108 Pétalas de rosa (Interativa) escrita por Wondernautas


Capítulo 14
Não arranque as raízes




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Ryu Hamaru, de costas para uma parede, com uma face presa em sua barriga e cordas presas aos seus pulsos fixadas na mesma parede. Morto, tudo o que mostra que um dia ele teve vida é rastros do seu sangue por aqui. Próximo dele, uma rosa vermelha. Perante tal cena, Noah, Nathaniel e May.

– Agora, além do Joseph, a May e o Nathaniel estão envolvidos também. – pensa Tanaka, vindo à direção deles, por trás. – Isso está ficando cada vez pior...

– Tanaka-kun... – comenta Noah, surpreso, ao voltar sua face para trás quando ouve os passos do maior.

– Oi, aconteceu alguma coisa com vocês? – questiona o “bombado”, parando próximo deles.

– N-não. – nega Nathaniel, que continua olhando para o corpo de Ryu, ainda abalado, tal como May.

– Pelo menos pude encontrar o Noah em segurança. – imagina Tanaka. – Se o Joseph ficar com o Tenshi e eu ficar com esses três, o Rosa Negra, provavelmente, não agirá mais nesta noite... Ao mínimo, eu espero que seja assim.

– Como uma coisa dessas foi acontecer? – May ser pergunta, com seus olhos arregalados para o falecido na parede. – Quem foi que fez algo tão brutal assim?

– Ainda não sei, mas vou descobrir. – afirma Tanaka. – Vocês três estarão seguros se estiverem comigo.

– Temos que avisar a Andrea-san. – articula Noah, voltando-se para ele. – Ela é a número 9 e ainda vai demorar para ser um alvo do Rosa Negra. Sendo assim, May-san estará segura com ela. Além disso, são colegas de quarto.

– Sim. – Tanaka concorda, cruzando seus braços. – Já você terá que vir dormir no meu quarto ou no quarto do Tenshi. Se você ficar no mesmo quarto que o Yuki, como são colegas de quarto, ambos estarão correndo sérios perigos. Afinal, você é o número 13 e ele é o 12.

– Acha que o Rosa Negra perderia tempo colocando quem já está fora do jogo em perigo, Tanaka? – questiona alguém.

May, Nathaniel – os dois que não estão entendendo absolutamente nada da conversa entre os outros dois –, Noah e Tanaka dão meia volta. Vindo até eles, surge Ivan. Foi quem fez a pergunta.

– Sim. – responde o amigo de Tenshi e Noah. – Yuki está fora temporariamente, mas se ele acordar do coma, voltará a ser um concorrente para o dia da coroação. Portanto, se o Rosa Negra tiver a chance de se livrar dele de vez, não hesitará.

Ivan vem se aproximando até colocar-se frente a frente com os quatro. May e Nathaniel ainda estão bem abalados, mas Noah e Tanaka não muito, já que sabem quais “tópicos” configuram a morte de Ryu. Desse modo, ele indaga:

– Será?

– Por que está com essa postura? – questiona Tanaka. – Por acaso, é você o Rosa Negra?

Ivan permanece sério, em silêncio. Não tem o desejo de responder, mas por outro lado, não desvia seu rosto e permanece encarando o outro nos olhos. Os dois continuam nessa situação de clima pesado por alguns momentos até Nathaniel se manifestar:

– O que é tudo isso, afinal de contas?

– Acho que teremos que contar para vocês... – pontua Noah, suspirando pesado, mais impactado pela morte de Ryu do que Tanaka, aparentemente, está. – Mas precisam prometer que não falarão para mais ninguém.

– Não acho que as regras admitem algo assim. – Ivan, por sua vez.

– Não poderíamos envolver em tudo isso quem nada tem a ver com a história. – Tanaka, por sua vez. – Porém, eles já viram o corpo de Ryu e precisamos explicar tudo para os dois para evitar que o mesmo aconteça com ambos.

– Podemos morrer também? – indaga May, espantada com a possibilidade. – Me expliquem agora o que significa tudo isso!

– Explicaremos. – garante Tanaka, dando meia volta. – Mas então, os dois, preparem-se para ouvir...

/--/--/

17 de outubro, quinta-feira, às 11h00min...

Dois dias após as mortes de Ryu e Misty. Além dos envolvidos diretamente com o Festival da Rosa Vermelha, aparentemente, entre os estudantes, somente Nathaniel, May e Joseph ficaram cientes dos acontecimentos na noite de terça-feira. Todos os demais parecem ter se esquecido da existência daqueles dois, inclusive, o corpo docente da escola. No segundo horário do dia, quando a chamada foi feita na classe A do 3º ano, os nomes dos dois não foram citados na chamada.

