InFamous: A Tirania de Rowe escrita por Thuler Teaholic


Capítulo 9
Vitrificar


Notas iniciais do capítulo

De prima, agradeço aos leitores, acompanhadores e comentadores (que andam meio sumidos)
Sério, esse capítulo aqui foi muito legal de se fazer! Escrito durante uma insônia que dura, até agora, por 26 horas ininterruptas. Então vocês irão, provavelmente, achar algum erro, já peço desculpas.
Esse capítulo foi bem complicado, mas foi igualmente gratificante, fiquei orgulhoso dele. À vocês, amados leitores, recomendo que leiam com o Google Maps aberto em uma aba.
O que? Minha fic é geografia, também!
Esse texto vai ser um PoV do nosso querido Hugo e vai trazer cenas de ação, que eu sei que venho devendo.
Então, sem maaaaaaaaaais delongas!
Opa, quase esqueço, o skip que eu falei no último capítulo foi de, mais ou menos, uns 30 dias.
Agora sim, sem mais delongas...



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Hugo e mais uns dez rebeldes avançavam em um ritmo inconstante pelo país. Na teoria, a rota que seguiam era uma grande reta para oeste. Para um grupo de condutores, ir de Manhattan em Nova York até Omaha, no Nebraska, deveria levar uns dez dias. Na prática, eles levaram mais de vinte dias para chegar até a metade do Iowa, Des Moines, para ser mais preciso.

A rota que eles tomaram foi, na opinião de Hugo, cretina. De Manhattan, eles subiram até Springfield, Massachusetts; onde seu contingente de cinquenta aumentou para duzentos por conta dos condutores vindos do norte de Nova York, Massachusetts, Connecticut, Boston, New Hampshire, Vermont, Maine e uns quatro camaradas vindos da península de Nova Scotia. A partir daí, o grupo se dividiu em cinco. O primeiro iria pelo norte, passando por Michigan, Minessota e etc. arrebanhando mais condutores. O segundo desceria até a Pennsylvania e seguiria em uma reta até Nebraska. O terceiro grupo, o grupo de Hugo, desceria até Maryland e seguiria para Omaha depois. O quarto grupo iria para sul, até chegar à Carolina do Norte, onde rumaria para Oklahoma e depois para o ponto de encontro. Por fim, o quinto e último grupo iria até a Florida, seguindo o trajeto mais longo por todo o sul do país até chegar em Dallas, onde seguiria para o norte até Nebraska. Esses desvios seriam para garantir que o território rebelde estava seguro além de conseguirem pescar mais soldados no caminho.

Hugo era bom em matérias como química e biologia, mas era uma desgraça em geografia. Só de pensar em tantos nomes, ficava mais desconfortável do que Yasmine na presença de uma ruiva.

Ao lembrar-se da garota com cabelos de arco-íris, sentiu-se mal por não ter conseguido se despedir. Ela deveria estar subindo pelas paredes de curiosidade, ele queria ter deixado um bilhete explicando mais sobre a missão, mas a mesma ainda era um mistério para ele. Só depois de alguns dias na estrada que descobriu do que se tratava. Aparentemente, os Infames planejavam um ataque maciço e Hugo tivera a sorte de ser chamado para a suposta força de resposta. Os melhores rebeldes foram chamados e o jovem condutor de gás estava entre eles, uma honra.

Sim, uma honra do caralho.

Seu grupo de quarenta pessoas segmentou-se como os afluentes de um rio assim que chegaram ao Kentucky. Depois disso, ele fez questão de não saber aonde iam. Mais estados dariam um nó memorável em seu cérebro. Quando essa separação ocorreu, o clima tenso esmaeceu até se tornar casual. A rigidez de uma marcha é muito mais cansativa e estressante do que o ar descontraído uma roadtrip. A missão se tornara, de fato, agradável. Mesmo que os normais que viam pelo caminho os evitassem a todo custo.

O pelotão seguia por uma longa via cinzenta, pontilhada por carros abandonados e margeada por uma cidade pouco densa de edifícios baixos a qual Hugo não lembrava o nome. A manhã invernal prometia ser fria, o céu acima tão cinzento quanto o concreto abaixo.

– Imagine como esse lugar deveria ter sido... – Al comentou distante, observando os automóveis tristes de ar pós-apocalíptico. – Cheio de gente, um corre-corre. – Hugo achava que Al era muito excêntrico, a fala distante, os olhos sonolentos, a massa de cabelos branco-azulados que subia como um penteado saído dos quadrinhos. O mais fascinante, porém, era seu poder. Al era um condutor de reflexos.

