Zona B escrita por Bry Inside the Box


Capítulo 15
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

E voltamos à rotina! Bem, esse capítulo tem uma cena que eu particularmente amei escrever. Espero que gostem dele também :3



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– Então você poderá visitá-la no dia? – Perguntou Will ao telefone. Estava usando uma antiga cabine telefônica que As costumavam usar. Quando as zonas foram dividas e o local ficou na B, o rei mandou cessar a linha. Mas Will tinha lá seus truques. – Ótimo.

Nenhum dos outros quer visitá-la? Nem mesmo Nícolas ou Josh?

Eles estão com medo de ir para lá e serem reconhecidos. E você sabe que minha prótese não aguenta todo o trajeto. – Explicou enquanto batucava no aparelho. – Obrigada por isso, cara.

Vai ser ótimo visitá-la, William. Acho que Charmin ficará assustada no começo, mas depois... Depois ela vai encarar. Conheço a garota.

Tente não causar nenhum conflito, está bem?

Pode deixar. Até mais, Will.

Até mais, parceiro.

***

– Nícolas Tourmaline? Não sabe sua relação com Nícolas Tourmaline?

Charlie endireitou-se na cadeira ao ouvir a pergunta de Charmin. Sabia pouco sobre ela e a família, somente lera o que estava nos relatórios e relacionados. Mas, era realmente estranho, pensou quando a menina perguntou algo para um estranho sobre a vida dela.

– Não. – Respondeu ela e coçou o pulso nervosamente. Charlie observou que era a quarta vez só naquele tempo de minutos. – Sei que ele está nos meus relacionados, mas não sei por que está.

Confuso, o comandante levantou e foi até algumas gavetas que ficavam no canto de sua sala. Abriu-as e pesquisou, em todas as seções, a letra S. Retirou do lugar a pasta escrita “Southwood, Charmin” e ao perceber que a mesma estava perto da do irmão, puxou-a também. Em seguida procurou a pasta com o sobrenome de Nick e retirou a mesma.

– Peguei tudo que podia ter você, senhorita. – Em seguida parou abruptamente, voltando-se para outro armário e abrindo o mesmo. – Qual a sua idade?

– Dezessete.

– Então quando possuía catorze... – Charlie passou os dedos por vários papeis, olhando dentro de cada um e checando as fotos. – Achei!

– Achou o quê?

Rapidamente, Charlie sentou-se de frente para a garota e aproximou sua cadeira dela, ficando próximo a Charmin. Pegou a ficha com seu nome e abriu-a, procurando por qualquer informação que estivesse relacionada a Nícolas. Impressionantemente, haviam muitas fotos dos dois dentro.

– Aqui está dizendo que vocês eram amigos. – Observou e retirou da pasta algumas fotos. – Câmeras de segurança pegaram vocês dois em várias madrugadas; A maioria delas você impedindo Nícolas de pichar algum muro ou separando alguma briga.

Charmin arregalou os olhos e observou as fotos atentamente. Numa delas, Nícolas estava batendo em um garoto e Charmin o segurou; Ambos rindo enquanto andavam por uma feira de mãos dadas; Charmin jogando algumas latas de spray no lixo enquanto Nícolas apontava para ela com raiva; Os dois caminhando em algum lugar afastado da zona, completamente deserto; Nícolas no portão da antiga casa de Charmin, abraçando a garota e beijando-a.

– Mas, para mim, vocês pareciam ser mais que amigos. – Falou Charlie em um tom malicioso. Charmin pegou as fotos e olhou-as novamente. A cada uma que seguia, seu rosto se espantava mais. – É tão surpreendente assim ser flagrado por câmeras?

É tão surpreendente não lembrar-se dos flagres. Ouviu a si mesma enquanto olhava uma foto de Nícolas segurando sua mão no meio de uma praia deserta com as pernas na água, direcionando Charmin para o oceano.

– Há mais alguma coisa?

– Bem... – Começou, abrindo em seguida a ficha de Collin. – Aqui há uma foto de seu irmão e o Sr. Tourmaline juntos. Parece que estão... Comerciando algo.

