Haru - Pesadelos escrita por Ruby W


Capítulo 2
Uma aventura a caminho


Notas iniciais do capítulo

Olá bolinhas de limão? Como vão? Eu sei que demorei bastante para postar
Mas boa leitura ^^.



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Não discutíamos assim desde a peça sobre os gregos. Castiel e a Yui não paravam por um instante de gritarem um com outro. As veias saiam incongruentes por debaixo do pescoço de Yui. Ela estava incrivelmente irritada por causa de uma simples queda de um prédio. Ela era resistente, não se machucaria por causa de dois andares. Apostaria 1000 ienes, que ela não levaria um arranhão se caísse de um prédio de dez andares. Aliás, ela poderia muito bem ter usado uma barreira; Talvez a surpresa de ser empurrada por um “colega de equipe” a impediu de usar seus dons.

– Eu disse que não foi de propósito! – gritou Castiel.

– Hunf. E daí se foi de propósito ou não? Você me arremessou de um prédio, Castiel! – retrucou Yui com os braços cruzados sobre o peito.

– Eu já pedi desculpas! Isso não é o suficiente para você?

Bem, ele não tinha se desculpado ainda. A não ser que tenha se desculpado mentalmente, o que vale a praticamente nada. Mas quem sou eu para fazer alguma coisa? Eu só queria que aquilo acabasse. Já eram duas horas da madruga, e estávamos parados bem em um terreno baldio. Não era o momento certo para discutir.

– Claro que não. Se eu te empurrasse de um prédio, e depois só dissesse “sorry”, somente “sorry”, o que acharia? – respondeu Yui ainda gritando. Seus berros quebravam o pesado silêncio de uma forma bem dramática.

Eu não sabia que ele tinha se desculpado. Mas, se desculpar antes do pecado, não ajuda em nada.

– Ficaria puto. Como uma baixinha com a metade do meu tamanho, iria conseguir me derrubar? Eu ficaria puto comigo mesmo por ser tão fraco – respondeu Castiel. É bem claro que toda essa hostilidade estava acompanhada de um sorriso bem irônico e provocador; marca registrada do ruivo de farmácia.

Dava a se notar que o Castiel não estava afim de colaborar. Irritar a baixinha, mais do que já estava, era pedir para morrer dolorosamente. Ela sempre foi esquentada. Desde quando a conheci, três anos atrás no parquinho, batendo nos garotos que maltratavam seu irmão, ela parecia um demônio. Os cabelos castanhos na altura do pescoço pareciam ter vontade própria. Nunca esqueci o quanto ela podia ser assustadora, mesmo que a raiva não fosse direcionada a mim. É uma experiência que preferiria nunca encarar de frente, na vida ou na morte.

– Castiel, Castiel... se quer brincar com fogo se prepare para se queimar.

O tom de Yui estava 10 decibéis mais baixos, e sua voz estava bem rouca. O que não era um bom sinal. Se alguém não a impedisse, a coisa ficaria bem feia para o Castiel. E pelo jeito, o Castiel também havia percebido. Seu olhar não transmitia nenhuma segurança fingida de momentos antes.

– Ahn... V-Você sabe, né? E-u sei controlar o fogo... E-Então não há o que temer, né Haru? – gaguejou Castiel. Sua aparência no momento me lembrou, sem muito alarde, uma galinha cacarejando.

Esse meu envolvimento na história foi bem inesperado. Não havia pior momento que esse para me incluírem na discussão. Olhei para o Castiel com aquele olhar: “Você ainda me paga, desgraçado!”, e voltei minha atenção à baixinha possessa de raiva à minha frente.

– Y-Yui-chan, falando hipoteticamente, tá? Se uma garota é arremessada de um prédio, com a absoluta certeza, ela ficaria zangada. Mas!- Disse um pouco mais alto- quando alguém é arremessado por um companheiro de equipe, colega de classe, amigo... é pura traição! Não é? Como pode alguém cometer um ato tão pecaminoso quanto esse? – paro por alguns instantes e aponto para o Castiel. – Esse ser diante de mim é um insensível, bruto, sem coração, e meu irmão? É sim! É culpado por derrubar uma dama realmente de um prédio? Claro! Porém, como sua irmã devo rogar por sua vida – ajoelhei diante de Yui, e a encarei com os lacrimejando (Sempre fui boa atriz) – por favor, o perdoe, pequena menina?

– Depois de me ter chamado de pequena, Haru?! Você... – Yui abaixava lentamente em minha direção, quando uma música bem animada começou a tocar (salva pelo gongo). Todos se encararam por alguns instantes, passando mensagens silenciosas um ao outro, perguntando de quem era o celular.

