Há cerca de 30 anos, houve o que se chamou entre os caçadores de 'A Grande Fuga'.

Demônios nunca haviam sido comuns, mas naquela década, por algum motivo, houve uma fuga em massa do Inferno. Foi nessa época que Chris e sua família conseguiram subir ao mundo mortal.

Alguns dos demônios, os mais recentes, optaram por viver em paz. Escolheram cascas e viveram o resto da sua existência escondidos dos caçadores.

Mas estes eram um ou dois a cada cem que escapavam. A maioria não conseguia abandonar os hábitos cruéis e a sede de sangue.

Todos os Caçadores, novos e velhos, novatos e veteranos, se uniram para caçá-los.

Mas, fosse para que os demônios não voltassem ao Inferno e se rebelassem, fosse porque assim ficariam inofensivos ou simplesmente porque grande parte dos Caçadores não sabia exorcizar, criou-se um ritual específico para prender o demônio permanentemente em sua casca e tirar-lhe todos os poderes. A alma mundana, dona original do corpo, entrava em um estado de coma, até que a maldição fosse desfeita.

Chris, o equivalente a um 'pai' numa família demoníaca, Luke, o primogênito, o caçula Dan e a irmã do meio Celeste, conseguiram fugir e esconder-se por algum tempo.

Porém, cerca de dez anos depois, eles foram encontrados e caçados por um caçador veterano e sua filha novata, que os amaldiçoaram à 'prisão' na qual viviam.

Os caçadores eram Samuel e Mary Campbell.

O ritual para a reversão era exato: eles deveriam procurar àquela que os amaldiçoara e deixar seu sangue correr durante uma noite; nem mais, nem menos. Assim, sacrificariam tanto a vida quanto uma parte bem específica da alma do caçador - a parte em que consistia sua personalidade.

Era de se esperar que os demônios ficassem presos para sempre naquelas circunstâncias. Afinal, quais eram as chances de serem eles a matar caçadores especializados em monstros assassinos?

E também havia o fato de que, uma vez que a alma do caçador era sacrificada nesse ritual, todos os demônios amaldiçoados por ele seriam libertos. Assim, só era preciso que outro demônio fizesse o ritual para que eles se libertassem.

Mas a família estava determinada. Caçariam àquela que os caçara e se libertariam, por seu próprio mérito e vingança.

Então, cerca de um mês atrás, eles finalmente conseguiram seu intento.

Mary - agora Winchester - fora capturada, e o ritual poderia ser realizado.

Mas quando eles já haviam preparado tudo, algo deu errado. Aquele pedacinho de alma necessário não estava mais com Mary.

Tinha passado a um de seus filhos.

Tinha passado àquele que se pareceria mais com ela.

E aí entrava Katherine.

A garota ouvia o relato atentamente, o coração sem decidir-se se acelerava ou parava de vez.

– Minha... Mary está... - ela não se atreveu a completar o pensamento.

– Morta. Sim.

Um grande peso pareceu envolver seu peito.

Ela nunca gostara muito da mãe. Era ausente e, quando vinha para cara, não vinha 'por inteiro'. Sua mente sempre ficava para trás, onde quer que fosse.

E agora, estava morta.

Mary Campbell estava morta.

– Olha, não sei se isso serve de consolo - provocou Chris. - Mas ela já tinha driblado o destino uma vez. Se tudo corresse como o planejado, ela teria morrido há quinze anos, naquele maldito quarto de bebê. Mas, em vez disso, morreu agora. Isso ia acontecer, mas atrasou. Não é um motivo para comemoração?

Katherine nem conseguiu responder. Estava imersa em pensamentos, processando tudo o que houvira. A Grande Fuga? Maldições? Um pedaço de sua alma? Era muito para absorver.

Demônios.

Chris olhou um relógio dourado no pulso.

– Bom, acho que já é hora. Vamos começar o ritual?