Charlie mostrou a foto a Charmin e a garota viu nas mãos de Nícolas uma caixa pequena e nas de Collin, uma grande quantidade de dinheiro. Charlie recolheu a foto e analisou-a mais de perto, estreitando os olhos. Mesmo que negando a si mesma, a garota já tinha algo em mente sobre o que aquilo poderia ser. Na verdade, para ela, estava óbvio.

– Drogas, talvez?

– Collin odiava drogas. Certa vez bateu em um vizinho por fumar perto de mim. – Charmin falou e comprimiu os lábios. Sabia o que era e não revelaria. – De quando é essa foto?

– Hm... Junho de 2312. – Respondeu e Charmin confirmou os pensamentos. – Sabe o que é?

– N-não.

Charlie olhou para ela e esperou pela real resposta. Ao perceber que não a teria, suspirou e as três fichas foram sendo empilhadas. Em seguida, pegou uma pequena pasta branca e dela retirou alguns papéis que pareciam ser relatórios de exames. Leu cerca de três ou quatro bilhetes e em seguida abaixou-os, abrindo a pasta de Nícolas e retirando dela um papel anexo.

– Você já deve saber que o Sr. Tourmaline foi um de nossos cadetes e também fugitivo. – Afirmou após colocar no colo de Charmin todos os papéis que retirara. – Acho que gostaria de ler um pouco sobre esses.

Ao pegar os papéis, Charmin passou os olhos por algumas palavras e frases; datas de realização e autorizações de responsáveis. Olhou a assinatura de Collin em todos os três primeiros papéis e percebeu que um deles era algum tipo de cirurgia que Charmin havia feito.

“... tomografia computadorizada...”

“ ...crânio com sérios danos talvez irreparáveis...”

“... cranioplastia...”

“... tumores e traumatismo craniano”

“...sérios riscos prejudiciais e consequências...”

– Eu fiz cirurgia no crânio? – Perguntou assustada. Revisou todas as palavras dos três papéis e deixou-as cair no chão em choque. – Por quê? Por que eu fiz uma cirurgia na merda do crânio?!

Espantado, Charlie fitou-a enquanto olhava para os papéis jogados ao chão. Deixaria que ela tivesse o choque e não se mexeria. Somente a veria enquanto Charmin raciocinava tudo. Era realmente uma surpresa ela não se lembrar, mas, como dito em um dos papéis, amnésia era uma das possíveis sequelas.

– A senhorita não lembra...?

– LEMBRAR O QUÊ?! – Àquele ponto já estava gritando e leu o quarto papel, amassando-o e deixando que o mesmo caísse no chão, ao lado dos outros. – NÍCOLAS TOURMALINE TENTOU ME ASSASSINAR?

Charmin pegou a ficha de Nícolas e começou a lê-la. A cada frase o tom de voz aumentava e a surpresa nele era explícita. Pensamentos corriam a mente, tentando reconhecer todas as cenas e informações. Flashes de cenas com Nick e ela juntos em algum lago eram mostrados enquanto lia o papel.

Acusado de homicídio contra vítima Charmin Southwood. Relatos de uma única testemunha contam que o garoto empurrou a jovem para o lago e foi puxado pela mão da mesma, fazendo com que ambos afundassem na água e segundos depois, ficassem presos nos escombros de tanques de guerra e peças de madeira. A testemunha localizou Nícolas submergindo da água e após isso, resgatando a garota propositalmente. Dias depois foi levado ao interrogatório e por falta de provas, foi detido no exército.”

– Isso não é possível! – Charmin deixou a folha na mesa, olhando para Charlie que parecia transtornado com a situação. – Nick não faria isso comigo! Essa testemunha... Quem ela é?

– Senhorita, acalme-se. – Charlie levantou e colocou a mão no ombro de Charmin. Imediatamente, ela retirou a mão do homem e apontou para o bilhete. Queria a todo custo saber quem era. – Não vamos fazer coisas que não desejamos.

