LAILA

Andar, andar, andar, andar e andar. Laila já não aguentava mais aquilo. “É impossível. Nunca sairemos daqui” pensou. Ela já estava... Desistindo. Nem mesmo irritar Kyle estava sendo interessante mais.

Eles estavam andando por horas. Na verdade, por dias, todos andavam procurando algo que os ajudasse a sair dali, mas infelizmente, nem mesmo madeira que prestasse para fazer um barco eles conseguiam. Não conseguiam absolutamente nada.

Laila soltou um suspiro e parou. Ela fechou os olhos e respirou fundo, então, quando os abriu, percebeu que todos estavam parados a encarando.

– Acho que devemos parar um pouco para descansar. – Calliope disse. De algum jeito, todos a haviam aceitado como “líder” do grupo. Havia sido assim desde o primeiro dia, e, aparentemente, ninguém contestara contra isso.

– Concordo! – Marianne falou se jogando no chão sem cerimônia alguma. Laila fez o mesmo. Sede, fome, cansaço e eles nunca chegavam a nada. Realmente, tinha como aquela situação ficar melhor?

Ninguém falou absolutamente nada. O único som que se ouvia era o das respirações pesadas, e assim continuou por um bom tempo.

Laila se sentou e observou aquelas pessoas. Calliope, aquela louca por adrenalina. Marianne, que sempre fazia brincadeiras e conseguia melhorar o humor de todos. Kyle, que sempre estava calmo e aguentava Laila o irritando. Alícia, que sempre era educada e doce, mesmo... Naquela situação. Neville, aquele garoto atrapalhado e inteligente. Acontecesse o que fosse, Laila sabia que eles estavam se tornando importantes para ela, muito mais do que admitiria, e que sentiria falta de todos eles. Isso era normal? Se apegar a pessoas que conhece há pouco tempo?

Laila balançou a cabeça e tentou ignorar os próprios pensamentos. “Que coisa mais estúpida para se pensar. Não pense que algo ruim vai acontecer. Tente ser... positiva”.

XXX

Então a noite veio, e mais uma vez, eles não chegaram a nada. Como havia dito Marianne, eles estavam em “Lugar nenhum, em Meio de Nada, na esquina com Fim do Mundo”.

Todos estavam fracos. Mal estavam aguentando andar, então foi só escurecer que todos resolveram deitar e apagaram.

– Laila, responda a pergunta. – uma voz masculina dizia sem parar. Que pergunta? Laila não se lembrava de nenhuma pergunta. Ela não se lembrava de nada. O que ela estava fazendo ali? E quem era aquele homem?

– Laila, você sabe o meu nome?

– N... Não. – a garota respondeu, visivelmente confusa.

– Ótimo. Essa aqui já está pronta, levem ela! – o mesmo homem disse e um outro homem, de aparência um pouco mais jovem, apareceu e começou a empurrar Laila pelos corredores, até parar em uma sala com outras pessoas. Ao longe, um som de hélices podia ser ouvido.

– Acho que já está na hora... – uma mulher sussurrou ali perto. Um homem perto dela concordou e foi em direção ao som.

“Hora de que?” Laila quis perguntar, mas ela não conseguis organizar suas ideias. Tudo parecia tão... tão... tão...

E então ela acordou.

Sua cabeça doía e ela estava confusa. Muito confusa.

– Laila? – aquele sussurro era de Kyle. Estava quase amanhecendo, já era possível enxergar algumas coisas.

– Acho que sim... – ela disse, e então percebeu que Kyle estava de pé, com a mochila nas costas. – Onde você vai?

Kyle não respondeu. Ele apenas encarou Laila, que olhou para os olhos do garoto e levantou as sobrancelhas, o que dizia de forma implícita para ele a responder.

– Eu... Vou voltar para... Aquela parte do início. A praia.

– Por que...? – Laila perguntou, mas ela sabia a resposta. Eles não estavam chegando a nada. E ela havia pensado a mesma coisa há poucos dias.

– Acho que você sabe o porquê.

Então ele virou de costas e começou a andar. Por algum motivo que mesmo ela sabia, Laila se levantou, pegou sua mochila e correu até chegar perto dele.

– Então, eu acho que vou com você. Não discuta.