– Pelo visto, o Rosa Negra e o Rosa Branca possuem diferenças cruciais além da diferença entre seus papeis em tudo isso. – comenta Kagura, em uma mesa do refeitório.

Reunidos aqui com ela, estão Tenshi, Dante, Ivan, Tanaka, Noah, Miyuki, Andrea, Lucy e Ivy. Estão, há alguns minutos, conversando sobre o Festival da Rosa Vermelha.

– De fato. – confirma Ivy. – Enquanto os atos do Rosa Negra são refletidos na memória de quem não tem ligação com o mesmo, os do Rosa Branca não. Portanto, mesmo que o Rosa Branca mate alguém, o que provavelmente não acontecerá, ninguém se esquecerá da existência da vítima. E o corpo não desaparecerá.

Assim como aconteceu com a primeira vítima, Naomi, os corpos de Misty e Ryu também desapareceram sem deixar rastros.

– Acho que já está mais do que na hora de você falar sobre o que sabe, não? – Dante, por sua vez. – É evidente que você sabe mais do que diz sobre a Ordem da Rosa Vermelha e o festival. Se não é mesmo o Rosa Branca como afirmou, não há razões para mentir.

– Também não tenho motivos para compartilhar com ninguém o que sei. Afinal, o que eu quero é que Kagura vença e seja coroada no grande dia do festival. – garante ela. – Portanto, passar informações demais para os adversários dela é um erro.

– Você também esta envolvida na seleção. O que a faz querer defender tanto a Kagura? – questiona Ivan, desconfiado.

– Isso não lhe diz respeito. – articula Ivy, séria. – Nem mesmo é o momento para que eu conte tudo o que sei para a Kagura, quanto mais para vocês. Por outro lado, garanto que não sou o Rosa Branca. Mas não me importo se não acreditarem, para mim, não faz nenhuma diferença.

– Estou procurando acreditar em você. – garante Kagura, um pouco hesitante. – Mas em meio a tudo o que vem acontecendo, é complicado.

Miyuki, por sua vez, olha para Kagura com um olhar pesado. A Hananatsu percebe que ela ainda está abalada pelo que aconteceu com Ryu e Misty, ainda mais que, no dia da morte deles, ela esteve no quarto dos dois junto de Tanaka e Noah.

– Eu entendo. – afirma Ivy. – Mas isso me lembra de outra coisa que gostaria de dizer: o corpo de uma vítima do Rosa Negra só desaparece pouco depois dele ser avistado por alguém, mesmo que seja alguém fora das relações com o festival. Além disso, como devem ter percebidos, quem fica ciente de uma morte, logo se lembra das outras vítimas.

De fato, May, Nathaniel e Joseph se lembraram de Naomi, mesmo que antes, demonstraram ter se esquecido de vez dela. Ambos os três continuam bastante abalados com tudo o que aconteceu.

– É preciso proteger aqueles três. Caso contrário, poderão se machucar mais ou até mesmo serem assassinados em nem ter a ver com todo esse jogo maldito. – determina Tenshi. – Portanto, vamos ter em mente que é preciso acabar com isso o quanto antes.

– Não sei se posso confiar em algum de vocês. – conta Dante, voltando seu olhar para Kagura logo depois. – Nem em você, Kagura.

– Somos namorados. – diz ela, com um olhar triste. – Por qual motivo anda me tratando dessa maneira?

– Porque está se comportando como uma vagabunda. – declara, surpreendendo os seus ouvintes, com exceção de Ivy. – Não sei mais o que esperar de você.

– Não fale assim com ela, você não precisa de toda essa agressividade. – exige Tenshi, sério.

– Fique na sua. – exige Dante, olhando para ele por mais alguns segundos, para depois retornar sua atenção à namorada. – Além disso, Kagura, não somos mais namorados. Não há razões para manter uma relação com raízes apodrecidas.

Os olhos dela se arregalam e seu coração é tomado por uma forte pontada. Ultimamente, Dante está sendo sim mais evasivo e frio com ela, mas Kagura jamais poderia esperar algo assim. Afinal, por mais que esteja se interessando por Ivan e por Tenshi, a irmã de Noah gosta de Dante e é com ele que quer ficar – ao menos, é o que pensa.