– Era um caos. – A mulher grisalha de meia idade conhecida como Siver disse taciturna. Condutora de metal. - Um caos chato, barulhento e estressante. – Acrescentou. Correu a mão por um antigo sedan deixando uma longa ferida na lataria.

As conversas paralelas eram poucas, muitos dos vagantes haviam passado a noite acordados de guarda e estavam sonolentos, Hugo se incluía nesse grupo. Andava com o olhar baixo e com a máscara de lã apertada na mão direita. Alguns comparavam a forma que o jovem se apegava à peça de tecido como uma garota a seu ursinho, mas ele não ligava.

Por mais que troçassem, ele precisava daquilo. A máscara era seu poder, sem ela, ele era apenas um condutor de ar, só mais um na multidão. Com ela, seu potencial se tornava latente.

Seu irmão mais velho tinha a máscara como um amuleto de sorte, algo que era uma ferradura, um pé de coelho e um trevo de quatro folhas ao mesmo tempo, mesmo que não fosse supersticioso. Quando Hugo entrou para os Rebeldes, ganhou a máscara do irmão e, com ela, impressionou os oficiais com seu poder único. O amuleto lhe dava a confiança para curvar as moléculas do ar à sua vontade, mas com o tempo, ele se viciou. A máscara se tornou uma muleta, sem a qual, não conseguia controlar os gases do ar. Por mais que ele soubesse que era uma lesão psicossomática, relutava em abandoná-la como uma criança reluta em abandonar sua chupeta.

Seus pensamentos foram interrompidos quando a marcha parou de súbito. À frente do pequeno contingente, um homem apontava para uma placa carcomida pela chuva ácida. Esse homem era o oficial do pelotão, Rickard. Um homem baixo e corpulento com uns quarenta anos. O cabelo tinha grandes entradas sobre as têmporas e o nariz era adunco, dando um visual meio aquilino ao mesmo. Hugo descobriu que ele era um condutor de ferrugem quando o mesmo limpou as manchas ferrosas que cobriam a placa.

– Chegamos a Des Moines. – Constatou. A placa que indicava tinha DES MOINES escrito em letras brancas sobre verde. – Estamos quase lá.

Feita a constatação, a caminhada recomeçou.

Hugo pescou alguns trechos de conversas paralelas. “Mas o nome se pronuncia Dês Móines ou Dê Moinê?”

“Acho que é Dê Moná ou Dê Moiná”

“Não, não, é De Monet.”

“Monet? Monet não era um músico ou algo do tipo?”

Decidiu que a conversa era infrutífera e desligou-se dela. Seguindo silencioso e absorto.

Minutos depois, a via foi obstruída por destroços de algum conflito e eles tiveram de contorná-la pelo sul, entrando em uma rua chama Locust St.

Um péssimo agouro, pensou. Gafanhotos não eram animais muito simpáticos.

Passados mais alguns minutos, o pelotão inteiro estava distraído com uma estranha escultura. Para Hugo, parecia um guarda-chuva de proporções ridículas que havia sido queimado até restar apenas o esqueleto. Que coisa inusitada.

Um som distante retumbou, silenciando o burburinho. O chão pareceu tremer com o som. Parecia um trovão ecoando. Thump.

– O que foi isso? – Al perguntou, o ar sonolento sendo varrido. – Um trovão?

– Acho que não. – A garota chamada Angela falou. Condutora de papel.

Rickard achou melhor ignorar e continuar seguindo. Dez passos dados, ele voltou a parar.

– Que merda é aquela? – Um pulso de luz amarela corria na direção deles, brilhando por entre as frestas do asfalto. Fosse o que fosse, era veloz e os alcançaria em questão de segundos.

Hugo observou os prédios e percebeu que todas as janelas estilhaçavam assim que a anomalia passava. Não teve tempo para reagir, no instante seguinte foi jogado vários metros para trás.

Aterrissou duramente de costas em um grande buraco com mais outras duas pessoas, perdendo o fôlego. Quando os pontos desapareceram de sua visão, ele percebeu que o tremor fragmentara em grandes ilhas em desnível, parecendo placas tectônicas.

– Mas que porra foi essa?! – Hugo não viu quem fez a pergunta, mas respondeu mesmo assim.

– Problemas. - Respirou fundo e escalou o buraco em que caíra bem a tempo de ver outro pulso sísmico se aproximando, mas dessa vez, conseguiu saltar e percebeu que o fenômeno estranho era muito parecido com as ondas que se formam ao se agitar um tapete.

Pousou com suavidade e viu os Rebeldes se erguerem ao seu redor com olhares furiosos no rosto, preparando suas armas e correndo na direção do conflito e no ouro extremo da rua, os Infames avançavam com o mesmo propósito.

