JD - Just a Dream escrita por Vee Skye Bancroft


Capítulo 2
Mirian I - Tormenta




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I was told to stay away, those two words I can’t obey

Aquele mesmo pesadelo, todos os dias. Simplesmente não mudavam, nada bom acontecia, nem mesmo algo do que pudesse se orgulhar. É claro, ele dera sua vida, em troca de fazê-la viver. Quer declaração de amor maior que essa?
Apoiou calmamente o corpo no colchão, levantando o tronco para poder ver se Jullieta estava acordada. Ela já não era a mesma. Falava poucas coisas com Mirian, e sempre que necessário, mudava de assunto repentinamente, como se fugisse de bilhares de pecados. Os longos cabelos ruivos encaracolados, estavam desgrenhados e seus olhos esverdeados, sem um piscar de vida sequer.
Chovia. Como parecia chover todos os dias. Antes, ambas gostavam quando começava à precipitar, mas desde aquilo, quando as gotas, uma após outra lavaram o sangue que escorria de seus corpos, perderam completamente a vontade de ter felicidade debaixo de chuva.
Era o dia de retornarem a escola. A licença médica, havia expirado uma semana antes, mas não tiveram nem mesmo coragem de olhar uma para outra, que dirá uma multidão de alunos que simplesmente, não podia entender o que se passava agora na vida das mesmas. Só de pensar em voltar a estudar, Mirian sentia a cicatriz em sua barriga latejar, exatamente como à dois meses atrás.

Ouviram um pequeno ranger de tábuas, vindo do lado de fora e logo enxergaram uma silhueta bem conhecida. Ele podia até usar aquela jaqueta super grossa, mas seus músculos continuavam à mostra. Mirian apenas deu de ombros, e com uma voz rouca gritou abafadamente: Entre! Você tem a chave, por que diabos ainda bate na porta? – ele adentrou na casa e fechou calmamente a porta, logo depois chacoalhando a jaqueta como um gato molhado.
– Porque vocês são garotas, em especial, com comissão de frente – olhou de canto para a morena –, ou quase... Então, nunca se sabe quando se pode entrar livremente.
Mirian ainda sussurrou alguns xingamentos apenas em sua cabeça, e concordou, lhe lançando um olhar de sábia escolha. Mas ainda tinha uma coisa que não estava devidamente colocada, o que ele fazia ali tão cedo?
– Certo, mas o que faz aqui à essa hora? – mostrou indiferença no tom de voz.
– Bom, a Dona Carcaça, nossa querida diretora – cuspiu o “querida” e depois pisoteou lentamente, buscando algum prazer em dizer dessa forma –, me pediu para arrastá-las para a escola de qualquer maneira. Se continuarem assim, ela vai se revoltar, vou logo avisando.
Jullieta deu um longo suspiro, que doeu de uma forma inexplicável para a irmã. Castiel também pareceu sentir o pesar, e fechou suavemente suas orbes cinzentas, tentando refletir sobre tudo o que aconteceu. Apenas ele tinha acompanhado o estado em que a ruiva estava, no hospital. Ele melhor do que ninguém, sabia o que ela sentia no momento. Mirian se perguntava o que teriam conversado, qualquer coisa seria relevante.
A morena se levantou com relutância do colchão que estava, estendido sobre o tapete da sala. Era costumeiro para ela, dormir ali. Direcionou seus olhos azuis cristalinos de formato amendoado para o garoto, em uma troca de olhares do tipo: Eu vou lá, me preparar para a condenação, em seguida, ele respondeu, Vai lá, eu cuido dela, madame.

Caminhou pelo carpete caramelo, até chegar na porta do banheiro. Abriu a cômoda branca, com entalhes que estava mais à frente e pegou de lá uma toalha, uma camiseta qualquer, uma calça jeans, suas meias favoritas – algum problema em ter meias favoritas? –, um par de tênis, e começou à despir-se para entrar no banho.
Vez ou outra, corria rapidamente os olhares pelo espelho, evitando qualquer contato visual consigo mesma. Era doloroso, mas já não se sentia ela, como se fosse difícil ser si própria.Muitos sentimentos emaranhados – afirmou pensativa, buscando um pouco de auto-estima, que não veio. Tudo o que sabia, no momento era que seus cabelos estavam extremamente longos, e um pouco cacheados nas pontas.
Secou-se e colocou a roupa, logo em seguida, penteando os cabelos. Buscou por uma blusa de moletom no cabide interno da porta, essa que era azul, com um detalhe em brasão escrito: Ravenclaw. E tinha também um corvo que ela admirava muito, tinha se apaixonado tanto pela blusa, quanto pelo corvo... Apaixonado... Algo que já não devia ser dito, ou pensado.

