Zona B escrita por Bry Inside the Box


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Bom, eu vou ter que postar hoje porque não irei dormir em casa hoje ;-;
Então deixo aqui mais um cap pra vocês. Boa leitura s2



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Charmin fora duramente interrogada pelos dois homens que passaram algumas horas com ela. Após perceberem que não conseguiriam arrancar nada dela, chamaram outros dois policiais. Dessa vez, ambos pareciam raivosos e robustos.

Um deles, mais magro e com cabelos escuros e um terno azul-marinho, colocou uma maleta sobre a mesa e o outro se dirigiu à frente dela, agachando-se para analisar seu rosto, a gravata vermelha estava soltando da camisa preta.

– Você está dando muito trabalho, sabia? – Pegou o queixo da garota que estava exausta pelo interrogatório. – Aqueles dois caras foram bem gentis com você e você devia ter aproveitado isso... – Deixou a frase no ar.

Pegou uma corrente que deixou sobre a mesa e colocou envolta dos braços de Charmin, trancando o cadeado no braço da cadeira. Ela riu com o método clichê que ele usou e soube na hora que seria uma tradicional sessão de tortura que a libertariam por quase morrer.

O outro homem abriu a maleta e deu ao que estava ao lado de Charmin uma tábua fina de ferro com um encaixe para mãos em cima. Charmin gelou. Aquela seria a parte difícil que tanto temia após entrar para o exército. Ele endireitou a mão para que entrasse pelo encaixe e ajustou a tábua. Seco, olhou para Charmin e antes que ela pudesse pensar, depositou uma bofetada com a tábua.

– Porque eu não serei bondoso como eles. – Completou com um sorriso frio.

Charmin arregalou os olhos e sentiu sua gengiva latejar e o sangue começar a escorrer por fora da boca, ela não conseguia segurar e ele começava a cair sobre seu joelho. O homem sorriu, satisfeito com o resultado, e deu outra bofetada na bochecha inversa.

– Agora vai me contar como conseguiu aquela pulseira?

Ela sentiu que, em alguma parte de sua boca, mais sangue começava a escorrer e Charmin juntou todas as forças que conseguia para erguer a cabeça em direção aos olhos do homem e cuspir o sangue que estava em sua boca na cara dele.

Perplexo, o homem passou a mão livre pelo rosto e ao ver o sangue e a saliva, contorceu o rosto em uma careta de nojo e em seguida bateu em seu nariz, provavelmente quebrando-o. Ela sentiu quando ele colocou a mão na cartilagem e confirmou que havia o quebrado, pois sentia que uma das narinas estava mais alinhada que a outra. Com a respiração falhada, Charmin riu e olhou para o homem em modo desafiador, como se perguntasse se uma tábua prata era tudo que ele tinha para ela.

– É uma pena. Vou ter que ferir um rosto bonito como o seu. – Comentou, voltando para a maleta. – Eu vejo que isto não está sendo muito efetivo, então tentarei outro método.

Charmin olhou para cima, enquanto sentia o ar entrar pelo nariz quebrado, emitia um chiado estranho e irritante que ela só tinha quando ficava gripada. Puxou a saliva da boca e cuspiu-a nos braços da cadeira onde estava acorrentada, fazendo com que o sangue caísse sobre o cadeado. O líquido passou pelas correntes e pingou, escapando de tudo aquilo. Por um momento, ela desejou ser a saliva.

– Já bebeu álcool, senhorita? – Perguntou, mesmo não querendo que ela respondesse. – A senhorita deve saber que o álcool é uma substância maravilhosa: Dá-nos a coragem e o relaxamento para fazer e falar coisas que nunca conseguimos sóbrios.

Vai me embebedar? Pensou enquanto via o homem tirar da maleta uma seringa médica e uma garrafa de whisky que Charmin adivinhou ser muito cara. Foi no movimento de passar o whisky para a seringa por um funil que Charmin entendeu o próximo ato do homem.

