InFamous: A Tirania de Rowe escrita por Thuler Teaholic


Capítulo 11
Era uma vez um idiota


Notas iniciais do capítulo

Voltei. Eu sei que deve estar muito chato essas postagens tão esporádicas, mas dessa vez me vi de mãos atadas. Cheio de estudo e com meu notebook no conserto fica complicado. Mas o importante é que eu voltei com um capítulo fresquinho pra livrar seu domingo do ócio!
Agradeço a todo mundo que ainda não desistiu de mim e peço desculpa se não estiver tão bom, devo ter enferrujado.
Mas enfim sem mais nenhuma delonga...



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Queens era barulhento, mesmo naqueles tempos.

Humanos e condutores sem nenhuma bandeira bordada no peito ou tatuada nas costas viviam por ali da forma que podiam, trabalhando para suprir suas famílias e os Rebeldes, que coletavam impostos em forma de alimentos ou pessoal.

Era cedo, então o tráfego de pessoas se limitava ao fluxo constante de Rebeldes que iam e vinham na direção de um grande estabelecimento com a frente coberta por placas neon. Os que entravam estavam cansados e os que saíam, aparentemente, queriam ficar mais.

O lugar era um bar enorme, barulhento e colorido, onde patrulheiros da madrugada iam encerrar seus turnos e patrulheiros da manhã iam começar os seus. O longo balcão era uma colcha de retalhos de imagens, como as paredes e até mesmo o teto. As paredes eram tomadas por prateleiras repletas estátuas, bustos, e formas de arte mais abstratas. As mesas estavam apinhadas de bêbados surpreendentemente afinados, o coral cantava a plenos pulmões enquanto balançavam suas canecas vazias. Um, em especial, tinha uma voz mais poderosa e tentava coordenar os outros.

Now we are ready to head for the Horn! – Gritou o maestro.

Way, hay, roll’n go! – Berraram os outros.

Our boots ‘n our clothes, boys, are all in the pawn.

Timme rollickin' Randy Dandy, Oh!

Apenas um dos clientes não parecia feliz. Um negro de pele clara vestido com um casacão cinzento sentava com uma postura curvada, os cotovelos apoiados na mesa. O cabelo estava amassado de tanto tempo debaixo de um capuz e as olheiras estavam fundas. A língua seca corria pelos lábios rachados em uma busca cega por água e os dedos tamborilavam o tampo do balcão, esperando para que alguém o atendesse. Não muito tempo depois, um homem alto, loiro de cabelo curto e vestido como um punk de vinte anos saiu da comitiva de bêbados e saltou habilmente o balcão, caminhando até o homem com sede. Devia ter, no mínimo, uns quarenta anos pelas rugas no canto dos olhos.

– Posso ajudar? – Perguntou prestativo enquanto secava uma caneca com uma flanela quando reparou nas marcas ao redor dos olhos do cliente. – Uau, há quanto tempo você não dorme?

O homem olhou o atendente de forma sarcástica e parou de tamborilar a mesa.

– Certo, quer algo? – Como não obteve resposta, o barman deu de ombros. – Ok, uma cerveja. – Ele encheu a caneca com uma cerveja rala, dourada e espumante e pousou na frente do outro. – Posso saber seu nome?

Um momento de silêncio encarando a bebida espumante. – Hunter.

– Prazer, Hunter, eu sou...

– Forrest, eu sei. – Cortou, tentando terminar a conversa.

Forrest sorriu. – Então você sabe como as coisas funcionam por aqui. – Apoiou-se no balcão. – Como pretende me pagar?

– Não pretendo. – Respondeu sem olhar o homem, que balançou a cabeça como se não acreditasse no que ouvia.

–Eu pareço um samaritano? – Afastou ainda mais a caneca.

Hunter não se deu ao trabalho e responder, apenas levantou e deu as costas ao barman, rumando para a saída. Assim que deu o primeiro passo, sentiu a cabeça tontear pela exaustão. Apoiou-se discretamente na bancada com a mão, esperando o mundo parar de girar.

–Você pode pagar pela bebida de duas formas: Trabalhando, ou... – Hunter estava ouvindo com atenção. – com uma história.

– História? – Perguntou sarcástico, a voz rouca devido a garganta seca.

Forrest reparou a mão que o homem sedento usava para se apoiar e viu que ela estava coberta de cicatrizes e queimaduras, um anel no dedo anelar havia derretido e envolvido toda a falange com uma camada de metal dourado e chamuscado. – Isso ai te renderia um belo de um porre, por exemplo.