O rosto de Charmin se contorceu numa careta de desgosto em ódio por breves segundos. Após isso, ela voltou com a mesma dureza e determinação que tivera ao entrar no local. Era óbvio que Charlie não revelaria o nome do sujeito, visto o estado em que ela estava. Resolveu deixar para lá, ela mesma descobriria quem foi o desgraçado que fez Nick ser preso.

– Isso... Sobre a pena dele; a entrada e fuga no exército, tudo isso é verdade?

O comandante assentiu lentamente e olhou para Charmin, que estava abaixada recolhendo todos os papéis e colocando-os sobre a mesa, as mãos tremiam e ela estava branca da cabeça aos pés. Assentindo, agradeceu a Charlie rapidamente e passou pela porta correndo.

Charmin praticamente correu do escritório de Charlie até seu quarto, parando para observar as garotas em alguma corrida da qual ela teria de percorrer no dia seguinte. Entrou em seu dormitório e andou diretamente para o banheiro, retirando o abrigo, a blusa e a calça, entrando no chuveiro e o ligando o máximo que pôde. Sentia que estava queimando interiormente de raiva e o ferimento nas costas ardiam dolorosamente.

Não soube quanto tempo ficou embaixo da água alinhando os pensamentos, mas, ao ver Rose entrando no banheiro somente de toalha e expressão espantada ao encontrar Charmin somente de roupa íntima toda encharcada, entendeu que havia sido muito tempo.

– Você está aqui desde tarde? – Perguntou e Charmin assentiu. – Meu amor, agora são cerca de uma da manhã!

Assustada, Charmin levantou-se do chão e bateu a cabeça na parede com o impulso. Colocou a mão na região e tateou toda parte da cabeça até encontrar um relevo. Sua cicatriz. Alisou toda a linha até perceber que cruzava em quase metade de sua cabeça.

– Como eu não fui perceber...? – Sussurrou e foi ao espelho.

O sutiã de Jenny estava todo molhado e as alças caíram para o lado, os ombros vermelhos por contato com a água quente por tanto tempo e os cílios longos pingavam água. Abaixou a cabeça e localizou a cicatriz, surpreendendo-se com o tamanho e grossura da marca. Quando voltou a si, Rose estava com roupas secas para ela e um olhar caridoso.

– Deve ter sido um dia difícil. – Comentou e ajudou Charmin a refazer os curativos. – Acho melhor você dormir, porque amanhã teremos treinamento de tiro.

Confusa, Charmin assentiu e colocou as vestimentas, dirigindo-se à cama e deitando na mesma, abraçando o travesseiro e ficando descoberta. Antes de dormir, pensou em todo o comportamento de Nick ao longo dos meses e lembrou-se de uma conversa que tivera com ele dias antes de tentar ir à A.

“Tinha uma garota... Sabe? Ela era bem especial. Ainda é, na verdade. Eu acabei fazendo algo por ela que, no fim, acabou parecendo muito suspeito e a única testemunha que podia contar a história verdadeira me traiu. Era um dos meus melhores amigos.”

A mente pareceu acender como luzes de natal quando Charmin levantou-se da cama e colocou a mão sobre a cicatriz. Todo aquele mistério em volta da fuga de Nick e toda a má explicação sobre como ele fugira; O pânico ao vê-la quase caindo do lago e a expressão de alívio intenso ao perceber que ela estava salva; A estranha relação de atritos com ele e Josh; Tudo por causa de uma coisa: Ela.

Charmin era a garota que Nícolas tanto falava e demonstrava paixão.

Ela era a pessoa da qual ele perguntou se havia tanta importância esconder um segredo por medo, pois queria saber se ela o aceitaria ou não. Todo esse tempo, toda a familiaridade que sentira; tudo foi tão óbvio e tão claro como cristal! E ela nunca sequer havia pensado em, talvez, ter conhecido Nick em seu passado tão escuro.