Não poderia fazer com que a menina bebesse, mas poderia deixá-la bêbada do mesmo jeito. Lembrava-se de Collin falando sobre uma festa do exército em que seus amigos injetaram álcool e – Mesmo com um efeito mais demorado – ficaram bêbados para no dia seguinte não serem pegos pelo comandante por causa do hálito.

– Vai enfiar whisky na minha veia? – Perguntou ela em um tom ríspido e frio. – Não sou tão fraca assim.

– O whisky também não. – O homem tombou a cabeça, segurando a seringa. – Esse tipo de bebida veio dos Países Baixos e passou pelo restante do continente Europeu e por uma parte da Ásia. Isso aqui contém mais álcool que qualquer garrafa concentrada.

A gravata vermelha dele balançava enquanto Charmin fingia ouvir sobre a história do caminho que o whisky percorreu até chegar nas mãos do policial e disso pra seringa que logo teria a agulha cravada na veia da garota. Era tudo tão entediante e clichê que ela estava quase pedindo por uma corrida de quilômetros no centro de treinamento.

Quando voltou a si, percebeu que o homem já estava amarrando a borracha em seu braço e esticando o mesmo, inserindo a seringa e injetando a bebida em sua veia. Demorou alguns minutos, mas Charmin começou a sentir uma sensação estranha em seu corpo e uma tontura extasiante.

– Pelo jeito começou... – Murmurou o homem. – Então vamos lá. Charmin, como você conseguiu sua pulseira?

A voz dele soava distante e infantil no consciente de Charmin e ela sabia que isso era o efeito do álcool. Piscou algumas vezes e chacoalhou a cabeça, confusa. Olhou para o homem que esperava uma resposta e sorriu de orelha a orelha, sibilando:

– Vá. Se. Foder.

O rosto do policial avermelhou de raiva e ele estreitou os olhos, movendo o canto esquerdo do lábio em algum tipo de tic nervoso que Charmin não entendeu e achou engraçado, começando a rir involuntária e incessantemente. Ele foi à mesa, pegou a garrafa de bebida e tirou de seu bolso um canivete.

– Você está me tirando do sério! – Vociferou enquanto destravava o canivete.

Rapidamente, o homem arrastou a lâmina pelo braço de Charmin, formando um corte profundo e grande. A garota mordeu os lábios para não fazer som algum de dor e sentiu mais sangue dentro de sua boca, o gosto de ferro estava começando a ficar saboroso. Então ele derramou a bebida sobre o ferimento e Charmin praticamente fincou os caninos sobre o lábio e remexeu o ombro atingido como se pudesse fazer a dor sumir.

O homem agarrou seu nariz e mexeu-o, voltando ao lugar. Limpou o sangue no pescoço de Charmin com uma cara retorcida em desaprovação.

– Agora está doendo, vaca? – Perguntou, sorrindo enquanto cortava o outro ombro. – Vamos ver se você fala algo enquanto eu faço algumas tatuagens em você.

***

– Eu não posso entrar lá. – Justificou Marc enquanto guardava alguns fios numa caixa. – Da última vez que eu e Kyle resolvemos ficar um tempo fora daqui e deixar que os policiais nos vissem, fomos forçados a entrar para o exército.

– E eu fingi ser gay; Causei um escândalo dentro daquele lugar! - Levantou Josh enquanto comia uma maçã. – Imaginem quando eu chegar ali pra visitar uma garota detida oficialmente.

– E eu estou fugindo da coleta. – James deu de ombros. – Não posso nem pisar o pé ali.

– E eu fugi do próprio exército. – Nick murmurou enquanto mexia com a pervinca. – Vão me reconhecer na hora e não é por fugir, mas sim pelos motivos dos quais eu fui parar lá.

– Então serei eu? – Perguntou Will, tomando um gole de café e observando todos. – Vocês são tão covardes ao ponto de deixarem de se arriscar pela garota que vai salvar todos vocês?

