Zona B escrita por Bry Inside the Box


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Bem... Esse capítulo, em minha opinião, foi um dos melhores que eu já escrevi agora. Ele contém muitas coisas que vão dar um novo caminho à história e por isso eu acho que todos os dias que fiquei presa nele valeram á pena. Boa leitura :3



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Era o dia. Ou madrugada, no caso.

Charmin silenciosamente havia retirado as pernas da barriga de James e desenrolou-se da coberta. Pegou um par de chinelos que Will havia comprado para ela algumas semanas atrás, acendeu uma lanterna que usavam para saquear na madrugada e lentamente caminhou até as escadas do alçapão.

Após colocar os pés na grama, dirigiu-se ao lago que Josh havia a levado algum tempo atrás, quando ainda estava sendo treinada, e sentou-se na beirada com metade das pernas na água. Não estava frio como naquele dia, mas havia o frio na barriga a consumindo.

E se tudo desse errado? E se a pulseira não funcionasse? E se resolvessem revistar corretamente e não de forma presunçosa, como Will garantira? Não queria ir para o exército, principalmente por aquele motivo. As consequências seriam terrivelmente péssimas e, apesar de saber que conseguiria suportar a dor que a fizessem sentir lá, havia ainda o medo em ter de sentir essa dor.

Sabia das histórias do exército. Uma incrível curiosidade que descobrira sobre as duas Zonas é que, em ambas, não havia prisões. Somente exércitos e centros de treinamento. Não se podiam torturar adolescentes em centros de reabilitação, isso era contra as leis, mas podiam fazer com que confessassem os crimes através de “leves” torturas e ameaças.

E justamente isso fazia com que o frio no estômago passasse de um leve incômodo a uma agonia sem tamanho.

– O que está fazendo aí?

Uma voz ecoou pelo silêncio do lugar, misturando-se ao barulho das águas das cachoeiras. Charmin deu um salto na grama e quase escorregou para dentro do lago, mas a mão do dono da voz a segurou. Os dedos apertavam a região superior de seu braço com tanta força que era captado o terror que a pessoa esteve sentindo ao vê-la escorregando para a água.

Após firmar-se novamente na grama, Charmin olhou para trás e pôde ver o rosto assustado de Nícolas, as pupilas completamente contraídas. Ao perceber a expressão de dor da garota, Nick soltou relutante, sua mão do braço dela e sentou ao seu lado.

– Me... Me desculpe. – Falou lentamente. Parecia estar em choque. – Não foi minha intenção ter te assustado.

– Sem problemas.

Então houve o silêncio e o barulho da água novamente. Charmin ainda pensava sobre o acontecimento de algumas horas e Nick... Bem, Nick tentava esquecer a memória do lago novamente. Havia quase presenciado outra.

Por algum momento, Charmin observou-o de lado. Pôde ver como o rosto dele era fino e o quão robustos eram os traços. Curvado, a clavícula de Nick sobressaltava-se e o colar do exército era moldado pelo osso. A regata que estava usando deixava à mostra os ombros e os braços e agora Charmin podia ver o quão marcado Nícolas era, desde um arranhão no pescoço até as enormes cicatrizes que fizera nos pulsos no dia em que veio ao alojamento.

Instintivamente tocou a cicatriz no pescoço dele, o rosto virou-se para ela no mesmo momento.

– Onde fez esse arranhão?

Nícolas sorriu e olhou para a mão de Charmin tocando seu pescoço. As pontas frias dos dedos dela faziam com que sua pele ardesse em chamas. Eu sempre vou ser o mesmo babaca derretido, pensou, enquanto procurava um meio vago de dizer sobre a memória.

– Uma garota... Nós estávamos caminhando por uma parte próxima dessa floresta e ela começou a correr, brincando comigo. Eu, sem pensar, corri atrás dela e a segui até um lago. Ela acabou por caindo no lago e não sabia nadar. Eu não sabia disso. – Coçou a parte de trás do pescoço, envergonhado. – Então, quando eu percebi que ela não voltava, pulei no lago e nadei até o fundo para pegar o corpo dela. Havia alguns destroços da guerra e eu tive dificuldade de levantá-la. Fazer esse arranhão foi o único jeito de salvar a vida dela.