– Poderá, também, pensar sobre o que você quer. – Dante completa. – Não quero ficar com alguém que tem interesse em outras pessoas. Deveria ter olhos só para mim assim como tenho só para você, mas não é assim que a banda está tocando.

– Dante... – fala ela, ainda impactada.

– Chega. – exigem, juntos, Miyuki e Tenshi.

– Você não merece ela. – Miyuki completa, chamando para si todos os olhares. – Então chega e vê se fica com a boca fechada.

Além deles, há outras pessoas no local, em diferentes mesas. Em uma, não muito distante da deles, estão Maria, Natasha e Elizabeth. Ambas observam com atenção tal grupo.

– Do que será que eles estão falando? – Elizabeth, por sua vez. – Não sou muito de fofoca, mas agora estou curiosa.

– Eu também. – pontua Natasha. – Eles são tão diferentes uns dos outros. E notei que estão mais próximos ultimamente.

– O curioso é que sempre estão sérios quando juntos. – articula Maria. – Mas está faltando gente naquele grupo...

– O Damon e a Kazume. – Elizabeth determina. – Além do Yuki, é claro.

– Ele deve estar com a namorada, mas ela não faço a mínima ideia. – Natasha conta. – Aliás, Kazume-san sempre foi tão solitária. Nem apareceu nos três primeiros horários de hoje, notaram?

– Sim, é verdade. – concorda Maria, tendo como foco do seu olhar Tenshi, naquela mesa junto dos outros.

Enquanto isso, na mesa dos envolvidos com o Festival da Rosa Vermelha, Kagura se levanta. Na sequência, ela comenta:

– Acho que terminamos por aqui, não é? Então vou indo.

– Vou com você. – diz Miyuki, levantando-se também.

– Não é preciso. – garante Kagura. – Quero ficar sozinha.

Desse modo, a líder do Clube de Kendô vai se retirando do local, sendo observada por todos. Tenshi e Ivan sentem o desejo de segui-la, mas a própria Miyuki os impede com seu olhar de negação.

– Se ela quer ficar sozinha, não serei eu quem interferirá. – imagina a prima de Tenshi.

Kagura continua caminhando, se afastando cada vez mais. Em um momento, cruza com Haraki e, logo depois, com Killer e Tsubasa. Ainda assim, não se importa com isso, nem os cumprimenta. Está abalada demais até para ser educada. Na sequência, chega onde quer: banheiro feminino. É quando chega aqui que dá de cara com Kazume, quem já estava de saída.

– Kagura... – recita a loira, séria.

– Kazume... – a outra corresponde.

Uma diante da outra, elas se encaram. Porém, observando com mais atenção os olhos de Kagura, a outra percebe que ela não está muito bem. Tentando evitar que Kazume compreenda isso, a irmã de Noah fecha seus olhos. Suspirando profundamente, pede:

– Com licença?

Kazume desvia-se um pouco para dentro, o que permite a passagem de Kagura. Ela vai indo até uma cabine quando a fala da loira a interrompe:

– Até quando pretende ser tão medíocre?

– Como é? – pergunta Kagura, de costas para ela.

– Até quando pretende ser assim, tão prepotente? Até quando? – insiste, entrefechando seus olhos, irritada somente pela presença da outra.

– Não sou prepotente. – discorda, ainda de costas para ela. – Eu sou quem sou, respeitando sempre aqueles que me cercam. Nem mesmo sei por que me odeia tanto.

– Eu te desprezo, Kagura. – afirma Kazume. – Você é um tipo detestável de pessoa.

Kagura fica em silêncio. É quando se lembra de tudo o que Dante lhe disse há pouco e dos sentimentos confusos que está nutrindo por Ivan e Tenshi. Tais palavras ecoam em sua mente: “Porque está se comportando como uma vagabunda. Não sei mais o que esperar de você. Além disso, Kagura, não somos mais namorados. Não há razões para manter uma relação com raízes apodrecidas.”.

– Você deve ter razão. – determina, surpreendendo sua rival um pouco, pensando em seguida: – Assim como ele... – e completa: – Afinal, eu mesma devo ter raízes podres.

– Raízes podres? – indaga, colocando sua mão direita na sua cintura. – Você por completo é podre. Não me admiraria caso descobrisse que você é o Rosa Negra e está matando pessoas quando dissimula ao ponto de fingir ficar abalada por tudo o que vem acontecendo.

– Eu não tiraria a vida de ninguém, muito menos por causa de um jogo macabro. – argumenta.