Estavam todos ali há mais de horas sentados na mesma posição e trocando as bebidas. Will decidira fazer uma reunião para escolher quem iria visitar Charmin depois de ficarem sabendo se ela estaria viva ou não. O rapaz lembrava-se da surpresa no rosto de todos ao comunicar que ela estava detida num interrogatório e que, segundo suas fontes, estava aguentando o quanto podia e como aquilo estava acabando com ela.

Somente Will sabia que ela estava sendo torturada. Não revelaria para eles, pois, sabia que havia a possibilidade dela não suportar a dor e falecer. Conhecendo o exército, tinha certeza de que fariam torturas longas e dolorosas que levariam horas a fio; Todas as semanas iriam trazê-la a uma sala e fariam com que ela confessasse; Todas as semanas seriam assim até que ela não suportasse e morresse em cansaço.

Sabia que uma vez por mês o exército liberava os soldados para serem visitados por um familiar. Lembrava que Collin recebeu visitas de Charmin durante um bom tempo e que ele era visitado por sua tia e por Josh algumas vezes.

Will olhou para cada um ali e viu o mesmo sentimento em todos os olhos: medo. Todos estavam com medo de ver a garota; Estavam com medo de serem pegos; Estavam com medo de ir parar no exército novamente. Mas, acima de tudo, estavam com medo de ir até lá e ouvir que uma estranha chamada Charmin morrera.

– Muito bem. Se ninguém vai, eu tenho uma pessoa que adoraria visitá-la. – Falou, enquanto levantava e colocava mais café em seu copo. – O contatarei amanhã enquanto vocês buscam mais equipamento pras pulseiras.

Repentinamente, Will olhou para trás. Passou a mão pelos cabelos e largou o copo de café, indo até o canto do alojamento e pegando uma vassoura. Foi até as escadas e observou o olhar curioso de todos.

– Vou limpar as pegadas ali fora. – Respondeu enquanto abria o alçapão. – Também preciso colocar folhas sobre o sangue de Charmin.

***

Agora estava de pé com uma algema incapacitando as mãos. Estava ficando cansada de toda aquela rigorosidade. Será que achavam mesmo que ela seria capaz de fugir dali?! Estava com os braços completamente feridos e um curativo mal feito nas costas, onde fora atingida por duas balas! Ainda por cima estava bêbada! Completamente bêbada!

Charmin andava por um corredor onde os soldados dormiam. Homens à esquerda e mulheres à direita. Alguns rapazes assoviavam para ela enquanto caminhava e algumas garotas davam a Charmin boas-vindas com alguns xingamentos que ela costumava usar com James.

– A partir de agora esse aqui será seu novo quarto, senhorita. – Charlie falou enquanto pigarreava para chamar a atenção de algumas meninas e retirava as algemas.

Três garotas se levantaram ao som. Uma loira com olhos azuis e postura dura, vestindo um short que Charmin julgava ser roupa vinda da A e um decote tão grande que fazia Charmin se sentir um espeto; Uma ruiva com baixa estatura e um moletom enorme com algumas cartas na mão. Ao perceber que o comandante olhava as cartas, escondeu-as atrás das costas; Uma morena que sorriu ao ver Charmin encarando-a, usando uma regata larga e uma calça que lembrava as que ela usava para assaltar as gangues.

– Rose. Vejo que anda se divertindo muito com as cartas não? – Perguntou o homem enquanto sorria. – Que tal guardar isso para dar um “olá” a sua nova colega de quarto?

– Quem é essa? – Perguntou a loira. – Ela tá meio estragada. Que tal jogá-la pra cadeira elétrica de uma vez?

– Sam! – Censurou a ruiva que agora brincava com as cartas. – Não ligue para ela, querida.

– Comandante Spencer... – Murmurou a morena. – O que aconteceu com ela?