– Ah! D-Desculpem atrapalhar, é o meu – disse Shiro-chan, que até então permanecera calado. Ele era o irmão mais velho de Yui. Diferente da irmã, não possuía cabelos castanhos vibrantes e olhos verdes marcantes. Possuía cabelos negros apagados e olhos castanho-escuros, como qualquer japonês nativo. Ele é dois anos mais velho que Yui, mas por causa de alguns problemas, repetiu dois anos seguidos no terceiro ano do fundamental.

Nós três permanecemos calados, observando o Shiro-chan atender o celular. Não poderíamos arriscar fazer qualquer barulho, ou qualquer movimento brusco. Achávamos que por trás daquele telefone, fossem os pais do Shiro-chan e da Yui.

Esclarecendo que, os pais deles não gostam de nenhum ser do submundo. “Seres pecaminosos, nascidos de abominações”, como dizem.

–Sim... Agora? Estamos em um terreno baldio treinando.

“Há essa hora?!”

Um berro meio rouco soou pelo telefone, todos nos assustamos. Era realmente o Sr. Hijikata no telefone. E ele realmente nos odiava. Uma vez me expulsou de sua casa na hora da janta, por ter descoberto que eu era uma feiticeira de sangue puro, totalmente abominável. Tive que caminhar três quarteirões sozinha em um dia de inverno. O xinguei de todos os piores nomes que conhecia até chegar em casa.

O Sr. Hijikata reclamou aos gritos por alguns minutos antes do Shiro-chan falar novamente.

– Ok, estamos indo para casa agora. Não precisa se preocupar. Já estamos a caminho.

O Shiro-chan nem esperou pela resposta, desligou o telefone sem um pingo de hesitação e se virou em nossa direção.

–Vocês ouviram. Tá na hora da retirada – uma de suas mãos estava dentro do bolso da calça jeans. E a outra, gesticulava para irmos embora.

Andamos silenciosamente até chegarmos na encruzilhada, onde nos separaríamos. Despedimo-nos rapidamente, e antes de se afastarem, Yui pisou no pé do Castiel com toda sua força e foi embora.

–Ela precisava ter pisado no meu pé? – perguntou Castiel, assim que os irmãos sumiram de vista.

–Não sei, mas ela pisou mesmo assim – respondi –, é melhor irmos também. Nossos pais voltam hoje.

Castiel pigarreou.

– Nem adianta reclamar. Eles já vão encher nosso saco quando chegarmos. Não devíamos ter ficado lá tanto tempo. E tudo isso por culpa sua – alertei.

Dei um leve empurrão com a mão no Castiel, e voltamos a caminhar.

– Quem disse que a culpa é minha?! Foi aquela baixinha que não parava de falar! – Reclamou Castiel.

– Claro que é sua! Se não tivesse empurrado a Yui daquele prédio, não teríamos demorado tanto.

– Eu nem sabia que ela estava tão próxima de mim! Quando esbarrei nela, não pensei que ela cairia.

– Poderia ter se desculpado direito – olhei acusadoramente para o Castiel.

– Foi um acidente! E por que me desculparia depois dela ter feito todo aquele escândalo? – respondeu Castiel na defensiva.

– Bem... Ela exagerou. Mas você deveria ter se desculpado do mesmo jeito.

– Você sempre fica do lado dela.

– Nada a ver. E não se esqueça de se desculpar amanhã.

– É amanhã, né? O festival – instigou Castiel, mudando de assunto.

– Sim. Eu estou muito ansiosa – respondi, indiferente.

– Amanhã, também temos reunião da S.M. Nem quero ver a cara da baixinha amanhã.

– Pode ter certeza que ela anda vai estar brava – adverti.

Castiel suspirou.

– E a culpa é sua! – Castiel me fulminou com os olhos. – Se você tivesse me defendido, ela não estaria mais brava.

– Como assim? A culpa foi sua! Você que fez merda e queria me meter na história. A culpa foi totalmente sua! – cruzei meus braços e mostrei a língua.

– Eu sou o seu mestre, tem obrigação de me defender – respondeu Castiel, zangado.

– Nem a pau! Só porque é o irmão mais velho, não quer dizer nada! – gritei, chutando sua perna esquerda.

O Castiel praguejou de raiva, e começou a apertar minhas bochechas.

– Seu ruivo de farmácia me solte! – gritei bem no seu ouvido, enquanto tentava chuta-lo.

– Hamster raivoso! – revidou Castiel, sem me soltar.