Lampejos de imagens passavam por sua mente como cenas de um filme em algumas partes queimado. Ouvia em sua mente a voz de Nick, chamando-a carinhosamente. Como flashes, conseguia enxergar as mãos de ambos sendo entrelaçadas e via seus pés subindo aos dele. Vários beijos que nunca se lembrou. Uma tarde dormindo ao seu lado numa árvore perto do lado. Tudo passou tão rápido que ela não conseguia organizar ou parar nada, as lembranças vinham em turbilhões e desapareciam tão rápido como fragmentos de areia, escorrendo entre dedos.

Passou a mão pelo rosto sentindo todo o cansaço acumulado daqueles dias e resolveu que dormir seria o melhor para ela. Pensar em coisas já solucionadas era perda de tempo. Deitou-se novamente e dessa vez puxou a coberta, como se pudesse se proteger de todo o medo e confusão interna que estava sentindo.

***

– Ei, Charmin! Não corra tão rápido assim!

A voz de Nícolas soava distante aos ouvidos de Charmin enquanto corria. As sapatilhas desgastadas estavam na mão enquanto que com a outra ela puxava a borda da saia comprida. Lembrava que aquilo havia sido um presente de Nick e também se lembrava de perguntar se era roubado ou não. O garoto falara que trocou uma de suas melhores roupas com uma costureira para que a mulher fizesse a saia.

– Me alcance, então! – Ouviu gritar enquanto descia um pequeno morro.

Sentia as pontas dos pés tocando o chão enquanto corria e ao tropeçar numa raiz de árvore praguejou mentalmente pelo método. Caiu sentada perto de uma árvore e ao virar o corpo, pôde ver as pernas de Nick e após olhar para cima, o cabelo do mesmo todo bagunçado e o rosto vermelho e a respiração arfante.

Lentamente, Nícolas abaixou-se no nível de Charmin e cercou a garota com os braços. Sorriu para ela e arqueou as sobrancelhas enquanto tentava normalizar a respiração.

– Te peguei. – Sussurrou ele ao aproximar-se mais. – E agora? Para onde vai fugir?

Nícolas colocou uma mão sobre o rosto de Charmin e sentiu os dedos longos do garoto sobre sua bochecha. O corpo de Nick pressionou contra o da garota e ela enrubesceu com o contato. Lentamente beijou Charmin e após alguns segundos ela entrelaçou os dedos nos cachos que se formavam perto de sua nuca.

– Não acha que está sendo muito levado para um garoto de quinze anos, Nícolas? – Perguntou Charmin quando ele afastou-se para olhá-la.

– É minha namorada. Sei que vai me perdoar. – Riu e Charmin sentiu o ar escapar de seus pulmões. A voz estava mais fina do que o usual, mas o tom de provocação sempre mexia com seu interior e fazia com que sentisse o estômago repleto de borboletas. Na verdade, um imenso tornado seria mais exato.

Olhou para o lado e ao perceber que Nick tirara um dos braços para colocar na cintura da garota, a mesma rolou para o lado, levantando-se e começando a correr novamente. Ouviu Nick gritar alguma coisa e em seguida começou a segui-la.

Charmin correu entre as árvores, desviando de alguns galhos e segurando firmemente a saia para movimentar-se, as sapatilhas quase escorregando entre os dedos. Então percebeu que o único caminho a seguir resultava em um lago e ao virar para trás e ver Nick em sua direção, Charmin parou.

– Parece que está sem saída. – Sorriu e observou enquanto Charmin deixava a saia cair no chão em desistência. – Agora vem aqui antes que seu irmão pense que eu levei você a algum lugar de má influência.

Charmin caminhou para trás, quase chegando à borda da lagoa e parou ao observar as sapatilhas caindo no chão, nem percebera quando as soltara. Olhou para Nícolas que cada vez se aproximava e aumentava o sorriso e deu mais um passo para trás, sentindo o pé tropeçando em algo e...

– CHARMIN! – Nícolas gritou enquanto a garota caía e afundava dentro do lago. Imediatamente lembrou que Charmin não sabia nadar. – CHARMIN! CHARMIN!