– Ajudem Charmin com o banho e com algumas roupas. – Charlie colocou a mão sobre os ombros e sentiu- as molharem pelo sangue. Afastou-as imediatamente. – Charmin, vá. Elas são boas pessoas.

Relutante, Charmin caminhou até as garotas e olhou ao redor: Sutiãs, calcinhas, blusas e calças espalhadas por todos os lugares. Havia quatro camas nos lugares, uma totalmente vazia e as três restantes bagunçadas, presumiu que a que sobrava seria a sua.

As paredes tinham um tom bege descascado e velho, onde estavam pôsteres de bandas, modelos e filmes. Cada canto de cama tinha um estilo diferente. A de Rose era mais feminino e ousado, com alguns sutiãs pendurados sobre a cabeceira. A cama de Sam possuía um lençol preto conservador e discreto e havia alguns vinis pendurados à esquerda. A outra guardava vários retratos sobre a cabeceira e pendurados na parede, deixando alguns desenhos juntos.

– O que fizeram com você, flor? – Perguntou Rose enquanto passava a mão sobre seu rosto. Sentiu alguns calos e vários arranhões, além de alguns hematomas. – Você roubou a cueca do rei ou mijou na privada de ouro dele?

Mesmo que doesse, Charmin riu da piada de Rose e deixou que a garota a guiasse até sua cama. Sentou na cama da ruiva e abriu a boca, pedindo água. Não conseguia falar pelos últimos socos que levara do homem de gravata vermelha então tentou fazer o máximo de sinal que conseguia.

– Está com sede? – Perguntou ela e imediatamente pegou uma garrafa d’água. – Aqui, meu anjo.

Tremendo, Charmin pegou a garrafa de água, mas, ao levantar o braço e direcionar o bico à boca, a garrafa caiu de sua mão e a água esparramou-se por todo o chão e seus pés, que estavam com gotas de sangue.

– Perdão... – Sussurrou com o fio de voz que possuía. – Eu não...

Rose abanou a mão e pegou uma blusa que estava embaixo de sua cama, limpando a água. Olhou para Charmin e sorriu, puxando a cintura da garota e levando-a até o banheiro. Ligou o chuveiro e girou a torneira o máximo que pôde.

– Quer ajuda com as roupas?

Charmin negou e somente apontou para a vestimenta, indicando que precisava de nova e que, de preferência, não estivesse manchada de sangue. Rose assentiu e deixou que a heterocromática tomasse o banho, apontando onde estava o sabonete e o shampoo.

Com certo esforço, Charmin retirou o resto do vestido e as roupas íntimas, colocando-se debaixo da água. Bufou ao lembrar o curativo nas costas e deu uma espécie de gritou ao sentir a água atingindo o ferimento das balas. Imediatamente a morena que sorriu para ela apareceu e Charmin ignorou o fato de estar nua na frente de uma estranha e apontou para suas costas.

– Ah meu Deus! – Sussurrou enquanto se aproximava. – Atiraram em você?!

Charmin assentiu e colocou as mãos sobre a gaze, pedindo à garota que as retirasse para que pudesse tomar o banho. A morena o fez com o máximo de cuidado que conseguiu e afastou-se, surpreendida, ao ver os buracos do ferimento.

– Eu te ajudo a tomar banho. – Falou. – A propósito, meu nome é Jenny. – Charmin estendeu a mão molhada para Jenny. – Charmin, certo? Eu vou te ajudar aqui e depois Sam fará seu curativo.

Jenny pegou o sabonete e deu à Charmin, em seguida derramando shampoo em suas mãos e esfregando no cabelo da garota. Enquanto Charmin tentava tirar o cheiro de whisky de seus braços, Jenny passava condicionador em seus cabelos e tentava não se surpreender com a gravidade dos machucados. Suspeitava que Charmin sobrevivesse se aquilo continuasse.

Depois do banho, Rose sentou Charmin em sua nova cama e pediu a Sam que fizesse os curativos de suas costas. A loira se surpreendeu e arregalou os olhos, mas logo depois continuou com a mesma expressão dura enquanto passava o remédio pelas costas de Charmin.

