentou de frente pros dois, observando cada movimento de ambos. Então James olhou para cima e viu o olhar de Collin sobre ele, como um caçador visando sua próxima presa.

– Então, James, os vegetais estão bons? – Perguntou. O mesmo sorriso que dera na porta. – Não sei se gosta do jeito que fazemos, mas... De qualquer forma, se não gostar...

– Não, não. Está ótimo. Lá em casa é difícil nós arranjarmos vegetais tão bons assim. – Respondeu com alguns brócolis na boca. – Eles estão muito bons mesmo.

E era difícil mesmo. A família de James era composta por ele e seus pais, ambos com trabalhos que poderiam pagar arroz e alguma espécie de farinha temperada que ele era obrigado a amar. Ir à casa de Charmin e conseguir comer algo que não fosse aquela estranha mistura era como uma entrada para o Céu sem nenhum questionamento e reclamação. Não que fosse lá só para comer, estava ali por Charmin e tinha a estranha sensação de que sempre seria esse o motivo.

Terminou de comer todas as cenouras, batatas e brócolis e comeu o resto do arroz. Novamente olhou para Collin e resolveu tentar sorrir para ele como agradecimento. O mais velho realmente o assustava, chegava a causar arrepios em seu corpo com olhares, mas sabia que era instinto de irmão. Não era fácil entregar alguém que ama para um garoto bobo de treze anos qualquer no estado em que o país estava. James com certeza faria o mesmo se fosse o irmão da heterocrômica.

– Que bom que gostou dos meus dons de cozinheiro. – Novamente sorriu Collin.

Após o almoço, James se despediu de Collin e levou Charmin até o lugar onde estavam as latinhas. Após uma longa caminhada os dois chegaram a um campo vazio e de terra seca, provavelmente local das guerras passadas. James foi até o monte de latinhas e enfileirou-as, depois riscou uma linha com o sapato numa distância de mais ou menos três metros.

– Não podemos ultrapassar essa linha aqui. – Apontou pra risca de terra e em seguida pras latinhas. – Quem acertar mais ganha.

– Eu já sei que vou ganhar. Você é péssimo com força à distância. – Falou a garota com voz desdenhosa para o loiro. – Não acerta as coisas direito.

– Eu sou mais velho! E menino. Eu sou mais forte que você, Charmin.

– Claro que não.

– Claro que sim. Quer apostar?

Charmin estreitou os olhos por alguns segundos e então tombou a cabeça para o lado. Não iria deixar que James ganhasse dela em algo que ela sabia que era melhor.

– Se eu ganhar você terá que me trazer alguma coisa da guerra escondida nas florestas. - Falou, apontando para o amontoado de árvores.

James pensou em algo para apostar e... Perfeito.

– Se eu ganhar... – Sorriu enquanto a garota erguia uma das sobrancelhas em dúvida. – Você tem que me dar um beijo.

Charmin arregalou os olhos e as bochechas coraram. Então desviou o olhar para o céu por algum tempo e depois, voltou as íris diferentes para James. Não aceitaria aquilo nem nesse universo nem em qualquer outro paralelo, mas seu eu competitivo gritava mais alto e isso a atrapalhava na resposta certa.

– Tudo bem. Eu sei que vou ganhar mesmo.

– Vamos ver.

James andou até um monte de pedrinhas e pegou duas. Uma pequena, redonda e transparente, e outra mais oval, acinzentada. Deu a oval para a Charmin e ficou com a transparente.

– Por que a sua é mais bonita? – Perguntou ela.

– Porque ela vai me dar sorte. Vou provar isso.

A menina franziu a testa em raiva e apontou para uma direção do campo.

– Quem atirar mais longe ganha.

James mirou e levantou o braço para cima, apontando para um ponto que só ele conseguia ver e calcular. Esperou que Charmin jogasse e assim que o fez, jogou a sua. Os dois começaram a correr para o local onde atiraram e alguns minutos depois chegaram, havia sido uma longa distância. Chegaram até o local e por incríveis milímetros...

– Eu ganhei. – Gritou o garoto, pulando e chutando a pedrinha de Charmin para longe.

Maldita sorte de um maldito garoto em um uma maldita pedra, pensava, enquanto observava a euforia de James.

Naquele momento Charmin sentia a maior sensação de vergonha que uma garota da idade dela poderia sentir, mas era sua promessa a James e deveria cumpri-la. Andou até a pedrinha de James e pegou-a sem que o garoto visse, guardou-a no bolso do vestido e voltou para perto de James, o loiro ainda comemorava.

Bateu levemente no braço do garoto e o mesmo parou de pular, prestando atenção na expressão indecifrável da menina. Ao mesmo tempo em que parecia séria, os olhos se movimentavam para todo lugar e o rosto estava corado.

– Promessa é dívida.

Após isso, pegou o rosto do garoto com as duas mãos e selou os lábios nos deles por longos segundos, até separar-se dele e sair correndo de volta para a cidade e provavelmente esconder-se em casa até que James percebesse que teria de fingir que nada tinha acontecido.

Enquanto a via distanciando-se de seu campo de visão, James olhou em volta e procurou pela pedrinha que havia jogado para que pudesse guardá-la como um prêmio material do dia, mas não a achou. Após olhar mais um pouco para o chão, percebeu. Ela a levou.

Sorriu para alguma espécie de plateia imaginária que provavelmente estava o vangloriando e levantou os braços em comemoração, recebendo uma chuva de palmas inaudíveis. Voltou para o monte de pedrinhas e encheu a mão com algumas, direcionou-se para a fileira de latinhas e uma por uma, acertou todas até que a noite chegasse.

O gosto da vitória estava literalmente grudado em seus lábios. E aquele era, definitivamente, o melhor gosto do mundo.


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Notas finais do capítulo

Eu achei que seria muito bom colocar essa cena na fic, principalmente pelas pessoas que adoram CharminXJames. Sinto por vocês :DD
Obrigada à Cams que recomendou a minha fic somente com dois capítulos TwT! Sua linda s2