Correu até a borda do lago e viu uma das sapatilhas de Charmin na terra, a outra estava na água. Retirou os sapatos e pulou dentro do lago, mergulhando para alcançar Charmin. Conseguia ver a expressão de medo da garota e após isso a falta de expressões. Ela desmaiara. Nadou mais rapidamente até encontrar Charmin entre várias tábuas da madeira e ao tentar levantar uma, atingiu a cabeça da garota e começou a enxergar um rastro rosado sobre a água.

Desesperado, levantou todas as tábuas que conseguia e lutava para manter-se consciente, olhando a cabeça de Charmin e o sangue que cada vez mais saía do local. Puxou enfim uma tábua que estava sobre as pernas da garota e abraçou-a, balançando as pernas para subir.

Ao colocar a mão na grama, Nícolas ergueu o corpo de Charmin e deitou a garota no chão, sentando-se e colocando a mão no coração dela. Os batimentos estavam fracos e os cabelos escuros completamente manchados de sangue. Pressionou seus lábios contra os dela para colocar ar nos pulmões de Charmin e ao perceber que ela começou a tossir e vomitar um pouco de água puxou a garota num abraço apertado.

– Graças a Deus... – Sussurrava no ouvido da garota que ainda tossia. – Você está viva...

***

Cerca de seis da manhã Charmin foi acordada por Jenny, a mesma explicando que teria treinamento de tiro. Colocou o uniforme de treinamento e amarrou o abrigo na cintura, desistira de não mostrar os seios.

Durante todo o caminho até o local a única coisa que se passava na cabeça de Charmin era a cena que sonhara. Todos os pesadelos e noites mal dormidas com aquele sonho esclareceram-se e agora não havia mais confusão. Afinal, Nícolas era mesmo seu salvador. Finalmente havia achado um significado para a familiaridade dos olhos do garoto ou até mesmo do toque dele, quando colocou as mãos em seu rosto.

Enrubesceu instantaneamente ao lembrar que havia tido muito mais intimidade com Nícolas no passado do que agora, no presente. O motivo disso era que ambos estavam apaixonados e Charmin era uma garota durona, porém fácil de conquistar se fosse o cara certo. Conseguia encaixar agora que toda a atração que sentia por Nick era já presente em seu corpo e mente.

Sentiu o toque de alguém em seu braço. Rose estava indicando uma direção que levava a um campo com alguns manequins pintados em determinadas regiões e mais ao fundo, uma espécie de forte com várias armas em suportes. Caminhou com as garotas até lá e uma tutora indicou uma fila pra cada uma.

Charmin foi até a fila indicada e observou enquanto outros soldados atiravam. Alguns tinham uma ótima mira, outras razoáveis e algumas eram péssimas. Um dos garotos acertou a terra – três vezes seguidas – e Charmin teve de conter o riso desesperadamente quando ele fez a arma cair no chão e atirar perto de seu pé.

Seu ombro foi empurrado e ela virou para trás, com raiva. Um garoto alto e forte, com uma regata larga e cabelos castanhos bagunçados e olhos do mesmo tom repletos de brilho e divertimento.

– Opa. – Sibilou para Charmin. – Me desculpe.

Deu de ombros. Estava ocupada demais pensando em Nick e no perigo que aquele rapaz era com uma arma carregada.

– Tá. Tanto faz.

Charmin voltou a prestar atenção no treinamento, mas ouviu um pigarreio atrás de si. Virou-se novamente e pôde ver o mesmo garoto de braços cruzados, os músculos contra a regata, deixando-a um tanto apertada. Assim que percebeu que ela estava novamente direcionada a ele, sorriu com o canto da boca e traços apareceram na região.

– Meu nome é Dilan. – Estendeu uma das mãos e ao perceber que Charmin não a apertaria, passou-a no cabelo, bagunçando-o mais ainda. – Nova aqui?

– Sou.

– Qual seu nome, novata? – Perguntou. – Precisa de ajuda com algo?

– Não preciso de caridade. Obrigada.

– Tudo bem então, Não-preciso-de-caridade. – Falou e abaixou-se para ficar no nível da garota. – É boa com tiros?