– Nem mesmo de Ryu, aquele imbecil que vivia lhe importunando? Ou de Naomi, a garota que sempre dava em cima do seu namorado? – pergunta Kazume. – Convenhamos, Kagura, todos os indícios apontam que você é uma grande suspeita como o Rosa Negra.

– Eu não sou. – garante Kagura, séria, permanecendo de costas para a loira. – Eu nunca mataria uma pessoa, nem mesmo um animal.

– Mas mataria sonhos, não é? – pergunta, aparentando estar mais irritada. – Assim como fez quando arrancou as raízes dos meus.

– Eu? – tenta entender, voltando-se para ela, agora. – Matei seus sonhos?

– Você sempre teve tudo o que quis, Kagura. Somente por que teve uma mãe ruim acha que é melhor que os outros, por ser uma pobre vítima de uma vida cruel. – ironiza. – O luxo que tem, a vida boa que tem, você esfrega isso na cara de todos.

– Eu não sou assim.

– É sim! – grita Kazume, cada vez mais nervosa. – Eu sei que você ajuda aqueles com dificuldades no aprendizado para mostrar que sabe, para comprovar a sua detestável excelência acadêmica. Porém, se esquece de que há bolsistas por aqui que ralam para permanecerem nesta escola, que há pessoas humildes que, caso sofram o menor dos problemas no desempenho escolar, são convidados a se retirarem do Rosa Cruz! Mas você é diferente! Pois, além de arrogante, não é uma bolsista! Seus esforços por boas notas não é para lutar por sua vaga aqui, mas para humilhar aqueles que o fazem.

– Eu... – tenta se retratar, mas a loira a interrompe.

– Até mesmo com seus relacionamentos, fica insatisfeita com somente um e se interessa por outros dois! – exclama, agora, rindo ironicamente. – Você se aproveita da sua popularidade para se colocar no topo, para ser a melhor. E tenho certeza que continuará fazendo isso na sua faculdade e em qualquer outro lugar que estiver!

– Eu não sou assim! – Kagura se defende.

– Olhe para você mesma! – recomenda a loira. – Se estou errada, por qual motivo você sempre estudou tão desesperadamente? Por qual motivo começou um namoro com um garoto que não ama?

– Eu amo o Dante sim!

– Não ama não, sua falsa, dissimulada!! – esbraveja, furiosa, desfazendo seu sorriso artificial. – O amor é pleno. Se o amasse, não teria olhos para outras pessoas. Somente namora com ele para mostrar que é capaz de ter o garoto mais disputado da escola. Somente por isso!!

– É mentira! – grita, começando a ter seus olhos cheios de lágrimas. – Você não sabe de nada do que está falando!

– E ainda se passa por mocinha sofredora... – ironiza, colocando sua palma direita à frente de si, como quem estivesse para arrancar algo. – A minha vontade é de arrancar com as mãos seus cabelos desde as raízes para que seja uma pobre coitada dignamente sofredora. Afinal, a protagonista desta grande circo chamado Rosa Cruz ainda sofreu muito pouco para atender ao papel com excelência!

Kazume vai se aproximando de Kagura. É quando continua:

– Você nunca percebeu, quando ainda éramos amigas, que a sua postura de tentar me ajudar somente me destruía. Pois, diferente de você, eu aprendi desde cedo a caminhar com as minhas próprias pernas.

A loira se coloca diante da outra. Em seguida, acerta o rosto da irmã de Noah com um forte tapa com sua mão direita, fazendo-a cair ao chão por tamanha violência. Kazume ainda pontua:

– Para alguém que sempre teve que lutar com o suor do próprio rosto, incentivada pela mesma postura da sua família, receber a caridade alheia somente por ter pouco e a necessidade de lutar é a pior tortura.

Kagura coloca sua mão esquerda sobre o lado de sua face que foi atingido. Perplexa, mas com lágrimas rolando por seu rosto, ela ainda escuta as últimas palavras da sua rival:

– Mas algo te garanto: meus sonhos tem raízes fortes demais para serem arrancados por alguém tão vil como você.

A loira lhe dá as costas. Andando em direção à porta, a empurra quando se aproxima e sai do local. Kazume deixa Kagura sem olhar para trás. A Hananatsu, por sua vez, permanece como está sem aparente desejo de se reerguer. O tapa que recebeu não derrubou somente o seu corpo, mas também desestabilizou sua alma e...

– Feriu as minhas próprias raízes... – pensa, em choro úmido e silencioso. – De uma maneira que eu não poderia esperar...


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