O condutor flexionou as mãos e viu que havia perdido a máscara. Correu para a borda do buraco em que havia caído, procurando, mas não achou. Olhou para todos os lados, novamente sem sucesso. Preocupado, viu que o pelotão furioso havia deixado-o para trás. Suspirou e prometeu a si mesmo que iria procurar novamente quando tudo acabasse. Sacou sua longa faca kukri e voou como uma bala.

Alto no ar, viu quando os primeiros ataques foram lançados e viu que estavam em igualdade numérica. Rickard criou uma esfera de oxidação do tamanho de uma bola de basquete e lançou no meio da onda de Infames que avançavam, o projétil traçou um arco avermelhado no ar como a cauda de um cometa antes de explodir em uma nuvem nociva. Os Infames da vanguarda ficaram atordoados e Hugo deu o bote.

Caiu sobre um deles como um falcão, a kukri abrindo-o do ombro direito até a lombar e, quando a coluna foi cortada, fazendo a vida insustentável, a vítima se desfez em uma nuvem de ferrugem. O algoz estava pronto para isso, então fechou os olhos, a boca e cobriu o rosto com o braço quando mergulhava.

Retomou o equilíbrio e mandou a nuvem escarlate para cima de seus inimigos com uma lufada de vento. Com o canto dos olhos, viu Silver fazer um espinho de metal brotar do chão e empalar um inimigo com brutalidade, o mesmo derreteu em uma poça prateada. A velha liquefez o espinho e o solidificou na forma de uma centena de pequenas esferas de metal, que disparou como o tiro de uma escopeta, as mesmas, porém, foram defletidas com um grande escudo de concreto.

Recuperados, os Infames contra-atacaram. Hugo bloqueou um punho revestido de gelo com a faca na horizontal. Ele deslizou de forma dançante para direita e fintou para a esquerda em seguida, golpeando na altura das costelas, mas a lâmina retiniu na armadura de gelo do inimigo que conseguiu se aproveitar do momento para desferir um direto mirado no rosto do Rebelde. Hugo girou nos calcanhares e o punho passou de raspão, abrindo um corte em seu rosto.

O condutor ferido saltou para trás e concentrou uma grande quantidade de ar nas mãos, lançando o projétil como uma bola de boliche, de baixo para cima, quebrando a guarda do pugilista e, habilmente, pegou a kukri pela lâmina. Jogou o braço para trás e arremessou, a faca voou como uma estrela, fincado-se superficialmente no peito do oponente, penetrando poucos centímetros da couraça. Aproveitando o momento de confusão do oponente, chutou o cabo da faca com a sola da bota, forçando a arma mais para dentro.

Quando a arma perfurou a couraça, a placa de gelo que protegia o peito se estilhaçou e caiu aos pedaços no chão.

A defesa do oponente não podia estar mais aberta. Os olhos por debaixo do capacete congelado estavam incrédulos enquanto ele regenerava o ponto avariado de sua armadura.

Hugo correu e apanhou a faca no chão, mirando o ponto onde o inimigo não conseguiria bloquear, logo no centro do peito, abaixo do esterno. As pernas o bombeavam para frente e ele trouxe a faca para junto do corpo, para mantê-la estável.

Mas, quanto estava a um passo de encerrar o duelo, algo chamou sua atenção. Tremulando no vento, voando como uma folha de outono, sua máscara dançava.

Este instante de distração foi crucial. O golpe que findaria a luta errou o ponto exato, perfurando apenas poucos centímetros de pele, nem de perto o suficiente para matar. Vendo a magnitude de seu erro, tentou recuar, mas um punho o atingiu no peito com a força de um trem.

Hugo deslizou para trás, sentindo dor e dormência na área atingida. Recuperou-se bem a tempo de desviar rolando por baixo de um lariat desferido pelo inimigo. Ao ver-se livre do oponente, saltou afim de pegar seu amuleto.

Os dedos roçaram no tecido antes que Hugo fosse pego pelo tornozelo e caísse de bruços no chão.

O Rebelde engoliu as lágrimas e lutou contra a vontade de abraçar o próprio peito que ardia de maneira surreal. O condutor de gelo rolou Hugo para cima e montou no mesmo, evolvendo seu pescoço com um aperto frio e brutal.

“Merda!" Pensou sentindo o sangue congelar na garganta. "Merda, merda,merda!” Indefeso, levou as mãos ao pescoço revestido do inimigo, encontrando uma brecha por onde começou a bombear o ar.