Ao ver o olhar de Nícolas, sabia muito bem o que estava nele. Dor. Muita dor. E, mesmo sabendo que era errado o que Charmin faria a dúvida a consumiu. Não conseguiria manter-se com somente a explicação sobre o arranhão, precisava dos detalhes. Algo em sua mente dizia a ela para perguntar, enfiar o dedo na ferida e deixar que o sangue saísse novamente.

Após alguns segundos em silêncio, ela falou:

– E o que aconteceu com ela?

As mãos de Nícolas que até agora estavam apoiadas atrás de suas costas foram para frente, enlaçando uma na outra e em seguida, colocando-as dentro da água. Afundando-as como uma pedra.

– O mesmo que acontece com todas as coisas boas da vida: - Sorriu e direcionou o olhar para as mãos na água. – Afundaram no grande mar do esquecimento.

Não sabia o que responder. Não achava nem que devesse, já havia cutucado tanto a ferida que podia sentir as gotas de sangue pingando em sua mão. Resolveu então ficar quieta e apreciar os poucos minutos da lua no céu, logo amanheceria.

– Você... Vai mesmo fazer isso? – Nick falou. Charmin não sabia por que, mas soava triste.

– Isso o quê?

– Ir para a A.

– Ah. Eu... Eu quero ter uma vida de verdade, Nícolas. Eu posso gostar o quanto for da B e do nosso jeito simples, mas eu quero sair dessa gaiola. Eu quero viajar e conhecer os lugares fora dos livros que Collin me dava para ler antes de dormir. Eu...

– Você quer viver a vida como se deve. – Nick completou e ela assentiu, um sorriso fraco pairou em seu rosto.

– É.

Ela suspirou e ele olhou para cima. Não havia mais tantas palavras que pudessem ser ditas.

– Olhe.

Charmin olhou para cima, estava amanhecendo. A transição do azul escuro e das estrelas da noite com o alaranjado e o Sol. O sorriso se alargou ao perceber o quão bonito era aquilo, com certeza na A nada disso poderia ser presenciado.

– Charmin. – Prosseguiu, agora olhando para o rosto da garota. – Eu... Eu só queria te dizer... Boa sorte.

Não eram as palavras desejadas, mas, assim como decidido por todos, ela descobriria por si só. Então só restava a segunda etapa. Colocou as mãos atrás das costas e passou a fitá-la de soslaio. Sentiria falta dos olhos dela enquanto Charmin estivesse fora.

– Isso... Isso é muito lindo. – Falou Charmin, sorrindo para o amanhecer. – Sempre quis ver um amanhecer num céu limpo desses.

– A companhia melhora tudo, não? – Perguntou, quebrando o clima triste que causara.

– Você não muda nada, Nícolas. – Respondeu, virando-se para ele rindo. – Bem, eu vou sentir falta dessa sua personalidade de babaca.

– Eu sei que você vai sentir falta de mim. Eu sou uma pessoa maravilhosa. – Disse, aproximando-se dela. – E isso também vai ser.

E subitamente tomou seus lábios.

Não se sabe quanto tempo passou, mas foi o suficiente para que o ar ficasse escasso e a respiração falhada. Pela primeira vez em meses Charmin pôde ver o rosto vermelho de Nick, mas tinha certeza que o seu estava mais. Seus lábios estavam dormentes e não soube quando, mas sua mão estava agarrada aos cachos da nuca de Nícolas e uma de suas pernas estava sobre as dele.

– Isso... Isso serve... Pra você não se esquecer... – Disse Nícolas, entre suspiros pausados. – De mim.

O garoto sorriu e tirou de trás das costas uma pequena pervinca azulada, provavelmente cultivada nos arredores do lago. As pétalas sensíveis e frágeis foram tocadas pelo indicador de Charmin, ela posicionou o cabinho entre a orelha e a cabeça.

– Esquecer você, Nícolas, é algo que eu não pretendo fazer. – Respondeu ela, sorrindo e tirando as mãos do cabelo dele.

Durante alguns minutos visando às íris desiguais de Charmin, tentou pensar em qualquer frase, qualquer uma que pudesse ser dita para que ela sempre se lembrasse dele. Pensou em dizer que a amava, mas ela mesma não estaria pronta para sequer digerir aquelas três grandes palavras e ele muito bem sabia que quando ditas, não poderiam ser recolhidas como algo que você derruba no chão e simplesmente o pega, fingindo que ele nunca esteve lá.

A única coisa que passava em sua cabeça, além dela, era a frase que pensou em retrucar quando Charmin o respondera. Você já o fez.

