Tinha que ser assim escrita por Jacqueline


Capítulo 1
Capítulo 1




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O QUE TERIA ACONTECIDO SE ARMANDO NÃO TIVESSE ESQUECIDO AS MALDITAS CHAVES?



“Não existe acaso. Nós é que desconhecemos as leis ou os princípios da casualidade.” Jorge Luís Borges

Terminado o desfile todos se foram, menos Betty, que nesta noite se sente mais solitária e triste que nunca. Nesta noite, especificamente, ela considera perdido para sempre o seu único e verdadeiro amor. As cenas das últimas horas vêm todas em sua mente como um flashback... Armando fora sem dúvida muito atencioso e carinhoso com ela, mas nada além disso. Agora certamente estaria com Alexandra, nem se lembraria dela neste momento. Já não tem mais dúvidas que ele está refazendo a sua vida com aquela linda mulher. As recordações tristes do seu amor perdido e a insuportável tensão dos últimos dias envolvendo o desfile arrebentaram os nervos de Betty e ela rompe em prantos, uma explosão incontida naquela Ecomoda completamente deserta naquela hora da noite.
É como se nesta noite ela precisasse aliviar a alma e a mente de toda a dor acumulada durante os últimos meses, desde que se foi para Cartagena. Quer chorar tudo que tiver para chorar e depois, quem sabe, ficar completamente insensível, anestesiada contra toda a dor que sente neste momento. Certa de estar completamente sozinha na empresa, ela está na sua antiga sala (o hueco), debruçada sobre a mesa e soluça alto, no auge do desespero.

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Armando acaba de deixar Alexandra no hotel e está indo para o apartamento de Marcela. Nesta noite, mais do que nunca, ele está decidido a por um fim naquele relacionamento que, na verdade, já terminara faz tempo. Mal entra no carro, o celular toca. É a própria! Com a voz alterada e visivelmente alcoolizada, Marcela grita a ladainha torturante de sempre... quer saber onde ele está, com quem, porquê ainda não foi para o apartamento dela conforme o combinado, etc, etc... Armando responde no mesmo tom, termina por dizer-lhe que ela não está em condições de conversar e que no dia seguinte acertarão de vez aquela situação. Ela recomeça os gritos, Armando desliga bruscamente o celular, desativa a caixa postal e vai para a casa.
Quando chega ao edifício se dá conta de que esqueceu as chaves do apartamento na Ecomoda. Muito irritado, volta para o carro e dá um soco no volante e grita: “Malditas chaves!!” Sai “cantando” os pneus e vai até a Ecomoda. Entra na sala que divide com Mário, apanha as chaves e por alguns instantes fica ali, relembrando aquele dia, o desfile, a Betty e se pergunta onde estaria ela agora, o que estaria fazendo e com quem... Lembrou-se dela dando entrevistas antes e depois do estrondoso sucesso do desfile e soube, então, que desde o dia da fatídica reunião ela fora com Catalina direto para Cartagena, que lá ela conhecera pessoas importantes, famosas, talvez outro homem... Ouviu claramente duas modelos comentando sobre o “lindo francês” que estava com ela em uma festa... E só então, era doloroso admitir, percebeu o quanto fazia sentido a frieza e a indiferença dela. Certamente partiu de Bogotá decidida a refazer sua vida com outra pessoa. Não, melhor não pensar, melhor ir logo embora, os seus nervos também estavam em frangalhos com as fortes emoções desse dia e dessa noite intermináveis. Também ele, nesta noite, sente um imenso vazio, um sentimento de impotência e de derrota em relação a esse amor que parece ter sido morto e enterrado junto com a antiga Betty.
Ao sair, passa em frente à sala da Presidência e instintivamente para em frente à porta fechada. Fica ali por alguns segundos, fecha os olhos e parece vê-la, ouvir-lhe a voz... “Meu Deus, você está ficando louco Armando”, diz para si mesmo...


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