– Então... O que você fez? – Perguntou Sam enquanto cortava a gaze. – Nunca vi alguém aparecer tão machucado aqui. Nem mesmo o fugitivo.

– Eu... Eu tentei entrar na A.

– Você é tão idiota como eu estou pensando? – Sam olhou para Charmin com as sobrancelhas arqueadas. – Como pensou que conseguiria entrar?

– Com uma pulseira.

– Onde você conseguiu uma pulseira, garota?

– Fizeram para que eu usasse. – Charmin sinalizou à Rose que desse outra garrafinha de água.

– E você foi pega como?

– O guarda reconheceu meus olhos.

Rose parou em frente a Charmin e agachou para observar seus olhos, sorriu ao perceber que eram diferentes. Em seguida Jenny fez o mesmo e os elogiou. Sam virou para encarar e murmurou alguma coisa.

– É. Eu não esqueceria olhos assim. – Rose falou, dando de ombros.

Charmin passava alguma pomada nos ferimentos dos braços enquanto Rose passava outra nos ferimentos de seu rosto. De vez em quando grunhia quando a ruiva atingia lugares mais doídos e Jenny acalmava-a, falando que tudo acabaria logo. Ela sorriu com a inocência de Jenny.

Depois de alguns minutos explicando que o mesmo guarda que a enxotara quando mais nova a reconheceu na fronteira da A com a B, Charmin pegou emprestado roupas de Jenny e dormiu a tarde inteira, acordando de madrugada e observando Sam ler um livro, iluminada pela lâmpada perto de sua cama.

Levantou e caminhou até a loira que assustou com a aparição repentina de Charmin. Fechou o livro e colocou-o sobre uma cômoda.

– O que você quer?

Charmin realmente não sabia o que falar, mas recebendo a dose do humor de Sam, deveria perguntar algo antes que a garota a insultasse.

– Mais cedo... Você falou de um fugitivo. O nome dele era Nícolas, não?

– Era. – Sam estreitou os olhos. – De onde você o conhece?

– Eu... Eu... Sou próxima dele. – Murmurou. Próxima não era a palavra mais exata. – Ele veio parar aqui pelo mesmo motivo que eu, não?

– Bem, dizem que foi por ter entrado na A também. Mas, há rumores que ele traficava drogas e outras coisas para a A, além de ser um criminoso da zona sul, e também era conhecido por arranjar muitas brigas. – Pareceu lembrar algo. – E aí, pelo que os rapazes disseram nos corredores, ele arranjou uma garota que fez com que ele parasse tudo: as brigas, os tráficos, roubos, pichações.

– Mesmo?

– Mesmo. Do dia pra noite ele mudou, virou um cara certo e educado. Não queria mais confusão e ficou completamente bobo pela garota. Um caso raro.

– Sei...

Sam olhou diretamente para ela e Charmin sentiu como se o interrogatório que ela estava fazendo era pior do que havia sofrido de manhã.

– Você conhece essa garota?

– Não. Eu só ouvi Nick falando dela. – Charmin coçou o pulso em nervosismo e desviou o olhar para sua cama. – Vou voltar a dormir.

Sam assentiu e voltou a pegar seu livro, retirando o marcador e ignorando completamente e existência de Charmin. A menina voltou para sua cama e colocou as cobertas, repentinamente sentindo falta de dormir com James e colocar o braço sobre seus ombros, aconchegando-se para dormir. Pensou e concluiu que por um longo tempo não encontraria mais o rosto do amigo e de nenhum dos outros.

Não veria mais os cabelos ruivos e os olhos silenciosos Kyle e Marc, nem mesmo a pintinha que tanto chamava sua atenção; Os sorrisos perigosos e divertidos de Josh ficariam para somente sua memória; Will, com suas piadas divertidas e provocações que sabiam como irritar até a parte mais calma da garota e colocá-la num humor maravilhoso. E Nícolas... Não contava com a possibilidade de se apaixonar por Nick desde que tivera de puxar os fios de seus pulsos, meses atrás.