– E nós precisamos ir antes que todos acordem. – Decidiu responder, ignorando todos os pensamentos que estava tendo. – Você sabe como James é.

Ele sorriu, levantou-se, limpou as roupas e estendeu a mão para ela. Ao aceitar, levantou-se e sentiu o braço de Nícolas envolta de sua cintura. Charmin endureceu, em seguida olhando para o braço de Nick em seu corpo e voltou os olhos para ele, como se perguntasse qual o nível de babaquice que ele estava.

Nícolas deu de ombros com um sorriso bobo no rosto e fingiu não ver a careta dela. Não riria daquele jeito para ela tão repetidamente. Não deixaria que ele fosse completamente desarmado novamente pelo jeito tão apaixonante dela.

– Faz parte do ritual de seduzir as garotas.

– Ser um babaca?

– Ser um babaca que beija bem.

Charmin revirou os olhos, em seguida soltando um riso cínico e claramente falso que sempre usava com Nick.

– Ah, não está funcionando!

– Quer outro beijo pra ver se funciona? – Perguntou, mordendo os lábios em provocação. – Você sabe, não é incômodo nenhum pra mim.

– Não precisa. Eu acredito nas suas técnicas sedutoras. – Os dois se olharam. Ambos tinham divertimento nos olhos. – Só não as acho totalmente eficientes.

– Ah, vem aqui!

O Sol já estava tomando conta do céu, que tinha assumido um tom azul claro com algumas nuvens. Todos provavelmente já estavam acordados e esperariam pelos dois mais um pouco.

***

– Onde ela está?

Will havia descido pelas escadas com algumas frutas e uma jarra de suco de laranja. Saiu de manhã para comprar comida para os meninos e ao passar pelas camas de Charmin e Nick, pôde ver que não havia pessoas ali. Um sorriso muito malicioso apareceu em seu rosto ao subir as escadas.

Esse é o meu garoto.

– Está no banheiro, passando a maquiagem. – Disse Kyle sorrindo. – Eu tenho que dar parabéns pros pais dela.

– Ah, não! Você também não! – Gritou James, do outro lado do alojamento. – E eu achando que você era um rapaz educado!

Todos começaram a rir do surto de James, fazendo com que até mesmo o próprio caísse nos risos. Era realmente incrível que, desde o abandono de Collin, James havia assumido a posição de irmão mais velho superprotetor.

Todos os garotos conversavam em volta da mesa dos computadores enquanto comiam as frutas quando Charmin saiu. O vestido estava mais ajustado e agora que ela estava maquiada e de cabelo totalmente arrumado, realmente não parecia ser uma B que não possuía dinheiro suficiente para comida.

– Então...?

– Charmin. – Chamou James, sério. – Eu exijo que você volte a ter catorze anos.

Ela sorriu e o abraçou. Parece que finalmente James entendera o quanto ela cresceu.

– Obrigada pelo elogio.

Afastou-se de James e imediatamente recebeu um abraço de Will, que levantou seus pés. O jeito extrovertido de Will faria falta, assim como suas provocações e desafios. Em seguida abraçou Josh e, mesmo tensa no começo, cedeu ao garoto. Os gêmeos estenderam cada um uma mão para o aperto, mas Charmin colocou um braço em torno do pescoço de cada e ambos ficaram realmente assustados.

Então chegou a vez de Nick. Ele estava com aquele sorriso de canto que esboçou quando Charmin falou de seus olhos meses atrás. Nicolas aproximou-se da garota, colocando as mãos em sua cintura.

– Sem demonstração de afeto público, por favor. – James disse, entre tosses falsas.

Nick virou a cabeça para ele com divertimento e novamente voltou para Charmin, enfim abraçando a garota. Não havia percebido, mas estava apertando cada vez mais o corpo de Charmin contra o seu e sabia por quê. Estava perdendo-a novamente. Mesmo sem saber o motivo do aperto forte do garoto, Charmin sabia que deveria confiar em Nícolas e dar o mesmo para ele.

– Não se preocupe. – Sussurrou em um tom tão doce que ela mesma desconhecia. – Eu volto para ouvir mais da sua beleza estonteante.

Ele riu pelas narinas e deu um beijo em seu pescoço. Era inacreditável o quão indefeso se tornava perto dela.

– Por favor.