– Chato, velho com hemorroida, chulé de ogro... – depois de ter dito isso, olhei para o Castiel e não consegui mais parar de rir.

Castiel me olhou confuso, mas logo seu rosto se contorceu em uma careta, e sorriu.

– Olha quem fala. “Fantasma do banheiro”... – Castiel riu tanto que se contorceu, segurando a barriga.

– Isso não vale! A culpa foi toda sua! Tive que fica a noite toda na escola por sua culpa! – fiz bico, e virei para o outro lado com os braços cruzados sobre o peito.

– Agora vai ficar brava? – perguntou Castiel.

Bufei, e retornei a caminhar. Não precisava que ele me lembrasse desse acontecimento. Muitos ainda me chamavam de “fantasma do banheiro” ou “a menina cagada”, sem contar os meus outros apelidos, que já possuía antes desses. Foi ele que encheu minha comida de laxante. Pelo menos, mais tarde, havia me vingado adequadamente.

Eram por causa dessas “pegadinhas”, ou melhor, “a guerra entre irmãos”, que muitas pessoas não se aproximavam de nós, o que quero dizer é, que não aproximam de mim. O Castiel era tão popular positivamente quanto pelo lado negativo da fama.

Castiel abriu o imenso portão dourado, e entramos. Caminhamos por mais dez minutos em total silêncio até o “nii-chan” falar:

– Você ainda está brava? – como não respondi, continuou. – Você é muito birrenta, Haru.

Passou mais alguns minutos tensos de total silêncio. Chutei uma pedra que estava no caminho, e dei-me por vencida.

– Você é muito arrogante e orgulhoso, Castiel – virei em sua direção, esperando que falasse algo.

Castiel apenas me encarou com cara de tapado, do tipo: “ela fala?”. Sabia que algo bem idiota que nem essa frase que ele tinha pensando, porém o que ele me disse surpreendeu:

– Você também é.

– O que? O que isso tem a ver? – perguntei ainda confusa.

– Você não pode falar nada. Você não tem o direito se comete os mesmos erros que eu.

Fiquei totalmente sem fala. Não sabia como responder a isso. Não estava preparada para o que ele disse. Ficamos nos encarando por um tempo, e então voltamos a andar. Nossa casa só estava a 4 metros de distância. Quatro metros de pura tensão.

–Você teria feito a mesma coisa se estivesse no meu lugar – sussurrou Castiel.

– Eu teria me desculpado.

– Não falo disso.

– Você está falando do episódio do laxante, então? – perguntei, indignada, não colocaria laxante na comida do meu irmão, talvez, por ventura, colocasse minhocas no seu yakisoba com molho, mas só isso, não ultrapassaria os limites de dignidade.

Como ele não me responde, não insisto. Quando ele fica assim nem adianta ficar no pé. Assim que entramos, vimos nossos pais sentados conversando na sala de estar. Ao passo que atravessamos o portal, os dois viraram em nossa direção.

– Onde vocês estavam? – perguntou nossa mãe. Inquisidora. É a profissão perfeita para ela, pode ter certeza.

Ela estava usando um roupão rosa-claro por cima da fina camisola da mesma cor. Seus cabelos cor de ouro estavam soltos e perfeitamente caindo-lhe pelos ombros. Seus olhos cor de caramelo nos encaravam fixamente.

– Estávamos lut.. – quando ia terminar de falar, Castiel me dá uma cotovelada.

– Estávamos nos exercitando – completou Castiel, e depois sussurrou perto da minha orelha: – Nossos pais não podem saber disso, idiota. Eles não sabem da S.M.

Fiquei calada, sabendo que estava errada, mas em compensação dei uma cotovelada no Castiel, só por vingança.

– Ás duas horas da manhã? – questionou nosso pai. Suas sobrancelhas ralas se juntaram quando falou.

– Perdemos a hora – justificou Castiel.

Balancei a cabeça em concordância.

– Sim... – nos olhou desconfiado, e prosseguiu – Bem, isso não importa. Queremos contar uma notícia a vocês... – Indicou com a mão para os assentos do seu lado, com a intenção de fazer-nos sentar e termos uma conversa calma, presumi. Mas logo nossa mãe o interrompe.

– Nós iremos nos mudar no sábado para Seraphia. – Ser mais sutil e delicada que nossa mãe, totalmente impossível.

Castiel e eu que ficamos estáticos na hora. Fazia anos que eu queria voltar para o Reino de Seraphia. Se eu voltasse para lá, poderia ser capaz de ter todas as minhas antigas memórias de volta. Nem havia percebido que estava sorrindo até o Castiel gritar, me assustando.

