Kath afunda o rosto no 'ninho' que formara com os braços, em cima da carteira, onde geralmente ficaria seu livro.

Tudo o que ela queria era sair dali, mas fora barrada pelo zelador quando tentara.

Agora, estava na sala de aula. As provocações haviam recomeçado, e nada mudara desde a última vez que estivera ali.

O segundo sinal toca. Logo, a professora vai chegar, e tudo vai recomeçar.

Então, ela percebe algo. Todos os alunos começam a soltar pequenos sons de surpresa e curiosidade.

Também curiosa, Kath ergue o olhar.

Seu peito se enche com alívio e euforia quando o novo professor entra na sala, com seus cabelos e - graças a deus - olhos escuros, óculos de armação fina e suéter de lã sob o avental sem mangas uniforme dos professores.

Ele acena para a turma.

– Bom dia, alunos - cumprimenta. - Eu sou Luke, e irei substituir sua antiga professora durante o próximo mês.

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Katherine ficou radiante.

Sentiu algo em seu interior aquecer-se do frio habitual.

Luke varre a sala com os olhos e para em Kath.

– Ei, você não é aquela garota da lanchonete? - ele diz.

Ela percebe que ele não quer falar 'da rua' ou 'que estava fugindo' na frente do resto da classe, e agradece mentalmente.

– Sim, sou eu - responde.

– Como estão as coisas em casa?

– Hum... ainda não estão acertadas, na verdade.

Ela se sente como se falasse com um amigo, o que é estranhamente raro em sua vida atual.

Os outros alunos da classe alternam os olhares entre o professor e a aluna. Vários deles demonstram raiva ou desapontamento, outros incredualidade, como se ela ser amiga de alguém fosse ainda mais difícil do que Harry Potter entrar na Sonserina.

Depois de mais ou menos dois minutos se certificando sutilmente se a garota estava bem, o professor torna a se virar para a classe.

– Bom, eu gostaria de anunciar que essa semana será a Semana da Pesquisa Concentrada - diz. - Cada um de vocês escolherá uma matéria específica e vai apresentar ao professor respectivo uma pesquisa completa e detalhada, com imagens e qualquer outra forma de representação que vocês queiram utilizar. Então, exceto pelas aulas de Artes e Educação Física, que foram insistentemente pedidas pelos seus colegas de série, todos vocês passarão o resto da semana com apenas um professor. Escolham bem; vocês têm até a última aula de hoje para apresentar sua escolha.

Katherine entusiasmou-se ainda mais. Uma semana inteira com Luke? Longe de provocações, dos outros professores, e, possivelmente, colegas?

De repente, tudo parecia estar mudando para melhor!

Quem diria que sua vida poderia mudar tanto no espaço trincado de cinco minutos?

Pela primeira vez em muito tempo, ela guarda seu livro na mochila e retira os materiais de aula.

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Sam pensara ter ouvido um barulho baixo no corredor, mas, ao se viar, nada vira.

Mesmo assim, muito tempo depois - já na sala de aula - ele ainda estava perturbado. Ele não conseguira identificar exatamente - algo como um soluço reprimido - mas aquilo lhe incomodava consideravelmente.

Tendo passado a noite sem dormir, pesquisando possíveis casos locais, ele acabou por adormecer a aula de história.

Então, sonhara.

Flashes. Lembranças.

Pouco antes de saírem de carro do motel, em direção à nova escola. John Winchester se despedira de cada um separadamente, como era de costume.

– Cuide de seus irmãos, Sam - dissera. Também era costume que dissesse isso à todos, pois todos deviam se proteger mutuamente, cada um com o que fazia melhor. - Dean pode ser o mais velho, e Katherine pode ser a mais determinada, mas ambos são impulsivos. Preciso que você cuide dos dois. Principalmente entre eles mesmos. Impulsividade e impetuosidade não são uma boa combinação. Você sempre tem a cabeça no lugar. Mas lembre-se, não marque um cerco fechado. Às vezes, eles precisam de espaço, está bem?

Então, aquela noite. A noite em que Kath fugira.

– Você é um peso, Kath! - gritara Dean, tendo acuado ao máximo a irmã contra a parede. - E nunca será uma caçadora!

Ela chorara e soluçara. Dean não tivera tempo de desculpar-se. e Sam não condenava a reação da caçula.

Ela correra até desaparecer nas sombras da noite escura.

Mas logo apareceu uma cena nova para ele.

– Ela é tão burra que nem percebe que, se ninguém gosta dela, ela deve ter feito algo errado - ele mesmo dizia. Sam se viu de longe, como se fosse outra pessoa o observando.

Então, a visão piscou, e ele estava ainda mais longe. Agora, ele e Dan só estavam enquadrados no canto da cena. O foco era uma garota, pequena de cabelos moreno-acinzentados, que se espremia contra o canto da parede, próxima à curva do corredor. Ela soluçou e correu na direção oposta.

Então, Sam acorda, de súbito.

Kath!

Seu subconsciente deveria ter percebido de onde conhecia o som, antes dele mesmo.

Kath estava na escola, e ouvira cada palavra do que dissera.

Agora, Sam duvidava que ela voltasse para casa tão em breve, como dissera que faria.

Um enorme peso caiu sobre seus ombros.