Hunter estalou o indicador com o polegar. – Sabe, meu pai dizia que não se nega bebida a um homem com sede.

Forrest sorriu e deu um longo gole, depois deslizou a caneca pelo balcão na direção de Hunter, que a apanhou em movimento. – Uma história curta merece um gole. – Piscou camarada. Hunter virou a bebida, grato. O líquido era ralo, doce, picante e terroso, mas dava para o gasto.

– Então, como está? – Perguntou de forma bem-humorada.

Lambeu a espuma da borda do copo. – Horrível.

Heave away, bullies, you parish-rigged bums!

Way, hay, roll’n go!

Take your hands out your pockets and don’t suck your thumbs!

Timme rollickin Randy Dandy Oh!

O barman deu de ombros. – Ok, sente aí e bole uma história melhor, quem sabe a bebida melhore da próxima vez. – Indicou a cadeira. – Mas também, sinta-se livre para ir embora.

Hunter optou por sentar, apoiou um cotovelo sobre a mesa e descansou a cabeça sobre o punho. As portas vaivém estilo saloon se abriram para que uma mulher pudesse entrar.

Hunter conteve um sorriso de canto, ela era deliciosa. As longas pernas se esticavam em um jeans escuro e encharcado, a camisa azul-marinho estava colada delineando seu belo corpo semi-oculto por um moletom aberto de mesma cor sendo a única peça de roupa que estava seca, logo não dava a entender que a jovem havia sido apanhada em uma tempestade. Os cabelos castanhos eram uma massa lisa e gotejante caída sobre o ombro esquerdo de forma triste, já o sorriso era radiante, quase eufórico.

– Forrest! Eu tenho uma história pra você! – Quando disse “Forrest” acabou cuspindo muita água em Hunter, ele pensou em chamar atenção dela, mas ela nem percebeu e, uma olhada longa para aquela calça que se colava àquela bunda saborosa fez com que ele deixasse passar.

– Calma, Mary! – O barman parecia achar muita graça. – Primeiro, seque-se, não quero meu bar inundado. – Mary assentiu e começou a correr as mãos pelo corpo de uma forma que Hunter achou extremamente provocante.

Onde as hábeis mãos tocavam, as roupas secavam instantaneamente. “Será que essas mãos são hábeis em outras circunstâncias?” Perguntava-se enquanto jovem esticava o cabelo em um rabo de cavalo com uma mão e torcia com a outra, os mesmos soltando-se em uma juba vívida e cacheada que descia até os ombros emoldurando o rosto jovial e travesso, lívido de empolgação.

– Melhor assim. – Forrest aprovou. – Você estava molhada de alguma briga ou só estava excitada? – Todos riram da piada, o bar inteiro, inclusive Mary. Quando a cantoria recomeçou, ela acrescentou em tom baixo.

– Um pouco dos dois.

O barman tratou de posicionar uma caneca embaixo de uma das torneiras de cerveja. – Me conte. – Ele claramente estava curioso.

– Tudo bem. – Tomou fôlego. – Sabe meu pelotão?

– Ô se sei. Onde estão aqueles bêbados? – Perguntou divertido.

– Não tenho certeza, quando saí, eles estavam jogando cartas, mas não vem ao caso. – Abanou a mão, afastando a digressão. - Então, uma garota apareceu por lá perguntando se podia juntar-se ao nosso grupinho privado.

– E por que ela faria isso? – Ele perguntou coçando o queixo.

– Ela disse que o irmão dela havia sido chamado para aquela grande expedição para o oeste, e desde então, ela não fazia nada além de treinar.

– E isso é algo ruim?

– Foi o que perguntei, ela falou que queria se sentir útil. – Correu os dedos pelos cachos volumosos. – Deixamos, afinal nosso clubinho não é muito grande, somos apenas quatro. Ela está lá há umas três semanas e foi um bom achado, a menina tem energia. – Riu. – E uma vontade de se provar, além de ser bem...

Hunter sentia os olhos pesados pelo cansaço. Piscou com força para retirar a areia dos mesmos e percebeu que Mary se esticava com menos roupa e mais molhada sob a escuridão privativa de suas pálpebras, quando decidiu abri-las o barulho de vidro quebrando veio do coral, assustando-o.

Olhou ao redor e percebeu que havia menos pessoas no bar e que a Rebelde deliciosa que chegara há instantes tinha uma cerveja meio acabada a sua frente, e também havia se virado para ver o que estava acontecendo. Pelo visto, Hunter havia caído no sono.