– Por que? Por que? – indagou Castiel, rudemente.

Ao contrário de mim, o Castiel não parecia nem um pouco feliz. Seu olhar refletia um amontoado de sentimentos: Dor, insegurança, raiva, medo... De primeiro não entendi o porquê de tanto alvoroço por causa de uma mudança. Mesmo que ele não quisesse voltar para lá por causa das lembranças dolorosas que tinha, deveria entender como aquilo era importante para mim. Era melhor possuir memórias dolorosas do que nenhuma.

– Eu sei que não quer ir, mas Cassy... Nós temos que voltar – disse a mãe com firmeza para o Castiel.

O Castiel abaixou a cabeça, e olhou de soslaio para mim. Pareceu indeciso quando olhei em seus olhos, mas logo ele cortou o contato visual e começou a caminhar em direção ao corredor com passos pesados.

– C-Castiel... – tentei chama-lo, mas ele simplesmente me ignorou.

Depois dessa, fui para o meu quarto sem dizer nada, tomando cuidado para não encontrar o Castiel, caso ele tivesse ido ao banheiro ou ficado parado no corredor.

Entrei no quarto, e fechei porta assim que passei. Fiquei parada na porta, pensando em tudo que havia acontecido hoje. Pensei na luta que tivemos, a Yui caindo, a noticia de que íamos embora... Comecei tirando minha roupa, quando vi duas cartas sobre minha escrivaninha. Peguei a primeira, que era sobre um cartão de crédito que eu havia feito, mas quando eu fiz um cartão? Joguei essa no lixo e peguei a outra carta.

A segunda era um envelope branco de tamanho médio. Passei o dedo por debaixo da dobra do envelope, e o abri.

Na carta havia uma foto minha com meu melhor amigo, que havia ido embora há algum tempo para sabe-se-lá-onde.

“Olá, Fushikawa-san.

Passei longos seis meses, sem dar notícia alguma a você. Passei todo esse tempo treinando para que pudesse te proteger como você sempre fez comigo, fosse na escola ou em alguma missão da Scarlet Moon. Gostaria de agradecer todo esse tempo que passei com vocês, e como foi divertido.

Não voltarei mais para o mundo humano até que eu seja suficientemente forte. Estou estudando na melhor escola para seres sobrenaturais. Espero que me perdoe por ter ido sem dizer nada. Tanto que você quase morre novamente por minha causa. Por eu ter sido inconsequente e ingênuo, pensando que tudo estaria bem se eu simplesmente sumisse da sua vida. Ainda bem que eu estava errado.”

Reli a carta duas vezes para ter certeza que os meus olhos não me pregavam uma peça. Sorri com lágrimas de felicidade nos olhos. Finalmente esse bastardo deu alguma noticia. Já estava achando que havia sido abduzido ou virado um shinigami estilo Bleach. Ah, estava tão feliz, tirando o fato de o Castiel estar daquele jeito. Não se pode ter tudo, não é mesmo?

Não sei exatamente o porquê de ele estar assim, mas posso ter uma ideia. Deve ter sido horrível presenciar tudo o ocorreu naquele lugar. Eu posso ter estado lá, vendo tudo aquilo, mas não me lembro de nada. Não me lembro de nada da minha infância, exatamente por causa desse acidente! A única coisa que eu sei é que morávamos com algum parente distante, que era um provável serial killer, e está desaparecido desde então.

Voltar para o Reino de Seraphia é um dos meus objetivos desde que nos mudamos para essa casa. Morar no mundo humano, conviver com eles, esconder quem eu realmente sou, é desagradável. Conheci boas pessoas que me acolheram, como a Yui e o Shiro-chan, mas pessoas como o pai deles são mais normais de se encontrarem do que os outros dois. Estou ansiosa para voltar à minha terra natal. Conhecer pessoas iguais a mim, ter minhas memórias de volta, e fazer tudo isso do lado do meu irmão. Fazer tudo isso com o Castiel é o que mais me anseia. Somos irmãos gêmeos, sinto o que ele sente, faço o que ele faz, vejo o que ele ver... Por isso, eu sei como dói voltar para o lugar para onde mais ele não quer ir. Porém, esse medo que ele sente, não é suficiente de me fazer parar de seguir em frente. Isso é só o início de uma grande aventura.


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Notas finais do capítulo

E então bolinhas de limão, gostaram? Se estiverem gostando ou não, e quiserem se pronunciar, fiquem à vontade! ^^



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