Em seguida, ao ouvir James e Will pigarreando, os dois se afastaram e Charmin despediu-se de todos, sendo acompanhada por Will até a fronteira para fazer a revista e entrar na A. Ambos saíram do alojamento e cruzaram a floresta para chegar à cidade e após isso, à fronteira.

– O senhor está muito bonito, William. – Comentou Charmin em tom formal. – De onde saiu esse terno aí?

– Esse aqui é o terno que eu usei no funeral dos meus pais. – Respondeu. – Eles foram mortos pelo rei. Saquearam comida para mim e para Josh. Nós estávamos quase morrendo de fome.

– Eu... Eu sinto por você. –Disse Charmin, mexendo na saia do vestido para conter a vergonha. – Bem, você e Josh conseguiram se virar muito bem. Eu nunca tinha visto um computador como aqueles de perto.

– Eu sempre fui independente. Josh sempre seguia o que eu fazia então... Nós nos safamos de tudo. – Repentinamente parou de frente para a garota. – Mas não sou eu quem importa. É você. Toma aqui sua identidade falsa.

– Madeline Isabell Harlow. – Pronunciou, arqueando uma das sobrancelhas. – Que nome de fresca.

William sorriu. Dias antes de começar a encomendar as coisas de Charmin para A, refletiu se a garota seria do mesmo jeito que sempre foi: gentil e ao mesmo tempo grosseira. Carismática e tão impaciente que era uma surpresa ver que ela ainda não havia desistido de todos no alojamento.

– As meninas da A se resumem nisso. – Devolveu num sorriso irônico e Charmin afirmou.

A garota bufou e continuou a andar. Percebeu que Will, ao tentar acompanhar seu ritmo, acabava tropeçando no próprio pé e voltava a seu ritmo original, a perna manca denunciava a impotência dele.

– Will. – Chamou incerta sobre a pergunta. – O que... O que aconteceu com sua perna?

– Quando eu era do exército, fui levado para uma guerra dos EUA contra a China. Roubaram nossas armas e nós tentamos recuperar pelo menos um terço. – Respondeu. A dor era óbvia na voz. – Eu estava sozinho no território quando pisei num buraco cheio de arame farpado, alguns pedaços de madeira e sei lá mais o quê que foderam com a minha perna. – Pausou para respirar e suspirou. O único que sabia daquela história era Josh. – E também tinha uma mini-bomba.

Por um momento ela mordeu os lábios, imaginando a dor que Will deveria ter sentido. A agonia de ter o arame perfurando sua pele, as madeiras prensadas, infiltrando no tecido, deixando farpas finas e irritantes. Então sentiu a bomba estourando embaixo da terra, auxiliando todo o processo do arame e da madeira em dilacerar a pena dele. Os olhos lacrimejaram tão de repente que Charmin teve de respirar profundamente para não chorar.

– Resumindo: Uma perna dilacerada na altura da virilha e após muita grana conseguida pelo Josh e doada por seu irmão, uma linda e sedutora prótese que enferruja a cada dez dias. – Continuou, sorrindo de canto. Charmin percebera que ele tinha um buraquinho na bochecha que o deixava mais charmoso. – Por isso deixei você ficar assim que ouvi seu sobrenome. Além de ter sido meu parceiro de exército e melhor amigo por enorme tempo, Collin fez com que hoje eu pudesse andar sem uma cadeira de rodas. Eu tenho eterna gratidão por ele.

– Collin pode ter sido muito vagabundo comigo, mas ele sempre foi uma maravilhosa pessoa com tudo e com todos. Mesmo me impedindo de ser feliz e ter mentido pra mim sobre vocês esses anos, eu sempre soube que, tudo que ele fez, mesmo sendo as maiores merdas da vida dele, foi por minha segurança.

– Que bom que você ainda tem fé em seu irmão.

– Eu tenho que ter. Família é família.

***

Por incrível que pareça, havia muitas pessoas para ir à A. Empresários estrangeiros, sortudos da B que conseguiram comprar as pulseiras, estudantes saindo para intercâmbio e voltando de viagens turísticas... E uma falsa estudante de arquitetura.

Will a havia deixado alguns metros de onde estava. Beijara seu rosto dos dois lados e despediu-se com o tradicional apelido e um “boa sorte” divertido. Então ela entrara na grande fila e assumira a postura dos A’s. Endireitara a coluna, colocou a bolsa apoiada do ombro e a cada cinco minutos que se passava, ajeitava o cabelo e a maquiagem.