Forrest beliscou o nariz entre os olhos e suspirou. – Se quiser mais, é só me chamar. – Disse à Mary. Saltou a bancada e marchou furioso até o grupo, subitamente silencioso.

– Quem foi o filho da puta que quebrou meu copo? – Perguntou baixo, mas todos ouviram. – Se o culpado não aparecer, vocês todos, preguiçosos, vão começar as porras das suas rondas AGORA! – Todos se inquietaram ao ter seu happy hour ameaçado e, como crianças repreendidas por alguém mais velho, se afastaram da ovelha negra do grupo. Um homem baixo e vermelho que mal conseguia parar em pé ficou sozinho, o topo da cabeça baixa sendo esquentado pelo olhar de Forrest.

– Você de novo, Lemitz? É a terceira vez... – A voz do barman era de decepção. – Vamos, olhe pra mim, não vou te machucar.

Relutante, Lemitz ergueu o olhar para Forrest. – Isso, calma... – O homem mais velho socou o rosto do bêbado, fazendo com que ele caísse nos cacos. – Quando terminar de limpar isso, caia fora daqui! – Sentenciou de costas, voltando para trás do balcão.

O silêncio continuou opressor até que Lemitz terminou seu trabalho degradante e se retirou. Pouco tempo depois, a cantoria recomeçou e tudo foi esquecido, aparentemente.

Where am I to go me Johnnies, where am I to go?

Timme way hey hey, high roll and GO.

Oh, where am I to go me Johnnies, oh where am I to go?

For I’m a young sailor boy and where am I to go?

Quando a tensão se dissipou por completo, Mary começou a se despedir. – O papo foi bom, mas já é hora de ir, Forrest. – Afastou-se do balcão.

– Sério? – Forçou uma cara triste. – Mas você nem terminou sua cerveja.

–Você sabe que eu não aguento terminar a terceira caneca. – Olhou ao redor e reparou que Hunter estava ali, encarando as prateleiras cobertas de arte bizarra. Pegou sua caneca e andou até ele, pousando a mesma ao seu lado. – É sua.

Ele sorriu discretamente para Mary. – Obrigado.

– Não precisa agradecer, - Retribuiu o sorriso. - você precisa mais do que eu,... – Deu uma deixa para que ele revelasse seu nome.

– Hunter. – Falou rapidamente, fechando as mãos em volta da bebida e dando um bom gole. Essa cerveja era mais amarga e encorpada, muito melhor.

–Hunter. – Repetiu. – Prazer, Mariana. – Fez o símbolo de paz e amor para ele. – Bem, nos vemos por aí. – Acenou para Forrest e empurrou as portas.

–Hey! – O barman chamou antes que ela saísse. – Você ainda não me disse o nome da garota!

Mariana riu. – Rainbow, o nome dela é Rainbow! – Ao revelar o nome da garota, sumiu porta afora. Toda clientela a seguiu, visto que o sol começava a raiar fazendo com que Forrest e Hunter fossem os únicos no bar.

O dono do lugar estava ocupado arrumando as cadeiras enquanto seu último cliente se distraía com os milhares de imagens que compunham o tampo do balcão.

– Você não tem nenhum lugar para ir? – Forrest perguntou um tanto ríspido. – Vai ficar aqui o dia inteiro esquentando o assento?

Hunter sentou-se ereto jogou a cabeça para trás, suspirando. – Eu estava pensando em quais histórias valiam a pena serem contadas.

O barman apoiou as mãos em um espaldar, com certa expectativa. – E a que conclusão chegou?

– Que cerveja nenhuma conseguiria pagar por elas... – Fechou os olhos que ardiam pela luz fluorescente das lâmpadas que zuniam no teto.

O homem franziu as sobrancelhas ao ouvir aquilo, faminto pelas histórias. – E o que pagaria?

– Não sei. – Admitiu, dando de ombros. – Estou acostumado a levar sem pagar.

Forrest franziu o cenho ainda mais. – Eu não vendo apenas bebida, tenho suprimentos, equipamento... – Inclinou-se para frente. – Segredos, talvez?

– Nada que valha a pena. – Inspirou o ar viciado do lugar. – Acho que já vou. Esse lugar está me deixando doente. – Desceu do assento e deixou a cabeça pender para o lado de forma macabra. – Estou cansado... – Bocejou longamente. – Mataria por uma cama... – Girou a cabeça preguiçosamente e olhou para Forrest de forma sugestiva.