As bordas da vista escureciam quando um pedaço de gelo do tamanho de uma moeda se desprendeu da armadura, logo sobre a jugular. O Rebelde concentrou uma massa de ar maciça em uma esfera de um tamanho que coubesse na abertura e começou a apertar a mesma contra o ponto exposto do oponente.

Quando sentiu que a consciência iria apagar, a pequena esfera explodiu. O ar correu para todas as direções, expandindo-se onde não havia espaço para tal coisa, destroçando o pescoço do condutor de gelo como uma foice.

Hugo desobstruiu a pequena saída e o ar saiu apitando, como a pressão escapando de uma panela enquanto o Infame caía sem vida, o corpo cristalizando em gelo e derretendo em água.

Hugo rolou para o lado e tragou o ar com força, esfregando o pescoço para que o sangue voltasse a correr na área. Engasgou-se com o oxigênio que se solidificava em sua garganta, mas conseguiu se erguer com certa dificuldade.

Analisou o campo de batalha e viu que os rebeldes estavam tendo a melhor e ele, novamente, ficara para trás. Olhou para cima procurando a máscara e a viu flutuar de forma errante. Com um leve movimento de mãos, o amuleto mudou seu rumo e pairou até seu dono, que o pegou com um sorriso triunfante.

Envolveu o rosto com a máscara e sentiu seu poder ser totalmente liberado, os Infames seriam obliterados. Deu alguns passos para trás e recuperou a kukri caída, a ponta da arma estava envolvida com uma película de sangue vitrificado. Hugo viu que não era o único que estava fora do combate, uma garota estava em cima de um pequeno estabelecimento branco de dois andares, talvez uma antiga loja de móveis ou algo do tipo. A pirralha olhava para Hugo de forma desafiadora, as mãos brilhando com néon, sendo que a direita mirava nele. O condutor de gás retribuía o olhar, uma mão segurava a kukri pela lâmina e a outra separava os dedos lentamente, fazendo com que o ar entre os dois se abrisse em um vácuo.

A lâmina foi mais rápida que o néon.

Voando pelo vácuo, sem resistência alguma, a trajetória foi reta e de velocidade assombrosa. Antes que a garota percebesse, a faca perfurou sua palma e seu crânio, pregando a mão da jovem à testa em um gesto dramático de infortúnio.

O cadáver caiu e Hugo caminhou calmamente até este. A lâmina emitiu um ruído úmido quando foi liberada. A boca da jovem estava entreaberta e os olhos revirados, débeis. O condutor não olhou uma segunda vez, limpou a faca na calça e se desfez. As partículas em que se reduzira, leves como hélio, flutuaram fugazes até a batalha.

Todos os ruídos cessaram quando a forma de Hugo se materializou entre as duas forças, que ele percebeu que não estavam equilibradas, os Infames eram forçados a recuar, além de estarem feridos e cansados, enquanto os Rebeldes sofriam apenas de pequenos hematomas e feridas leves. Não estava surpreso, eles eram da elite.

Os Infames retomaram o ataque, os poderes saindo sincronizados. Hugo espalmou as mãos e o ar se solidificou, fazendo os disparos ricochetearem de forma cômica, depois disso, ele empurrou a parede de ar sólido contra os inimigos para ganhar tempo. Enquanto se distraíam, ele jogou as mãos para trás, concentrando-se.

Quando a parede foi vencida, os Infames iam concentrar todo o poder no condutor de gás, mas algo os impediu. Um halo glacial envolvia o Rebelde.

Hugo lançou as mãos para frente em um gesto amplo e lento, como se abraçasse a si mesmo. Uma nuvem lenta e inofensiva foi soprada nos Infames.

O nevoeiro envolveu os Infames e logo se dissipou, deixando uma galeria de esculturas de gelo no lugar. Uma inalada daquele ar lucífero era suficiente para vitrificar os pulmões.

Hugo caiu de joelhos, exausto, ouvindo os brados exaltados de seu pelotão. Mas tal brado se calou quando um Infame envolto em gelo saltou da galeria com os braços erguidos, pronto para esmagar como um animal em fúria. O Rebelde cansado fechou e torceu o punho em um gesto brusco.

As moléculas do ar foram agrupadas tão bruscamente que geraram atrito, que gerou calor, que gerou uma faísca, que fez o Infame ser engolido pelas chamas.

A última memória de Hugo antes de apagar foi ver o Infame cair no chão brilhando como um sol em miniatura.


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Notas finais do capítulo

Há, o que dizer desse capítulo? Acho que tudo o que tinha para falar, já falei nas notas de início, entãããããõ você pode comentar aqui ou ir, sei lá, ir ver um vídeo do porta dos fundos, sei lá, é com vocês
Até a próxima