Pouco antes de sair, ouviu um pequeno comentário de Jullieta. “A culpa é minha, tenho certeza que se eu não os incomodasse, nunca teria chegado à isso”, Castiel respirou fundo, procurando por palavras e vez ou outra, observando o banheiro, com receio de que Mirian saísse dali e escutasse. Tarde demais.
Depois de sua irmã ter se aprontado, pegaram os guarda-chuvas e caminharam em meio aos mil pingos. Nem uma só palavra. A manhã estava começando uma lindeza só.

Chegando na escola, havia uma rodinha, com um garoto no centro. Logo de cara, ele foi julgado pela morena como um louco. Falava coisas sem sentido, e dava longas risadas em tom grave, como se sua vida dependesse disso. O que a surpreendia, era que as pessoas pareciam gostar de toda essa cena. Mas não se julga um livro pela capa... Ou pelo menos dizem isso.
Mas como, é claro, Mirian não tinha mais paz um minuto sequer... Aquele garoto, hora que a viu praticamente pulou nela, mostrou-se feliz, super alegre. Ela apenas o encarou rispidamente sem nenhuma expressão e então, um pouco da felicidade que ele mantinha colada nos olhos azuis cor de mar, se desfez e ele ficou um pouco mais sério. Talvez estivesse considerando se devia realmente fazer alguma brincadeira.
– Bom dia, jovem dama. – fez uma reverência e ficou à espera de uma cortesia.
– Para você talvez, rapaz de risos altos – manteve uma pausa –, mas não para quem tem dor de cabeça, como a minha.
Ele procurou entender novamente o que se passava, coçou os cabelos negros buscando algum argumento ou questionamento, ou qualquer coisa que quisesse se colocar à tona.
– Mas pra quê essa cara? Tenho certeza que, você não deve ter motivos para estar assim – riu-se de seu próprio comentário –, deve ser apenas mais uma rebeldezinha, como esse rockeirinho. – apontou para Castiel.
Mirian apenas abaixou a cabeça, organizando suas emoções, tanto para não chorar de raiva, quanto por sentimentos. Viu ela que seu amigo estava, pronto para dizer mil e uma verdades, mas o segurou calmamente. Assim que viu o olhar da mesma, Castiel se afastou.
– Rebeldezinha? Isso não chega nem perto do que eu posso fazer. – disse confiante, o confrontando. – O que você sabe sobre a minha vida? Ou mesmo, sobre a vida do meu amigo? Seu mauricinho, mimado.
– ... – ele se manteve em silêncio, como alguém que acaba de perder a deixa para uma piada.
– Qual o seu nome mesmo? – arqueou a sobrancelha, fazendo um jogo mental. – Eu sou Mirian Levesque, à partir de agora, o seu pior pesadelo.
Pior pesadelo....
– Armin Valdez. – de repente, uma luz surgiu em sua cabeça, como um flash, do que ele necessitaria dizer. – Mas sabe, você não perdeu nenhum ente querido, próximo, como eu perdi.
Pronto. Aquela fora a gota d’água. Abriu a mão lentamente e cerrou o punho, carinhosamente, expondo suas emoções e perdendo toda a calma. Foi um único baque, e o garoto de corpo esguio estava ao chão.
– Se realmente era um ente querido... – ela vacilou nas palavras e soluçou – Você não estaria o utilizando com o simples propósito de se sentir inferior... Agora eu entendo, paga uma de depressivo, mas na verdade, tudo o que quer, é atenção! – cuspiu no chão ao lado dele. – Eu realmente te odeio! Armin Valdez!
Abaixou levemente a cabeça, e ele pôde ver as lágrimas rolarem uma a uma, pelas maçãs do rosto da mesma, que estavam completamente vermelhas. Ela adentrou a escola correndo e foi direto ao banheiro. Realmente, aquela manhã estava começando linda demais.
Pouco antes de por fim, conseguir ficar de pé, Armin ainda conseguiu ter para si um olhar fuzilado de Castiel, que insistiu em cortar sua alma. Naquele momento, ele se sentiu a pior pessoa do mundo.
Jullieta se aproximou do moreno, usando de todas as forças para que sua cadeira de rodas não escorregasse. O fitou por um tempo e não julgou nenhuma expressão maldosa em seus olhares, ele era até parecido com... Não, sem chance.
– Me desculpe – sibilou tristemente –, a culpa disso tudo, ter acontecido é minha. Eu causei todos esses sentimentos dolorosos que ela carrega no coração.
Ele a fitou intrigado. Realmente, só queria um pouco de atenção, para depois tentar ser engraçado, mas parece que o plano se voltou completamente ao contrário.
– Hã... Por que não entramos na escola? Você me conta isso com mais detalhes, enquanto eu te pago um cappuccino. – ela assentiu com a cabeça e Armin empurrou sua cadeira até uma mesa perto da cantina.