Até que sua vez chegara e ela pôde ver a enorme catraca de revista. Era toda coberta de vidro e o símbolo real estava pintado no aparelho, nas paredes e em tudo mais que desse para colocar. Um guarda apareceu para revistá-la e antes de olhar para seu rosto, olhou para as pernas e depois para a parte exposta dos seios. E ela achando que não funcionaria.

– Bom dia, senhorita...

– Madeline.

– Madeline. – Na voz do guarda, o nome soou dez mil vezes pior. – O que uma jovem senhorita está fazendo por essas regiões?

– Voltei da Itália para estudar sobre arquitetura e escultura. Serei auxiliar no processo de reconstrução das áreas de lazer da A. – Respondeu Charmin, um sorriso amarelo expressado enquanto falava. – Devo isso ao meu país e ao rei.

– Concordo. Esses B’s são mesmo uns inúteis. – Pronunciou, olhando para ela.

Os olhares se encontraram e então ela lembrou. A brutalidade ao pegar em seus braços e jogá-la no chão, praticamente tratando-a como um objeto inanimado. O olhar frio, cruel e sem vida que dera a ela quando perguntara se ela ainda tinha alguém para sustentar a casa e ela. O guarda que a enxotara de casa quatro anos atrás. Pronunciara a mesma frase de agora: “Esses B’s, até suas peles são inúteis”.

Abaixou o olhar imediatamente para que não olhasse em seus olhos e ajeitou os cabelos, de modo com que cobrissem a marca deixada pela infecção da farpa. Não poderia ser descoberta agora, já havia ido longe demais com isso. Já havia matado, ameaçado, roubado e subornado. Usara as roupas pretas tantos dias que esquecera como era usar tons coloridos. Não fez tudo isso para acabar sendo lembrada por esse miserável.

– Bonitos olhos os seus, senhorita Madeline. –Falou, enquanto estendia o braço para sinalizar que passasse a pulseira. – Realmente muito diferentes.

– O-obrigada, senhor. – Agradeceu quase em pânico.

Olhou de soslaio antes de passar o pôde ver o guarda apertando alguns botões de um dispositivo desconhecido. Passou a pulseira e ela não foi. Não identificara nem seu nome falso. Virou-se e pôde ver vários guardas aproximando-se. Prendeu a respiração, pôs-se na ponta dos pés e começou a correr.

Graças a Deus o vestido não atrapalhara e estava de sapatilha. Empurrou alguns, derrubou outros e levou vários tombos, nada a impedia de continuar correndo. Um dos guardas aproximou-se e Charmin jogou a bolsa em sua cara, afetando a visão do mesmo. Já conseguia ver a parte mais pobre da cidade quando outro guarda tomou sua visão, possuía uma arma em mãos. Antes que ele atirasse, porém, Charmin tirou uma adaga debaixo da saia volumosa do vestido e jogou em sua mão, atingindo a maioria dos dedos unidos. Agradeceria à suposta mão ousada de Will quando chegasse ao alojamento.

Escondeu-se dentro de uma lata de lixo velha ao ouvir vários gritos dos soldados e por lá ficou até que não ouvisse nem o som do vento. Tirou as sapatilhas e guardou-as na bolsa para facilitar a corrida. Retirou a tampa de cima de sua cabeça e olhou ao redor, certificando-se de que não havia ninguém. Saiu de dentro e voltou a correr rumo à floresta novamente.

Estava conseguindo ver as longas e sombrias árvores quando algum guarda chamou por seu nome real. Maldita reputação nesse maldito país. Aumentou a velocidade e enlaçou a bolsa em suas costas. Já conseguia ver a falta de árvores e a passagem de folhas secas onde estava o alçapão secreto quando escutou barulhos de tiro.

Então sentiu que não foram somente barulhos.

Arquejou as costas com o impacto queimante das balas e de súbito caiu no chão. Podia sentir exatamente onde estavam as balas, eram cerca de três ou quatro. Queimavam como as labaredas mais altas e incessantes do Inferno em todo o seu lombar e podia sentir que sua espinha havia sido danificada. Com o máximo de esforço possível, retirou da bolsa a flor dada a ela por Nícolas – que agora estava quase toda amassada – e então deixou que os olhos finalmente se fechassem.


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Notas finais do capítulo

Comentem sobre o capítulo, meus queridos 17 leitores acompanhantes. Eu quero mesmo saber o que vocês acharam do final desta história e¬e
Até quarta-feira



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