Fechou os olhos e encolheu-se na cama, recolhendo as memórias mais felizes do alojamento e armazenando-as para que não desmoronasse.

***

– Querida, acorde.

Rose estava sobre Charmin, movimentando os ombros da garota e dando tapinhas leves em seu rosto. Charmin abriu os olhos, assustada, e retirou as mãos de Rose de seu corpo, em seguida sentando-se e tirando a coberta, esfregando a mão contra o rosto para tentar retirar o sono.

– O Comandante passou aqui mais cedo e deixou para você algumas coisas, inclusive a roupa de treinamento. – Explicou enquanto colocava no colo da garota uma muda. – Vá e se troque rapidamente antes que a Sra. Geller venha pra cá.

Com o costume de sempre obedecer às ordens de Will, mesmo quando eram as mais estranhas, Charmin levantou-se e seguiu para o banheiro enquanto bocejava presunçosamente e coçava novamente o pulso.

Ao entrar no banheiro, Charmin retirou as roupas emprestadas e passou a mão pelos braços feridos. Os cortes no braço estavam melhores e os hematomas já estavam adquirindo um tom esverdeado e mais claro. Virou-se e colocou a mão sobre o ferimento das balas e estremeceu de dor, soltando um grito agudo e abafado.

– Ok. Esse aqui ainda tá uma merda. – Murmurou, colocando a calça de treinamento e em seguida a regata um pouco apertada e decotada. – Isso é sério? O rei nos dá isso para vestir? – Charmin revirou os olhos ao tentar falhamente disfarçar o decote. Colocou o abrigo e fechou o zíper o máximo que pôde.

Saiu do local e observou as três garotas todas arrumadas e em pé, esperando por Charmin. Olhou para as três em constrangimento voltou a coçar o pulso enquanto se aproximava de Jenny. Murmurou algo para a garota e ela indicou uma direção da qual Charmin já estava seguindo. Sam olhou para Jenny em dúvida e Rose ergueu uma das mãos, espantada.

– Onde ela está indo? – Perguntou Sam, ofendida. – Acha que pode deixa de fazer o treinamento por estar ferida?

Severamente, Jenny olhou para Sam e a mesma estremeceu.

– Ela foi ser interrogada novamente.

***

Charmin percorreu os corredores de todo o local até chegar à sala de Charlie. Bateu duas vezes e ao ouvir a voz do comandante, abriu a porta e colocou o rosto para dentro.

– Se-senhor... – Chamou e ao receber um aceno do mesmo, adentrou. – Com licença, senhor.

Charlie riu e balançou a cabeça. Levantou-se e foi até Charmin, colocando a mão sobre os cabelos da mais nova e os arrumando de uma forma paterna.

– Não precisa de formalidade comigo, senhorita. – Falou e colocou a mão sobre seu ombro, direcionando-a para as cadeiras. – Por que veio até aqui? Certamente não é sobre algo sobre as garotas, certo?

– Não.

Charmin sentou e encolheu os ombros e aninhou as mãos no meio das pernas, coçando a mesma região repetidamente. Olhou ao redor da sala e arrependeu-se imediatamente de ter ido até ali. Sabia que era errado e que não deveria mexer com a vida dos outros, mas não conseguiu impedir a si mesma.

– Quero saber sobre mim e minha relação com Nícolas Tourmaline. – Respirou profundamente e encolheu-se mais ainda. Charlie pareceu surpreso com a pergunta. – Quero saber por que ele está nas pessoas com quem fui relacionada.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo promete. Então não deixem de acompanhar para saber sobre o Nick e tudo que a rodeia. Comentem, opinem, critiquem, recomendem e favoritem. Quero saber o que vocês acham da história :3!



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