As portas foram escancaradas com violência e um sujeito caminhava com os punhos cerrados, entrando de forma ameaçadora no estabelecimento. Era Lemitz, sóbrio e furioso.

Quando Forrest viu de quem se tratava, ficou tenso, a veia na têmpora salientando-se. – Vá embora. – Disse entre dentes.

O invasor ignorou e continuou avançando na direção do barman, que apertava o espaldar da cadeira, pronto para arrebentá-la no nariz de Lemitz.

Hunter ficou entre o invasor e seu alvo, mãos nos bolsos e olhos entreabertos. – Ele mandou você ir embora, não ouviu? – Nem Hunter nem Lemitz eram altos, então se encaravam fixamente de igual para igual.

Lemitz deu o primeiro golpe, um gancho no queixo de Hunter, que caiu para trás para desviar do golpe. No chão, Hunter chutou a canela do inimigo, mas o mesmo esquivou saltando, o homem caído aproveitou o impulso para girar e se levantar de forma acrobática, apoiando-se em uma mão.

– Sabe Forrest, – Deu as costas para o adversário para olhar o barman. – tenho uma história pra você. – O invasor desferiu um soco poderoso com o braço esquerdo, mirado na nuca de Hunter, que se evadiu agachando.

Desembainhou a faca de Lemitz e cravou-a em sua cintura, em seguida, apanhou a própria faca e se levantou, pegando o punho inimigo que pendia no ar e espalmando-o sobre o balcão, fincando-o lá com sua própria arma.

Foi tudo tão rápido que Lemitz não teve tempo de sentir a faca em sua cintura até que sua mão fosse presa ao balcão.

A dor foi tão enfurecedora que, ao invés de libertar sua mão, começou a expelir pó pela outra e tentou agarrar a boca de Hunter para sufocá-lo com seu poder, mas este desviou como se brincasse, desviando o movimento para o tampo do balcão, onde libertou a primeira mão para, rapidamente, prender as duas de uma vez com a lâmina.

– Era uma vez um idiota...

Todos sabiam que um condutor era inútil sem as mãos.

–... E fim. – Removeu a faca que feria a cintura de Lemitz e a cravou na lateral do pescoço deste.

Lemitz revirou os olhos e começou a se desfazer em pó rapidamente, sem proferir uma palavra e Hunter, habilmente, roubou sua jaqueta antes que isso acontecesse, pois condutores tinham o estranho de hábito de desaparecer junto com suas roupas. Pendurou o achado sobre o ombro e ouviu as facas tilintarem quando o corpo não era mais do que um amontoado de poeira no chão.

Uma coisa que Hunter gostava nos condutores era o fato de eles não deixarem uma carcaça para trás ao morrerem. Era quase poético.

O assobio do velho o tirou de suas divagações. – Nada mal. – Soltou o espaldar e suspirou. – Fico feliz que tenha sido você a matá-lo.

Hunter apanhou as facas caídas no chão e guardou-as sob o casaco. – Disponha. – Esfregou os olhos sonolentos. – Você ganhou sua história, e o que eu ganho?

Forrest pensou um pouco e saltou o balcão, pegando algo longo e metálico e jogando para Hunter. Ele pegou no ar e olhou o objeto com estranheza. – O que é isso? – Parecia um cano com faixas para que fosse preso a algo. Tinha o tamanho do antebraço de Hunter.

– Eu mesmo fiz, se chama pinball gun. – Então era uma arma? Hunter havia visto algumas, mas nada que se parecesse com aquilo.

– E como eu uso isso? – Perguntou confuso.

– Você vai descobrir sozinho. – Respondeu misterioso. – Agora saia daqui, estou enjoado dessa sua cara presunçosa, sem falar que tenho gente pra varrer.

Enxotado, Hunter saiu do bar, tragando o ar fresco e frio longamente. Prendeu a pinball gun no braço, oculta sob a manga do casaco e amarrou a nova jaqueta na cintura, aquela era sua passagem para uma cama macia e um café da manhã quente na barriga. A base Rebelde mais próxima estava perto do Central Park, o que lhe renderia umas duas horas de caminhada, mas apesar de cansado, ele se sentia energizado pela adrenalina de matar.

Checou se o presente de Forrest estava bem preso ao seu braço e começou a rumar para o oeste, com o sol nascente nas costas.


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Notas finais do capítulo

Bem, cá estamos! No final de mais um capítulo. Creio que, além de agradecer, provavelmente farei o próximo capítulo centrado em Yasmine, não sei vocês, mas eu estou com saudade da coloridinha
Até a próxima!