Charmin parou uns instantes para reparar em Dilan e observou o quão bonito o garoto era. Claro, para quem gosta de queixos quadrados, um rosto robusto e bem delineado, olhos grandes e íris castanhas cintilantes e cabelos perfeitamente bagunçados que ganhavam um tom dourado no sol e um físico que lembrava Will e até melhor, Dilan seria um tradicional galã quebra-corações de todas as garotas.

– Meu nome é Charmin. – Respondeu e cruzou os braços. Não estava com humor ou cabeça para novas amizades. – Minha mira é boa e é isso que importa.

– Seu nome é bonito. Assim como você, com todo o respeito. – Aumentou o sorriso. Charmin revirou os olhos.

– Cara, não. – Censurou a garota enquanto virava-se pela terceira vez. – Não tente isso.

Haviam se passado alguns minutos e Charmin estava mais perto da arma. Pensou em ser um calibre grosso, mas era muito menos que imaginara. A garota em sua frente inclinou o corpo levemente e mirou no manequim mais perto, levantando a pistola para o peito (O local mais fácil que todas as meninas usaram até agora).

– Vamos fazer uma aposta. – A voz de Dilan soou atrás de si. – Se eu acertar na cabeça primeiro você terá de comer comigo na hora do almoço.

Charmin estreitou os olhos, estressada pela insistência do garoto. Olhou-o por sobre os ombros, prestando atenção na conversa. Observou que Dilan ainda estava sorrindo e o cabelo havia abaixado um pouco. Ele parecia o tipo receptivo pretensioso e uma pessoa assim já havia preenchido seu coração.

– E se perder?

– Eu nunca mais falo com você. – Respondeu imediatamente. – Nem se for forçada.

Relutante, Charmin assentiu e voltou a prestar atenção na fila. Não é como se não tivesse gostado do garoto, ela havia. Mas, não pretendia ficar ali por muito tempo e fazer amizades não era o certo. Conhecia a si mesma e sabia que provavelmente não abandonaria o lugar caso colocasse alguma pessoa em mente. O melhor era afastar todos eles o possível que conseguisse e passar despercebida até que sua fuga finalmente fosse realizada.

– Próximo! – Um homem gritou e Charmin pegou a arma, inclinando-se levemente e mirou na cabeça do manequim mais distante.

Havia aprendido a atirar com Will num dos treinos e depois de o mais velho tanto insistir e implicar, ela atirara perto do pé dele de raiva e ele constatou que Charmin estava com uma mira ótima e rápida. Respirou lentamente, acertou a mira e atirou. A bala passou raspando na orelha do manequim e ela praguejou, colocando outra bala e acertando a mira novamente. Concentrou-se mais e suspirou, apertando o gatilho e então observando enquanto a bala era cravada bem no centro da cabeça, fazendo com que uma antiga marca fosse acertada e deixando-a mais exata.

Sorriu com o resultado e olhou para o lado. Algumas pessoas pareciam surpreendidas pelo tiro e outras a olharam torto, murmurando algo sobre ser novata e ter quebrado o recorde. Olhou para Dilan que parecia levemente surpreendido e com um olhar desafiador, estendeu a mão para arma num gesto cordial.

Lentamente caminhou para onde a arma estava e pegou-a, colocando somente uma bala e deixando todas as outras de lado. Com uma mão, mirou na cabeça, fechou os olhos e atirou. O tiro de Dilan passou sobre a bala de Charmin, fazendo com que o material caísse e fizesse um som no chão. Charmin arregalou os olhos, incrédula, e olhou do manequim para Dilan e o inverso, simplesmente não acreditando no que estava vendo.

Dilan aproximou-se da garota e colocou o indicador na ponta de seu nariz, tocando-o levemente, em seguida piscando e dando o mesmo sorriso de quando a elogiara. Charmin franziu as sobrancelhas, brava, e Dilan começou a caminhar para fora do local. Passou por todos os outros cadetes e antes de se afastar completamente, virou-se para a garota e acenou, gritando:

– Minha mesa é a última da direita!


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo é especial, povo. Então esperem um tanto ansiosos até sexta :V
Até mais e obrigada pela leitura s2



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