[...]

Olhos inchados, misturados com belíssimas olheiras, em uma plena manhã de segunda-feira. Tudo isso por culpa de um garotinho estúpido, que mal sabe contar piadas e provavelmente é apenas mais um necessitado de atenção – pensou Mirian enxugando o rosto com o papel reciclável do banheiro. – Mas o que diabos estou pensando?! Necessitado de atenção?! – deu um tapa no próprio rosto em reprovação.
Com toda a certeza, as aulas já tinham começado, e até mesmo, talvez, esteja no fim do primeiro turno. Ouviu-se então o barulho de passos e uma voz mais alta, gritava com outra chorosa, à repreendendo por algum motivo. Nossa “jovem dama”, reconheceu-as de imediato.
Assim que adentraram pela porta do banheiro, e avistaram aquela imagem, que não viam à mais de dois meses, as mesmas surtaram de alegria. E a voz chorosa, comemorou.
– Mirian! Céus, não acredito que está de volta! – a mais alta, praticamente gritou.
Kim... Realmente, ela fora uma das pessoas da qual Mirian mais sentiu falta, ela era animada o suficiente para te fazer rir até mesmo à beira da m.orte, se quer saber. Ela emanava um sorriso extremamente branco, que entrava em contraste com a sua pele morena e seus cabelos negros, além de seus olhos verdes, serem como duas grandes jóias brilhantes.
– Sentimos muito a sua falta. – a menor à abraçava pela cintura, segurando-a de lado.
A pequena Viollete, quase tão fofa quanto sua voz. Ela era o verdadeiro amparo de qualquer pessoa. Claro, às vezes errava em dar conselhos, mas errar é humano. Mirian ficou observando suas tranças na parte superior de sua cabeça, que combinavam perfeitamente com seus cabelos lilases, fora suas orbes cinza, que demonstravam uma profunda alegria verdadeira.
Algum pesar, naquele instante, se tirou das costas de Mirian, como se um cubo gigante de gelo, que estivesse preso ali, acabasse de derreter.
– Por Deus, o que aconteceu com você? Está horrível! – alarmou Kim, visualizando os olhos inchados de tanto chorar.
– Ao contrário de mim, você está linda como sempre. – tentou um sorriso forçado, que apenas causou uma careta de amargura na amiga.
– Mirian, é sério. Nos conte o que aconteceu, e principalmente – fez uma pausa, largando da cintura da mesma –, o que Armin faz ali fora? Ele ficou a aula toda sentado no chão ao lado da porta.
As três tentaram espiar, abrindo vagarosamente a porta, que insistia em fazer um terrível ruído. Que por incrível que pareça, não chamou a atenção do mesmo.
– Não me importo nem um pouco, ele que fique ali sentado, é mais do que merecido. – contestou, enquanto elas se faziam de desentendidas.
– Mas, poxa, ele é uma pessoa tão legal, quanto Frank. À propósito, onde ele está? – inocentemente perguntou Viollete.
É verdade... Ela tinha se esquecido completamente que pedira a Castiel e, também para a diretora, que não contassem para os alunos. Frank podia ser tudo, mas o que ele era melhor, era em fazer os outros felizes. Mirian não comentou nada, apenas deixou algumas lágrimas rolarem, e ao verem aquilo, ambas as amigas entenderam o recado, e um mar inundou as pias do banheiro.

Permaneceram um tempo, tentando consolar umas às outras, em falhas e semi-risos dolorosos. Mas mesmo assim, já era tarde, praticamente, em alguns minutos seria o intervalo, era hora de sair dali. E, é claro, Mirian estava preocupada com Jullieta. Kim e Viollete foram na frente, já que tinham parado de chorar alguns minutos antes.
Quando a morena saiu do banheiro, foi surpreendida. Armin ainda estava ali, encostado no armário da ponta, apenas observando seu PSP (sem mexer nele), como se esperasse alguma resposta. Ele virou lentamente a cabeça, e viu a garota postada ao seu lado. De súbito, se levantou rapidamente, se aproximou. E... Beijou-a.


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